quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Para o Novo o novo


Hoje é dia 27 de dezembro, estou deitada na cama do João, enquanto conversamos sobre nosso ano, sobre nós e sobre a saúde, física, psíquica, espiritual. Falamos e nos calamos sem nenhum pudor. Penso sobre o tempo, que tão rápido é tão cheio de tantas coisas, situações pessoas. Somos tantos, então. E com todos essas diferenças possíveis e nem tão possíveis assim. E a amizade se conquista, ou apenas nos reconhecemos? Ou será tudo química? Paro e me pergunto: - Como nos tornamos amigos? – Simplesmente aconteceu, sem que precisasse de muitos agrados, apenas nos permitindo ser, exatamente quem somos.
Esse ano vai terminando entre nuvens e um calorrrrrrr quase insuportável... Penso que seja para aquecer a alma e nos cantos frios... Bem, que seja para esfriar os solos.  Dia 21 de dezembro o mundo ia acabar, mas aparentemente não acabou, pelo menos não como se esperava, mas penso ainda que alguns mundos se findaram mesmo. A questão é que ele não acabou pra mim, graças a Deus a vida continua, com sonhos para realizar, com contas pra pagar, e atitudes á tomar. Então, é seguir.
De 2012 ficam as boas lembranças, o aprendizado com as dores e tropeços, ficam os novos que por química, escolha ou reencontro surgiram no decorrer desses trezentos e sessenta e tantos dias. Ficam também os filmes, os espetáculos, ficam os livros e os papos. Ficam...
E que venha 2013, que venha forte, doce, leve, que venha diferente, poeta... Que venha e nos fortaleça, que venha e nos transforme, as mutações precisam ser permanentes, é assim... Que 2013 nos venha trazendo o que queremos e batalhamos por e para, e que possamos sempre encontrar um bom colo para aquele choro guardado para uma ocasião mais dramática.
Aos amigos desejo seus desejos e muita saúde, paz, verdade e leveza.
Abraços dos bons e cheios das melhores energias.
Aos mais queridos  todo meu amor, carinho e respeito.

Roberta Bonfim

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Matador - Mirando al tendido


Era uma sexta feira com horário de verão. Não sei você, mas eu tenho sérios problemas com ele. A questão é que após perceber que já eram quase sete horas da noite, isso é, meus planos haviam sido frustrados. De imediato busquei algum espetáculo pelas redondezas e achei o “Matador” no Parque das Ruínas e assumo nem vi quem estava no elenco, o nome do Herson Capri tá com moral comigo, pois ao ver que tinha sua direção não hesitei nem por um minuto.
Chegando ao Parque das Ruínas, um certo ar de desorganização. É que dois dos seus espaços estavam sendo usados e a bilheteria deu problema, enfim, e foi ai que fomos ao café do Parque olhar O visual e aquietar a alma para então conhecer esse matador. Só nos minutos que antecedem o terceiro sinal tomei conhecimento que se tratava de Daniel Dias conterrâneo que já pude prestigiar o trabalho como diretor no Porão do Laura Alvin e Gustavo Falcão que fez também As Mães de Chico. Enfim, tomada pela surpresa começa o espetáculo e entra na arena, digo em cena, o toureiro El Niño e depois como não podia deixar de ser, o touro, Matador. No espetáculo também houve alguns contratempos, com luz e som, que se seguiram por todo espetáculo. Mas é preciso admitir, quando acertavam todos juntos... Que show!
O bate bola entre os atores e a força de cena de Gustavo Falcão e Daniel Dias chamam atenção e prendem o público ao texto denso e existencialista, do dramaturgo venezuelano Rodolfo Santana. O texto é inteligente e levanta muitos questionamentos entre os universos de touros e homens, que podem ser transpostos para conflitos cotidianos de qualquer relação, isso tudo com boas doses de humor. Pena eu ter pego uma plateia não tão animada, pois tive de conter alguns sorrisos, como na cena em que El Niño explanar sobre o defecar, ou ainda as meias cor de rosa, mas é especialmente nos momentos mais trágicos e reflexivos que o texto faz rir pela ironia.
E entre homens e touros, ambos com vidas, histórias, destinos, bagagens e sonhos, as diferenças entre patrão e empregado, chefe e subalterno, enfim os contrastes de relação se personificam naquelas figuras, um homem e um animal, um animal e um homem. Como seja, indico e reafirmo minha alegria em assistir tão despretensiosamente a tal espetáculo – Matador!

O ESPETÁCULO SEGUE EM CARTAZ NO PARQUE DA RUÍNAS.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

7 dias em Havana


Sete dias em qualquer novo lugar tende a ser bom, aos que gostam do novo, mas, “Sete Dias em Havana” com personagens tão pulsantes, paisagem viva, música gostosa e força religiosa, não tem preço, especialmente quando se trata de um longa-metragem dirigido a sete mentes e tão ricamente interpretado. Pena que não seja o tipo de filme que entre no circuito comercial, penso que seja uma importante realidade a se conhecer, e garanto; o filme só aumentou minha vontade de conhecer esse lugar o quanto antes.

Como uma formula já conhecida, diretores se uniram para produção de um longa para falar sobre uma cidade. E o resultado é um misto de gestos, símbolos, ritmos e paisagens. Logo na segunda – feira temos a sorte de principiante do ator porto-riquenho Benicio del Toro, que estreia na direção. Os demais dias da semana, já que é assim que o filme de costura e divide, tem suas direções assinadas por; Gaspar Noé e Pablo Trapero ("Família Rodante"), o espanhol Julio Medem, o palestino Elia Suleiman e o francês Laurent Cantet (vencedor em Cannes com "Entre os Muros da Escola") e é Juan Carlos Tabío ("Morango e Chocolate") o único cubano do grupo, além do também cubano Leonardo Paura, que assina o roteiro.

O filme é bom, por que Cuba é um cenário natural, assim; Cuba está para o cinema alternativo, no melhor sentido da palavra, como o Rio de Janeiro está para as novelas. As discussões acabam sendo as mesmas e no que diz respeito a filmes bons, ficamos muito exigentes.Mas, Havana é a última capital comunista do Ocidente, sobrevivente e cheia de sonhos e disparidades, é viva de gente possível que pulsa, grita é passional, sente até o fim e troca a segurança financeira pelo amor. É que a essa segurança por mais forte símbolo de segurança que seja não esta em suas essências, talvez. São ruínas, mar, espera e doar.

É na observação aos contrastes que a poesia se faz, na espera pelo Comandante, na força do sincretismo, nas cores, imagens, nos tons e sons, no amarelo da Madrinha Oxum. Um filme forte, do tipo bom, apesar das repetições.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Alô Dolly!


Chegar ao Oi Casa Grande e de imediato sentir as divisões de setores, mesmo antes de entrar no teatro que é enorme. Sentei-me na seção dois e devo admitir que se minha miopia fosse um pouco mais acentuada eu não teria visto absolutamente nada, tamanha a distancia do palco. E eu seguiria nessa linha de reclamação interna não fosse a deliciosa música da orquestra que ali se apresentava ao vivo para somar ao espetáculo, ali fui fisgada.

Abrem-se as cortinas e: - Nossa! Que grandioso que rico, que bonito, enchi os olhos e assim lógico aumentou a expectativa e o fato é que as expectativas foram além do que o espetáculo apresenta. Com isso não quero nem de longe dizer que não seja um bom espetáculo, pois o é. Marília Pêra, Frederico Reuter, Ubiracy do Brasil, Patricia Bueno, Ricardo Pêra (filho de Marilia, e garanto a intimidade chega aos nossos olhos), Miguel Falabela e os demais cumprem muito bem seus papeis, o cenário é um deslumbre, os figurinos ricos em detalhes, os sotaques, músicas, a orquestra é claro, tudo absolutamente encaixado. As vozes belas, as músicas simples e o bom humor que nunca falta nos trabalhos de Falabela, tudo redondinho.
 “Alô Dolly”, tem texto de Michael Stewart, músicas e letras de Jerry Herman e  versão e direção assinadas por Miguel Falabela (o eterno Caco Antibes, ou lindo loiro de Copacabana). “Alô Dolly”, segundo o que entendi, se passa em mil oitocentos e alguma coisa, em Nova Iorque e em outra cidade e narra a história de Dolly Levi, uma viúva casamenteira lindamente interpretada por Marília Pêra, é contratada pelo comerciante viúvo e grosseirão, Horácio Vandergelder para arranjar-lhe uma esposa. Quem interpreta Horário é Miguel que sem muita dificuldade estimula o riso da plateia. Assim, Dolly o apresenta a Irene Molloy, até que decide que ela mesma o conquistará. Há ainda Cornélio Hackl, funcionário de Horácio que está sempre metido em confusões com seu fiel escudeiro Barnabé Tucker e  se apaixona por Irene. Além de tentar garantir seu próprio casamento, Dolly também ajuda Ambrósio Kemper a namorar Ermengarda, sobrinha de Horácio, que faz oposição ao romance por que o rapaz é pobre.
“Alô DollY!” estreou em 1964 e é um dos musicais de maior sucesso na história da Broadway arrebatando 10 Prêmios Tony. Aqui no Brasil já foi montado, com Bibi Ferreira e Paulo Fortes. Fiquei curiosa sobre como foi, se chegou, pois o atual “Alô Dolly!” é divertido e lindo, porém cansativo e não chega. Chega a força de Pêra que faz pelo menos umas cinco trocas de roupas e canções solos.
É literalmente um grande espetáculo com bons motivos para dar risada. Mas a melhor piada da noite foi na saída do teatro, ler algo, como: “esse espaço é espaço para democracia” ou algo assim ri descompassadamente e refleti.

ALÔ, DOLLY! - Texto de Michael Stewart. Músicas e letras de Jerry Herman. Versão e direção de Miguel Falabella. Com Marília Pêra, Miguel Falabella e grande elenco. Teatro Oi Casa Grande. Quinta e sexta, 21h. Sábado, 18h e 21h30. Domingo, 19h.

domingo, 18 de novembro de 2012

Dzi Croquettes em Bandália



Quem com mais de trinta não lembra, dos encerramentos do Fantástico ao som e estilo dos Dzi? Quem não lembra da força daqueles treze homens, que faziam às vezes de mulher no palco e na vida? Eu lembro que me provocava no melhor sentido da provocação. Há uns quatro anos foi lindamente produzido por Tatiana Issa e Raphael Alvarez, um documentário falando sobre esses que tanto criticaram a ditadura com bom humor e ousadia. De lá pra cá muitos que não lembravam ou conheciam os Dzi, foram conquistados.

Agora o que podemos ver no Rio de Janeiro é o espetáculo, Dzi Croquettes que não conta a história, mas parece querer desenvolver a mesma ideia, talvez seja outro grupo, que tende a ser o mesmo, e com o consentimento de Cláudio Tovar e participação de Bayard Tonelli e o próprio Ciro Barcelos, que dançam e encantam. No elenco tem ainda jovens atores, bem menos peludos e certamente mais encorpados.
Assim, logo de entrada o alerta que é também uma critica. a dificuldade de patrocínio mesmo para produções tão importantes que homenageiam e divertem. Daí pra frente muita música, dança e trocas de roupa. Carmem Miranda e suas bananas e assim maior interação com o publico que entra na brincadeira.
O espetáculo exibe cenário e figurinos lindos, que trás lembranças do não vivido por tantos, mas com fácil possibilidade de entrar na história desses treze garotos-homens que dividiram e dividem palco, casa, sonho, vida e critica, agora não mais a ditadura politica, mas há tantas outras ditaduras a que somos expostos cotidianamente.
Mas, como nada é perfeito nessa vida o espetáculo peca na técnica de som, assim perde-se um pouco do áudio, ou pelo microfone que não tem altura suficiente, como pela música muito alta que por vezes abafa as vozes dos atores. No mais uma grande diversão e a reflexão sobre a importância de Lennie Dale e seus companheiros para história da arte.
Deixo as percepções e o convite a todos que assistam ao espetáculo que está em cartaz no Teatro Leblon.
Serviço: Dzi Croquettes em BandáliaFoto divulgação
Teatro Leblon
Rua Conde Bernadotte, 26 – Leblon
Tel.: (21) 2529-7700
Quinta, sexta e sábado, às 21h; domingo às 20h
Espetáculo não recomendado para menores de 16 anos

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Gonzagão - A lenda


É Luiz, Lula, é Baião, sanfona, Nordeste, música, amor, Gonzagão. Uma lenda, tantas histórias e a eternidade, e que delicia ver os nossos recebendo homenagens merecidas. Uma delas é o espetáculo “Gonzagão, a Lenda”, com direção de João Falcão, em cartaz no Sesc Ginástico. E que nos canta Luiz e sobra até para Luizinho.
E começa o espetáculo, no palco quatro músicos, vários homem com um figurino regional e com uma instalação nas costas que lembrava orelha de burro, mais simboliza cavalos, pelo menos é o que penso. Gosto da primeira apresentação, logo de cara é possível perceber a qualidade técnica do musical que apresenta Marcelo Mimoso e conta com a participação de Laila Garin,, no elenco ainda  Adrén Alves, Alfredo Del Penho, Eduardo Rios, Fábio Enriquez, Paulo de Melo, renato de Paula e Ricca Barros. Gostaria de conhecer os atores a ponto de indicar quem fez o quê e saldar alguns que fazem a diferença, como o ator que interpreta Santana. Mas no geral o musical agrada tecnicamente o espetáculo é limpo e leve.
Ouvir Luiz Gonzaga cantado por vozes tão jovens é por se só uma alegria e um motivo para festa, afinal é o reciclar sobre a lenda. O espetáculo que se conta é interpretado por uma trupe de homens, até que chega Branca e encanta assim essa turma canta e conta história. Mas, infelizmente não me emociona. Como em tantos espetáculos que assisto no Rio sinto falta do visceral, do orgânico, aquele que te tira da zona de conforto, enfim.
Ao meu ver não falamos de teatro, mas de um grande show, um belo show, mas esperava sair emocionada, esperava e me frustrei, o que não quer dizer que não gostei. Pois gostei muito, os cantores são bons, os músicos sensacionais. E eu aproveito para deixar um salva ao querido Beto Lemos que toca como quem sente cada nota e chora junto com sua rabeca. No mais, lindo cenário mambembe, a luz precisa e uma direção divertida, além de belo figurino e adereços.
E que viva sempre em nós essa lenda, Gonzagão!

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Tantas histórias em um Brasil


Você já dirigiu pelas estradas do Nordeste? Do sertão do nordeste, já? Então só pela lembrança dessa sensação já vale o filme de um ator e dois diretores, “Viajo por que preciso, volto por que te amo”. Dos diretores, Marcelo Gomes e Karim Aïnouz, tem como único ator, Irandhir Santos. Mas a fotografia é da talentosa Heloísa Passos, a trilha que casa perfeitamente com a imagem é de Chambaril e o roteiro inteligente foi feito a três mentes, os diretores mais Eduardo Bernardes. A produção ficou por conta de Daniela Capelato. E a sensibilidade, bem, essa fica por nossa conta.

O longa nos apresenta a história de José Renato, geólogo, 35 anos, enviado para realizar uma pesquisa de campo com objetivo de avaliar o possível percurso de um canal que será construído a partir do desvio das águas do único rio caudaloso da região. No decorrer da viagem, damos conta que há algo de comum entre José Renato e os lugares por onde ele passa: o vazio. É nas realidades apresentadas que está a poesia o chamado.
Emocionada com o filme, especialmente com as imagens, resolvi emendar em outro filme, o escolhido “Uma Noite em 67”, documentário dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil que conta mais sobre o dia 21 de outubro de 1967, no Teatro Paramount, no centro de são Paulo, onde aconteceu a final do III Festival da Música Popular Brasileira da TV Record e sua plateia fervorosa com disposição de aplaudir, mas também muito prontos a vaiar. Por trás disso uma equipe de produção que bem sabia o que estava fazendo. Ali estavam entre os 12 finalistas, Chico Buarque e o MPB 4 vinham com “Roda Viva”; Caetano Veloso, com “Alegria, Alegria”’; Gilberto Gil e os Mutantes, com “Domingo no Parque”; Edu Lobo, com “Ponteio”; Roberto Carlos, com o samba “Maria, Carnaval e Cinzas”; e Sérgio Ricardo, com “Beto Bom de Bola”. A briga tinha tudo para ser boa. E foi. Tanto que entrou para a história. Lembro bem de ter aulas sobre isso na escola e admito, achei que Caetano fosse o grande herói, isso porque foi ali que eclodiu o Tropicalismo e consagrou essa noite.

O documentário mostra resgata imagens históricas e traz depoimentos inéditos dos principais personagens explícitos dessa história, além do jornalista Sérgio Cabral (um dos jurados) e do produtor Solano Ribeiro, que também partilham suas memórias dessa que tornou=se uma noite inesquecível.

Mesmo o primeiro filme sendo dos anos 2000, e o segundo também, mesmo falando de tempos passados, resolvi assistir um do século passado, foi ai que me veio mais uma vez as vistas o longa “Cronicamente Inviável”, dos anos 90, com direção de Sergio Bianchi. E logo de cara um estranhamento, meus olhos acostumaram-se com a imagem limpa dos dias atuais, assim o estranhamento é natural e por mais que tentem me dizer o contrario tenho a sensação de que antes conseguíamos capturar imagens mais reais. Não consigo nos ver com tão boa definição, somos de fato um tanto turvos. E são essas possibilidades e essa hipocrisia que são reveladas no filme.
Deixo os três filmes como boas sugestões e em um dia de gripe, juntos fazem o trabalho ideal. 

FLUPP


Uma quarta feira, 16 horas, nos dirigimos ao estacionamento da Fundição de onde saíram os micro ônibus para abertura da FLUPP. Primeira surpresa; ausência de alguém da produção, é o primeiro ano do Festival ele precisa ser apresentado. A segunda observação, não foi bem uma surpresa, mas causou tristeza, haviam dois micros, mais uma van e um carro e apenas um pouco mais de meia dúzia de pessoas. Estamos falando de um evento único, um marco na história da literatura, da leitura, do Brasil, mas normatizamos tudo. Sinto uma falta lascada do frisson.

O Festival que acontece no Morro dos Prazeres e também no Escondidinho, teve sua abertura realizada no GEO (Ginásio Experimental Olímpico), começa desde a subida, cruzar Santa Teresa e tantos casarões repletos de história. - Eu me perguntava na subida; quem dos muitos nomes da literatura já havia se inspirado por ali. E o homenageado desse ano (Lima Barreto) já havia posto os pés ali? Há alguma literatura que conte a história desse bairro onde podemos respirar história? Perguntava-me tudo isso, em quanto, refletia sobre nossos projetos, o passo a passo e a nossa urgência em ver tudo pronto, sem que façamos nada para que se realizem. Há! Claro, pagamos os impostos.

Na chegada ao espaço um não saber bem o que fazer e mais uma vez indagamos sobre a produção. Optamos por seguir os bons sons, eram as 1000 crianças da Orquestra de Vozes Meninos do Rio. Que maravilhosos Meninos, que deliciosas canções e que bom sentir arrepios ao ouvir sons que mais parecem anjos. Pessoalmente senti saudades de cantar. Tinha um garotinho em especial que nos puxava o foco, quis saber o nome dele, mas fiquei no querer.

Só quando a apresentação dos Meninos do Rio acabou que olhei ao redor; que espaço maravilhoso. Paisagens lindas, evento bem equipado, e... Tão pouca gente. Senti falta também do protagonista da festa, o livro, uma leitura, computador que fosse, mas que contasse histórias.


Mudamos a posição das cadeiras e começam as apresentações, Júlio Ludemir, idealizador do projeto estava tão emocionado que calou-se olhando tudo por cima da lente de seus pequenos óculos, Ecio Salles, parceiro de empreitada minimizava sua ansiedade falando e agradecendo aos muitos que colaboraram com essa realização. E nessa hora vi Maria Clara Machado de pertinho, que emoção senti e que se somou com a apresentação do Coral do PROERD, que apresentaram uma deliciosa seleção musical e encantaram ao cantarem “vida, vida, esperança e paz, sonho, sonho, esperança...” – Que lindos! Não fosse a altura absurda dos microfones, seria um espetáculo completo.


Os sotaques Nordestinos me encheram de orgulho, no melhor sentido da palavra, bom demais ver que somos todos produtores de cultura e que permanecemos em plena construção social. Essa reflexão só se desconstrói quando vejo a manutenção do elitismo, as três primeiras filas são dos convidados, dos apoiadores. E não somos todos convidados apoiadores? Em média 12 pessoas desistiram do evento por serem tiradas de onde estavam sentadas. Perderam as pessoas, perdeu o evento.


É chegada a vez do grande mestre Ariano Suassuna. Como pode ele ser tão? Entre palmas e sorrisos ele contava histórias e nós a ouvíamos com atenção hipnótica. Só os gênios conseguem isso. E entre histórias urbanas e ruralismos deixávamos guiar por Suassuna que em sorrisos diz: ”Eu sou do lado de Deus!”. Não falo mais sobre a aula espetáculo, por que só para ela escreveria 20 ou 30 textos, assim deixo claro sua genialidade, assim como meu questionamento sobre onde estariam todos os que encenam e pesquisam Suassuna, que não ali. Enfim.
Foto:Roberto Lima


A questão é que ao acabar sua explanação houve uma redução de 60 % do publico, pelo menos os daquelas primeiras filas. Era a vez de Bráulio Tavares - escritor, cronista, roteirista, poeta e compositor que há 20 anos não tocava no Rio de Janeiro. Mais um sotaque nordestino e seu som levou-me como por tele transporte a alguns festejos da infância.


Depois dele as cadeiras foram sendo tiradas, o cenário foi mudando, a noite ganhou completo espaço e as luzes dos Prazeres acenderam. Sobe ao palco MV Bill e seus parceiros. No vocal uma negra linda, de voz imponente, na picape ô cara e tinha ainda um violinista, o primeiro do gênero no Brasil. E fez-se um outro som, as luzes apagaram e os corpos dançaram embalados pelas letras politizadas do rapper, escritor e ativista social que retrata o cotidiano das favelas do Rio de Janeiro em seus textos e músicas. Mais uma vez senti falta do texto, por que não uma leitura entre as tantas músicas? Depois do Bill era a vez do rapper do Líbano MC Swat.


Quis muito uma programação, para ver o que mais eu poderia aproveitar do festival, mais fui informada pela produção que tinham sido levados poucos que só no dia seguinte. E afirmou, "tem toda ela na internet, só olhar lá" e falou mais algumas coisas que não compreendi bem, por que ela falava gritando. A questão é: Mas, e se não tenho internet? E como faço para chegar? Mais uma vez a produção deixa na mão. E não me digam que é por motivo X ou Y, qualquer equipe bem preparada desenvolve um bom trabalho, faltou capacitação. Não sei se os realizadores tem ciência disso, mais o Festival não pode se tornar produto, por que ele veste outra camisa, assim deixo o pedido por maior atenção com quem faz acontecer a ideia e por que e pra quem é feito.

No mais parabéns pela ideia, pela realização, pela prioridade. Deixo o convite a todos para que compareçam e vejam de perto já fazendo parte das transformações possíveis e necessárias para nossa sociedade, para nós. Grata aos idealizadores/realizadores  por tão belo projeto realizado. Deixo meu lamento por não poder acompanhar toda programação, mas vejamos o que nos for possível. E viva a leitura, literatura, criatividade.




sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Macbeth


Falemos sobre teatro, sobre William Shakespeare. Falemos sobre Macbeth, que foi encenada pela primeira vez em 1611, apenas com homens no elenco como exigia a sociedade. Hoje, a peça pode ser assistida no Brasil e trás no elenco, apenas homens. Uma homenagem, talvez. Ou um desafio bem aproveitado por Claudio Fontana, que vive a perversa Lady Macbeth.

A montagem que fica em cartaz no Rio de janeiro, no teatro dos Quatro até domingo, tem como protagonista o já conhecido Marcelo Antony, no papel de Macbeth. Para tanto o ator raspou a cabeça e quebrou a ideia do belo bonequinho de louça. O ator entrega-se ao personagem, mas por vezes não alcança. Desejei uma câmera em sua frente, seria divino ver suas expressões faciais na telona, ou na telinha. No teatro, no entanto, ficam brechas. Não do ator, mais do todo, a começar pelos atores, que com forte sotaque paulistano chegaram mesmo a incomodar. Figurino que caminha para ser bom, mas peca em detalhes bobos, o que não acontece com cenário e adereços. Parabéns a criatividade da reutilização do cotidiano.
Sob direção de Gabriel Vilela que já havia mergulhado no mundo Shakespeariano com Romeu e Julieta, a peça é absolutamente bem marcada, com saídas e entradas bem definidas, até demais em alguns momentos.  A adaptação do texto foi feita por Marcos Daud que reduziu os 20 personagens originais para oito e introduziu a figura de um narrador que ganha ar divertido com Carlos Morelli. As feiticeiras tiram sorriso da plateia pelos estereótipos.
É no geral um bom espetáculo de texto genial, com mensagens maravilhosas e muita força. É preciso manter-se atento ao texto, ele por si só é um espetáculo repleto de atualidades.
Ao final uma outra emoção ao dos ator Marcelo Antony, que entende a dificuldade de interpretar tão forte personagem e se esforça e caminha para melhora do personagem, é nítido seu empenho e garra, assim como de todos. Parabéns a todos por tão corajosa empreitada e mais apresentações e ensaios, até que seja Macbeth.
Do Rio o espetáculo segue em turnê, ao que me consta passará por Porto Alegre, Recife e outras capitais, vale conferir, conhecer mais a obra de Shakespeare e se mergulhar nas possibilidades históricas.
Teatro dos Quatro – Shopping da Gávea (21) 22749895

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A Floresta de Jonathas, de Sérgio Andrade


Por Roberta Bonfim
O último filme que assisti no Festival de cinema foi, “A Floresta de Jonathas”, primeiro filme do Norte que ultrapassa as barreiras invisíveis dos grandes Festivais e inaugura a presença da região no Festival do Rio. E entra pela porta da frente. O cine Odeon, dessa vez não estava lotado, mas quase se entende. Segunda feira, depois de uma overdose de tantos filmes. E preciso lamentar aos que não viram, pois perderam a linda chance de respirar os sons da Amazônia com um guia especial, um que se perde e se torna parte da floresta que não perdoa, mesmo quando alivia. Porém, antes de começarmos a ser invadidos por um verde amazônico, pudemos assistir a animação Realejo, lógico lembrei-me dos queridos do grupo Bagaceira de Teatro.

Quanto ao longa metragem, ricamente dirigido por Sérgio Andrade; é um grito, uma entrega e trás outras possibilidades. A de quem vive e convive com a Floresta, realidade que não se propõe a falar sobre os clichês. Além dos atores que em sua maioria são moradores de fato das região Norte, temos uma Ucraniana, um indígena e Chico Diaz.
Jonathas vive com os pais e o irmão numa área rural do Amazonas, vivem do que colhem e vendem em sua barraca de frutas na estrada. A barraca é o lugar de contato com as novidades do mundo. Ele e o irmão conhecem a ucraniana Milly e o indígena Kedassere e decidem acampar juntos na floresta. Onde Jonathas empreende a mais transformadora de suas jornadas.
A Floresta de Jonathas nasceu da livre inspiração em uma história real e foi o primeiro longa metragem da região Norte do Brasil contemplado no Edital de Longas Metragens de Baixo Orçamento da Secretaria do Audiovisual do MinC. O filme também participará da Mostra de São Paulo e do Amazonas Film Festival e representa um grande passo na descentralização cultural de nosso cinema. 
Vale conferir!

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Apresentando Lugar ArteVistas


Apresento aos que não conhecem meu outro blog, chama-se Lugar ArteVistas e trata-se de um programa de entrevista e turismo cultural.


1º Edição - Cinelândia - Bate Papo com Cadu Lopes

2º Edição Feira de São Cristóvão - Entrevista com Anthero Montenegro

3º Edição Escadaria da Lapa - Entrevista com Samuel de Assis

4º Edição- Copacabana - Entrevista com Georgina Castro
Estamos ansiosos por dicas e sugestões.

abraços!

O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho


Por Roberta Bonfim
Era sábado e já tínhamos assistido uma seção do Festival, mas não havia como não assistir “O Som ao Redor”, de Kleber Mendonça Filho, que já havia despertado minha atenção com seu curta “Recife Frio”. Já posicionada para assistir o filme, vejo a sala cheia e senti algo muito bom e sorri na certeza de que as coisas estão mudando e que de fato, estamos todos nos misturando. O diretor sobe ao palco com sua equipe, apresenta o filme e seus atores, o sotaque é outro. E que delicia de sotaque.

Começa o filme e ele segue por duas horas e dez minutos que eu, assim como eu uma boa parte da plateia só percebeu depois de uma breve olhadela no relógio. Pois o filme é natural, fluido, envolvente. Sem celebridades mais com um elenco maravilhoso, o longa-metragem pernambucano foi talvez o que de melhor assisti nesse Festival. Outro cenário, outro sotaque, as mesmas histórias, contadas de outras formas.
No elenco Irandhir Santos, Gustavo Jahn, Maeve Jinkings dentre tantos outros talentos, que trazem a tona verdades cotidianas. A expansão imobiliária, as prisões em suas próprias casas, as milícias, além do tédio da modernidade,  da inveja, do novo retrato da família pernambucana, brasileira.
Famílias tradicionais, marginais, promiscuas verdades, histórias e vinganças, amores, paixões e dinheiro. A maconha que provoca riso, as crianças que parecem gente grande, o carro, status, desrespeito. João, Mariá, Dinho, a dona de casa excêntrica, o zelador, os seguranças, os sonhos, as prisões. Tantas coisas...
O fato é que Kleber costura situações e conta sua história que é dramática, mas é também cômica, é leve sem deixar de ser densa, é vida. Parabéns a toda equipe que já levou quatro Kikitos e certamente vai levar muitos prêmios no Festival do Rio.
Grata! Por que à tão bons filmes se agradece.

Chamada a Cobrar


Por Roberta Bonfim
No Festival de Cinema do Rio, mais um filme tem como protagonista principal o telefone, “Chamada a Cobrar”, de Anna Muylaert (No Mundo da Lua, “É Proibido Fumar”), começou como uma série da TV Cultura e após alguns cortes, - menos do que o necessário, - tornou-se um longa, que tem como protagonista, Clarinha dignamente interpretada por Bete Dorgam, é uma senhora, que desfruta de uma vida confortável na cidade de São Paulo. Mãe de três filhas que vivem suas vidas. Assim, entre jardinagem e compras Clarinha se distraia, até que a paz é quebrada quando ela recebe uma ligação de um suposto sequestrador e daí começa uma seção de adrenalina, com a atriz em foco, ouvimos o dialogo dela, com os sequestradores, interpretado também por Renan Monteiro.
Com medo pela filha, essa mulher acredita na voz por trás do telefone e acaba seguindo pela estrada até o Rio de Janeiro, teleguiada por ele nas 12 horas seguintes percorre de carro de São Paulo ao Rio de Janeiro, depois de já ter comprado cartão para o telefone dos bandidos, trinta pares de tênis e ter dado os números de seus cartões.
Enquanto o quadro se constrói entre esses dois personagens que discutem as mais diversas problemáticas, até que chegam as diferenças sociais, as diferenças regionais e expõem estereótipos; as filhas começam uma mobilização atrás da mãe incentivadas pela empregada, mas onde está a irmão mais nova? São nessas buscas que essa família se reencontra.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Éden, de Bruno Safadi


Na última sexta feira, dia 05 de outubro, me emocionei. Me emocionei muito com o humano, com o que produzimos, me emocionei por ver que ainda se pode sonhar e que é possível realizar. Me emocionei com a arte gente e com a arte produto, mais especialmente emocionei-me com a arte questão.

Antes de qualquer exibição, antes mesmo dos anúncios publicitários, emociono-me com  Dodô Azevedo, ao apresentar seu curta “Eva no Verão”, que é além desse curta, por ser uma espécie de séria, onde Evas encontram-se através, enfim. É preciso que se veja, que escute a narrativa gostosa de Fernanda Paes Leme. Parabéns! Depois do curta aparecem as logos que possibilitam a realização desse filme.
E então “Edén”, de Bruno Safadi. E então Naldo, Karen, o marido, o irmão, a mulher do assassino e o próprio assassino, uma igreja, um consolo, amor e tantas verdades. O longa do jovem cineasta trás a tona o fenômeno das igrejas evangélicas, com a Igreja do Éden, como pano de fundo para história de Karen, jovem gravida de oito meses, que perdeu o marido para bala de um assassino e tenta se reencontrar e achar forças, a principio crer que a igreja pode salvá-la, até que percebe que é em seu filho que está sua fortaleza.
Karen é interpretada pela talentosíssima Leandra Leal, que bem merece o prêmio de melhor atriz. Nossa! Em algumas cenas me pareceu tão real.
E então, emocionei-me outra vez, com Karem, Leandra, João Miguel, Júlio Adriano, André Ramiro, Cristina Lago e Safadi com sua brincadeira de profanar o profano sem medo dos que se levantaram no meio do filme. O diretor fez uma escolha pagou pra ver e foi aplaudido, por mim de pé. J

O Gorila, de José eduardo Belmonte


 Tenho ido conferir a alguns filmes do Festival de Cinema do Rio, “O Gorila” de José Eduardo Belmonte, assisti na semana passada e logo na entrada a festa das estrelas, um festival de celebridades. Optei, no entanto,  por entrar logo para conseguir um bom lugar. Logo começam as apresentações, do curta e do longa da noite.

Olho ao redor, o cinema está absolutamente lotado, é o retorno por sempre apresentar bons contesto, como; “Se Nada Mais der Certo”, que levou o troféu Redentor de melhor-filme, em 2008. Começa então “O Gorila”, um filme de suspense de José Eduardo Belmonte, que tem como protagonista Otávio Müller, um ex dublador, um anti-herói, que na infância teve de lidar com a bipolaridade da Mãe, interpretada lindamente por Maria Manoela, torna-se um homem inseguro, que após crise do trabalho, começa uma obsessão por ligar para pessoas, especialmente mulheres, passando-lhes trote. Na época do Natal, mais uma vez algo muda radicalmente na vida do protagonista. Uma mulher o liga e diz que vai se matar, começa ai um jogo de cenas e situações interessantes.
Em cena, Alexandra Negrine, que interpreta Magda, uma das vitimas do Gorila, que passa a ser essencial para que o herói passivo de Belmonte não se perca pelo mar da loucura; Mariana Ximenes, que em personagem que mais lembra a mulher gato, um tanto bipolar, e Luíza Mariani, que interpreta a evangélica cheia de libido. Ainda no elenco Eucir de Sousa , Milhem Cortaz, Silvia Lorenço e Georgina Castro.
O Gorila é baseado no conto do escritor Sérgio Sant'Anna, duas vezes contemplado no Prêmio Jabuti, produzido por Rodrigo Teixeira de "O cheiro do ralo" (2006), "Gorila" parece cinema independente americano contemporâneo. E para demarcar os extremos de sanidade do universo que explora, a geometria da fotógrafa uruguaia Bárbara Álvarez.
A grande surpresa positiva foi Müller que evita que seu personagem Afrânio cai no poço do patético. Assim, a narrativa faz uma trajetória ao pesadelo de um artista que busca qualquer coisa que não sabe o que, em trotes telefônicos. Provocado quem assiste a refletir sobre essa solidão.
Sai do cinema um tanto confusa, cheguei mesmo a pensar que eu não havia gostado do filme. Foi na hora de dormir que ele começou a rodar por meus pensamentos. Ali constatei que havia gostado. Parabéns a toda equipe e ao cinema brasileiro.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Augustas


Você conhece São Paulo? E a Augusta, conhece? Foi ali na sala do Centro Cultural da Justiça, que fui apresentada. Em preto e branco, sépia e colorido, as tantas possibilidades de Augustas.
A região que liga o centro a área nobre é desde 1960, reduto de pessoas que buscam o alternativo, artístico, cultural e de entretenimento, mas como não poderia deixar de ser, especialmente nos anos 60, é também reduto de drogas e prostituição. Com tanta realidade deve ter ficado até fácil para o diretor Francisco César Filho, conhecido por seus documentários e curtas-metragens. “Augustas” tem um quê de Boca do Lixo, mesmo sendo um filme atual remete aos filmes dos anos setenta.
Nomes importantes como Hilton Lacerda e José Eduardo Belmonte, são os responsáveis pela roteirização que apresenta-nos Alex (Mário Bortolotto), nosso anti-herói. Um jornalista desacreditado que se embrenha em um universo de descobertas que envolvem a Rua Augusta. As dúvidas e contatações de Alex são em absoluto expostas em suas conversas regadas a cervejas, com o colega Tonico (Henrique Schafer). Nesse entre meio Alex se envolve com Kátia (Caroline Abras), uma prostituta, assim a cama é dividida, especialmente por Alex e Juliano Cazarré no papel de segurança de uma boate da rua que serve de cenário para história. Mais há ainda outras mulheres e questões na vida de Alex, como Jane, uma mulher simples, cheia de desejos interpretada lindamente pela querida Georgina Castro; Marrut (Selma Egrei) e sua namorada Azúcar (Maíra Chasseraux) que levam o personagem a se envolver em questões que o deixam no centro, entre o profano e o místico. Tem ainda sua editora e tudo isso como caminho na busca de um sentido à sua existência.
Assim, o que falta em recursos técnicos e de montagem, é compensado pela temática e na  libido que inunda a tela, por meio das mulheres, da rua Augusta, e todas as suas facetas. Mas devido a sua busca pelo alternativo e do poema sujo, o filme torna-se irregular e um pouco solto.
Na saída do cinema uma alegria e orgulho pelo cinema brasileiro, que como disse Georgina Castro na apresentação do filme merece sorte. Reflexão sobre as tantas possibilidades e uma pequena confusão com as informações oferecidas. Esse filme fez parte da programação do Festival de Cinema do Rio de Janeiro – setembro de 2012.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Gonzaga, de Pai para Filho - Festival de Cinema Rio


Começando do começo. Tapete vermelho, com pedras em baixo, mas era um verdadeiro tapete vermelho. Pessoas bem vestidas falavam dos próximos filmes e suas metas de quinze milhões. Flashs disparados para todos os lados e fotógrafos gritando, “Solano”, “Regina”, “Domingos”. Sobrou espaço para outros e alguns, bem alguns se escondiam. Mas tinha também quem não acreditasse que não eram reconhecidos. Tinha pra todo tipo na estreia do Festival de Cinema do Rio 2012.

Já dentro do cinema, um festival extra de celebridades, de pessoas. Sorri ao ver que ali rolava a tal da democracia, mas só depois que já se esta dentro do cinema, com luzes fracas e outros focos. A apresentação ficou por conta de Regina Duarte, (http://robertabonfim.blogspot.com.br/2012/09/espelhos-e-alma-exposicoes-de-regina.html), que em comemoração aos seus cinquenta anos de profissão; apresentou e poetizou ainda mais o momento.
Subiram ao palco, Sérgio Sá Leitão (Rio Filmes) as coordenadoras do Festival, Sr Emilio Kalil e até Marta Suplicy. Depois de algum tempo e muitos agradecimentos merecidos, sobe a equipe do longa “Gonzaga, de Pai para Filho”, a pedido do diretor.Breno Silveira que mostrou sua sensibilidade em “Dois Filhos de Francisco”, toda equipe presente subiu, abraçaram-se sorriram, explanaram sobre o processo que durou sete anos e desceram para que, comece a projeção.
E...
Começa o filme, na realidade ouve-se a voz e os dizeres. É Lula, que conquistou o Brasil e o mundo com a politica da sobrevivência, ao som do baião. É Lula do Exu, do Nordeste, da macheza, É Lula lutando e Luiz, também. São os dois Gonzagas, pai e filho, filho e pai e um monte de amor. É a força da música que fala mais que o sangue, é coisa da vida e são os chamados da morte.
Com uma fotografia maravilhosa e com atores viscerais, músicas de dois gênios e muita vontade o filme emociona. Assumo que como nordestina na luta pelo amanhã em terras outras, quis mesmo foi cantar auto “Minha vida é andar por esse país...”, ou chamar caranguejo, ou quem sabe venço e então me declaro na arte sem pudor, dor e amor, dor por amor, amor por dor pela dor. São tantas mensagens.
Com um roteiro rico, sem dificuldade, já que a história desses dois homens já é o roteiro. De boa pesquisa. O filme chega naquele lugar guardado, onde por mais que o tempo passe e as relações mudem; mantem-se.  Podendo inclusive transforma-se em vários. O diretor Breno Silveira, acerta muito a mão na direção e assim, conseguimos ver a passagem do tempo, para além dos detalhes. Além de um elenco maravilhoso, Breno dirigiu três GonzagaS e três GonzaguinhaS.

Apesar de algumas cenas onde a naturalidade foge, todos tiram de letra e consegue com leveza ver nas entrelinhas dessas histórias, desses desencontros culturais, dessas bagagens não compartilhadas. De um lado Luiz Gonzaga, Rei do Baião, cabra macho do sertão, pobre de doer, humilhado por coronel, guerreiro, esperto, participou de uma porção de revolução e não deu um tiro. De outro Luiz Gonzaga Jr., carioca do Morro do São Carlos, jovem confuso e louco pelo pai.
E assim levam uma vida para se verem e conquistarem. E só se entendem, quando se ouvem, pois tanto contam em suas canções. O filme acabou na tela e não acabava em mim e confesso, fui tiete, senti uma vontade do fundo do meu coração de agradecer alguém por seu trabalho e assim o fiz com Julio Andrade, para que chegue a todos.
Assim, assumo também que filme quando mexe com meu coração, pode até falhar em uma questão aqui ou ali, mais eu nem vejo. Grata mais uma vez a possibilidade de assistir tal filme, de ser emocionada com e por ele, e estou feliz demais pela qualidade do cinema brasileiro.
E torçam ai para que eu consiga assistir mais filmes. J

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Marketing Tropicália


                                       Por Roberta Bonfim
Eu, como uma parte da população arregalei os olhos quando vi o nome Tropicália. Evitei os exageros e passei, mais logo que chegou a mensagem de um amigo com o convite, não contei pipoca e logo estava eu na frente do Odeon em um dia quente, de vento quente. Depois de um dia de trabalho duro, lá estava eu esperando os amigos com o ingresso na mão e um chopp na outra. São em dias como esse que vos falo, que entendo por que no Rio tomam tanta cerveja. Um encontro feliz e inesperado e daí as pipocas, sorvetes, chicletes. Todos equipados. Entramos na sala. Aceitamos a boa sugestão do segundo setor e colocamos as pernas pra cima.

Começa o filme e o resgate daquela mesma cena a que o Caetano diz, “Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? Vocês têm coragem de aplaudir, este ano, uma música, um tipo de música que vocês não teriam coragem de aplaudir no ano passado! São a mesma juventude que vão sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem! Vocês não estão entendendo nada, nada, nada, absolutamente nada." E eu me pergunto, ele entendeu?
Sou absolutamente fã da música de Caetano e de Gil, sou ainda mais fã da Rita Lee, o Tom Zé me foi apresentado depois, o admiro pela excentricidade, o admiro pela permanecia, pela crença. O que me parece, vez ou outra é que para alguns o tropicalismo foi um movimento, um jogo de marketing imbatível em épocas de duras repressões. A questão é que para Tom, ao que me parece tornou-se uma filosofia utópica que de alguma forma o guia. Não sei, não apenas percepções.
A realidade é que nasci um tempo depois do processo de ditadura, ele era ainda vivo e eu até senti seus impactos de forma indireta, como todos sentimos até os dias de hoje, de uma forma ou de outra. A questão é que criou-se um  imaginário heroico encima do sofrido com a ditadura. Eu mesma sempre me encanto com o poder do unir-se em prol de algo. A modernidade nos oferece lutas muito sós. E não foi em nome do individuo toda essa luta?
Estamos falando de jovens que me remetem a outros jovens. Vejo Diego Moraes nos olhos de Gil e Caio Prado na serenidade leonina de Caetano. Por todas essas sensações, pelas músicas, possibilidades de assistir mais uma vez alguns vídeos que lembro de suas reproduções em alguns lugares e situações.
E pode até ter havido todo um discurso politico, até por ser um período politico. Mas ao meu ver o tropicalismo não passou de jovens com vontade de experimentar, de quebrar parâmetros de serem diferentes. Jovens talentosíssimos, que optaram por fazer um movimento que chamasse atenção, seguindo a ideia do; “juntos somos mais fortes”. Assim nasceu o tropicalismo, a partir de jovens com vontade de fazer diferente e assim, trocaram experiências musicais e de vida.
A questão é que em algum minuto o documentário de Machado que também assina o roteiro junto a Di Moretti, fica cansativo, fica didático demais, com informações que não se completam, talvez até complete para quem viveu o momento, mas para quem apenas o observa, fica vago. Em alguns momentos a sensação é de chover no molhado.
O mais importante pra mim, foi confirmar que a tropicália pode até ter começado com Gil e Caetano, enquanto ideia, mas enquanto movimento é de todos. Grata ao movimento musical!



terça-feira, 25 de setembro de 2012

Espelhos e Alma – Exposições de Regina Duarte e Gilberto Gil



Por Roberta Bonfim
Histórias que se misturam com a história. É isso. Poderia escrever só isso e estaria dizendo tudo a respeito das Exposições; “Espelho da arte, a atriz em seu tempo” e “Gil”. Em uma podemos caminhar entre cenários, imagens e cores que já nos invadiram a casa, nos cinquenta anos de carreira de Regina Duarte.


Quem não se lembra de: Rainha da Sucata? Viúva Porcina? As Helenas e tantas outras personagens que nos encantaram. Para comemorar os cinquenta anos de profissão da atriz estão todas juntas, no Centro Cultural dos Correios. Indico fazer o circuito que fiz, subir de elevador para o terceiro piso. O elevador por si já é uma linda exposição. Ao descer dele já há uma overdose de Regina, tem Regina para todos os gostos e tempos, daí pra frente, boas lembranças, gostosas surpresas. As paredes feitas de cartolina ou algo parecido são absolutamente interessantes.



Depois de um passeio delicioso por cenários incríveis, chego ao fim e deixo meu recadinho para atriz e também para produção e curadoria. Nessa hora é bom pegar a escada, ela range, conta história. E de cara um cara. Laranja com o nome Gil no centro. Daí pra frente uma aula de história da música e do Brasil, e inúmeras possibilidade, inspiradas nas músicas de Gil. Há espaço até para aranhas que tecem sua teia que representam as cordas do violão.
Ao final a certeza de um dia produtivo e feliz. Deixo a dica. As exposições ficarão até o dia 28 de outubro.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Três Marias


                                                                                                                                        Por Roberta Bonfim
Teatro dos Quatro, Gávea, sinônimo de boas produções e foi com essa reflexão que fui assistir a estreia do espetáculo “Três Marias”, um musical infanto-juvenil. Logo na entrada a descoberta; existem globais no espetáculo, então, na plateia também tem. E isso quer dizer muitos flash, isso nada tem haver com o espetáculo em si, mas...



Enfim, terceiro sinal, e antes mesmo da abertura das cortinas, já se ouvia: “Será que vai dá certo? Começou! Tem gente?!” e outras coisas que se diz antes de entrar em cena. E então, apresentam-se as Marias; Maria Aparecida, Zé Maria e Antônio Maria. Três Marias que se conheceram em algum lugar indeterminado e descobrem afinidades, e assim decidem correr mundo juntos com uma trupe mambembe. Daí se constrói a narrativa que fala sobre escolhas, verdade, perdão, amor e consequências. Com um uma iluminação de focos muito marcados que remetem ao circo, o espetáculo anda por muito tempo, um pouco mais do que o ideal, inclusive, chegando a se tornar cansativo.
A voz dos atores é boa e a energia de palco de Gabriel Naegele chama atenção. Quem também se destaca é Aline Peixoto que tem uma bela projeção vocal, além da intimidade com vários instrumentos musicais.  Figurinos e cenários são admiráveis, assim como texto leve e repleto de simbolismo.
Os erros em cena e falhas de produção existiram, mas lembro, foi estreia. E estreias são sempre tensas e confusas, assim eles tiraram de letra e divertiram adultos e crianças, deixando ainda a reflexão sobre as respostas as nossas escolhas. Com muita música e bom humor o espetáculo mais lembra uma grande brincadeira de crianças grandes que conta além de Gabriel e Aline, ainda com Denise Peixoto, Leonam Thurler e o conhecido Daviid Lucas, que atualmente vive papel de jovem internético em Malhação, no elenco,.
Ao final, uma salva de palmas e festa com e para os atores, na fila para saída o sorriso de satisfação da plateia que sai leve e busca os atores para fotos. Após um espetáculo como as Três Marias, todos saem um pouco crianças.

domingo, 16 de setembro de 2012

O Belo Indiferente


Com texto de  Jean Cocteau (1889-1963), o espetáculo “O Belo Indiferente” foi escrito para Edith Piaf (1915-1963). Onde a personagem principal, vivida pela atriz Djin Dganzerla, é uma cantora de cabaret que espera por seu homem sozinha na sua casa. Assim, as horas passam e a insegurança aumenta até que a loucura aparece. O homem chega e a ignora, não diz se quer uma palavra, indiferente à verborragia da mulher. Dessa forma desenrola-se o espetáculo belamente indiferente, assim vi o espetáculo “O Belo Indiferente”, que tem direção de André Guerreiro Lopes e Helena Ignez. Logo de cara a ideia de teatro no palco. Amo teatro de arena, mas teatro no palco ainda é algo que me causa estranheza. O cenário me confundiu, não conseguia identificar uma época e nem tão pouco senti o atemporal, dessa forma o espetáculo acontece em lugar nenhum do tempo.
Com muita fumaça e um jogo de luz que me remeteu a uma rave, o espetáculo começa. Uma mulher nervosa e chorosa entra em cena e... Bem daí pra frente uma linearidade surpreendente, como se a situação inicial se repetisse e mais uma vez. A atriz é sensacional mais por algum motivo durante quase todo espetáculo não alcança. A questão é que a atriz não usa bem os muitos recursos que se apresentam. O começo do espetáculo é tão repetitivo que o publico se distrai. Felizmente no final do espetáculo Sganzerla surpreende positivamente ao ganhar ritmo e usar-se bem de suas expressões faciais.
O figurino de Simone Maia é sensível. Em se tratando na parceria entre cenógrafo e concepção, a ideia das pedras no lugar do colchão, dos espelhos, são opções interessantes, por oferecerem sentidos outros para a situação.
Fui esperando mais da cena e do texto de Cocteau, que sim é forte e merece reconhecimento, mas me pareceu por si um tanto linear (pelo de acordo com o visto). O grande lance do espetáculo ao meu ver são os sons, que mesmo com algumas falhas tentavam dá ritmo a narrativa. E penso que esse seja o caminho, a protagonista se deixar guiar por esses ritmos repletos de pesquisa. Os sons são belos não indiferentes. E por falar no Belo, o homem, o macho, bem, não senti segurança em sua indiferença.  
É um espetáculo audacioso, isso é certo e a questão é que paga-se um preço para tanto.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Menos que Nada


Por Roberta Bonfim
Quando menos é mais? E quando é menos que nada e ainda sim faz uma diferença tremenda? É isso que o longa metragem dirigido por Carlos Gerbase, propõe a partir de uma história, diferente das que estamos acostumados a ver no cinema brasileiro. Com uso de um jogo de câmeras que permite um efeito de 360º graus em torno dos personagens em momentos propícios do enredo. Os giros significam momentos de revelação, de ideia ou de mudança.


O longa “Menos que Nada” começa nos levando a crer que vaio se tratar de questões sobre a vida e a morte, mas está para além disso. É quando começa o desenrolar sobre como o protagonista Dante, vivido pelo ator Felipe Kannenberg, foi parar em um hospital psiquiátrico. O quebra cabeça começa a ser montado por uma jovem médica, Paula, vivida por Branca Messina, que aceita o acaso e faz de Dante seu objeto de pesquisa.
São das entrevistas realizadas por Paula, com quatro personagens importantes para vida de Dante, que é possível remontarmos as últimas semanas de vida lúcida do mesmo e então tentar esclarecer o que pode ter acontecido.
Junto a todo esse emaranhado de possibilidades e histórias, existem ainda fósseis pré-históricos, que são na realidade os grandes catalizadores da narrativa e suas alterações. A partir deles Dante que desde a infância havia se travado por guardar inconscientemente a culpa pela morte da mãe, cria animo ao encontrar os fósseis, uma possível paixão e seu amor infantil. Sua relação com o sexo também é um fato que deve ser ressaltado.
A questão é que há roteiro, uma boa direção a magnifica atuação de Kannenberg que nos convence com absoluto empenho de que estamos diante de um esquizofrênico. Mais fica por ai, no mais o filme cai no pecado da ingenuidade artística, com um elenco um tanto fraco. A atriz Branca Messina, por vezes encanta, mas falta maturidade ao elenco.
No mais é um bom filme e merece palmas, pela coragem da inovação. Eu recomendo! 

Corpos Velhos: Para que servem?

Por Roberta Bonfim Tudo que se vive é parte do que somos e do que temos a comunicar, nossos corpos guardam todas as memórias vividas, muit...