sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Gonzaga, de Pai para Filho - Festival de Cinema Rio


Começando do começo. Tapete vermelho, com pedras em baixo, mas era um verdadeiro tapete vermelho. Pessoas bem vestidas falavam dos próximos filmes e suas metas de quinze milhões. Flashs disparados para todos os lados e fotógrafos gritando, “Solano”, “Regina”, “Domingos”. Sobrou espaço para outros e alguns, bem alguns se escondiam. Mas tinha também quem não acreditasse que não eram reconhecidos. Tinha pra todo tipo na estreia do Festival de Cinema do Rio 2012.

Já dentro do cinema, um festival extra de celebridades, de pessoas. Sorri ao ver que ali rolava a tal da democracia, mas só depois que já se esta dentro do cinema, com luzes fracas e outros focos. A apresentação ficou por conta de Regina Duarte, (http://robertabonfim.blogspot.com.br/2012/09/espelhos-e-alma-exposicoes-de-regina.html), que em comemoração aos seus cinquenta anos de profissão; apresentou e poetizou ainda mais o momento.
Subiram ao palco, Sérgio Sá Leitão (Rio Filmes) as coordenadoras do Festival, Sr Emilio Kalil e até Marta Suplicy. Depois de algum tempo e muitos agradecimentos merecidos, sobe a equipe do longa “Gonzaga, de Pai para Filho”, a pedido do diretor.Breno Silveira que mostrou sua sensibilidade em “Dois Filhos de Francisco”, toda equipe presente subiu, abraçaram-se sorriram, explanaram sobre o processo que durou sete anos e desceram para que, comece a projeção.
E...
Começa o filme, na realidade ouve-se a voz e os dizeres. É Lula, que conquistou o Brasil e o mundo com a politica da sobrevivência, ao som do baião. É Lula do Exu, do Nordeste, da macheza, É Lula lutando e Luiz, também. São os dois Gonzagas, pai e filho, filho e pai e um monte de amor. É a força da música que fala mais que o sangue, é coisa da vida e são os chamados da morte.
Com uma fotografia maravilhosa e com atores viscerais, músicas de dois gênios e muita vontade o filme emociona. Assumo que como nordestina na luta pelo amanhã em terras outras, quis mesmo foi cantar auto “Minha vida é andar por esse país...”, ou chamar caranguejo, ou quem sabe venço e então me declaro na arte sem pudor, dor e amor, dor por amor, amor por dor pela dor. São tantas mensagens.
Com um roteiro rico, sem dificuldade, já que a história desses dois homens já é o roteiro. De boa pesquisa. O filme chega naquele lugar guardado, onde por mais que o tempo passe e as relações mudem; mantem-se.  Podendo inclusive transforma-se em vários. O diretor Breno Silveira, acerta muito a mão na direção e assim, conseguimos ver a passagem do tempo, para além dos detalhes. Além de um elenco maravilhoso, Breno dirigiu três GonzagaS e três GonzaguinhaS.

Apesar de algumas cenas onde a naturalidade foge, todos tiram de letra e consegue com leveza ver nas entrelinhas dessas histórias, desses desencontros culturais, dessas bagagens não compartilhadas. De um lado Luiz Gonzaga, Rei do Baião, cabra macho do sertão, pobre de doer, humilhado por coronel, guerreiro, esperto, participou de uma porção de revolução e não deu um tiro. De outro Luiz Gonzaga Jr., carioca do Morro do São Carlos, jovem confuso e louco pelo pai.
E assim levam uma vida para se verem e conquistarem. E só se entendem, quando se ouvem, pois tanto contam em suas canções. O filme acabou na tela e não acabava em mim e confesso, fui tiete, senti uma vontade do fundo do meu coração de agradecer alguém por seu trabalho e assim o fiz com Julio Andrade, para que chegue a todos.
Assim, assumo também que filme quando mexe com meu coração, pode até falhar em uma questão aqui ou ali, mais eu nem vejo. Grata mais uma vez a possibilidade de assistir tal filme, de ser emocionada com e por ele, e estou feliz demais pela qualidade do cinema brasileiro.
E torçam ai para que eu consiga assistir mais filmes. J

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Marketing Tropicália


                                       Por Roberta Bonfim
Eu, como uma parte da população arregalei os olhos quando vi o nome Tropicália. Evitei os exageros e passei, mais logo que chegou a mensagem de um amigo com o convite, não contei pipoca e logo estava eu na frente do Odeon em um dia quente, de vento quente. Depois de um dia de trabalho duro, lá estava eu esperando os amigos com o ingresso na mão e um chopp na outra. São em dias como esse que vos falo, que entendo por que no Rio tomam tanta cerveja. Um encontro feliz e inesperado e daí as pipocas, sorvetes, chicletes. Todos equipados. Entramos na sala. Aceitamos a boa sugestão do segundo setor e colocamos as pernas pra cima.

Começa o filme e o resgate daquela mesma cena a que o Caetano diz, “Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? Vocês têm coragem de aplaudir, este ano, uma música, um tipo de música que vocês não teriam coragem de aplaudir no ano passado! São a mesma juventude que vão sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem! Vocês não estão entendendo nada, nada, nada, absolutamente nada." E eu me pergunto, ele entendeu?
Sou absolutamente fã da música de Caetano e de Gil, sou ainda mais fã da Rita Lee, o Tom Zé me foi apresentado depois, o admiro pela excentricidade, o admiro pela permanecia, pela crença. O que me parece, vez ou outra é que para alguns o tropicalismo foi um movimento, um jogo de marketing imbatível em épocas de duras repressões. A questão é que para Tom, ao que me parece tornou-se uma filosofia utópica que de alguma forma o guia. Não sei, não apenas percepções.
A realidade é que nasci um tempo depois do processo de ditadura, ele era ainda vivo e eu até senti seus impactos de forma indireta, como todos sentimos até os dias de hoje, de uma forma ou de outra. A questão é que criou-se um  imaginário heroico encima do sofrido com a ditadura. Eu mesma sempre me encanto com o poder do unir-se em prol de algo. A modernidade nos oferece lutas muito sós. E não foi em nome do individuo toda essa luta?
Estamos falando de jovens que me remetem a outros jovens. Vejo Diego Moraes nos olhos de Gil e Caio Prado na serenidade leonina de Caetano. Por todas essas sensações, pelas músicas, possibilidades de assistir mais uma vez alguns vídeos que lembro de suas reproduções em alguns lugares e situações.
E pode até ter havido todo um discurso politico, até por ser um período politico. Mas ao meu ver o tropicalismo não passou de jovens com vontade de experimentar, de quebrar parâmetros de serem diferentes. Jovens talentosíssimos, que optaram por fazer um movimento que chamasse atenção, seguindo a ideia do; “juntos somos mais fortes”. Assim nasceu o tropicalismo, a partir de jovens com vontade de fazer diferente e assim, trocaram experiências musicais e de vida.
A questão é que em algum minuto o documentário de Machado que também assina o roteiro junto a Di Moretti, fica cansativo, fica didático demais, com informações que não se completam, talvez até complete para quem viveu o momento, mas para quem apenas o observa, fica vago. Em alguns momentos a sensação é de chover no molhado.
O mais importante pra mim, foi confirmar que a tropicália pode até ter começado com Gil e Caetano, enquanto ideia, mas enquanto movimento é de todos. Grata ao movimento musical!



terça-feira, 25 de setembro de 2012

Espelhos e Alma – Exposições de Regina Duarte e Gilberto Gil



Por Roberta Bonfim
Histórias que se misturam com a história. É isso. Poderia escrever só isso e estaria dizendo tudo a respeito das Exposições; “Espelho da arte, a atriz em seu tempo” e “Gil”. Em uma podemos caminhar entre cenários, imagens e cores que já nos invadiram a casa, nos cinquenta anos de carreira de Regina Duarte.


Quem não se lembra de: Rainha da Sucata? Viúva Porcina? As Helenas e tantas outras personagens que nos encantaram. Para comemorar os cinquenta anos de profissão da atriz estão todas juntas, no Centro Cultural dos Correios. Indico fazer o circuito que fiz, subir de elevador para o terceiro piso. O elevador por si já é uma linda exposição. Ao descer dele já há uma overdose de Regina, tem Regina para todos os gostos e tempos, daí pra frente, boas lembranças, gostosas surpresas. As paredes feitas de cartolina ou algo parecido são absolutamente interessantes.



Depois de um passeio delicioso por cenários incríveis, chego ao fim e deixo meu recadinho para atriz e também para produção e curadoria. Nessa hora é bom pegar a escada, ela range, conta história. E de cara um cara. Laranja com o nome Gil no centro. Daí pra frente uma aula de história da música e do Brasil, e inúmeras possibilidade, inspiradas nas músicas de Gil. Há espaço até para aranhas que tecem sua teia que representam as cordas do violão.
Ao final a certeza de um dia produtivo e feliz. Deixo a dica. As exposições ficarão até o dia 28 de outubro.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Três Marias


                                                                                                                                        Por Roberta Bonfim
Teatro dos Quatro, Gávea, sinônimo de boas produções e foi com essa reflexão que fui assistir a estreia do espetáculo “Três Marias”, um musical infanto-juvenil. Logo na entrada a descoberta; existem globais no espetáculo, então, na plateia também tem. E isso quer dizer muitos flash, isso nada tem haver com o espetáculo em si, mas...



Enfim, terceiro sinal, e antes mesmo da abertura das cortinas, já se ouvia: “Será que vai dá certo? Começou! Tem gente?!” e outras coisas que se diz antes de entrar em cena. E então, apresentam-se as Marias; Maria Aparecida, Zé Maria e Antônio Maria. Três Marias que se conheceram em algum lugar indeterminado e descobrem afinidades, e assim decidem correr mundo juntos com uma trupe mambembe. Daí se constrói a narrativa que fala sobre escolhas, verdade, perdão, amor e consequências. Com um uma iluminação de focos muito marcados que remetem ao circo, o espetáculo anda por muito tempo, um pouco mais do que o ideal, inclusive, chegando a se tornar cansativo.
A voz dos atores é boa e a energia de palco de Gabriel Naegele chama atenção. Quem também se destaca é Aline Peixoto que tem uma bela projeção vocal, além da intimidade com vários instrumentos musicais.  Figurinos e cenários são admiráveis, assim como texto leve e repleto de simbolismo.
Os erros em cena e falhas de produção existiram, mas lembro, foi estreia. E estreias são sempre tensas e confusas, assim eles tiraram de letra e divertiram adultos e crianças, deixando ainda a reflexão sobre as respostas as nossas escolhas. Com muita música e bom humor o espetáculo mais lembra uma grande brincadeira de crianças grandes que conta além de Gabriel e Aline, ainda com Denise Peixoto, Leonam Thurler e o conhecido Daviid Lucas, que atualmente vive papel de jovem internético em Malhação, no elenco,.
Ao final, uma salva de palmas e festa com e para os atores, na fila para saída o sorriso de satisfação da plateia que sai leve e busca os atores para fotos. Após um espetáculo como as Três Marias, todos saem um pouco crianças.

domingo, 16 de setembro de 2012

O Belo Indiferente


Com texto de  Jean Cocteau (1889-1963), o espetáculo “O Belo Indiferente” foi escrito para Edith Piaf (1915-1963). Onde a personagem principal, vivida pela atriz Djin Dganzerla, é uma cantora de cabaret que espera por seu homem sozinha na sua casa. Assim, as horas passam e a insegurança aumenta até que a loucura aparece. O homem chega e a ignora, não diz se quer uma palavra, indiferente à verborragia da mulher. Dessa forma desenrola-se o espetáculo belamente indiferente, assim vi o espetáculo “O Belo Indiferente”, que tem direção de André Guerreiro Lopes e Helena Ignez. Logo de cara a ideia de teatro no palco. Amo teatro de arena, mas teatro no palco ainda é algo que me causa estranheza. O cenário me confundiu, não conseguia identificar uma época e nem tão pouco senti o atemporal, dessa forma o espetáculo acontece em lugar nenhum do tempo.
Com muita fumaça e um jogo de luz que me remeteu a uma rave, o espetáculo começa. Uma mulher nervosa e chorosa entra em cena e... Bem daí pra frente uma linearidade surpreendente, como se a situação inicial se repetisse e mais uma vez. A atriz é sensacional mais por algum motivo durante quase todo espetáculo não alcança. A questão é que a atriz não usa bem os muitos recursos que se apresentam. O começo do espetáculo é tão repetitivo que o publico se distrai. Felizmente no final do espetáculo Sganzerla surpreende positivamente ao ganhar ritmo e usar-se bem de suas expressões faciais.
O figurino de Simone Maia é sensível. Em se tratando na parceria entre cenógrafo e concepção, a ideia das pedras no lugar do colchão, dos espelhos, são opções interessantes, por oferecerem sentidos outros para a situação.
Fui esperando mais da cena e do texto de Cocteau, que sim é forte e merece reconhecimento, mas me pareceu por si um tanto linear (pelo de acordo com o visto). O grande lance do espetáculo ao meu ver são os sons, que mesmo com algumas falhas tentavam dá ritmo a narrativa. E penso que esse seja o caminho, a protagonista se deixar guiar por esses ritmos repletos de pesquisa. Os sons são belos não indiferentes. E por falar no Belo, o homem, o macho, bem, não senti segurança em sua indiferença.  
É um espetáculo audacioso, isso é certo e a questão é que paga-se um preço para tanto.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Menos que Nada


Por Roberta Bonfim
Quando menos é mais? E quando é menos que nada e ainda sim faz uma diferença tremenda? É isso que o longa metragem dirigido por Carlos Gerbase, propõe a partir de uma história, diferente das que estamos acostumados a ver no cinema brasileiro. Com uso de um jogo de câmeras que permite um efeito de 360º graus em torno dos personagens em momentos propícios do enredo. Os giros significam momentos de revelação, de ideia ou de mudança.


O longa “Menos que Nada” começa nos levando a crer que vaio se tratar de questões sobre a vida e a morte, mas está para além disso. É quando começa o desenrolar sobre como o protagonista Dante, vivido pelo ator Felipe Kannenberg, foi parar em um hospital psiquiátrico. O quebra cabeça começa a ser montado por uma jovem médica, Paula, vivida por Branca Messina, que aceita o acaso e faz de Dante seu objeto de pesquisa.
São das entrevistas realizadas por Paula, com quatro personagens importantes para vida de Dante, que é possível remontarmos as últimas semanas de vida lúcida do mesmo e então tentar esclarecer o que pode ter acontecido.
Junto a todo esse emaranhado de possibilidades e histórias, existem ainda fósseis pré-históricos, que são na realidade os grandes catalizadores da narrativa e suas alterações. A partir deles Dante que desde a infância havia se travado por guardar inconscientemente a culpa pela morte da mãe, cria animo ao encontrar os fósseis, uma possível paixão e seu amor infantil. Sua relação com o sexo também é um fato que deve ser ressaltado.
A questão é que há roteiro, uma boa direção a magnifica atuação de Kannenberg que nos convence com absoluto empenho de que estamos diante de um esquizofrênico. Mais fica por ai, no mais o filme cai no pecado da ingenuidade artística, com um elenco um tanto fraco. A atriz Branca Messina, por vezes encanta, mas falta maturidade ao elenco.
No mais é um bom filme e merece palmas, pela coragem da inovação. Eu recomendo! 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

UmBonde


  1.                                                             Por Roberta Bonfim

Ontem fui assistir a apresentação da banda de samba-jazz-rock, e que boa surpresa, me deparar com som tão bom. Por vezes me senti no sábado do Órbita Bar, mais se tratava do Lapa Café e a banda a qual me refiro é UmBonde. Uma banda composta por cinco jovens músicos, são eles: Anderson Batista- Voz e Violão, Bruno José- Percussão, Marcos Reginaldo- Baixo, Marco Lacerda- Guitarra, Gustavo Peres- Bateria. E com competência, músicas auto astral e homenagens que fazem a diferença os meninos tocaram também ótimos hits autorais, destaque para Alvorecer e Aos Pés do Cristo Redentor (divido-as com vocês) e chamaram à plateia a dançar, mesmo sentados.


Não consigo lembrar o tempo exato de show, mas certamente não foi o suficiente, merecíamos mais de UmBonde. A banda conta com uma equipe de jovens músicos talentosos e dão seu recado. Senti falta de instrumentos de sopro para fortalecer ainda mais a batida Black.

O Dj também arrasou na seleção das músicas e a casa é uma delicia. Salto do show, bem bom para estreia formal, ainda com algumas questões técnicas à serem melhor trabalhadas. Desejo a UmBonde, mais e mais sucesso. 

sábado, 8 de setembro de 2012

A Alma Imoral


Após a repetição de algumas pessoas sobre a importância desse espetáculo para suas vidas, me vi quase obrigada a assisti-lo, lembrei que logo que cheguei ao Rio de Janeiro tive a chance de assisti-lo no Teatro Leblon, mas por qualquer razão que bem lembro qual, mas que não tem a menor importância nesse momento, A questão é que não assisti. Hoje, no entanto, ao chegar ao Parque das Ruínas onde fica em cartaz até o dia 16 de setembro (se eu não me engane), cheguei com a certeza de que era hora.

Compramos talvez os dois últimos ingressos para apresentação dessa noite, tamanha a quantidade de pessoas que queriam conhecer essa alma imoral. A apresentação foi ao ar livre, usando-se da lona existente no Centro Cultural.  E apesar das falhas de produção na distribuição e acomodação das cadeiras, valeu demais ouvir e sentir tudo que foi possível. Quero talvez mais duas ou três doses de Alma Imoral.
Mas pra resumir, é um espetáculo interno. Pois apesar da carismática e forte apresentação da atriz Clarice Niskie, que desde o inicio nos convida ao bom humor e a leveza, mesmo ao tratar de um assunto tão sério e urgente; O Humano, a alma, a vida e os tempos. Entendi então, que era agora o meu tempo, já que só agora estou.
O espetáculo orientado por Amir Haddad começa antes de começar, a atriz nos apresenta a trajetória, história e o por que.  Justifica sua escolha pela temática e explica que tudo começou de um equivoco de produção de um programa de entrevistas. O fato é que ali, enquanto falava sobre outro espetáculo denominado Buda, Clarice conheceu o rabino Nilton Bonder e dali pra cá, esse encontro plantou sementes. Isso porque, Clarice baseou-se no livro escrito pelo rabino Nilton Bonder, para sua adaptação para o teatro, assim surge o espetáculo A Alma Imoral. Um espetáculo que tecnicamente é bom, mais sem grandes destaques, tudo muito harmônico. O grande lance a meu ver é a simplicidade de Clarice em ser-se, despida de corpo. Ver-se então a alma.
Além de tantas outras reflexões, o bom, do correto, justo e suas não definições são temas abordados. Mesmo por que, como defini-las? E se erramos deve ser afim de acertar, de aprender. Evoluir, talvez. Não por que vá se viver por toda eternidade, mas por que vive-se agora, o agora.
Clarice Niskier  que já foi premiada com o Shell  de melhor atriz, encanta e convida-nos a essa nudez de nós mesmos, pois é isso que se desenrola internamente. Eu pensei em pessoas queridas, pensei em minha vida, lembrei de amigos, quis que alguns estivessem ali junto comigo. 
Assim, o espetáculo é na verdade uma quase meditação grupal. Todos tão ali e tão em si. Dessa forma novas luzes são acesas em nossas almas tão imorais.
Finalizo esse texto agradecendo a Dona Léa, responsável por esse desenvolver de reflexões e fabulas. Assim, Clarice discorre sobre a nudez e a imoralidade da alma e usa, para tanto, conceitos que vão além da religião e da filosofia com pitadas de bom humor, para nos dizer que:  "não existe tradição sem traição" e tantas outras coisas.


terça-feira, 4 de setembro de 2012

O Casamento – Nelson Rodrigues – Os Fodidos Privilegiados


 Por Roberta Bonfim
 
Não achei imagens do espetáculo, então que fique a homenagem!

Um convite e a aceitação do mesmo. Assim, chegamos ao teatro Carlos Gomes. Logo de cara filas, duas filas grandes para assistir ao espetáculo “O Casamento”, um texto de Nelson Rodrigues, interpretado pelo grupo Os Fodidos Privilegiados. No elenco Alexandre Contini, Claúdio Tiso, Caroline Helena, Cristina Mayrink, Denise Sant’ana, Filomena Mancuzo, Guta Stresser, Humberto Câmara, Isabelle Cabral, Isley Clare, João Fonseca, Kátia Sassen. Lincoln Oliveira, Márcia Marques, Marta Guedes, Neila Marrese, Roberto Lobo, Rose Abdallah e Thelmo Fernandes.
O espetáculo começou, e de cara percebe-se, é uma grande produção. Os recortes de cenas que é uma das marcas revolucionárias de Nelson Rodrigues e os piadismos sexuais do grupo fazem do espetáculo, uma boa opção para o domingo. Mas trata de assuntos muito sérios com uma banalidade de comédia. Certamente ao interpretar Nelson é preciso fazer graça, para que nos sintamos menos animalescos e a peia não seja tão grande, mas não dá para transformar isso em um bonachão.
Músicas e iluminação boas, a voz dos atores as vezes se perdia. O cenário se utilizando das cadeiras, onde os demais atores ficam como a espera de entrar em jogo, no banco de reservas. 
Com pitadas de várias linhas teatrais o espetáculo faz o seu papel de entreter, inclusive, deixando o entretenimento sobressair a reflexão proposta pelo texto de Nelson. O mais legal, a meu ver é a durabilidade e o consolo de geração. Já que o espetáculo estreou em 21 de março de 1997, em Curitiba, quando foi considerado o melhor espetáculo do Festival. Lembro em 1997, chegando como uma proposta inovadora.
A narrativa conta a história de Dr. Sabino, um rico empresário, que descobre as vésperas do casamento de sua filha Glorinha, a preferida; que o noivo é homossexual. Algumas crises pessoais e famíliares se desenvolvem nesse entremeio. Com direção de Antônio Abujamra e co-direção de João Fonseca, o espetáculo dividido em dois atos, peca pelo tamanho ao tentar dizer em horas, o que poderia ser dito em bem menos. Um bom espetáculo, a única questão a mim preocupante, é o sair de um espetáculo como O Casamento, com um sorriso de quem assistiu horas de um show de humor da hipocrisia animalesca da vida real.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Reis e Ratos


Adoro filmes que proponham algo novo, e quando o novo é velho, então... É puro êxtase. E foi nessa expectativa que comecei a assistir o longa metragem, “Reis e Ratos”, que tem direção de Mauro Lima (Meu Nome Não é Johnny) e narra de forma bem humorada e fantasiosa  o período pré golpe de 64 .

A questão é que o filme em alguns momentos me deixou um tanto tonta, com os flashbacks e saltos de cena. Em outros momentos há a surpresa pela atuação mais madura dos atores, especialmente Rodrigo Santoro, que quebra mais uma vez o estigma de galã ao interpretar Roni Rato e Cauã Raymond, que nos apresenta novas facetas profissionais. O elenco é no geral constituído de bons atores, o roteiro segue por caminhos interessantes, imagens boas, mas uma permanente sensação de brechas, como se o filme não estivesse bem amarrado. O problema é que assim acaba por  perder o espectador, que se cansa da narrativa.
A primeira cena se passa em 1963, quando a cantora Amélia Castanho (Rafaela Mandelli) vai se apresentar na abertura de uma festividade, em Bacaxá, Rio de Janeiro. Mas antes mesmo da apresentação, o coreto explode, como havia sido dito na rádio, pela locução de Hêrve Gianini, interpretado com Raymond de forma divertida. A partir daí uma sucessão confusa de cenas apresenta os envolvidos no atentado, entre eles o agente da CIA Troy Somerset (Selton Mello), seu parceiro de conluios Major Esdras (Otávio Müller), e Roni Rato, um vigarista viciado em anfetaminas.
“Reis e Ratos” é daqueles filmes que inspira pelas tantas possibilidades novas lançada, mais nenhuma bem trabalhada, assim, fica cansativo, dando a sensação de os personagens, filme e texto chegam do nada e partem para lugar nenhum. Nada é certo, nem qual classificação de filme se configura, pois apresenta um meio humor e um meio suspense. Selton Mello, por exemplo, até que se esforça. Dublador no início da carreira, usou de seus dotes vocais para criar uma voz semelhante as dublagens antigas de filmes policiais estrangeiros, lembrei de cara de alguns que não me recordo o nome A questão é que como o filme não se assume comédia, o personagem torna-se cansativo, assim como, o filme.
O fato é que o filme se perde e os personagens também, dando a sensação de que a mesma informação poderia ser melhor aproveita em um curta. E mesmo sendo um trabalho coletivo e com boas atuações o filme não convence. Reis e Ratos é mais um do terreno das boas intenções malsucedidas.

Corpos Velhos: Para que servem?

Por Roberta Bonfim Tudo que se vive é parte do que somos e do que temos a comunicar, nossos corpos guardam todas as memórias vividas, muit...