terça-feira, 29 de outubro de 2013

Um Show Sem Igual!


Era sábado e a pedida da noite, apenas uma. Ir pra Fundição Progresso, o que graças a Julinha foi possível. Na chegada Mombojo banda talentosa do Recife, que ao que me parece tinha mais sotaque. Foi ao som deles que me aqueci, mas foi a partir do jogo de sombras com boa batida e os sopros que me fazem morrer e renascer, que começou o show tão esperado; Móveis Coloniais de Acaju .

Não sei exatamente a quanto tempo atrás, mas há muito, ouvi essa banda pela primeira  vez, no Órbita (Fortaleza). E, simplesmente me apaixonei, coisa de amor forte, música alegre, feita por uma porção de garotos que se divertem muito fazendo o que se propõe a fazer. Com pitadas de Los Hermanos, um pouco de anos 80, pitadas de encenação e uma identidade muito própria os Móveis Coloniais de Acaju, caem no gosto apesar desse nome enorme.


A banda que está na atividade desde 1998, é resultado da união de dez artistas que se encontraram em Brasília, e ali mais perto do céu, misturam suas influências para fazer um som bom demais de ouvir, ver , dançar, cantar, sentir. Já nem lembrava a última vez em que eu havia curtido um show que despertasse tantas emoções, que se misturaram ao teclado, flauta, trombone, gaita, se misturam ao baixo, a guitarra, bateria e a voz e performance ímpar de André Gonzales (que muito me lembra Tiago Gomes).

Mas talvez, o que mas me envolva, seja o texto, o discurso, não necessariamente o dito, mas o  vivido, pelo menos em palco. O pensar no outro. A alegria. A música como doação de si, a vulnerabilidade de ficar ali, as tantas emoções... Em meio a tudo isso vi a proximidade do microfone e pensei em subir e dizer muitas coisas, mas me podei, calei e como que sentindo minha aflição André falou, cantou, dançou. O que me fez dançar, cantar, refletir e tanto me divertir.


Contudo, ao que me lembro eles se divertiam mais. Também...

Vontade desse bate papo no Lugar artevistas.(http://lugarartevistas.wordpress.com/)


sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Jean Genet, Cia Ateliê Voador.

O Teatro Princesa Isabel é uma caixinha de surpresas, especialmente quando a Cia Ateliê Voador, toma a cena, com a terceira peça da Trilogia sobre o Cárcere, desta vez para falar sobre Jean Genet.  Logo na entrada  encontrar o olhar risonho de Duda Woyda  com sua vassoura na mão, depois buscar um bom lugar para sentar, e pronto. Vai começar o espetáculo. Ou começou antes mesmo de entrarmos? O prólogo leva o público a risadas gostosas, levanta a importância do teatro  Princesa Isabel na história da cidade, e do teatro na mesma, apontando a terceira fileira, que outrora, fora reservada para censura.  Daí pra frente um jogo de corpos e imagens, o espetáculo é plástico e absolutamente político.
Com texto e direção de Djalma Thürler, o espetáculo demarca com absoluta expressividade corporal a história  do francês Jean Genet e com isso evoca a diversidade, a liberdade, a força, e um pouco do absurdo.
Assim, entre narrativas processuais e interpretação primorosa  o espetáculo acontece, em meio a inúmeras folhas e repleto de uma intimidade boa de ver e sentir. Já que o espetáculo toca fortemente no cognitivo.  E cenas, como a das Criadas, mexeram especialmente com as minhas memórias emotivas.
Em alguns momentos é preciso respirar fundo para continuar atento ao dito, ao visto, mas talvez principalmente ao sentido. No palco Duda Woyda e Rafael Medrado, trocam falas, roupas, toques, emoções e personagens e tornam-se tantos e tamanhos em suas expressões.
Eu que já havia me encantado com o Salmo 91, apresentado pela mesma companhia, começo a identificar marcas fortes da identidade do grupo, e gosto. Ao final, lá ficam as vassouras, as histórias, as grades antes impostas, já não nos servem.
A companhia veio ao Rio de Janeiro para participar do Festival de Teatro - Cidade do Rio de Janeiro que segue até o dia 3 de novembro com as mostras especiais e segue até primeiro dezembro com as apresentações competitivas. Vale conferir de perto.

Por fim, grata mais uma vez a Cia Ateliê Voador, sempre bom demais assistir espetáculos que provoquem reflexões e alterações.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Um sonho chamado Minas Gerais

Lembro que ainda na adolescência, li o livro A Ladeira da Saudade, era momento de muitas certeza e pouca experiência e eu quis morar em Ouro Preto, sonhei com isso durante muitos anos. No ano de 2012 graças aos queridos César e Francisco, conheci esse lugar mágico e outros tantos. E amei, como eu amei as paisagens, pastagens, amei o cheiro e sempre que lembro me vejo de olhos fechados respirando fundo. Mas era apenas o principio.

Em janeiro de 2013 fiz uma assessoria que me foi riquíssima, profissional e humanamente. Ali eu aprendia ainda mais com Romulo Avelar, mineiro. E hoje além de um mestre uma amigo a quem quero muitíssimo bem. Ao final dessa assessoria, um convite especial.

Mas foi no final de setembro que aportei mais uma vez nas Minas Gerais, mas exatamente em Belo Horizonte e ali começava minha vivência com o Grupo Galpão e seus processos. Ali profissionalmente coisas se organizavam. E compartilhamos, trocamos, éramos nós a arte e a arte pela arte. E como estávamos lá e podíamos apresentar Lugares ímpares e bater um papo com artevistas  sem iguais, gravamos (http://lugarartevistas.wordpress.com/2013/10/10/lugar-artevistas-galpao-cine-galpao/)
. E agora dividimos com vocês.




Grata mais uma vez e sempre a Romulo Avelar, ao Grupo Galpão, Galpão Cine Horto e todos os que juntos compartilharam.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Dias de Setembro

Dia chuvoso no Rio é um trânsito só, mas a noite a caminhada é sempre interessante. E assim, caminhando, chegamos ao Solar de Botafogo, para assistir ao queridíssimo Lucas Sancho. Entrar no Solar já é por si só uma delicia, nos levando a perceber e crer, que faz toda a diferença viver os estágios. Depois de bons encontros e reencontros com amigos do meu Ceará, subimos.



O espetáculo vai começar. Mas, e onde sentar? Foi essa a minha primeira indagação. O espaço é pequenino, as cadeiras próximas e senti um medo danado do por vir, mas sentei e escolhi o melhor lugar. A luz geral apaga e aos poucos o ator vai entrando e trazendo nova luz à cena.

Ali, sobre um tapete cheio de papeis, um baú, luminárias, velas e candelabros, ele se posiciona com sua lanterna e garrafa de vinho, baixa o chiado do rádio antigo e assim, se ouve a chuva. Foi lindo!... Principalmente ao ouvir na contra mão, algo parecido com;'não sou obrigado a me acostumar com o silêncio'. Ninguém é. O silencio pode mesmo ser rasgante.

Daí pra frente uma sucessão de reflexões, indagações, emoções. Somos apresentados a Dudu e Henrique, este segundo compartilha conosco sua história de amor e dor, mas também apresenta uma trilha interessante, movimentos provocativos e magnéticos, um jogo com a luz que muito me encantou, além de se propor  lindamente a dialogar com a plateia. Assim, o espetáculo é ainda mais arriscado, pois é o ator comprovando a todo instante que o espetáculo não é feito sozinho. Foi lindo ouvir sobre uma história de amor de 35 anos, foi lindo ver as mais diversas expressões no ator e em todos que o assistiam, lindo perceber as alterações do compasso respiratório. Até que se ouve o silêncio, seguido pelas palmas emocionadas.


O espetáculo finaliza hoje sua temporada, mas deve voltar logo em breve.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Os Gigantes da Montanha, Luigi Pirandello. - Grupo Galpão - Gabriel Villela

Era uma sexta feira e caminhávamos rumo ao monumento dos Pracinhas, local idealizado pelo exército brasileiro, destinado a receber  os restos mortais dos soldados brasileiros mortos na Itália (Segunda Grande Guerra). Foi ali que o Grupo Galpão apresentou em seu tablado mágico, construído com madeira de demolição, a curta temporada de quatro dias do espetáculo, "Os Gigantes da Montanha", obra inacabada de Pirandello, autor italiano. Até ai mera coincidência, ou não. :)


O fato é que para nós que estávamos na plateia, o espetáculo começou antes mesmo dos admiráveis e admirados atores deste grupo, que é uma referencia do teatro nacional, entrarem em cena. Bastava olhar o palco com sua cores e atrás os prédios, e o  trânsito ralentado da cidade do Rio de Janeiro. Os gigantes já se apresentavam, faltavam os ecos, a Condessa, os sonhos, a trupe teatral e o Mago Cotrone, na cena vivido por Eduardo Moreira, mas que de acordo com entrevista dada pela atriz Lydia Del Picchia ao Lugar artevistas (http://lugarartevistas.wordpress.com/2013/10/10/lugar-artevistas-galpao-cine-galpao/), o Mago Cotrone desse processo, e talvez desta parceria com Galpão, é o diretor mineiro Gabriel Villela, com quem o Galpão já havia trabalhado vinte anos antes, na montagem do premiado "Romeu e Julieta".
A fábula de Luigi Pirandello, narra a chegada de uma companhia teatral decadente a uma vila mágica, povoada por fantasmas e governada pelo Mago Cotrone. Trazendo a tona a reflexão sobre o valor do teatro, da poesia, da arte e o potencial comunicacional, apesar desse mundo de gigantes, onde há cada vez menos tempo à contemplação e a reflexão. E assim somos fisgados. São as cores, os tons, sons, a técnica, a luz, plasticidade, o cenário, figurino, interpretação e texto denso, dito de forma que, quando nos damos conta, já nos tomou.
São duas horas de espetáculo, em um silêncio admirável, que grita sua contradição à cidade que se movimenta frenética, logo atrás. O local de apresentação do Galpão, veio devido a um intenso trabalho da produção, isso por que em tempos de manifestações, propor conglomerado na rua, não pareceu sensato aos órgãos políticos.  Mas depois de assistir ao espetáculo ali, penso que não haveria melhor lugar, principalmente pela possibilidade de repensar e renascer, rememorar, para que então exista. E ali, mais uma vez o teatro se reafirmou ao apresentar-se ao grande público, ao criar novos fins, ao inicio que já é fim. E tudo isso com música, como não poderia faltar, músicas italianas, que somadas, os ecos, ventos, fantasmas deixam tudo ainda mais belo e poético.

Quanto ao elenco, pouco a dizer, além do fato de que encantam, por terem um toque muito próprio dessa identidade formada pelo que me parece uma soma de identidades. E no fim, para deixar claro quem são e o que fazem, os atores passam pelo público cada um com seu chapéu,  para recolher o carinho e a cortesia financeira. :)
Por fim, aproveito o texto para agradecer: ao Grupo Galpão, ao Mago Cotrone, ao Exército, ao Marechal João Baptista Mascarenhas de Moraes, à Gabriel Villela, Pirandello e cada um. E que o teatro renasça e reviva, todos os dias.

Corpos Velhos: Para que servem?

Por Roberta Bonfim Tudo que se vive é parte do que somos e do que temos a comunicar, nossos corpos guardam todas as memórias vividas, muit...