segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Boa Sorte, de Carolina Jabor.




Era sábado e estava quente, não havia pique para balada e a pedida foi o cinema. Qual filme? Nossa primeira indicativa já estava esgotada, assim ficamos com o filme Boa Sorte, de Carolina Jabor, mas conhecido como o filme da Deborah Seco, ou de Judite e João. Um filme sobre sorte, e sobre amor. Antes um cappuccino e uma leve visita a Livraria Travessa, para novos desejos literários.

Até que era hora do filme. Logo de começo a identificação com o tempo do filme, depois o estranhamento ao ver a sempre bela Debora Seco, de quem sou fã desde Confissões de Adolescente, não bela. É apenas a sombra dessa beleza, de sua própria personagem Judite, usuária de drogas e soro positivo com poucos dias de vida. A medicação já não faz mais efeito, foram muitos os abusos passados.  O terceiro ponto é a força de atração do olhar do jovem João (João Pedro Zappa), um jovem viciado em psicotrópicos internado pelos pais após esses presenciarem comportamentos que lhes pareceu estranhos, mesmo sendo apenas a repetição de seus próprios comportamentos. Particularmente lembrei de histórias, de amigos, e famílias... O quarto ponto é.. Fernanda Montenegro, que em suas pequenas cenas deixa muito clara sua força cênica e o porquê de só em aparecer faz seu público sentir no peito o coração acelerando. É que ela transborda humanidade. Depois temos um roteiro verborrágico e poético, em um cenário que é de uma paz medronha, tantas as energias adormecidas ali.



Pergunto-me como depois de tanto tempo, tão pouco avançamos nos tratamentos dessa máquina? Boa Sorte, a mim pareceu um filme de intimidades, de mistos que que deixam clara o quão tênue é essa linha entre o real e o não real. Onde as experiências de vida se acumulam e as ideias emergem das mazelas humanas, das adicções, dos medos e das escolhas. E já dizia Raul Seixas, “Não pense que a cabeça aquenta se você parar”, ou a próprio Judite ao assumir as limitações do seu corpo.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Meu Amigo! Tim Maia!



Sou filha dos anos 80, assisti Chacrinha (inclusive preciso assistir ao musical sobre esse grande mestre) e ouvi Tim Maia, vi o gênio quando vivo e observava atenta as discussões sobre suas ausências, ele era notícia na boca de muitos de minha infância. Eu gostava de suas músicas e o achava um cara feio. Com o passar dos anos fui conhecendo outras músicas e assim, ele foi se construindo como um gênio em meu imaginário. E sua voz me acompanhou por toda vida, suas letras simples e diversas, tão próximas e desejadas por todos nós. E ele um homem que sentia demais.

Diante de tudo isso, quando soube do filme sobre a vida de Tim, me vi encantada antes mesmo de assisti-lo e lógico me apressei para vê-lo. Lugar escolhido Cine Santa, em Santa Teresa. Logo que entramos na sala de cinema o primeiro impacto, o cinema estava vazio, éramos no total uns doze assistindo ao filme. Uma pena, penso eu. Em um país em que o cinema tenta se fazer mais forte e presente, a falta de público mesmo em filme de teor biográfico me assusta.
Mas, o filme começou e de imediato todas as questões são esquecidas e é com a tela e a história apresentada que começa a nova relação. Eu que havia assistido ao musical também sobre o artista me vejo encantada na descoberta de novas perspectivas sobre o mesmo ser, Tim Maia.
Tim viveu em um Brasil, que não era bem esse que conhecemos, a tecnologia dava ainda seus primeiros passos e as gravadoras eram as grandes detentoras do poder. Roberto Carlos era ainda apenas um jovem ambicioso e Tião, entregava marmitas, corria pros Estados Unidos e como não sabia falar inglês fluentemente, as cenas em que o personagem dialoga com os americanos inicialmente são uma forma de se garantir boas risadas. Tim buscava a todo custo viver da sua música. Tinha plena consciência de seu talento e de seu caos interno.
No filme o cantor é interpretado por Robson Nunes em sua fase antes da carreira, onde a inocência ainda pulsava nos olhos e ações, apesar do espírito destemido e aventureiro.se mostra com uma personalidade completamente inocente, porém com um espírito aventureiro e uma vontade enorme de se tornar o cantor que sabia que era. Mas, é quando entra o Tim Maia interpretado por Babu Santana, que o filme começa a adquirir um caráter mais tenso. Um dos pontos é seu relacionamento com Janaína, interpretada lindamente por Alinne Moraes. O casal é certamente a coluna vertebral do filme, e as atuações de ambos merecem destaque. Com direção de Mauro Lima, também responsável pela direção de Meu Nome Não é Johnny e Reis e Ratos entrega mais uma vez um ótimo trabalho para o cinema nacional.
Outro ponto auto do filme é a fotografia, que retrata (dentro das possibilidades) a atmosfera e tons de um Brasil que já não existe mais, mesmo sendo o mesmo. Uma coisa porém me incomoda um pouco; a mediunidade no conflito entre Tim e Roberto Carlos, interpretado por George Sauma, que aos meus olhos pareceu um pouco estereotipado demais, sendo quase engraçado, quando o tema pedi maior sobriedade, o que acaba por deixar as cenas rasas, se comparada a intensidade da história real.   
Ao final, inúmeras reflexões, e a percepção explicita dos nossos limites humanos, indiferente da genialidade, dos meios, ou da fama/grana. Saímos do cinema e fomos comer uma tapioca logo ao lado e falar sobre o amigo Tim Maia, por horas e horas e horas.

Grata Mayra Abreu pelo grato convite.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Sobre o Ser, o Sendo e o Ser-se


Domingo chuvoso no Rio de Janeiro. Eu perco a hora e sou abrigada a pegar um taxi para não perder também o espetáculo. Ao chegar no Laura Alvin uma alegria sempre presente quando vou por ali. Amo Ipanema chuvosa, mas como cheguei atrasada e já havia gasto com o TX, tive de pular aquele bom café.
Um tempo na fila, a chegada do amigo, ingressos esgotados. Entramos no Espaço Rogério Cardoso, o cenário enorme no pequeno teatro, nos deixa quase em contato direto com a cena que se desenha depois do abrir de porta. Entram em cena dois humanos “demasiado humanos” e ali naquele pequeno espaço repleto de ferrugem, rancores, possibilidades, amores e lixos, tentam zerar a conta que a vida lhes deixou. O texto do escocês David Harrower, com direção do sensível Bruce Gomlevskye e atuação da visceral Viviani Rayes e Yashar Zambuzzi, com participação de Bella Piero, fala sobre esse ser que pode ser qualquer um de nós, e que deseja o amor. Uma pergunta feita em cena se repete em minha memória mesmo agora; “Com quem você pode contar?” E você, pode contar com quem? Temos alguém para segurar a mão dos dias difíceis? Alguém com quem podemos ser quem somos?

O espetáculo não é um discurso sobre o amor, mas uma discussão de muitas perspectivas, sobre a vida e pontos de vista diversos sobre a mesma história. Tantos temas rodeiam o fato de uma garota de doze anos ter se envolvido com um homem de 46, quinze anos antes e como a vida os condenou por esses instintos.
O premiado texto foi lançado em 2005 inspirado em um romance real vivido, por um ex-fuzileiro naval de trinta e um anos e uma menina quase vinte anos mais jovem. Depois de um ano conversando pela internet, o oficial licenciado se encontrou, no norte da Inglaterra, com Shevaun Pennigton que, embora dissesse ter 19 anos, tinha, na verdade, apenas 12 naquela ocasião. Com a desculpa de que sairia para compras, a garota fugiu com Studebaker para Londres e para Paris em julho de 2003. Studebaker foi encontrado em Frankfurt e sentenciado a um total de 15 anos de prisão. Tendo essa história Harrower escreveu “BlackBird”. O título veio da música “Bye, Bye Blackbird”, de Ray Henderson, que também trata dessas solidão humana.
Na peça, Viviani Rayes, interpreta Una, uma jovem de 27 anos que reencontra Ray (Yashar Zambuzzi), de 55 anos, depois de ver sua foto no jornal. Quinze anos antes, Una ainda criança conheceu o já quarentão Ray, amigo de seu pai, em um churrasco em sua casa. Os dois se evolveram e fugiram, mas a “aventura” terminou em um quarto de hotel. Daí pra frente uma sucessão de julgamentos e sentenças. Ele é preso na cela e ela no passado. E é com esse compartilhar de histórias, cobranças e instintos que nos deparamos quando eles se reencontram quinze anos. O que um terá a dizer para o outro? Só assistindo pra saber. E sobre as conclusões? Cada um que tire as suas.

P.S. Grata Viviani Rays pelo doce convite!


Ficha técnica:
Elenco: Viviani Rayes - Yashar Zambuzzi - Bella Piero
Texto: David Harrower
Tradução: Alexandre J. Negreiros
Direção: Bruce Gomlevsky
Direção de produção: Viviani Rayes
Produção executiva: Yashar Zambuzzi
Assistência de Produção: Glau Massoni
Cenário: Pati Faedo
Figurinos: Ticiana Passos
Iluminação: Elisa Tandeta
Trilha original: Marcelo Alonso Neves
Assistência de direção: Francisco Hashiguchi
Assistente de produção: Antônio Barboza

sábado, 25 de outubro de 2014

Sexta com a Orquestra Petrobras Sinfônica


Sexta! E eu me possibilito uma nova experiência na noite carioca, dessa vez o programa foi mais cedo, tanto que quase chego atrasada, apesar da doce gentileza do motorista do taxi, que sem querer me deixou na lateral contrária a que eu precisava descer. (RS) É, fui de taxi. Estava indo assistir a Orquestra Petrobras Sinfônica, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, achei que merecia. J

Ao chegar, o frio sempre natural no estômago, antes de começar um espetáculo, esse abraço com o novo e o que ele irá despertar. Logo na entrada a cordialidade do rapaz que ao receber meu convite, perguntou-me com um ar de certeza: “-Dois, né?” Ao que eu respondi: Não. Um. Ele sorriu escondendo certo estranhamento. E eu, sorri pela alegria de ali estar exatamente como estava. Como não poderia deixar de ser, demorei a encontrar minha cadeira, mas depois de já sentada graças à disponibilidade de todos em ajudar, entra a orquestra. Muitas palmas! Pela primeira vez, saio do meu deslumbramento e percebo a casa cheia. Que lindo!!! Os músicos se posicionam e eu por qualquer razão especial fico feliz demais com minha diagonal.

Antes de começar foram feitas as devidas apresentações e homenagens. A noite era especial, pois se comemorava os 80 anos do regente e diretor artístico Isaac Karabtchevsky, indicado pelo jornal inglês The Guardian, como um dos ícones vivos do Brasil. Eu, que não tinha esse conhecimento, ao vê-lo ali tão a vontade no fazer exatamente o que faz, senti que ele, bem como o som produzido por cada um dos músicos, é como um doce acalento para alma.Vale lembrar que essa é minha visão de espectadora, ante ao resultado do conjunto.

De onde eu estava não via todos os músicos e instrumentos, mas os senti tão profundamente que as lágrimas e risos me foram presentes. Eu que já havia experimentado a emoção ao ouvir música clássica nunca a tinha assistido de forma tão intensa, nem tão bem ambientada. Ao som, somavam-se imagens e se eu tivesse o dom da pintura, a noite de ontem teria inspirado lindos quadros do distorcer e refazer das imagens, em casamento perfeito com o som e as tantas emoções. Só nas pausas os movimentos. No mais estávamos todos na mesma atmosfera flutuante assistindo Djanira IV, com Isaac Karabtchevsky, na regência da Sinfonia Número 2 em Dó Menor – “Ressurreição”, de Gustav Mahler. E eu entendi mais uma vez que o som, quando bom, é uma forma de comunicação muito particular, pois comunica diretamente com a alma. No lindo palco que um dia sonhei dançar, eu agora via vida em som, tantas vidas, com tantos ritmos, possibilidades e todos eles podem e estão ali, ou não. O fato é que sai com vontade de mais.

Grata Daniel e Jú.

Agenda Orquestra Petrobrás Sinfônica:
06 de novembro – Ensaio Aberto - Fundição Progresso
08 de novembro – Portinari V - Theatro Municipal
30 de novembro – Aliansce XI – Bangu Shopping

Mais: www.opes.com.br

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Som de Sexta!

Era sexta feira, como será o dia de amanhã. Era sexta, e assim sendo é bom sair por ai, conhecer novos sons na “cidade da beleza e do caos”. E foi isso que fiz. Na sexta passada, segui tendo como destino o Semente Bar, uma casa que desde que cheguei por aqui ouço falar, ela não era bem onde está, mas só vim conhecê-la quando já estava. Conheci a casa no show do músico ancestral, Glaucus Linx e repeti a dose, ao som e energia de Umbonde Banda e ali, naquela sexta mágica, conheci Andrea Dutra e o DJ, jornalista e pesquisador musical Zé Octavio. Somavam-se a eles Marcus Kenyatta, e sua guitarra, Marcelo Castro, que vem láaaaaa de Juiz de Fora, pra apresentar seu baixo e Gelsinho Moraes fazendo o swing na batera. Juntos eles fazem o que só consigo denominar como “O Som”. A noite foi o que se propõe; um Museu da música Black, daqui, e de lá.

Andrea é dona de uma presença de palco e de uma voz de “Meu Deus!”. Assisti atentamente todo o show. Sentada! O que foi uma lastima, já que a vontade era saracutiar pelos espaços, deixando o corpo seguir o som. Mas, como grande parte dos lugares que tenho ido o público é escasso, e é preciso admitir que com tantas opções e pouca grana e bom gosto, além da força da indústria cultural (sempre presente). Enfim. O fato é que éramos poucos ouvindo som tão bom. E eu me perguntava; como seria isso para os artistas que ali nos presenteavam com música? Mas, logo a indagação se foi ao perceber o prazer em produzir a arte, ali estavam todos em casa e acabaram fazendo com que eu também me sentisse assim.
Mas, vamos às músicas. De Cassiano, a Tim Maia passando por Gerson king Combo, Macau, Claudio Zoli, e outros, além de trazer composições próprias e presentes ganhos, Andrea ainda recebe convidados e faz a festa acontecer. Algumas músicas, eu mesma nunca tinha ouvido, mas gostei tanto que logo já cantava com intimidade de quem cantará aquilo toda a vida. Uma música em especial me chamou absoluta atenção e nem mesmo sei seu nome. Mas foi O eterno Deus Mu dança, de Gil que me fez marejar os olhos simplesmente e sentir. Ao final, bons papos, e música sem igual, escolhidas cuidadosamente por Zé Octavio.
Amanhã tem mais!
Serviço:
Quando? Nas sextas de outubro, sempre as 22 horas.
Quanto? R$ 30 contos – Mas rola lista amiga! Envie e-mail para: kennia.producao@gmail.com
Onde? Bar Semente - Rua Evaristo da Veiga, 149 – Lapa – RJ
https://www.facebook.com/events/367178543439491/?ref=22 

Quanto a mim ouvi muita Andrea Dutra durante a semana. E só posso agradecê-la. Massa demais!

Andrea Dutra, nos anos 90, iniciou uma pesquisa sobre a black music carioca, que aconteceu na cidade nos anos 60/70, durante o fenômeno musical e cultural que se chamou Black Rio. Andrea entrevistou personagens do movimento e pesquisou em um dos maiores acervos de música black brasileira, do jornalista e DJ Zé Octavio. Dessa pesquisa surgiu o show intitulado Black Museu Brasileiro.


Depois de quinze anos, a cantora decidiu remontar o show Black Museu Brasileiro.
Andrea Dutra foi vocalista de Tim Maia, cantou com a Banda Black Rio, abriu shows de Sandra de Sá e recebeu, no palco do Black Museu, as presenças de Gerson King Combo, Claudio Zoli, Serjão Lorosa, Seu Jorge e a canja de vários instrumentistas. 

. 


Corpos Velhos: Para que servem?

Por Roberta Bonfim Tudo que se vive é parte do que somos e do que temos a comunicar, nossos corpos guardam todas as memórias vividas, muit...