quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Na loja com Joaquim

Hoje fui comprar presente para crianças, e logo de cara comecei a ficar preocupada com o tipo de brinquedo e seus preços, algo parecido com um absurdo. E enquanto eu pensava que nem dá pra culpar os adultos desse tipo de infância por não entenderem o lúdico leve. Quis achar uma bicicleta transada pequenina , mas só encontrei carros, tratores, helicópteros e canhões. Procurei jogos e livros, nada, cd's como o "Palavra Pitada" não se encontra em nenhum lugar. Enfim. Foi quando entrei na terceira loja  que encontrei Joaquim, ele me chamou atenção desde o inicio, olhei-o e senti. Ele também me olhou, viu meu olhar, eu bem quis voltar falar algo, mas não o fiz.
Joaquim cruzou as gôndolas apressadamente, levava consigo uma quentura e calor provocada pela adrenalina que sentia, ele não concordava com o que estava fazendo,não  se orgulhava de si, lembrava de seu pai e de sua mãe, lembrou-se de toda sua vida até ali, mas precisava presentear sua filha, hoje era seu aniversário.
Ele havia acordado as 4 da manhã, comprado uma caixa de bala no deposito e seguiu pro trem para vender tudo no primeiro horário e comprar um brinquedo para sua menina, ficou na porta da loja esperando que ela abrisse as 10 horas da manhã, entrou correndo subiu as escadas e encontrou os brinquedos, olhou todos um por um e chorou, contou pelo menos umas dez vezes todo seu dinheiro, contou inclusive com os 3,10 da volta pra casa, poderia ir andando e chegaria no inicio da noite, mas ainda sim, seu dinheiro não pagava nada. Joaquim começou a andar pela loja, aumentando sua aflição e se perguntando o que fazer. E o que Deus queria da vida dele. Por que tamanha injustiça? Quais eram as provações? Fora despedido de seu trabalho de pedreiro desde que levou uma queda da construção e fraturou o joelho e o engenheiro disse que a culpa era de Joaquim que subiu sem autorização, mas Joaquim sabia que não tinha sido bem assim. Mas, de que adiantaria dizer algo?
Foi as 14 horas que entrei na terceira loja e o vi, ele também me viu. Eu podia ter feito algo, mas, me omiti. Quanto a Joaquim , sentiu o pavor do disparo ao tentar cruzar a porta da rua, devolveu o brinquedo e chorou. Pediu perdão, sorriu sem graça e partiu, eu ainda o procurei. Mas Joaquim sumiu, não voltou pra casa, não olhou sua filha, não a abraçou, não contou-lhe histórias, não falou sobre o amor. Joaquim só sentia vergonha, mas não sabia pelo quê.

Roberta Bonfim
18 de setembro, Rio de Janeiro, 2013.

Quando fui comprar lembrancinhas para Namir, Lua, Davi, Lívia e Lucas.


Passei um tempo sem aparecer e senti desejo de voltar trazendo de volta essas outras percepções, também.

Azul da cor do Céu

No dia 23 de março  estreamos o projeto Arte ConVida, do Grupo MIrante de Teatro Unifor, com o esquete  "Azul da Cor do Céu", text...