sábado, 30 de março de 2024

Corpos Velhos: Para que servem?

Por Roberta Bonfim


Tudo que se vive é parte do que somos e do que temos a comunicar, nossos corpos guardam todas as memórias vividas, muitas das quais nossa mente já nem acessa, mas pelo corpo tudo se revive quantas vezes forem desejadas, ou necessárias. Entendi isso pelo corpo, observação sobre o espaço pessoal, mas também pelo estudo mental da memória liberada pelo movimento. E nem sempre esses movimentos são fáceis.


Eu, por exemplo, ao ser convidada a prestigiar a abertura da XIV Bienal Internacional de Dança do Ceará, hesitei, me confundi, me atrasei, cheguei mesmo a cogitar não ir. A dança ainda é um lugar conflituoso para mim. Mas, aqui caberia um texto só para isso, o que não é o caso, pois sobre os conflitos particulares escrevo no diário. hihihi… O fato é que apesar das dificuldades que eu mesma criei, fui. Cheguei no entre, mas foi bom, pois ainda na porta abracei gente querida, encontrei dois dos professores que compuseram minha banca de mestrado, a potente Rosa Primo e o elegante Clerton Martiins. Os ver ali me alegrou, quis abraçá-los apertado, mas me esforcei para parecer elegante e discreta, apesar das minhas tranças e meu vestido de cigana.


Encontrei também Silvia Moura, vi de longe outras maravilhosas inspirações na vida, como Wilemara, Andrea Bardawil, Mônica Luiza, Claudia Pires e outras maravilhas. Como disse antes cheguei atrasada e perdi o espetáculo de Paracuru que muito desejei assistir, mas estava ali, sentei-me e contemplei as pessoas, a gente da dança e suas liberdades e prisões e a força da Bienal para falar sobre etarismo e liberdade do corpo na dança que transcende, emociona e convida a subverter regras racionais.


Ali contemplando inicia, melhor reinicia as apresentações formais com o bailarino Viana Júnior e sua maravilhosa e potente companheira. Estes chamaram Davi Linhares, que realiza esta Bienal com corpo, alma e suor desde seu início e que vem a cada edição trazendo novos desdobramentos a partir dessa bienal cearense, que é também internacional. Davi vestido de Silvânia de Deus, como os apresentadores, sobe ao palco e anuncia a edição, seus objetivos e agradece aos seus patrocinadores e apoiadores. Começa ali, o que chamo de palanque, onde a secretária da cultura presta uma conta social e engrandece a Bienal, depois os representantes dos invetidores falam mais um bocado. Um tanto maçante, na minha humilde opinião.. Depois veio a bailarina linda Claudia Pires na companhia muda de Ernesto Gadelha, e homenageiam profissionais fundamentais da dança da cidade. Eu me emocionei porque, assim como a própria Claudia, outras bailarinas ali homenageadas foram e são muito relevantes para minha própria caminhada humana com a dança, que é vida.


O ponto alto no entanto estava por vim, e veio. Inicialmente como um vídeo. Cheguei a quase me frustrar, pensando. Não creio que cheguei até aqui para assistir um vídeo dança, isso eu poderia ter assistido em casa. Mas, era um vídeo dança tão forte, detalhado e bonito que tal hora eu já havia sido fisgada só por ele. Mas a tela subiu e os corpos velhos ali sob focos de luz apareceram mostrando que com absoluta maestria que servem ainda para muito. Não entendeu nada? hihihi Explico.



Ali no palco estavam os corpos de Célia Gouvêa (A bailarina, um dos grandes nomes da dança brasileira, conta sobre sua carreira no Brasil e na Europa. Fez parte do Mudra – Centro Europeu de Aperfeiçoamento e de Pesquisa dos Intérpretes do Espetáculo, dirigido por Maurice Bejárt, e do Grupo Chandra – Teatro de Pesquisa de Bruxelas), Décio Otelo (bailarino e coreógrafo brasileiro.Iniciou seus estudos de dança em 1951, em Belo Horizonte, no Ballet de Minas Gerais dirigido por Carlos Leite onde conheceu Klauss Vianna e Angel Vianna. Em 1956 entrou no Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, tornando-se solista.e percorreu o Brasil em turnê, dançando Giselle, com Margot Fonteyn e Michael Somes), Iracy Cardoso (bailarina, por tempos diretora do Balé da cidade de São Paulo), Lumena Macedo (Ingressou no Balé da Cidade de São Paulo em 1984, dançando trabalhos de coreógrafos como Germany Acogny, Luis Arrieta, Susana Yamauchi, Henrique Rodovalho e outros. Passou então para a Cia. 2 do Balé da Cidade, permanecendo até 2001, onde encerrou sua carreira como bailarina profissional.), Marika Gidali (bailarina húngara, radicada no Brasil. Fundadora, junto com Decio Otero, do Ballet Stagium. É ganhadora do Prêmio Cultural Blue Life, como uma das mulheres de destaque) , Mônica Mion (25 anos, no qual o Balé da Cidade de São Paulo recebeu numerosos prêmios pela qualidade de seu elenco e coreografias, Mônica Mion participou de praticamente todo o repertório apresentado, em obras em que atuou freqüentemente como solista, em temporadas e turnês nacionais e internacionais), Neyde Rossi (Participou do Ballet do Museu de Arte de São Paulo, Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Ballet do Teatro Cultura Artística, Ballet Amigos da Dança e Grupo Experimental de São Paulo. Há mais de 40 anos dedica-se ao ensino da arte do Ballet), Yoko Okada (Yoko Okada é bailarina, coreógrafa, professora, fundadora e diretora do Ballet Ismael Guiser, companhia dirigida por ela e Ismael Guiser, coreógrafo e professor) e Luis Arrieta (coreógrafo, bailarino, professor, pesquisador. Diretor artístico do Balé da Cidade de São Paulo por 2 vezes, com mais de 150 criações de estilo inconfundível, trabalha com as mais importantes companhias do Brasil, atuando também na América Latina, Estados Unidos e Europa), e que também assina direção do espetáculo "Corpo Velhos - Para que Servem?". 


Foto Guilherme Silva

E ali sob nossos olhos mostram que servem para comunicar, dançar, denunciar, celebrar, rebolar, emocionar, transfigurar, transmutar. Assumo aqui que me impressionou muitíssimo e que me emocionei a um ponto de chorar copiosamente, bem como ri, sonhei, me angustiei e me acalmei e por fim de pé aplaudi, com toda força que tive em minhas mãos e pelo tempo que meu corpo permitiu, tudo em mim aplaudia cada partícula de gente que ali se apresenta. Quanta lindeza, quanta coragem, determinação, disciplina, força e amor pelo dançar. 



A verdade é que desde quinta busco palavras que descrevam o que assisti, assumo que mesmo agora ainda não encontrei, então apenas agradeço aos corpos, vidas e almas de cada um que mostrou que o corpo segue servindo para muito, basta que esteja vivo e ativo. 


Foto Guilherme Silva

Acabou. Encontro o querido Guilherme Silva na saída, abraços e peço me me mande fotos, e são suas fotos que embelezam esta página neste escrito. Já do lado de fora a dificuldade de pegar uber, me fez entrar em um taxi que não trabalhava nem com pix, nem com cartão, o que me impediu de parar na Estação, de modo que segui para casa e de lá até aqui, ainda tento decantar o que vi.


sexta-feira, 29 de março de 2024

Azul da cor do Céu


No dia 23 de março 
estreamos o projeto Arte ConVida, do Grupo MIrante de Teatro Unifor, com o esquete  "Azul da Cor do Céu", texto de Erico Mayer, direção e produção de Hertenha Glauce, técnico de som Ícaro Eloi, de iluminação Geilson Pio e encenação de Duda Benicio e euzinha Roberta Bonfim, no Espaço Cultural Unifor. Que delícia que foi, com um público bonito e atento. E é sempre bom falar com quem deseja ouvir. E que lindo crianças sentadas de pernas cruzadas no chão a nossa frente para se fazer mais perto na cena, e quebrar a quarta parede, e é também bonito. Mas, o fato é que apesar do que não rolou a brincadeira foi boa e a alguns alcançou. Aplausos, abraços, respiração e gratidão. O teatro é a arte do presente, é um convite ao sentir junto os caminhos que constituem a estrada.

Por aqui, por exemplo, para que o hoje acontecesse, Erico Mayer em seu recesso de final de ano, em viagem para suas origens se inspira e escreve o texto "Azul da Cor do Céu". Em janeiro quando retomamos os trabalhos no Mirante, Hertenha escala a mim e Duda para esta encenação. Fico feliz, gosto de trabalhar com Duda, é um texto lindo, mas também com medo. Eu acabara de viver uma idosa forte com a Maria Memória, temia, e a direção também, que eu tangenciasse ao mesmo padrão. Felizmente não rolou e cada uma tem sua própria personalidade e tempo.


Eu e Duda iniciamos os processos e ensaios, junto com a dupla que estreia no dia 06 de Abril com o esquete Carcará e a Flor do Mandacaru, foram momentos importantes e fortes, para a cena, bem como para nossas relações.Nesse processo, boas notícias, encontros relevantes, pesquisa, trocas, os demais integrantes assistindo e deixando suas considerações, tudo extremamente importante e bonito. As personagens Joana e Eugenia, nascem da imaginação de Eurico, inspirado pelo nordeste que vive e sente, mas também pelo apresentado nas obras de Volpi. As personagens já existiam para nós, mas estavamos enganchando no texto e para isso tome estudo, passagem, ensaio e assim apresentamos para um público lindo e generoso o nosso Azul da Cor do Céu. E com coração aquecido e feliz celebro a potência do teatro e agradeço a todo o grupo Mirante de Teatro a oportunidade de ser arte junto com vocês. 


E para quem tá lendo este texto, deixo o convite de nos encontramos no dia 06 de abril, às 16 horas no Espaço Cultural Unifor para conhecermos o Carcará e a Flor do Mandacaru, um texto de Bruno Teixeira com encenação de Shirley e Ivan Lourinho. Tá lindo de bonito! E tem, A exposição, que tá grandiosa. 






Curiosidades aleatórias.


Quebrei os óculos, pedi o da vó emprestado, ela perdeu os óculos, fiz a cena com as ocletas de Duda Benicio.


No meio do caminho para Unifor, lembrei que estava sem sutiã e que não havia nenhum na bolsa, parei no caminho e comprei o sutiã mais caro da minha vida. 


Estávamos prontas para entrar em cena 1 hora antes de começar. hihihi


É lindo e bom quando você entra em cena com alguém que tá com a mesma vontade que você de se divertir ao cumprir seu papel. Duda é uma companheira incrível de cena, grata pela troca e até logo menos, pois em maio tem Azul da Cor do Céu.



Atenção!!! Próximas datas:


O Carcará e a Flor do Mandacaru

06/04


Trem das Cores

20/04


Por ti, Porti

04/05


Azul da Cor do Céu

18/05


Corpos Velhos: Para que servem?

Por Roberta Bonfim Tudo que se vive é parte do que somos e do que temos a comunicar, nossos corpos guardam todas as memórias vividas, muit...