segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Água Para Elefantes

O longa metragem começa com um senhor perdido em um estacionamento a procura de ver o circo, e se depara com alguém que quer ouvi-lo. Não é possível esquecer que toda a construção é feita dessa narrativa, é a história pela perspectiva de quem á viveu.

Em síntese, Água para Elefantes é uma história de superação na época da grande depressão de 1930, nos Estados Unidos. O jovem estudante de veterinária, Jacob (Robert Pattinson) estava prestes a se formar, mas um desastre envolvendo seus pais o impede de fazer a última prova do curso e tirar a licença. Não pude deixar de me perguntar, por que não esperaram ele terminar a prova antes de falar sobre o ocorrido. Eles já estavam mortos e a vida já mudaria radicalmente, mas... Bem, se não fosse isso talvez a história também fosse outra. (RS) A questão é que sem casa, nem dinheiro e sem mais família, parte sem olhar pra trás e literalmente segue o trilho que o leva ao seu destino. Um vagão de circo e toda magia de viver itinerante, no picadeiro.

A história, contada em flashback, acerta quando investe no amor que Jacob tem pelos animais e também quando August (Cristoph Waltz) fica em cena. E por falar em Cristoph Waltz, que maravilhosa atuação, é possível sentir asco do personagem tamanha impressionante labilidade afetiva e intensidade Sendo capaz de se divertir com Jacob e, alguns segundos depois, ameaçá-lo de forma assustadora. É ele o ponto auto de atuação do filme.

Não posso dizer o mesmo da química entre Jacob e a Malena (Reese Whiterspoon), não há química e a emoção se esvai, além do excesso de melodrama que chega a incomodar, em alguns momentos. De qualquer maneira, Água para Elefantes é um filme charmoso, com um ar clássico e nada apelativo. A direção de arte deu um show na recriação exemplar da época retratada. Outra sacada positiva foi a narração em off, que adiciona um agradável ar de fábula para a história. No pacote, o humor se faz presente de maneira bem natural, seja em alguns diálogos ou nas peripécias dos animais, em especial da elefanta Rosie e do cachorrinho.

Relação de amizade e lealdade emocionam, também e fazem de Água para Elefante um daqueles filmes que serão lembrados com carinho.

Meia Noite Em Paris

Um filme... Como posso falar da minha relação com esse filme? É eu me relaciono com tudo, cada novo faz com que eu estabeleça novas relações e/ou pontos de vista sobre a relação outrora estabelecida. Eu desde sempre, ouvi falar sobre a genialidade de Wood Allen, mas de verdade, nunca antes havia assistido algo dele tão genial. Sério! Detalhes, olhares,roteiro magnífico, sonhos e realidade,tudo isso repleto de leveza,você se transporta junto e vivencia cada respiração. Se relaciona com cada artista e entende a relação deles com o renomado diretor.

Eis finalmente a entrada de Woody Allen a sua Nova York européia. Com “Meia Noite em Paris”, Allen demonstra-se ousado, com um projeto que já parecia idealizado antes mesmo de ser produzido. Como se, tivesse se preparado a vida inteira para esse encontro, para essa completude fantástica que não poderia ter outro cenário se não Paris.

O alterego do diretor desta vez chama-se Gil (Owen Wilson), um roteirista norte-americano bem-sucedido, porém absolutamente frustrado mantém o sonho de morar em Paris e se escritor, assim muito dos seus grandes ícones. O que desperta a primeira reflexão é a noiva de Gil, Inez (Rachel McAdams) que discorda de tudo, não suporta nem a idéia de deixar os Estados Unidos, tem referencias de inteligência divertidas e não o ama. Ele expõe o casal moderno e o não conhecer-se.

Voltando a Paris que chuvosa exerce um tamanho fascínio sobre Gil e o transporta aos anos 20, onde encontra a si mesmo e, especialmente, os mais consagrados artistas do último século, das mais diversas áreas. Tais como, os escritores F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway, o músico Cole Porter, o pintor Pablo Picasso e o cineasta Luis Buñuel, dentre outros que esbarram com o personagem com a naturalidade de um habitual encontro. A cada badalada que soa na madrugada parisiense, a ânsia pela personalidade artística que conheceremos adiante já faz um sorriso abrir de orelha a orelha.

É Woody Allen não levando seu texto a sério, pondo a descontração em primeiro lugar, fazendo seus históricos artistas colocarem-se em situações que jamais imaginaríamos, como se declararem invejosos ou envolvidos em confusos enlaces amorosos. Vê-los em comuns mesas de bar discutindo temáticas super relevantes, que hoje são motivos das mais profundas pesquisas científicas, é de um prazer difícil de descrever. E tudo simples, sem necessidades de efeitos especiais ou conceituada direção de arte.

E para além, ou aquém o longa trás uma tocante história sobre o amor, além do tempo e mesmo do outro, um amor pelo amar. E se Allen exagerou na composição de Inez, com Adriana (Marion Cotillard), estudante de alta costura que teria se envolvido com Picasso.

Ao fim, um vontade boa de assistir tudo outra vez e se deixar levar. Um vontade também e ir a Paris e se deixar maravilhar e mesmo buscar por todos, incluindo Wood Allen.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Pronta Para Amar

Em uma manhã fria, um tanto depressiva m pego assistindo Pronta Para Amar. A opção pelo filme veio do desejo de saber em qual momento uma mulher torna-se pronta para amar. Daí, outras questões surgiram, como: só se ama uma vez? Se é preciso esta pronta, quer dizer que existe uma receita? Mas depois relaxei e me entreguei à esse dramalhão americano e chorei, refleti um pouquinho, mas nada muito além, afinal, não é a primeira vez que vemos um filme em que a protagonista não acredita em relacionamentos, muito menos no "viver felizes para sempre".

No longa Pronta para amar, Marley (Kate Hudson) é uma dessas mulheres nada românticas. Bem sucedida no trabalho, feliz com seus amigos, ama publicitária bem resolvida, mas como na vida real nada é muito bem resolvido, os dramalhões potencializamos equívocos e a vida de Marley começa a mudar quando ela descobre um câncer. E para deixar a trama ainda mais clichê seu médico é um gato, Gael Garcia Bernal, o irresistível Dr. Julian. E ela não vai resistir ao charme e jeito ingênuo do doutor. E assim ele mudará suas percepções sobre relacionamentos e sobre o amor.

A atuação Kathy Bates, faz a diferença no longa, pois se destaca na trama e consegue deixar a história realmente dramática, sem pieguices. Mas fica fácil sair da emoção e cair no melodrama, a química entre os protagonistas é fraca o que dificulta se emocionar com o dama da protagonista e se envolver com o romance do casal.

Algumas cenas, no entanto, são impagáveis, como; Quando Marley está fazendo o

tratamento conhece um anão (Peter Dinklage) conhecido por A little bit of heaven que a ajuda a deixar de lado a tristeza. Outra cena engraçada embora meio sem-noção é a de quando Marley faz uma colonoscopia e, com o efeito da anestesia, sonha que está no céu. Lá ela encontra Whoopi Goldberg que interpreta a si mesma. Seria Deus?! E como o gênio da lâmpada lhe concede três pedidos: Voar, ganhar um milhão e o terceiro, vamos fazer de conta que ninguém sabe.

Um filme para manhãs frias!

Estamos Juntos

Estamos? Quem tá junto? Quem se junta? Com quem se pode contar, se o bicho pegar? Essas interrogações passeiam pela cabeça de todos nós em algum momento. Aos sós, a solidão se apresenta e de tão boa se torna presença, mas e na hora que se precisa de alguém? Então dói se só? Mas doe mais ser só só, ou só acompanhado? E o medo tem deixado o homem cada vez mais egoísta? É isso? E sabemos disso e só aceitamos? E o que impulsiona a melhora humana? Perca dessa humanidade? Ou dessas pseudas verdades que temos como vida? E o que motiva?

São todas essas questões e mais tantas outras; - Como o que faz com que uns tenham tanto e outros tão pouco? E a união da peleja, existe? Quem exercita mais a humanidade, e como exercitá-la? São questões assim que surgem em silêncio do decorrer de Estamos Juntos. É essa solidão acompanhada, esse calar torturador e condicionado e esse medo calado do que já se tem.

Seria talvez um clichê, se não fosse o roteiro bem cuidado de Hilton Lacerda, a direção atenta de Toni Venturi, a atuação sensacional de Leandra Leal e grande elenco. E se não fosse a fotografia de Lula Carvalho e uma montagem excepcional que nos leva junto com a personagem a caminhar por sua alma, identificar seus medos e limitações. O que esse drama urbano faz, no entanto, é por em questão sentimentos como amor, desejo e amizade, numa trama que circula entre o real e o psicológico.

Uma rotina dura no hospital, uma relação amorosa frustrada com um homem casado e um certo vazio existencial fazem com que Carmem se volte para um relacionamento com um homem misterioso (Lee Taylor).

Carmem (Leandra Leal) é uma jovem médica que como muitas saiu de sua cidadezinha, por que a mesma já não lhe cabia e segue para São Paulo para estudar e trabalhar. Seu único amigo é o DJ Murilo (Cauã Reymond), gay assumido, que também veio do interior. O personagem a meu ver chega como um presente para o ator que seguia como o galãzinho, e mostrou que tem mais a oferecer.

Numa rara escapada para curtir a agitada noite paulistana ao lado de Murilo, Carmem conhece Juan (Nazareno Casero), músico argentino com quem inicia um intenso romance. Ao mesmo tempo, envolve-se com o movimento dos sem-teto e passa a fazer um trabalho voluntário. As vida começava a seguir um novo sentido, quando uma doença inesperada e grave tira seu equilíbrio e ela se vê forçada a reavaliar toda sua vida.

Junto ao drama psicológico de Carmem, há uma São Paulo, há pessoas e do mesmo modo, a metrópole que nunca dorme, habitada por gente do mundo todo, com diversão a qualquer hora do dia e da noite, parece não ter espaço para um grupo cada vez maior de pessoas que não veem alternativa senão invadir prédios vazios para ter um teto. Para isso, precisam se unir, se organizar, confiar uns nos outros.

É desse contraste vivido gradualmente pela personagem, que a atriz usou todo seu potencial, crescendo em atuação e força a medida que o drama adensa. A sensação que tive é a de que ela vivera toda vida em um sonho e de repente foi acordada à realidade.

Estamos Juntos é um filme delicado, onde o não dito por significar muito mais que o dito, assim como na vida.

- A produção recebeu sete prêmios no 15º Cine PE Festival do Audiovisual, incluindo melhor filme, direção, roteiro (Hilton Lacerda) e atriz (Leandra Leal, dividido com Marisol Ribeiro, de Família Vende Tudo, de Alain Fresnot).

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

DOMÉSTICAS

 

Ouvi outro dia que não lembro quando, de alguém que não lembro quem, que o genial no cinema é fazer um filme de ficção que pareça documental e um documental que pareça ficção. É isso! Genial então o filme Domesticas, de Fernando Meirelles e Nando Olival.

O primeiro longa-metragem da O2, que já seguia a tempos como produtora de curtas, foi inscrito a oito mãos por Cecília Homem de Mello, Renata Mello e pelos próprios diretores.E mostra o universo urbano que eles indicam como paulistano, mas que a meu ver é geral no Brasil, por meio do prisma da empregada domestica. E por essa honestidade ele encanta. Quando entrelaça várias situações e personas, e assim, dramas, comédias, romances, humilhações, esperas e tanto mais se mistura deixando talvez exposta a vida privada.

No longa somos apresentados à; Cida, Roxane, Quitéria, Raimunda e Créo, as “cabeças de chave” de cada situação mostrada no filme. Cida (Renata Mello) não se conforma com a apatia do marido. Roxane (Graziella Moretto) luta diariamente para se tornar modelo e atriz. Quitéria (Olívia Araújo) é tão esforçada quanto atrapalhada e não consegue se manter em nenhum emprego. Raimunda (Cláudia Missura) ainda sonha com um príncipe encantado e Créo (Lena Roque) procura a filha desaparecida. Em meio a vassouras e aspiradores de pó, cada uma destas domésticas vive suas paixões, seus sonhos, seus dramas e também seus momentos absolutamente cômicos.

Para além das meninas, (como comecei a chamá-las ao comentar sobre o filme),outros personagens se destacam, todos da classe baixa. “Domesticas jamais dá voz as classes altas. Outros personagens se agregam à trama. Todos da classe baixa. Doméstica jamais dá voz às classes altas, estes são apenas citados pelas verdadeiras protagonistas da história: as domésticas do Brasil.

Assisti o filme em meio a um insônia de sábado para domingo e afirmo que ele é muito bom por ter me feito esquecer até disso. O que ri com Quitéria e Raimunda foi algo impagável.

O Palhaço...

Nem sei direito como começar a escrever... Nem tão pouco que caminho seguir no decorrer do texto, pois há muito para falar sobre enquadramentos, planos de detalhe, a maquiagem discreta, com a expressão perfeita. E o roteiro? E a força de dois tão maravilhosos atores em cena? E tem a direção de Selton Mello e tem o próprio Selton que foi minha primeira paixão quando fazia Tropicaliente. (Hihihihi) Deixo tudo isso claro, para o caso do texto ficar bagunçado.

Quando ouvi falar do filme, já quis ver, mas tudo foi ficando bem enrolado, até que finalmente consegui e chorei. E não foi feito gente, por que gente chora normal, eu chorava desesperadamente. Chorava por lembrar dos circos de cidadezinha que tive a honra de assistir e visitar, por que lembrei da infância, senti cheiros que nem acreditava ainda guardar na memória. Ai ! E por que vi o palhaço, o ser que sempre me assustou por sua bipolaridade. Como podia aquela pessoa ser tão triste e nos fazer rir tanto? Chorei por que vi atores maturos, atuando linda e simplesmente. Não haviam grandes efeitos, nem grandes nada. Tudo quase pequeno de tão grande.

O que vem se tornado uma característica de Selton Mello, que a cada nova produção se mostra mais apaixonado pelo cinema e em O Palhaço, talvez, ele tente demonstrar um pouco de onde vem também toda essa paixão. Do circo, do oral, do pulsante, poético, do de verdade.

Em tempos de “Amanhecer” (Saga Crepúsculo); Avatar e X-men, assistir O Palhaço é um balsamo, um recanto de encontro com a alma. E aquele palhaço de alguma forma nos parece todos nós, esmagados por uma tristeza de não sermos o que sabemos.

É no picadeiro que a alegria se revela e sua tristeza ajuda na graça de nos fazer sorrir. São histórias das cidadezinhas, com seus prefeitos, pessoas e histórias. De alguma forma somos apresentados a todos da trupe e compartilhamos de suas relações. Puro Sangue (Paulo José) e Pangaré (Selton Mello) são pai e filho e são uma dupla e amam o mesmo oficio e é a descoberta desse amor que os separa e une.

O Palhaço então trata um pouco da tristeza dolorida de ter que deixar uma vida para trás e ir em direção a uma nova. Como se lembrasse que, se tudo está ruim, é por que ainda não terminou e lá no final tudo vai dar certo. O sorriso de criança, a mesma que espiava por baixo das arquibancadas, pode até se esvair ao perceber que o mundo fora do picadeiro não é tão alegre, nem seus problemas podem se resolver como um passe de mágica, mas, ainda assim, tudo é carregado ao final feliz por essa esperança que é real aos que vivem da arte.

E é essa magia da arte que faz com que Paulo José, mesmo doente há vários anos, saia dessa realidade frágil e viva esse personagem profundo e sensível, que serve de âncora para o filho ao mesmo tempo em que parece se esconder em um canto de trás das cortinas do picadeiro antes de entrar, como se demonstrasse o quanto talvez seja mesmo difícil encontrar graça onde você é o responsável pelos risos.

A piadas contadas dignamente por Zé bonitinho despertam o riso de Beijamin e servem de catarse para o personagem “se redescobrir”. A trilha sonora é algo delicioso. As imagens, planos, tonalidades.O ventilador, a certidão, a ingenuidade e o amor.

Todas essas nuances sobram para o Selton Mello diretor, que não perde nenhum desses olhares, gestos e emoções, tudo está estampado em seu filme. É definitivamente um filme vivo, de emoções e desafios fortes e fundamentais. Uma das grandes relembranças que vivi. Sou grata ao terminar.

E penso que todo mundo, por qualquer razão, ou mesmo sem ela merece assistir O Palhaço.

Não Se Preocupe. Nada Vai Dar Certo

 

Quando vi o cartaz no Odeon e li o titulo ri horrores. Ao saber que a direção foi de Hugo Carvana, então, a curiosidade se acendeu de vez. Quem assistiu; Vai Trabalhar, Vagabundo e Bar Esperança (também dirigiu Se Segura,Malandro, mas à esse não assisti (ainda)), sabe bem sobre o que falo. Era ali na minha frente a certeza de boas risadas e algumas reflexões um tanto fortes.

O filme começa, me apresentando de cara os dois personagens chave dessa história; O Pai (Tarcisio Meira),ator que teve todas as chances ao estrelato, mas optou pela vida mais cigana, apresentando-se em todos os lugares, sem fincar raízes. O filho (Gregório Duvivier), ator que assim como pai seguiu pela vida , mas sem ter muita certeza se havia ou não optado por ela.. Junto com essa “opção” vem todos os tipos de picaretagem.

É por fim, uma coletânea de roubadas promovidas por um velho ator pilantra e seu filho, certamente menos pilantra. O filme começa no meu Ceará, com lindas imagens da costa brasileira, e em uma espetacular elipse, desembarca no Rio de Janeiro.

Não fosse por umas duas ou três falhas na edição e um punhado de piadas ruins, seria até um filme simpático; pois o caminho do roteiro é bom, e seguiria sem dificuldades a trajetória de Carvara na direção.

No filme o diretor interpreta um ator aposentado, impotente e desbocado; recolhido ao Retiro dos Artistas e acompanhado de uma bela mulata.

E de repente a palavra que mais se ouve é cagada e o que deveria ser engraçado, perde a graça e acaba a farsa. A questão é a meu ver o "homem de mil disfarces" idealizado pelo diretor,não foi nem de longe alcançado pelo eterno galã Tarcísio Meira, que em cenas como a do jantar em que finge ser um escocês não convence nem a... A ninguém! Gregório por sua vez, parece esconder toda sua força para comédia. Mas a junção de tudo, nos trás um filme de domingo com chuva e alguma preguiça, talvez.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Feliz Vida aos Que Fazem e Sentem Música

Hoje é o dia do Músico e eu como boa cantora de banheiro preciso dizer a todos que trabalham com música que eu os admiro e respeito. E esse sentir não é gratuito, ao contrário é de pleno agradecimento, pois música é oração.

Aos que me conhecem, bem o quão desligada sou e por conta disso tive de desistir do sucesso. - Como posso desejar algo que não sei oferecer? - Aceitei assim minha duradoura carreira de cantora de banheiro e deixo crescer minha admiração aos que fazem muito bem a união entre todos os tons, sons, acordes,pestanas, batida, batuque, balanço, choro, sopros... E tudo é tanto...

Vez ou outra me pego imaginando o que pensa e organifica um músico quando ver, ouve e sente sua música sendo aceita. Quando ela se torna parte da vida e da história de alguém. Remete a cheiros, dias e momentos, trás de volta emoções, sensações e pessoas. Acorda as feras e as põe para dormir. Com se sente esse ser, humano, quando percebe que tantas pessoas compartilham do seu sentir? Verdades compartilhadas? Verdades forjadas? Emoções poéticas não reais? Talvez! A questão é que; ao fazer música alcança-se um outro plano de intimidade do “Deus”! (Uso as aspas para que fique claro que não estou defendendo nenhum Deus que cada um tenha o seu.O fundamental é que não deixemos de crer que existe algo para além de nós e que é preciso respeito com esse e os iguais).

Pode ser de todo jeito, pode até ser de silêncio, poucas vezes quebrados, é o som da natureza, do ar, da chuva a inundar. Para ser músico é preciso ter vivido tantas vezes quanto o som, para entendê-lo, ouvir para além dos acordes perfeitos. Ouvir com o corpo todo, e tudo mais que se possa ter.

Cantando mandamos a tristeza ir embora. Sempre que sinto a peteca caindo, canto como passarinho, tomo até mais banhos ao dia, só para poder cantar. Gritar um pouco e desafinar, errar a letra, o tom, sorrir com isso e esquecer o estado de tensão. É possível depois de cantar, abrir um sorriso, respirar fundo e seguir.

Eu gosto muito de; “Deixa eu descobrir se é cedo ou tarde...Espera eu considerar...” Canto ela todos os dias, nem sei ela toda, nem tão pouco quando ela se tornou presente na minha vida. Mas é tão boa, serve como mantra. Existem tantas outras, cada um tem as suas.

Aos meu 28 anos um amigo muito querido sabendo que eu gostava muito de musicas e conhecendo grande parte das que marcaram minha vida, me presenteou (assim como a todos) com um CD com as 28 músicas da minha vida. Resolvi ouvir esse cd outro dia (ainda lembro a ordem). Entre 28 músicas uma foi feita pra mim de verdade e só agora percebi que eu já realizei meu sonho de ser musa inspiradora e não só uma vez . Inspirado em mim não saiu nenhum grande personagem teatral, nem um livro, quadro,fotos, e sei lá mais o que, mas de mim saiu música. E também por esse dom de extrair sonoridade das pessoas eu os admiro.

Era pra ser uma mensagem de dia do músico, mas o dia acaba e eu não termino. Para evitar a fadiga,finalizo dizendo que a música ao meu ver a arte mais completa e pura.

Parabéns aos que falam essa língua universal.

domingo, 13 de novembro de 2011

Aplausos–Fragmentos Azedos Sobre a Língua

Vamos falar de vestir camisa, de amizade de força, vida e coragem. Falaremos também sobre arte (na sua mais linda significação), sobre teatro, sobre um ator. Mais que isso, falar de humanidade. Mas também deixo dito que falaremos também sobre uma atriz, um sapato e muitos clicks. Falemos sobre Fragmentos Azedos Sobre a Língua, espetáculo baseado em dois contos de ninguém menos que Caio Fernando Abreu.

A primeira vez que ouvi falar sobre esse espetáculo foi pela boca do ator, que logo de pronto contou-me o processo para esse nascimento. Não estou usando a palavra errada, o que vi hoje foi um parto, um grito de muitas e tantas emoções. Emoção de amor, de ator, de diretor, produtor, emoção de ser e fazer a diferença. Emoção de gratidão, simplicidade e humildade.

Falo de forma pessoal, por que não há como não ser.

Samuel de Assis é para mim Chamuska, meu visinho de cima, uma nova descoberta, um ser vida, vivo, compassadamente intenso. Um cara de olhar perdido e sentimentos internos. É possível ver que ele reage. Ver-se em seus olhos algumas erupções, que devem dizer algo, mas eu ainda não sei ler, e provavelmente nunca venha a saber. Nem queira. Gosto desse não saber. Mas amei ver o ator desnudo e o quão inteiro pode ser o homem. Emocionei e admirei-me. Mesmo pensando em outras tantas coisas, ele na me deixava sair daquele campo, estávamos todos nele. A troca acontecia. Na platéia muitos amigos,rostos conhecidos e outros que eu nunca vi e talvez nunca mais veja, mas ali, todos compartilhamos de um momento impar, abençoado por todos os santos.

Consegui ver todo ritual, sem com que ele o houve de fato, havia entrega, crença no que faz, certeza do que se é. O ator esta ali o tempo todo e se empresta a uma militante política intelectual que, por conta de tantas ideologias desperdiçadas e lutas em vão contra o sistema, percebe-se tão esgotada emocionalmente dentro do seu casamento que já não consegue transmitir ao corpo físico as sensações de prazer sexual que o espírito ainda consegue vislumbrar, baseado em “Os Sobreviventes”, mas também vi o cotidiano de um homem atormentado pelas lembranças de Ana, sua ex, que o deixou no apartamento onde moravam, cercado de recordações e rodeado de garrafas de vodka e maços de cigarro, num caminho auto-destrutivo do qual não consegue se distanciar, baseado em “Sem Ana Blues”, ver-se Samuel de Assis honesto com seu publico, a vontade como em casa e sentindo absolutamente.

O espetáculo tem na direção Bruno Marcos e Márcio Vito. Se é a proposta ou não, tão pouco sei, a questão é que o sensorial contribui. O suor do personagem que é também o nosso suor, uma iluminação que dá penumbra para a platéia, até pela aproximação entre ator e publico. De repente a respiração também é guiada, pela sintonia perfeita entre os três, sobre todos. Palmas, aplausos, sorrisos, lágrimas, boas, as melhores energias e...

Me entra porta adentro Luana Piovani e em um abraço se encontram, Mais energias e inicia um novo espetáculo. Um espetáculo de leitura, de surpresa e por também ser Caio F. de histórias fortes e por ser Luana P. bem interpretada.

Ao fim mais palmas, mais emoção e abrem-se os festejos, o coquetel segue bem e todos falam sobre o espetáculo com emoção, cada um com a sua. Vôo perdido, ruas que se fecham para mais uma mudança. Tudo vale a pena depois de tanta emoção sentida!

Parabéns equipe!

Não é possível passar sem deixar os créditos merecidos de Felipe Vasconcellos, por sua encantadora exposição. Soma-se ainda um vídeo bem legal.

Vale super a pena conferir!

Serviço:

FRAGMENTOS AZEDOS SOBRE A LÍNGUA

Onde? Teatro Maria Clara Machado (planetário da gávea)

Quando? sábados e domingos de 12/11 a 18/12

Hora? Sáb 21hs domingos 20hs

lotação 100 llugares

classificação 16 anos

Quanto? R$ 20,00 (inteira) R$ 10,00 (meia)

sábado, 12 de novembro de 2011

Luana Piovanni Abre temporada de Fragmentos Azedos Sobre a Lingua.

Dia 12 de Novembro Reestréia Fragmentos Azedos Sobre a Língua, uma homenagem a Caio Fernando Abreu.

O ator Samuel de Assis homenageia Caio F. Abreu. A idéia é se inebriar e se contagiar pela força do autor, para isso uma exposição de Felipe Vasconcellos, a reestréia de Fragmentos Azedos Sobre a Língua, onde o ator mostra ao publico duas pessoas, um homem e uma mulher, ambos atormentados diante do fim de uma relação amorosa e da consequente solidão inevitável. Detalhes complexos que determinam o sucesso ou o fracasso das relações. E para fechar com chave de ouro haverá ao fim de cada apresentação uma leitura cênica realizada por alguns admiradores de Caio F. Abreu, tais como; Luana Piovann (estréia)i, Edu O, Angela Vieira, Max Fercondini, Fabíula Nascimento, Priscilla Marinho, dentre outros.

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Fragmentos Azedos Sobre a Língua, é baseado em dois contos de Caio F. Abreu "Sem Ana, Blues" acompanhamos o cotidiano de um homem atormentado pelas lembranças de Ana, sua ex, que o deixou no apartamento onde moravam, cercado de recordações e rodeado de garrafas de vodka e maços de cigarro, num caminho auto-destrutivo do qual não consegue se distanciar. E "Os Sobreviventes" que fala sobre às palavras de uma militante política intelectual que, por conta de tantas ideologias desperdiçadas e lutas em vão contra o sistema, percebe-se tão esgotada emocionalmente dentro do seu casamento que já não consegue transmitir ao corpo físico as sensações de prazer sexual que o espírito ainda consegue vislumbrar.

O espetáculo que tem na direção de Bruno Marcos e Márcio Vito, fala sobre situações comuns a todos nós. Cheio de rompantes de raiva e filosofias indecifráveis sobre as relações amorosas e as consequências sempre desastrosas que surgiam dessa situação.

Esses fragmentos são pedaços de mim q estou a distribuir em jorros para todo aquele que se permitir fazer essa troca comigo. È uma declaração de amor para todos aqueles que me ajudaram sempre. Espero que todos se entreguem.” Samuel de Assis

Presenças garantidas para estréia: Max Fercondini, Marcos Breda, Luiz Arthur Nunes, Cris Viana, etc.

O Ator

O ator Samuel de Assis pôde ser visto recentemente na minissérie "Na forma da Lei", interpretando o jornalista investigativo Ademir Rodrigues. Mas também já pode ser visto em Chico Xavier, 5X Favela, Força Tarefa, Os Sertões de José Celso Martinez.

 

Serviço:

FRAGMENTOS AZEDOS SOBRE A LÍNGUA

Onde? Teatro Maria Clara Machado (planetário da gávea)

Quando? sábados e domingos de 12/11 a 18/12

Hora? Sáb 21hs domingos 20hs

lotação 100 llugares

classificação 16 anos

Quanto? R$ 20,00 (inteira) R$ 10,00 (meia)

domingo, 6 de novembro de 2011

Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro

 

Quinta feira 4;30 h da tarde, me vejo indo ao cinema, assistir a competição internacional de curtas, uma das mostras do Festival Internacional de Curtas Metragem. Diferente do Festival do Rio de longas, a sala estava vazia e eu fiquei bem triste. O evento  de graça. Tudo bem, o horário dificulta. Pensando nisso fiquei pra sessão da noite.

Dentre todos os filmes do dia apenas três ainda caminham por entre minha memória, são eles; O Céu no andar e baixo, Praça Walt Disney e se não me falhe a memória Setor 8. Esse último que foi na realidade o primeiro do dia tem vez de documentário e mostra uma realidade muito deferente e ao mesmo tempo tão similar a nossa. São pessoas querendo sobreviver. São pessoas vivendo essa mistura distorcida de tecnologia e pobreza.

Do internacional lembro-me também, muito vagamente de um curta que falava sobre o aborto, de tão silencioso e tenso ao falar sobre o tema, causou-me sono e desconcentração. No mais vi um cinema talvez diferente do comum, longo, mesmo quando curto. Não sei a certo.

De noite o publico no Odeon foi um pouco maior que o da tarde na Caixa Cultural, mas nada que chamasse atenção extrema. E só não digo sorte de quem ficou em casa, por que é importante que se veja de tudo, para poder dar o mérito a quem o merece. Todos! É preciso muita coragem pra ir até a frente defender uma idéia em tão pouco tempo.

Mas preciso admitir que, não fiquei muito feliz com o que vi, foi uma surpresinha de Festival, elas sempre existem, em todos. Mas foram filmes que deram espaço para indagações. Curtas como; Queda e Corpo Presente só despertaram em mim frustração, pelas cenas que poderiam ter se formatado e não aconteceram.

Dessa noite o destaque maior foi do ganhador do festival; Praça Wald Disney e a animação que peca pela verborragia, O Céu no Andar de Baixo. Ao final um debate morno que eu não quis ficar.

Na sexta teimei, eu sabia que mais teria para ser visto, mesmo por que foi a estréia do curta protagonizado pela talentosa amiga Ana Georgina Castro. Desde a entrada um clima diferente, alguns amigos na fila para assistir Georgina. Formou-se ali um belo encontro cearense.

Dos filmes da sexta, destaque para Lavagem, da Paraíba, direção de Shiko Shiko; Memórias Externas de uma Mulher Serrilhada, São Paulo,direção Eduardo Kishimoto e Assunto de Família, com direção de Caru Alves de Souza.

Lavagem por ser honesto, simples e enorme. Falta algo para justificar as cenas do prazer na lama. Seria referencia a Adão e Eva? Memórias Externas de uma Mulher Serrilhada, para além de ter a amiga como protagonista, faz uso de mídias diversas, de baixa resolução, para fazer uma critica a banalização e exposição da vida moderna. Destaque para cena final em que a atriz e o diretor se confiam absolutamente e realizam algo que só posso chamar de arrepiante. Histórias de família retratam a hipocrisia e o receio em assumir seus desejos, a catarse que volta ao mesmo eixo central, sem eixo.

Ao final um debate mais quente que o da noite anterior, onde se levantou o tema do machismo e da exposição do corpo feminino. E uma francesa, entendeu melhor um filme nacional que muitos de nós.

É preciso falar sobre a falha no som em todos os filmes, mas isso não é responsabilidade dos convidados, mas sim da produção do evento que precisaria dispor de melhor equipamento de áudio.

No mais o Festival foi bom, desempenhando seu papel de apresentar novos trabalhos, novas idéias e experimentos, novas pessoas, fazendo assim a união do cinema nacional que felizmente vem caminhando em desenvolvimento.

Viva o cinema!

Roberta Bonfim

O Segredo das Mulheres Inteligentes?

Quando me deparei com esse titulo, em uma capa cor de rosa (cor que desde que cheguei ao Rio, venho descobrindo e aceitando), não resisti em ler sua sinopse. Pois não sei você, mas eu super queria um mega segredo, assim como as comunidades “gringas”. Sei lá, segredo Alfa, para mulheres alfas. Ou algo do tipo.

Enquanto eu lia a sinopse que dizia: “Se você é como a maioria das mulheres, deve viver criticando seu corpo, seu cabelo, sua pele...” De repente pensei ter ouvido isso, olhei pros lados desconfiada, e voltei a ler, mais uma vez a voz reapareceu dizendo: “Para ajudá-la a acabar de vez com esse problema ...” E eu que gosto muito de problemas resolvidos, pus o livro na cestinha e segui para o caixa. Prejuízo da entrada na lojinha: R$ 43,00. Resultado: cabelo limpo, alguns sorrisos, bons exercícios e lógico algumas gramas a mais,(cai na tentação do sonho de valsa).

Quando cheguei em casa, lavei os cabelos, abri o chocolate e comecei a ler “O Segredo das Mulheres Inteligentes”. Logo de primeira bem gostei, o livro trás exercícios legais e bem mais difíceis do que supus ao ler a proposta. Perguntas como: Qual seu filme preferido? Quem é seu melhor amigo? O que mais gosta em você? Podem ser muito complexas, quando você resolve pensar um pouquinho antes de responder. Como indicar apenas um? Como focar tanto? Para alguns pode ser tarefa fácil. Não pra mim! Existem muitos por quês entre o ser e o dizer, para chegar ao sentir que...

Chega, chega... Sem explicações confusas...

Bem depois dos exercícios me diverti e me irritei com o processo de alguém em se aceitar.Mas foi bom por eu saber que o caminho certo pra ela pode não ser o meu caminho. E com isso não quero dizer que estar certo ou não, em detrimento do outro, apenas não precisam ser os mesmo. Nem poderiam, já que cada um traz sua bagagem, suas migalhas e histórias. A felicidade pra um pode ser a tristeza do outro. Nada é regra! E é a necessidade de massificar um processo, que me irrita nos livros de auto-ajuda. Mas devo dizer uma coisa, um de vez em quando até que faz bem. Serve como organizador de prioridades. Lembro que quando mais nova eu chamava de exame de consciência.

Bom isso de examiná-la, vez por outra, é bem bom.

 

Roberta Bonfim

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Chega a Fortaleza “Vida” - Premiado espetáculo da Companhia Brasileira de Teatro.

A Companhia Brasileira de Teatro, sediada em Curitiba está em turnê pelo Nordeste, passando por quatro capitais – João Pessoa, Campina Grande, São Luís, e chega a Fortaleza para apresentar “Vida” e “Descartes com Lentes”, nasceu do processo de trabalho da primeira.
“Vida” foi eleito como o melhor espetáculo de Teatro do Brasil em 2010 (Prêmio Bravo! Bradesco Prime de Cultura), conquistou mais cinco prêmios, no Troféu Gralha Azul (Teatro Paranaense) e tem Patrocínio Petrobras.
A Companhia que tem no elenco, Ranieri Gonzalez (Esperança, JK, Malhação), se apresentará nos dias 08 e 09 de novembro, no Teatro Boca Rica, com o espetáculo “Vida”, as 20h; e no dia 09 as 17h com “Descartes com Lentes”. Produção local Ato – Produção e Marketing Cultural.
“Vida” é o resultado de um longo e meticuloso momento de pesquisas sobre o poeta curitibano Paulo Leminski e suas obras. A peça não é a adaptação de uma obra literária, mas sim um texto original escrito a partir da experiência de leitura e de convivência criativa com os textos do autor e suas referências. Não existe no texto a citação de um único poema na íntegra, mas a essência da obra de Leminski -- viva e pulsante.
FOTO 1
Exilados numa cidade imaginária, dois homens e duas mulheres fazem parte de uma banda que ensaia para uma apresentação comemorativa do jubileu da cidade. Em uma sala vazia, convivem entre si e revelam comportamentos, relações, conflitos e histórias. Erupções de suas vidas prosaicas, repletas de humor, sensibilidade e um sentido de transformação.
A trilha composta por André Abujamra, promove o encontro de várias referências, em sintonia com o espírito de toda a obra. O jazz de Etta James encontra confluência em ritmos do leste europeu, revelando mais uma vez o universo plural de referências que se admite colher, essência leminskiana latente.
Em Descartes com Lentes, Leminski imagina uma hipotética vinda do filósofo francês René Descartes ao Brasil, a convite do conde Maurício de Nassau. Junto com sua comitiva, repleta de cientistas, naturalistas, desenhistas e pintores, Descartes tenta desvendar e descrever as excentricidades e belezas do país tropical, ou seja, procura filosofar sobre o Brasil e o modo de vida do seu povo. Escrito em meados da década de 60, o texto é considerado o embrião gerador de Catatau, a obra mítica do poeta curitibano. O exercício cênico é interpretado pela atriz Nadja Naira e com a direção de
Marcio Abreu, diretor artístico e um dos criadores da Companhia.
Serviço:
Vida
Local: Teatro Boca Rica
Hora: 20h
Valor: R$ 15,00 (inteira) R$ 7,50 (meia)
Descartes com Lente
Local: Teatro Boca Rica
Hora: 17h
Gratuito

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O Processo

Depois de me identificar e chorar, até perceber todas as diferenças em Carta ao Pai, tento por diversas vezes ler Metamorfose e preciso admitir. Não entendo muita coisa, talvez um dia eu consiga, torço por isso. Inclusive dentre os poucos livros que vieram comigo, está ele. O que não veio comigo e nem era esperado, foi O Processo caindo sobre meu colo.

Mais uma vez me deixei levar por Kafka, sua humanidade-não-humanidade, sua racionalidade, sua força e senso de observação, ou apenas sensibilidade e pesar. A questão é que me perdendo e me achando e às vezes até me enrolando, me deixei levar por Josef K. Um homem que acorda certa manhã, e, sem motivo conhecido é preso e sujeito a longo e incompreensível processo. O melhor e mais desesperador é que o crime não é revelado.

Preciso dizer aos que agora começam essa empreitada, não se enganem com a inocência, ela pode ser real mesmo quando irreal. Não posso dizer muito além, apenas que vez por outra sem crimes, bandidos, inquisidores e execuções um Processo pode até ser bem vindo.

E me deixa a dúvida: A incapacidade de confessar a culpa, a minimiza? E a escrita? E quem foi Kafka? Que mesmo hoje consegue ser ainda tão atual. Sua humana não-humanidade levanta questionamentos sobre costumes e crenças arbitrários da vida, que podem parecer, sob certo aspecto, tão bizarros quanto os acontecimentos da vida de K.

Sempre vale muito a pena encarar Franz Kafka.

 

Muito grata Denilson pelo ótima leitura! Tem ajudado nos meus!hihihihi

En Familie

Quarta feira é um dia para filmes, isso começou já à algum tempo e assim sigo assistindo um filme todas as quartas, o selecionado de hoje foi En Familie. Um dos filmes mais fortes e silenciosos que já vi. Lembrei-me de Sudoeste e mesmo, não tendo nada a ver um com o outro, a lembrança veio da percepção do corpo, da emoção que por vezes dispensa textos banais. Filmes como esses me levam a quase crer que uma imagem fala mais que mil palavras.
Em “En Familie” fui levada ao choro por diversas vezes, conduzida pela força cênica. Não são muitos atores, mas certamente muitas histórias. Claro que já assisti alguns filmes europeus, mas nenhum tão... Como definir? As pausas, os silêncios, os equívocos, a rapidez que contradiz a ponderação. O falar baixo e o sonho de ir para Nova York. Todos querem.
Decisões fortes e importantes tomadas pelo impulso do momento e a certeza de que nada volta ao ponto anterior. O feito não tem volta, é dali pra frente. “A Família” está hoje entre meus filmes preferidos, por falar e mostrar vida e as nuances que existem no viver.
Não é tarefa fácil falar sobre amor, aborto, separação, família, casamento, cura, câncer, morte, fim, sonhos, profissões, abdicações, omissões, arte, dedicação... São tantos temas, vidas, a infância e adolescência, a maturidade e a tradição. Tudo tão calmo. Quis ser mais calma e ponderada.
Ditta é uma artista que recebe uma proposta tentadora para morar em New York, ao mesmo tempo descobre-se grávida e seu querido e tradicional pai, descobre um câncer. Nesse entremeio as decisões são tomadas, sem muito controle.
Como o filme não e mega comercial, e eu, vez por outra pago de broca do cyber espaço, não encontrei informação básica como nome do atores, direção... Se alguém souber, me diz, por favor.
Filme pra ajudar a enxergar a vida por outro prisma.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Sudoeste–Obra de Arte

Cinema lotado, última sessão da noite, burburinho e bate boca. Todos tinham convite, mas nem todos tinham lugar. Um documentarista que graças a minha falta de conhecimento, não sei o nome, mas deve ser bem quisto, pois foi por conta dele que as portas se abriram e eu pude aproveitar para entrar. Cinema lotado, gente sentada em todos os lugares e eu senti uma emoção boa de compartilhar do mesmo desejo.

Alguns minutos procurando possibilidades, pois cadeiras só em sonho e dormir não estava nos planos. Uma escadinha, no segundo piso, foi assim que assisti a estréia de Eduardo Nunes no universo do longa-metragem e foi à estréia dele também, na minha vida.

Dadas as apresentações começa o filme, não sem antes viver os risos e vaias nas propagandas que antecedem ao filme, hora talvez de rodar um novo filme, ou mesmo usar isso para fazer propagandas. Eu nessa hora comia os doces dados pelo Canal Brasil e assistia gente se manifestando. Todos iguais, e uns menos iguais que outros. Até que começa o filme e o silêncio ganha os espaços.

A imagem em preto e branco, os sons são apenas sons na maioria das vezes, e a poucas falas que existem, são em absoluto cotidianas, apenas para marcar a perspectiva de tempo de cada um. Clarice nasce, cresce e morre envelhecida, tudo no mesmo dia, mas os demais vivem o cotidiano. É o corpo quem fala através da excelente atuação. O que não falta em Sudoeste, é é talento e trás no elenco: Dira Paes, Mariana Lima, Simone Spoladore, Júlio Adrião, Everaldo Pontes, dentre outros não menos importante.

"Sudoeste" era um dos filmes mais esperados na Première Brasil do Festival do Rio. A explicação é simples: recebeu elogios de crítica e público em todos os lugares onde foi exibido, em festivais nacionais e internacionais. E ao acender das luzes do cinema, os aplausos ecoavam, parecia não ter fim.

E assim o diretor Eduardo Nunes, que vive o projeto Sudoeste já há dez anos, tem todo direito de se emocionar, ao ver todo publico aplaudido ao seu filme de pé, após 2h10min, onde os diálogos representam apenas 30% da composição.

Dira Paes talvez seja quem tem o papel mais dramático e mais sensível, já que percebe o quanto a criança é diferente. Mariana Lima faz mais uma magnífica interpretação, mas devo admitir que dessa vez quem de fato me surpreendeu, foi Simone Spoladore em sua atuação, onde era ainda meio criança, ao reconhecer-se mulher. É incrível o que acontece com Clarice, nessa sutil e sensível fabula.

Ao sair do cinema a sensação de ter acabado de assistir a uma obra de arte.

As Canções–Eduardo Coutinho e Uma Visita para Elizabeth Teixeira–Susanna Lira.

Meu primeiro contato com o tapete vermelho foi muito rápido, passei quase que correndo, não havia atraso, mas... Entramos no Cine Odeon para assistir “As Canções”, novo documentário de Eduardo Coutinho, no Festival de Cinema do Rio de Janeiro. Minha primeira vez também no Cine Odeon. Eu até já havia ido ao café, mas nunca entrado na sala, e me encantei com a beleza, além de me surpreender com um delicioso, e doce brinde, do Canal Brasil.
O cinema ficava ainda mais lindo por ter muita gente, o que me levou a sentar no andar de cima, mas em posição privilegiada. Começa o espetáculo antes do filme: Boas noites e apresentações, sobe ao palco Susanna Lira, uma nova documentarista/jornalista que inspirada por Coutinho e seu documentário, “Cabra Marcado Para Morrer”, nos apresenta seu curta “Uma Visita para Elizabeth Teixeira”. Mas antes o Festival recebe a visita de Elizabeth e toda sua lucidez e vivacidade e então acontece o reencontro entre amigos.
O curta de Susanna Lira é simples e belo, talvez com vontade de ser longa. E desperta a vontade de assistir “Um Cabra Marcado para Morrer”, outra vez. O que é sensacional por vários motivos.
Sobe Coutinho e agradece sua equipe para formatação de “As Canções” e ao final diz algo, como: Não tive trabalho algum! E é exatamente essa generosidade humana que vemos no documentário, repleto de sons, canções, histórias, vida e emoção, muita emoção.

E a tela grande se acende dando vez e voz, a homens e mulheres que cantam e falam de músicas que marcaram suas vidas. Tudo começou com vários cartazes espalhados por diversos pontos da cidade do Rio de Janeiro, com os dizeres: “Alguma música já marcou sua vida? Cante e conte sua história.” Depois se intensificou esse texto pela internet e também nos jornais. Vários inscritos espontaneamente. Muitas gravações e a seleção das 18 melhores histórias. Eis, “As Canções”.
Coutinho em entrevista ao G1 diz: "Além de escolher as histórias mais fortes, fiz questão de ignorar meu gosto pessoal com relação às músicas. Não tive preconceito”.
Como é mais comum, as canções vem anexadas a episódios tristes do passado. De Roberto Carlos ao repertório composto pelos próprios entrevistados, trazem um traço em comum, segundo o cineasta. "A música te transporta para outro lugar, para outro mundo, para outro tempo. Clássica ou brega, é uma máquina do tempo. E esse tempo é sempre o passado", conclui o diretor, com base nos dois meses de pesquisa e no total de 237 depoentes.
Histórias fortes de amor, de perca, de destinos, salvação, encontros e desencontros e o passado sempre tão presente. Coutinho deixa mais uma vez claro seu interesse por gente e seus comportamentos, seu sentir. E eu, bem, eu saiu do cinema com vontade de perguntar, de fazer e ser. E repito algumas vezes que documentário emociona muito mais que ficção, é vida real, histórias possíveis. Ainda agora lembro dos rostos e das expressões de cada um dos entrevistados,mais até do que as músicas que foram cantadas.
Sai do cinema feliz e transformada!

INAPTOS? A Que Se Destinam

  ‘o que diferencia o vício da virtude é apenas a intensidade

Um convite bom me foi feito no sábado por uma amiga muito querida (Grata querida!); assistir “Inaptos?”, do Teatro de Anônimos. Convite aceito e lá fomos. Ao chegar à Fundição Progresso, jovens vestidos de preto se agrupavam logo na frente, ali também aconteceria um show de rock. Sorri após o susto inicial e entrei. No teatro possibilidades de arquibancadas, almofadas e cadeiras em mesas para assistir, tudo parecia ser cenário e papel bolha. Belo!

O espetáculo começa e vejo: palhaços, bufões e dou algumas boas risadas. Gosto das cenas silenciosas que são mais divertidas, penso que talvez o espetáculo, seja um pouco grande para propostas. Mais indiferente dos déficits, que são parte do processo das estréias, a qualidade do trabalho dos atores é inegável, João Carlos Artigos (Seu Flor), Fábinho Freitas (Prego) e Shirley Britto (Buscapé), parecem se divertir em cena. Devo admitir que em alguns momentos vi dois espetáculos distintos, mas penso que isso também se misture e encaixe no decorrer das apresentações. Já marquei em minha agenda que pretendo assisti-lo novamente, daqui um tempo.

O espetáculo inspirado no livro “Vícios não são crimes”, de Lysander Spooner, que incita a discussão a respeito das compulsões, do caos e das perversões da sociedade moderna, tem direção de Adriana Schneider. E é preciso dizer do que só me dei conta no final; são palhaços que já não precisam colocar o nariz vermelho, pois de alguma forma ele está ali.

Na história, assim como na vida real, os personagens levam às últimas consequências a busca da felicidade, sem nenhum juízo de valor. “Abordamos o tema do vício ligado ao aspecto da busca pela felicidade e à maneira como as pessoas se relacionam com isso, sob a lógica do absurdo”, explica a diretora em entrevista ao globoteatro.com.

O espetáculo tem censura e é preciso respeitá-la, sim são palhaços, mas, falando de uma forma absurda sobre problemas muito reais.

Link entrevista com a diretora Adriana Schneider

http://www.globoteatro.com.br/entrevista/index/186/0/Adriana_Schneider

 

Inaptos?

Local: Fundição Progresso

Tel.: (21) 2220-5070

Sexta, sábado e domingo, às 20h

sábado, 15 de outubro de 2011

Rânia

E chega sexta, 14 de outubro de 2011 (ontem), estréia do longa-metragem, Rânia. Filmado em Fortaleza pela cearense Roberta Marques, trás três fortes e belas mulheres, Rânia (Graziela Felix), Estela (Mariana Lima) e Zizi (Nataly Rocha). É a maturação dessas mulheres que vemos na tela grande.
Poderia de verdade continuar o texto com esse distanciamento necessário, aos ditos bons textos, no entanto, ao falar de Rânia preciso contar uma história, compartilhar o desenvolvimento. Em Fortaleza a mais ou menos dois anos atrás eu recebi uma ligação, um convite para fazer o casting para o filme. Meu primeiro casting para cinema (torço que muitos mais venham. RS!).Teste feito, primeira e segunda fase. Meu primeiro casting e eu tava indo “bem”, mas rodei. No entanto, essa também não é a questão (conto isso por acreditar que é o passado ainda que “justifica” algumas coisas do presente), a questão é que um dia sai do quarto e me deparei com minha amiga assanhada, com uma saia amarela e uma confiança que até aquele dia eu não conhecia. Ela se arrumou e saiu e conseguiu.
Como presente em resposta à dedicação, ganhou Zizi, uma personagem linda, assim como Rânia e Estela. E essas três mulheres que sem nada se parecerem, são tão semelhantes, perpassam pela vida uma da outra direta ou indiretamente e de alguma forma servem de mola de impulso para a manutenção dos sonhos e as escolhas que precisam ser feitas no decorrer do caminho.
Logo de cara vejo Fortaleza como só fortalezense ver, a lente que captura aquelas imagens estabeleceu relação com a cidade e a expos em sua mais nobre e delicada beleza; a curitibana Helô Passos (diretora de fotografia), a quem chamei de fortalezense tamanha a emoção que senti de ver minha cidade linda ali, naquela tela de cinema no MAM.
A diretora Roberta Marques, em seu primeiro longa metragem, conseguiu trazer a tona o real, já que Rânia não se enquadra no típico gênero da menina pobre que sonha além do seu alcance, pois ela é real e percebe as coisas com a naturalidade de quem nasceu assim. E sendo amiga da sofrida e sonhadora Zizi, ouve falar sobre o exterior e começa a dançar no cabaré. Danças que por sinal são belíssimas. Com Estela, o sonho de uma vida diferente. A cena em que Rânia ensina Estela novos passos e com ela também aprende é de uma beleza repleta de paz.
Além das danças, trilha sonora e fotografia, também são perolas. O filme emociona por vários fatores; a força dessas três mulheres, a liberdade de criar junto que é dada ao ator, já que em algumas cenas fica claro o improviso (o que eu particularmente gosto muito). Penso que a única grande falha tenha sido a utilização de um som direto de má qualidade que deixa o filme a beira do ininteligível, com isso alguns diálogos são perdidos, o que não chega a prejudicar a compreensão do filme.
Ao sair: o abraço, os parabéns e a alegria de mulheres cearenses tão guerreiras, ali brilhando e mostrando-se, o orgulho de também ser cearense e o desejo de ver sempre bons trabalhos assim.
Caminhando voltei-me para Grazi e Nataly, ambas cansadas da pose de princesa, loucas para colocar as rasteiras, sorriam com a alma e penso que aliviadas disseram a se. Trabalho concluído, hora de sonhar novos sonhos que também podem ser o mesmo.
Não ousei falar qualquer coisa que não tenha sido sentida.
Roberta Bonfim

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Policarpo Quaresma–Trilogia Carioca–Antunes Filho

Tem alguns artistas que são os caras, eis o caso do octogenário Antunes Filho, que chega ao Rio com sua trilogia carioca. Eu logo que sei dessa informação me encho de alegria no coração. A chance de assistir mais um dos caras. O espetáculo: Policarpo Quaresma, um dos traumas do pré- vestibular. O que teria feito Antunes, com a obra de Lima Barreto?

Logo na entrada descubro que seriam três horas, mas preciso alertar, são apenas duas maravilhosas horas de um espetáculo repleto de pesquisa e cuidado. Percebe-se desde a primeira cena algumas coisas, inclusive o fato do diretor ter vários atores baixos e várias atrizes altas, são 36 atores em cena, algo por sinal que eu nunca havia visto tão de perto.

O ator que interpreta Policarpo é algo indescritível em seu talento. O espetáculo que narra uma tragédia patriota transforma-se em uma tragicomédia sob a direção de Antunes e nos leva a risadas gostosas e reflexões profundas sobre o ser brasileiro.

Perceber a multiface de um diretor que eu pensava ser absoluta e absurdamente realista foi delicioso e estranho, já que para alguns não passava de mais um espetáculo de Antunes e para esses, muito certamente ele se repete. Eu felizmente pouco vi e tanto mais quero ver, talvez para ainda chegar o dia em que eu possa dizer que ele se repete, ou melhor, até o dia que eu perceba que a repetição faz parte da técnica e pratica e fortalece identidade.

Antunes e o CPT ficam o mês de outubro no Teatro Nelson Rodrigues, na caixa. Rio de Janeiro

Ingresso: 24 reais para clientes caixa 50% de desconto.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

É o que há…

Depois de assistir a três documentários seguidos; Di Cavalcanti de Glauber Rocha, Santiado de João Moreira Salles, Jogo de Cena de Eduardo Coutinho e ter e emocionado muito nos três, tudo que eu precisaria dizer era: A vida me emociona! Mas teimo em dizer mais, que ela inspira e entristece, mesmo quando cheia de alegria, á vida e isso, vida. E por serem várias e todas serem unas, o documentário alcança uma emoção que a ficção sozinha não consegue.

Em Jogo de Cena, Fernanda Torres diz: “É muito difícil! Que enrascada! Interpretar um personagem da ficção se chegamos ao medíocre por vezes tá bom, mas interpretar alguém real...” Deve ser algo como esta na frente do espelho, tendo a nossa frente o onde poderíamos ter chegado e não chegamos. Algo assim, que torna o trabalho de interpretar mais difícil.

Mas documentário precisa de bons personagens, não de grandes artistas. Por mais que em jogo de cena, Eduardo Coutinho tenha se usado de grandes interpretes, como; Andréia Beltrão Marília Pêra, Fernanda Torres, são as mulheres o personagem, são mulheres e suas historias, de amor, morte, abandono e volta por cima. Junto com as vozes das mulheres na sala de teatro, ouve-se Coutinho, instigando, perguntando, direcionando.

Entre planos abertos e focos, segue o Jogo, segue a cena desse cinema de vida real de entrega e desprendimento total, ao vivo, a cores, com tanta gente e tão sós. Contrariando Jogo de Cena, tem Santiago, de João Moreira Salles, sempre com cena abertas, com uma forte barreira entre entrevistado e documentarista, a barreira da distancia, da idade, da maturidade. Um era o filho do patrão, o outro o mordomo.

Admito minha dificuldade de conceber que Santiago, o homem que escreveu tantas páginas sobre a história, que praticava todos os dias exercícios nas mãos, que mais me pareceu uma dança ensaiada exaustivamente, e as castanholas... Tenha sido um mordomo e com tanta sabedoria, mantinha-se fiel e obediente ao seu patrãozinho.

O mais interessante talvez seja o fato de que o documentarista vai explicando, ou tentando justificar cenas e ações, outras ele apenas lamenta e assumi sua imaturidade no ato da filmagem. Mostrando a casa onde moraram e deixando expostas as marcas. Salles também trabalha com cinema verdade, como o bruto ficou guardado por anos, para tornar-se “Santiago”, precisou ser sonorizado, havendo quebra apenas para falas de Santiago e para os momentos em que nada precisa ser dito. Ao final o texto que o personagem quis diz e o documentarista não permitiu; talvez a melhor fala. Talvez... Pois assim como Di Cavalcanti, Santiago também não esta mais entre nós. Dois artistas e suas vidas, suas mortes.

Foi a morte de Di Cavalcante, que chamou a atenção e a lente de Glauber, no velório, em suas telas, sua família e amigos, pistas, caminhos destinos e um sorriso muito próprio de Di Cavalcante. Não é um longa, não segue muitos padrões, não é autorizado, mas emociona, chama atenção, mostra, indica e homenageia. O som parece de radio da época, as músicas falam por si, a leitura é do jornal falando sobre a filmagem e assim se fez Di Glauber.

Cheia de tantas vidas respiro e me inspiro e admito que me parece muito mais humano dar voz a quem vive, do que criar novas vozes para pessoas que criamos. Questões talvez Ra um próximo texto.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Era um dia comum, até o telefone tocar e do outro lado um amigo me oferecendo ingressos para assistir algo no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, isso é, minha primeira chance de ser espectadora do Theatro que na infância eu sonhava em dançar. Com isso o nome do espetáculo ficou para segundo plano, afinal eu estava indo ao Municipal e mesmo se fosse para ver dois macaquinhos batendo panela, eu ainda sim iria feliz. Mas para minha surpresa, o espetáculo era Botanica, do MOMIX, empresa de bailarinos-ilusionistas, sob a direção de Moses Pendleton.


E a palavra espetáculo, cabe muito bem, pois há um verdadeiro espetáculo, de luz, cores, efeitos, projeções, sombras, figurino e cenários especiais. Tudo nos levando a perceber o equilíbrio da natureza, por nós tão agredida. Com uma trilha que mistura sons tribais, mantras, clássicos, com traços de new age e até tecno musics, tudo dividido em dois atos e muitos efeitos. A vida e a luta por ela, as metamorfoses, o nascimento e a batalha diária para permanecer, são lindamente interpretadas, vistas, dançadas e sonhadas por e com MOMIX.


Eis Botanica, espetáculo que surgiu dos jardins de seu diretor, que ao observar a coreografia da natureza, não pensou duas vezes e usou-se de sua observação e sensibilidade, para criar um espetáculo belíssimo. Uma mega produção!

Na Selva das Cidades


Uma amiga liga convidando para assistir um Brecht no CCBB, eu que estava no meio de uma edição pedi que ela esperasse por minha resposta. O tempo passa rápido quando estamos sem ele. Penso que faça isso por pirraça. Peguei um taxi na Lapa e disse: - Corre pro CCBB, que eu já estou atrasada, ele bem correu e eu fiquei tensa, mas valia a pena, estava indo assistir mais um bom espetáculo (no Rio existem ótimos espetáculos, mas nem todos, meu orçamento me permite pagar). Mas lá estava eu no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) depois do taxista ter parado para comprar um churros e eu ter ficado com o coração na mão por ele ter me obedecido e ter corrido.
Encontro minha amiga, trocamos algumas palavras e entramos para assistir ao espetáculo, eu que nunca tinha entrado naquele teatro, comecei assistindo a ele, olhei suas paredes, o palco extava exposto, deixando a mostra um painel enorme colorido e muito sujo, cadeiras laterais e uma porção de objetos cênicos atrás delas. (Tal imagem me lembrou da casa de Seu Lunga).
O espetáculo começa, e nós somos transportados para Chicago (1912-1915). Tendo como ponto de partida o encontro entre Shlink (Daniel Dantas), um negociante de madeiras com seus cinquenta e poucos anos, e o jovem Garga (Marcelo Olinto), na livraria onde o segundo trabalha. Shlink oferece dinheiro a Garga para que dê sua opinião. Este se recusa, deixando claro que suas opiniões não estão à venda. Mas Shlink já sabia perfeitamente disso e usou tal estratagema apenas para dar início ao "combate" existencialista.


Daí pra frente uma avalanche de fatos se acumulam, Garga é atingido em seus sentimentos para com Jane (Fernanda Boechat), sua amante, e Marie (Maria Luiza Mendonça), sua irmã.
Com ótima direção e elenco gabaritado, “Na selva das cidades", terceira peça escrita por Bertolt Brecht (1898-1956) não deixa a desejar, principalmente em se tratando de música, pois quando o ator (e cantor) Milton Filho abre a boca, puxando para si o foco, o arrepido é inevitável.
Eu me envergonho e me orgulho no que diz respeito à Aderbal Freire-Filho cearense que a assina a direção da montagem. Envergonho-me, por saber tão pouco sobre ele e me orgulho por isso não fazer diferença alguma e ele executar um trabalho tão belo e limpo.

A feira

Ontem assisti o melhor dos espetáculos, desde que cheguei ao Rio. Os atores eram todos tão conhecidos e absolutamente estranhos, mas sorriam de uma forma que provocava em mim identificação.
Hoje assisti até mesmo o passado e suas poucas, porém marcantes festas de interior com brinquedos, bolas, algodão doce de cuspe (não encontrei melhor nome para identificá-lo). Eram tantos os artistas anônimos que tudo fazem, são: cantores, palhaços, poetas, atores dessa vida longe de casa. Nunca vi nada tão egoísta como a arte, ela te deseja inteira e com ela, o resto pode parecer um pouco distante.



Hoje assisti a mim, reconhecendo emoções, rostos e sorrisos. Reconhecendo e estranhando por identificação e ao fim entendi que com boa vontade  e observação a vida é toda um grande filme, uma enorme poesia, o maior dos espetáculos.
E escuto alguém e eu mesma a dizer: Eita povo sofrido pra viver feliz! É isso mesmo!
Todo esse espetáculo foi visto na Feira de São Cristovão, conhecida também Feira de Tradições Nordestinas ou ainda Feira dos Paraíbas. Como for, o fato é que me senti em casa! 

Leci Brandão a potência de sua Geração

Por Roberta Bonfim O samba, o tambor, o pandeiro mexem com meu corpo, mas a voz de Leci mexe mesmo é com minhas memórias infantis e juveni...