sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Macbeth


Falemos sobre teatro, sobre William Shakespeare. Falemos sobre Macbeth, que foi encenada pela primeira vez em 1611, apenas com homens no elenco como exigia a sociedade. Hoje, a peça pode ser assistida no Brasil e trás no elenco, apenas homens. Uma homenagem, talvez. Ou um desafio bem aproveitado por Claudio Fontana, que vive a perversa Lady Macbeth.

A montagem que fica em cartaz no Rio de janeiro, no teatro dos Quatro até domingo, tem como protagonista o já conhecido Marcelo Antony, no papel de Macbeth. Para tanto o ator raspou a cabeça e quebrou a ideia do belo bonequinho de louça. O ator entrega-se ao personagem, mas por vezes não alcança. Desejei uma câmera em sua frente, seria divino ver suas expressões faciais na telona, ou na telinha. No teatro, no entanto, ficam brechas. Não do ator, mais do todo, a começar pelos atores, que com forte sotaque paulistano chegaram mesmo a incomodar. Figurino que caminha para ser bom, mas peca em detalhes bobos, o que não acontece com cenário e adereços. Parabéns a criatividade da reutilização do cotidiano.
Sob direção de Gabriel Vilela que já havia mergulhado no mundo Shakespeariano com Romeu e Julieta, a peça é absolutamente bem marcada, com saídas e entradas bem definidas, até demais em alguns momentos.  A adaptação do texto foi feita por Marcos Daud que reduziu os 20 personagens originais para oito e introduziu a figura de um narrador que ganha ar divertido com Carlos Morelli. As feiticeiras tiram sorriso da plateia pelos estereótipos.
É no geral um bom espetáculo de texto genial, com mensagens maravilhosas e muita força. É preciso manter-se atento ao texto, ele por si só é um espetáculo repleto de atualidades.
Ao final uma outra emoção ao dos ator Marcelo Antony, que entende a dificuldade de interpretar tão forte personagem e se esforça e caminha para melhora do personagem, é nítido seu empenho e garra, assim como de todos. Parabéns a todos por tão corajosa empreitada e mais apresentações e ensaios, até que seja Macbeth.
Do Rio o espetáculo segue em turnê, ao que me consta passará por Porto Alegre, Recife e outras capitais, vale conferir, conhecer mais a obra de Shakespeare e se mergulhar nas possibilidades históricas.
Teatro dos Quatro – Shopping da Gávea (21) 22749895

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A Floresta de Jonathas, de Sérgio Andrade


Por Roberta Bonfim
O último filme que assisti no Festival de cinema foi, “A Floresta de Jonathas”, primeiro filme do Norte que ultrapassa as barreiras invisíveis dos grandes Festivais e inaugura a presença da região no Festival do Rio. E entra pela porta da frente. O cine Odeon, dessa vez não estava lotado, mas quase se entende. Segunda feira, depois de uma overdose de tantos filmes. E preciso lamentar aos que não viram, pois perderam a linda chance de respirar os sons da Amazônia com um guia especial, um que se perde e se torna parte da floresta que não perdoa, mesmo quando alivia. Porém, antes de começarmos a ser invadidos por um verde amazônico, pudemos assistir a animação Realejo, lógico lembrei-me dos queridos do grupo Bagaceira de Teatro.

Quanto ao longa metragem, ricamente dirigido por Sérgio Andrade; é um grito, uma entrega e trás outras possibilidades. A de quem vive e convive com a Floresta, realidade que não se propõe a falar sobre os clichês. Além dos atores que em sua maioria são moradores de fato das região Norte, temos uma Ucraniana, um indígena e Chico Diaz.
Jonathas vive com os pais e o irmão numa área rural do Amazonas, vivem do que colhem e vendem em sua barraca de frutas na estrada. A barraca é o lugar de contato com as novidades do mundo. Ele e o irmão conhecem a ucraniana Milly e o indígena Kedassere e decidem acampar juntos na floresta. Onde Jonathas empreende a mais transformadora de suas jornadas.
A Floresta de Jonathas nasceu da livre inspiração em uma história real e foi o primeiro longa metragem da região Norte do Brasil contemplado no Edital de Longas Metragens de Baixo Orçamento da Secretaria do Audiovisual do MinC. O filme também participará da Mostra de São Paulo e do Amazonas Film Festival e representa um grande passo na descentralização cultural de nosso cinema. 
Vale conferir!

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Apresentando Lugar ArteVistas


Apresento aos que não conhecem meu outro blog, chama-se Lugar ArteVistas e trata-se de um programa de entrevista e turismo cultural.


1º Edição - Cinelândia - Bate Papo com Cadu Lopes

2º Edição Feira de São Cristóvão - Entrevista com Anthero Montenegro

3º Edição Escadaria da Lapa - Entrevista com Samuel de Assis

4º Edição- Copacabana - Entrevista com Georgina Castro
Estamos ansiosos por dicas e sugestões.

abraços!

O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho


Por Roberta Bonfim
Era sábado e já tínhamos assistido uma seção do Festival, mas não havia como não assistir “O Som ao Redor”, de Kleber Mendonça Filho, que já havia despertado minha atenção com seu curta “Recife Frio”. Já posicionada para assistir o filme, vejo a sala cheia e senti algo muito bom e sorri na certeza de que as coisas estão mudando e que de fato, estamos todos nos misturando. O diretor sobe ao palco com sua equipe, apresenta o filme e seus atores, o sotaque é outro. E que delicia de sotaque.

Começa o filme e ele segue por duas horas e dez minutos que eu, assim como eu uma boa parte da plateia só percebeu depois de uma breve olhadela no relógio. Pois o filme é natural, fluido, envolvente. Sem celebridades mais com um elenco maravilhoso, o longa-metragem pernambucano foi talvez o que de melhor assisti nesse Festival. Outro cenário, outro sotaque, as mesmas histórias, contadas de outras formas.
No elenco Irandhir Santos, Gustavo Jahn, Maeve Jinkings dentre tantos outros talentos, que trazem a tona verdades cotidianas. A expansão imobiliária, as prisões em suas próprias casas, as milícias, além do tédio da modernidade,  da inveja, do novo retrato da família pernambucana, brasileira.
Famílias tradicionais, marginais, promiscuas verdades, histórias e vinganças, amores, paixões e dinheiro. A maconha que provoca riso, as crianças que parecem gente grande, o carro, status, desrespeito. João, Mariá, Dinho, a dona de casa excêntrica, o zelador, os seguranças, os sonhos, as prisões. Tantas coisas...
O fato é que Kleber costura situações e conta sua história que é dramática, mas é também cômica, é leve sem deixar de ser densa, é vida. Parabéns a toda equipe que já levou quatro Kikitos e certamente vai levar muitos prêmios no Festival do Rio.
Grata! Por que à tão bons filmes se agradece.

Chamada a Cobrar


Por Roberta Bonfim
No Festival de Cinema do Rio, mais um filme tem como protagonista principal o telefone, “Chamada a Cobrar”, de Anna Muylaert (No Mundo da Lua, “É Proibido Fumar”), começou como uma série da TV Cultura e após alguns cortes, - menos do que o necessário, - tornou-se um longa, que tem como protagonista, Clarinha dignamente interpretada por Bete Dorgam, é uma senhora, que desfruta de uma vida confortável na cidade de São Paulo. Mãe de três filhas que vivem suas vidas. Assim, entre jardinagem e compras Clarinha se distraia, até que a paz é quebrada quando ela recebe uma ligação de um suposto sequestrador e daí começa uma seção de adrenalina, com a atriz em foco, ouvimos o dialogo dela, com os sequestradores, interpretado também por Renan Monteiro.
Com medo pela filha, essa mulher acredita na voz por trás do telefone e acaba seguindo pela estrada até o Rio de Janeiro, teleguiada por ele nas 12 horas seguintes percorre de carro de São Paulo ao Rio de Janeiro, depois de já ter comprado cartão para o telefone dos bandidos, trinta pares de tênis e ter dado os números de seus cartões.
Enquanto o quadro se constrói entre esses dois personagens que discutem as mais diversas problemáticas, até que chegam as diferenças sociais, as diferenças regionais e expõem estereótipos; as filhas começam uma mobilização atrás da mãe incentivadas pela empregada, mas onde está a irmão mais nova? São nessas buscas que essa família se reencontra.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Éden, de Bruno Safadi


Na última sexta feira, dia 05 de outubro, me emocionei. Me emocionei muito com o humano, com o que produzimos, me emocionei por ver que ainda se pode sonhar e que é possível realizar. Me emocionei com a arte gente e com a arte produto, mais especialmente emocionei-me com a arte questão.

Antes de qualquer exibição, antes mesmo dos anúncios publicitários, emociono-me com  Dodô Azevedo, ao apresentar seu curta “Eva no Verão”, que é além desse curta, por ser uma espécie de séria, onde Evas encontram-se através, enfim. É preciso que se veja, que escute a narrativa gostosa de Fernanda Paes Leme. Parabéns! Depois do curta aparecem as logos que possibilitam a realização desse filme.
E então “Edén”, de Bruno Safadi. E então Naldo, Karen, o marido, o irmão, a mulher do assassino e o próprio assassino, uma igreja, um consolo, amor e tantas verdades. O longa do jovem cineasta trás a tona o fenômeno das igrejas evangélicas, com a Igreja do Éden, como pano de fundo para história de Karen, jovem gravida de oito meses, que perdeu o marido para bala de um assassino e tenta se reencontrar e achar forças, a principio crer que a igreja pode salvá-la, até que percebe que é em seu filho que está sua fortaleza.
Karen é interpretada pela talentosíssima Leandra Leal, que bem merece o prêmio de melhor atriz. Nossa! Em algumas cenas me pareceu tão real.
E então, emocionei-me outra vez, com Karem, Leandra, João Miguel, Júlio Adriano, André Ramiro, Cristina Lago e Safadi com sua brincadeira de profanar o profano sem medo dos que se levantaram no meio do filme. O diretor fez uma escolha pagou pra ver e foi aplaudido, por mim de pé. J

O Gorila, de José eduardo Belmonte


 Tenho ido conferir a alguns filmes do Festival de Cinema do Rio, “O Gorila” de José Eduardo Belmonte, assisti na semana passada e logo na entrada a festa das estrelas, um festival de celebridades. Optei, no entanto,  por entrar logo para conseguir um bom lugar. Logo começam as apresentações, do curta e do longa da noite.

Olho ao redor, o cinema está absolutamente lotado, é o retorno por sempre apresentar bons contesto, como; “Se Nada Mais der Certo”, que levou o troféu Redentor de melhor-filme, em 2008. Começa então “O Gorila”, um filme de suspense de José Eduardo Belmonte, que tem como protagonista Otávio Müller, um ex dublador, um anti-herói, que na infância teve de lidar com a bipolaridade da Mãe, interpretada lindamente por Maria Manoela, torna-se um homem inseguro, que após crise do trabalho, começa uma obsessão por ligar para pessoas, especialmente mulheres, passando-lhes trote. Na época do Natal, mais uma vez algo muda radicalmente na vida do protagonista. Uma mulher o liga e diz que vai se matar, começa ai um jogo de cenas e situações interessantes.
Em cena, Alexandra Negrine, que interpreta Magda, uma das vitimas do Gorila, que passa a ser essencial para que o herói passivo de Belmonte não se perca pelo mar da loucura; Mariana Ximenes, que em personagem que mais lembra a mulher gato, um tanto bipolar, e Luíza Mariani, que interpreta a evangélica cheia de libido. Ainda no elenco Eucir de Sousa , Milhem Cortaz, Silvia Lorenço e Georgina Castro.
O Gorila é baseado no conto do escritor Sérgio Sant'Anna, duas vezes contemplado no Prêmio Jabuti, produzido por Rodrigo Teixeira de "O cheiro do ralo" (2006), "Gorila" parece cinema independente americano contemporâneo. E para demarcar os extremos de sanidade do universo que explora, a geometria da fotógrafa uruguaia Bárbara Álvarez.
A grande surpresa positiva foi Müller que evita que seu personagem Afrânio cai no poço do patético. Assim, a narrativa faz uma trajetória ao pesadelo de um artista que busca qualquer coisa que não sabe o que, em trotes telefônicos. Provocado quem assiste a refletir sobre essa solidão.
Sai do cinema um tanto confusa, cheguei mesmo a pensar que eu não havia gostado do filme. Foi na hora de dormir que ele começou a rodar por meus pensamentos. Ali constatei que havia gostado. Parabéns a toda equipe e ao cinema brasileiro.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Augustas


Você conhece São Paulo? E a Augusta, conhece? Foi ali na sala do Centro Cultural da Justiça, que fui apresentada. Em preto e branco, sépia e colorido, as tantas possibilidades de Augustas.
A região que liga o centro a área nobre é desde 1960, reduto de pessoas que buscam o alternativo, artístico, cultural e de entretenimento, mas como não poderia deixar de ser, especialmente nos anos 60, é também reduto de drogas e prostituição. Com tanta realidade deve ter ficado até fácil para o diretor Francisco César Filho, conhecido por seus documentários e curtas-metragens. “Augustas” tem um quê de Boca do Lixo, mesmo sendo um filme atual remete aos filmes dos anos setenta.
Nomes importantes como Hilton Lacerda e José Eduardo Belmonte, são os responsáveis pela roteirização que apresenta-nos Alex (Mário Bortolotto), nosso anti-herói. Um jornalista desacreditado que se embrenha em um universo de descobertas que envolvem a Rua Augusta. As dúvidas e contatações de Alex são em absoluto expostas em suas conversas regadas a cervejas, com o colega Tonico (Henrique Schafer). Nesse entre meio Alex se envolve com Kátia (Caroline Abras), uma prostituta, assim a cama é dividida, especialmente por Alex e Juliano Cazarré no papel de segurança de uma boate da rua que serve de cenário para história. Mais há ainda outras mulheres e questões na vida de Alex, como Jane, uma mulher simples, cheia de desejos interpretada lindamente pela querida Georgina Castro; Marrut (Selma Egrei) e sua namorada Azúcar (Maíra Chasseraux) que levam o personagem a se envolver em questões que o deixam no centro, entre o profano e o místico. Tem ainda sua editora e tudo isso como caminho na busca de um sentido à sua existência.
Assim, o que falta em recursos técnicos e de montagem, é compensado pela temática e na  libido que inunda a tela, por meio das mulheres, da rua Augusta, e todas as suas facetas. Mas devido a sua busca pelo alternativo e do poema sujo, o filme torna-se irregular e um pouco solto.
Na saída do cinema uma alegria e orgulho pelo cinema brasileiro, que como disse Georgina Castro na apresentação do filme merece sorte. Reflexão sobre as tantas possibilidades e uma pequena confusão com as informações oferecidas. Esse filme fez parte da programação do Festival de Cinema do Rio de Janeiro – setembro de 2012.

Corpos Velhos: Para que servem?

Por Roberta Bonfim Tudo que se vive é parte do que somos e do que temos a comunicar, nossos corpos guardam todas as memórias vividas, muit...