domingo, 19 de novembro de 2023

Leci Brandão a potência de sua Geração

Por Roberta Bonfim


O samba, o tambor, o pandeiro mexem com meu corpo, mas a voz de Leci mexe mesmo é com minhas memórias infantis e juvenis e com o meu coração, meu imaginário sobre o carnaval, a beleza das histórias cantadas sobre nós. Assistir Leci Brandão e sua potência humana ali no palco foi das coisas mais emocionantes dos últimos tempos e hoje é o último dia deste espetáculo na cidade.

Isso mesmo, Leci Brandão está em Fortaleza, mais especificamente na Caixa Cultural Fortaleza, através do Programa de Ocupação dos Espaços da CAIXA Cultural. Desde quarta-feira, até hoje, 18 de novembro, o show “Leci Brandão - Eu Sou o Samba". Leci aos desavisados, é um dos grandes nomes da música brasileira,  é fundamental para o que hoje chamamos representatividade. Quando isso ainda não era pauta, Leci já representava Madureira, o Samba, a Mulher Negra e potente que é. Tanto que suas canções seguem atuais e junto outros clássicos da música Brasileira são cantados em coro com a plateia.  Isso porque músicas como “Só quero te namorar", “Zé do Caroço" e “As coisas que mamãe me ensinou", “Olodum força divina", “Madalena do Jucu", “Papai vadiou", “Deus do fogo e da justiça", dentre outros estão no imaginário de todes nós. 


Eu particularmente logo de chegada já senti no bater dos tambores os calores e afetos, e sem perceber eu já chorava e agradecia a oportunidade de estar ali, naquele momento vivendo aquele nosso momento e na primeira fileira do teatro. Todes sabemos que a primeira fila não é legal para a cervical e que essa proximidade às vezes quebra a magia, mas Leci e sua banda são gente do samba, gente que de cedo sacou que a magia consiste em ser de verdade, simples, profissional, familiar e sincronizado. Lindo de se viver.

Existem além do espetáculo em si, outros espetáculos à parte, como a competência dos músicos, que evidenciam a importância de cada instrumento e som, na composição do todo que é a música cantada por Leci Brandão. Que se só no palco, falando da vida já seria incrível, pois ela vai desfazer 80 anos em 2024 e canta o show inteiro sem pesca, lembra o nome e lugar de nascença de cada ser que integra a equipe do show que apresenta. E só não sambou porque não podia, mas deixou-se de corpo e alma abertos e em troca com os felizardos que estavam ali. Eu estava e vibrava de uma alegria intensa e tal hora o corpo precisou liberar e fui para lateral do teatro e sambei uma música inteira, tudo que eu precisava antes de voltar para minha cadeira, mas que eu teria extrapolado, não fosse a moça gentil da Caixa me lembrar de ficar quieta no meu lugar. Eu fique, cantando auto, até perder a voz. Cantei com Leci, a vi pequenina, em seu figurino azul com o mar, com sua voz potente que ainda esta aqui a em mim ecoar e fui lembrada mais uma vez e sempre que somos a integração de nossas competências.

Agora eu queria ter tempo de correr atrás de um Vinil de Leci para pedir que ela autografe, mas meu dia está corrido e eu já atrasada, assim fecho por aqui com o convite a quem possa hoje ou logo menos se presentear com este espetáculo de tudo que é assistir ao show “Leci Brandão - Eu Sou o Samba", onde a artista com mais de 40 anos de carreira e 25 álbuns gravados e muitos desfiles de carnaval e roda de samba. Gratidão Leci Brandão pela sua existência, presença, corpo, voz, som e poesia que nos compartilha. 

Para deixar tudo ainda mais incrível eu estava na incrível companhia da minha comadre Katiana Monteiro e ainda encontramos e trocamos outros abraços. <3




 


 


sexta-feira, 10 de novembro de 2023

"Eu de Você" com Denise Fraga



Era 09 de novembro, quinta -feira e faltavam 10 minutos para as 17 horas quando cruzei os portões da Caixa Cultural Fortaleza, a fim de assistir teatro.  Assim, ao cruzar o portão, logo senti uma liberdade de estar ali só indo ao encontro de uma fila já grande para pegar o ingresso. De chegada por conta do meu hábito de ouvir conversas alheias, descobri que os ingressos só serão distribuídos às 19 horas. Depois de uma correria para estar ali naquele momento. O espetáculo "Eu de Você", com a inspiradora Denise Fraga, que cruzou a fila e derramou sua gentileza e alegria com os que esperavam para assisti-las. Se eu que estava já cansada na fila, estava profundamente emocionada ao olhar tanta gente esperando para assistir teatro, imagino a emoção desta atriz. Por falar na fila que inicialmente não parecia agradável, acabou por virar um ponto alto deste dia. Pois ali conheci figuras ímpares e ótimas companhias para ir ao teatro, algo parecido com o reencontro que logo viveríamos também no ato do espetáculo.





As 20 horas tocou o primeiro sinal. Denise recebe seu público, conversa, abraça, combina, alerta, sorrir e rememora uma professora de geografia e o seu triz, que Clarice Lispector chamava de momento epifânico, para mim um estado de presença. E o teatro é efetivamente um estado de presença e Denise Fraga, com a direção delicada de Luiz Villaça. A direção musical de Fernanda Maia é irrepreensível e lindamente executada pela musicistas Ana Rodrigues, Clara Bastos e Priscila Brigante, que atentas somam-se a luz, que no cenário projeta sombras, camadas, memórias, imagens, outro ponto são as projeção desses perssonagem que são e somos. Sons e luzes ambientam o palco para incrível atuação de Denise que compartilha inicialmente memórias suas, para depois nos compartilhar histórias de tantes, e tal hora tá mesmo tudo misturado, costurados, inclusive as nossas vidas, em outros corpos, que podem também ser os nossos, mas ali é o seu. Nos joga na lata as rotinas desumanas, as relações atóxicas, uma carência gigante, o patriarcado e a não priorização do amor em muitas camadas.


Mas também nos ensina a andar, nos convida a refletir e a perceber que somos amor, e que é no amor a nossa base mais sólida para organização da disciplina que gera a ordem e a construção do progresso enquanto humanos. Há aqui um mergulho de 90 minutos na alma humana com guia qualificada e um ambiente preparado para este mergulhar.


Foi assim que saí do teatro, limpando o rosto lavado em lágrimas de choro e/ou risos, ou os dois, reafirmando a unidade que somos juntes, e me questionando sobre qual o meu papel nesta engrenagem. Sai também reafirmando meu amor ao teatro, como faz a atriz algumas vezes na cena, que é também mosaico de histórias humanas "demasiadas humanas". 


Gratidão Denise Fraga por junto com essa equipe potente realizar o sonho de vocês e compartilhar conosco aqui em Fortaleza. Grata Caixa Cultura por investir em arte e cultura. E grata a cada ser que estava ontem lá para assistir teatro, acompanhar a fila foi parte importante do espetáculo. 


Ao final abraços nos companheiros de teatro, a reafirmação do bem que faz abrir brecha para pegar uma fila de horas, conhecer gente nova e assistir teatro. Ainda antes de voltar para realidade passei pelo Poço da Draga, no Coletivo Fundo da Caixa para viver mais amor, cheguei em quase meia noite. Minutos antes do virar do dia. Agradeci, e desejei bater um papo com ela para esta revista. Será que ela topa?


terça-feira, 19 de setembro de 2023

Sobre a normalidade irreal

 Texto Beta Costa que é meu ego autobiográfico

Dança Roberta Bonfim


Ela descobrirá a crise de ansiedade tardiamente, devem ter sido as crises de riso que afastaram para longe todos os medos do mundo que nela habitavam escondidos sem querer perder morada. Mas quando ela degustou o doce excêntrico do momento em que se toma as rédeas de sua vida de modo extremamente dolorido, e o que até ali chamava de solidão torna-se de algum modo, liberdade. Como se a repetição do desejado por fim lhe tomasse o corpo, a mente e o espírito e as culpas fossem aos poucos dissipando à medida que vai tomando consciência das realidades possíveis. Mas voltemos às crises de ansiedade que vieram após a queda da cadeira que lhe fraturou a coluna e a fizera ter profundo medo da morte, que um ano antes também a assustou com a retirada emergencial do apêndice. 


O fato é que com a ansiedade ela acabou descobrindo novos ritmos do seu coração e alguns não tão confortáveis como os que ela já estava de algum modo familiarizada. E vivência a sua primeira visita a uma cardiologista, mulher óbvio. Ela não colocaria um homem para cuidar do seu coração, já que na vida nunca tivera nenhuma grande referência masculina, que não os autores que gostava de ler. A médica lhe solicitou exames, de sangue, um mapa cardíaco e da pressão arterial, além de uma bela corrida na esteira para saber como anda este coração.


Fazer exames e constatar que tudo anda bem virou lugar de extremo prazer para ela que com isso ainda conseguiu aprender a lidar com sua própria ansiedade, no tempo da espera que se dilata. Como uma alma em cura a grosso modo tem que corpo reagindo, existem outros médicos e exames no caminho, mas quero bem falar sobre o mapa cardíaco.


Você sabe do que se trata um mapa cardíaco? A Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA) é um exame que permite o registro indireto e intermitente da pressão arterial durante 24 horas, enquanto o paciente realiza suas atividades habituais e também durante o sono. Ela já tinha visto outras pessoas fazendo, mas era a sua primeira vez. E enquanto esperava para colocar o aparelho pensava no tempo, nas prioridades de cada fase e na espera por um mapa, em uma vida urgente por ser vivida. Observava as pessoas naquela salinha de tensão disfarçada em sorrisos gratuitos, ou apenas uma sutil cumplicidade. 


Na sala onde colocou o aparelhinho que lhe acompanharia pelas próximas 22 horas, obrigando-a a parar de 20 em 20 minutos, respirar e esperar até que a pressão fosse aferida. E ali colocando o aparelho ela perguntava tudo que vinha à cabeça, a fim de evitar a fadiga posterior. Sabia que quanto mais segurança tivesse do processo, mais tranquilo seriam essas horas. 


Saindo da clínica foi testar o efeito do THC na sua pressão arterial, e também do alongamento. Então foi buscar sua criança na escola e atravessar todo shopping para levá-la a uma festinha da coleguinha da escola. Viver no Ceará é saber-se olhando e ela ali desfilando linda com meu mapa despertou olhares e criatividade na construção das narrativas de pedaços que ela se esforçava para ouvir, e sorria segurando forte a mão de sua criança. Deixou a sua filha em sua primeira festa com a colegas. Não quis abrir mão deste momento e conhecia as complexidades que seguiam dele.


Enquanto a criança se divertia com os colegas descendo o escorrega, ou se fantasiando de dinossauro, ou ainda cantando os parabéns, ela, a mãe andava pelo shopping com seu corpo sendo mapeado. E, deu-se de presente duas calcinhas, uma cueca para dormir e um sutiã, para criança uma pantufa e para o tédio de quem detesta shopping amendoins cobertos com chocolate e a contagem do tempo, que em shopping passa em outro tempo, mas é ainda outro quando de 20 em 20 minutos um apito seguido de um aperto no braço te obriga a parar e entrar em estado de presença. Quando não consegue parar, com um castigo de adestramento a pressão no braço lhe parecia maior só de sacanagem. 


Então a rotina com paradas e o dormir com a máquina, mas logo ela já parecia adaptada, talvez só não mais pela impossibilidade de um bom banho. Na manhã seguinte a máquina já lhe parecia familiar e até o look já combinava com o estilo do aparelho mapeador do seu coração. Em algumas paradas ela refletia a respeito do tempo, em outras da respiração, e a risada sempre que lembrava da profissional que instalou nela o mapa, indicando vida normal. Se vida normal então já que a terapia virara papo de amigas com profundas complexidades particulares dela que mesmo sempre tendo sido, parece às vezes novata neste corpo que lhe pertence, com esta mente que lhe é nata e nesta vida que aparentemente é a sua, por mais que às vezes tudo lhe pareça de um filme não gravado além de sua mente. 


E a mente… A mente… A memória que lhe visita em todas as histórias e a que escreve ao existir, em letras, movimentos e pessoas. 

 



E antes de tirar o aparelho ela sentiu a necessidade latente de dançar de ativar este corpo e o convidar por uma máquina que pare e se reequilibre tal hora. É pedir que o corpo experimente junto com a consciência o parar no ato de mover-se. Ao se mover a máquina chega mesmo a deixar de existir, assim como o medo de morrer. Você já sentiu esse medo? Ela sim e vou dançar mais isso outro dia por aqui. hihihihihi



segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Ensaindo voltar a partilhar percepções

 Faz um tempo que não escrevo por aqui, o último texto é de 2019. Mas ando mesmo sentindo a ausência desta escrita que depois eu encontro, essa que muito me explica sem tanto dizer, ou diz muito e nada deseja além do ato da própria escrita. E assim os dedos deslizam pelas teclas do teclado, como que brincam de correr em dupla, indo para um lado e outro,em cima , lateralidades e também para baixo, ocupam todo pequeno teclado as minha grandes mãos que escrever sem respiro nem meu, nem delas. é que a escrita é mais que um simples desejo, é uma necessidade. 


E agora escrevo um misto de tantos afetos vividos apenas hoje. Este blog que tanto já foi, inclusive abandonado, é hoje para mim um lugar de depositar escritos e reflexões, que não se propõem a serem verdades absolutas, mas apenas o que são. E agora paro e penso, nossa! Percebo sobre o quanto eu poderia estar escrevendo, mas ando mais querendo escrever para me entender, uma coisa Mariana Aydar ao cantar:


EU ME ENTENDO ESCREVENDO


Hoje por exemplo entendi o quanto me doe ver meu lugar sendo mais uma vez mexido, tenho dificuldade de reconhecimento espacial, tá tudo tão igual. No caminhar incontaveis falas e observações dos que passam e pelos quais passo. E eu estava sem oculos para meus ver e ouvir e ainda sim em dada hora eu chorava e me indignava. E então cruzei olhar com o ed São Pedro e outras tantas reflexões e o que eram casas foram virando outras coisas e naturalmente me pergunto sobre os que ali moravam e que era parte do lugar. Mais tapumes, obras exigem tapumes, aqui amarelos e com a marca da prefeitura de Fortaleza, que me fazem rir ao me perceber tentando calcular quanto foi gasto só de tinta látex amarela para tanto. Ri pelo absurdo da reflexão e da ação quando estamos em Fortaleza e suas incontáveis questões que vão desde prédios de 70 andares à retirada de pedras com vida para um chão de cimento sem qualquer identidade, mas bons para se andar de bicicletas, patins… mas então para quem as ciclofaixas? E os barraqueiros aparentemente se perguntam sobre o futuro. 


"E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar." Toquinho


Até chegar onde hoje é o Instituto Belchior, mas que fora antes tantas coisas, inclusive o Latratoria onde tomei minha primeira sangria da vida, ou o Cais Bar, formador musical de muita gente da cidade. O fato é que chegando ali comecei minimamente a me sentir efetivamente na praia, pela praia. Segui andando que meu destino era um mergulho no Poço da Draga e olhei para a Ponte Metálica fechada e a dos Ingleses inacabada de mais uma de suas reformas. Ali ainda um trecho com pedras Cariris colocadas outro dia depois de muita luta para que não fosse colocado, ali olho o entorno e choro com uma sensação de despedida, não passo sempre andando ali, talvez na próxima nada mais seja como está, e ainda mais distante do que já foi. E sigo andando, quando mais um tapume me impede inicialmente de seguir e onde havia chão, quebraram, já é areia, dificultando a passagem. Eu por minha vez segui até o meu destino. Olhei a ponte de perto e achei interessante que deixaram as frases afetivas.



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Entrei no Poço da Draga, abracei e fui abraçada, conversei, fotografei, conversei, tive a bolsa batizada por um gato sem vergonha e gravei com a blusa da Ivoneide, depois de ter já sorrido com Cassinha, Mari, João, Djey, Ivoneide, Benedita, Ivan, Fatinha, Izabel, Fernanda e tanto mais gerando conteúdo para transformadora Composta Poço e ainda realizei o mergulho e comi couve flor feito com amor. E segui para casa para cumprir meu papel de mãe e neta que eu também amo, e então uma passagem pelo shopping, comer comida queimada com som mais alto que o necessário, com brinquedos caros e de plástico.


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SHOPPING É UM LUGAR QUE ME GERA DESCONFORTO, NUNCA SEI ONDE ESTOU NEM QUE HORAS HAVERÃO DE SER.


Em casa ler histórias africanas para filha e aprender junto sobre tanto e agradecer pelo grande do dia e então a filha dizer que é domingo e quer ir dormir na avó e eu ganho um vale noite para escrever neste blog depois de quase 5 anos para dizer que sigo amando o Poço da Draga e agradecendo a existência de cada ser que me inspira transformações necessárias, urgentes e possíveis. 



Escrevi ontem, dormi antes de concluir e/ou postar… mas segue, já que este blog trata-se das minhas percepções. E agora quando decido postar um beija flor me visita e faz seu show e parte, como quase tudo nesta vida. Grata


Corpos Velhos: Para que servem?

Por Roberta Bonfim Tudo que se vive é parte do que somos e do que temos a comunicar, nossos corpos guardam todas as memórias vividas, muit...