terça-feira, 25 de novembro de 2014

Meu Amigo! Tim Maia!



Sou filha dos anos 80, assisti Chacrinha (inclusive preciso assistir ao musical sobre esse grande mestre) e ouvi Tim Maia, vi o gênio quando vivo e observava atenta as discussões sobre suas ausências, ele era notícia na boca de muitos de minha infância. Eu gostava de suas músicas e o achava um cara feio. Com o passar dos anos fui conhecendo outras músicas e assim, ele foi se construindo como um gênio em meu imaginário. E sua voz me acompanhou por toda vida, suas letras simples e diversas, tão próximas e desejadas por todos nós. E ele um homem que sentia demais.

Diante de tudo isso, quando soube do filme sobre a vida de Tim, me vi encantada antes mesmo de assisti-lo e lógico me apressei para vê-lo. Lugar escolhido Cine Santa, em Santa Teresa. Logo que entramos na sala de cinema o primeiro impacto, o cinema estava vazio, éramos no total uns doze assistindo ao filme. Uma pena, penso eu. Em um país em que o cinema tenta se fazer mais forte e presente, a falta de público mesmo em filme de teor biográfico me assusta.
Mas, o filme começou e de imediato todas as questões são esquecidas e é com a tela e a história apresentada que começa a nova relação. Eu que havia assistido ao musical também sobre o artista me vejo encantada na descoberta de novas perspectivas sobre o mesmo ser, Tim Maia.
Tim viveu em um Brasil, que não era bem esse que conhecemos, a tecnologia dava ainda seus primeiros passos e as gravadoras eram as grandes detentoras do poder. Roberto Carlos era ainda apenas um jovem ambicioso e Tião, entregava marmitas, corria pros Estados Unidos e como não sabia falar inglês fluentemente, as cenas em que o personagem dialoga com os americanos inicialmente são uma forma de se garantir boas risadas. Tim buscava a todo custo viver da sua música. Tinha plena consciência de seu talento e de seu caos interno.
No filme o cantor é interpretado por Robson Nunes em sua fase antes da carreira, onde a inocência ainda pulsava nos olhos e ações, apesar do espírito destemido e aventureiro.se mostra com uma personalidade completamente inocente, porém com um espírito aventureiro e uma vontade enorme de se tornar o cantor que sabia que era. Mas, é quando entra o Tim Maia interpretado por Babu Santana, que o filme começa a adquirir um caráter mais tenso. Um dos pontos é seu relacionamento com Janaína, interpretada lindamente por Alinne Moraes. O casal é certamente a coluna vertebral do filme, e as atuações de ambos merecem destaque. Com direção de Mauro Lima, também responsável pela direção de Meu Nome Não é Johnny e Reis e Ratos entrega mais uma vez um ótimo trabalho para o cinema nacional.
Outro ponto auto do filme é a fotografia, que retrata (dentro das possibilidades) a atmosfera e tons de um Brasil que já não existe mais, mesmo sendo o mesmo. Uma coisa porém me incomoda um pouco; a mediunidade no conflito entre Tim e Roberto Carlos, interpretado por George Sauma, que aos meus olhos pareceu um pouco estereotipado demais, sendo quase engraçado, quando o tema pedi maior sobriedade, o que acaba por deixar as cenas rasas, se comparada a intensidade da história real.   
Ao final, inúmeras reflexões, e a percepção explicita dos nossos limites humanos, indiferente da genialidade, dos meios, ou da fama/grana. Saímos do cinema e fomos comer uma tapioca logo ao lado e falar sobre o amigo Tim Maia, por horas e horas e horas.

Grata Mayra Abreu pelo grato convite.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Sobre o Ser, o Sendo e o Ser-se


Domingo chuvoso no Rio de Janeiro. Eu perco a hora e sou abrigada a pegar um taxi para não perder também o espetáculo. Ao chegar no Laura Alvin uma alegria sempre presente quando vou por ali. Amo Ipanema chuvosa, mas como cheguei atrasada e já havia gasto com o TX, tive de pular aquele bom café.
Um tempo na fila, a chegada do amigo, ingressos esgotados. Entramos no Espaço Rogério Cardoso, o cenário enorme no pequeno teatro, nos deixa quase em contato direto com a cena que se desenha depois do abrir de porta. Entram em cena dois humanos “demasiado humanos” e ali naquele pequeno espaço repleto de ferrugem, rancores, possibilidades, amores e lixos, tentam zerar a conta que a vida lhes deixou. O texto do escocês David Harrower, com direção do sensível Bruce Gomlevskye e atuação da visceral Viviani Rayes e Yashar Zambuzzi, com participação de Bella Piero, fala sobre esse ser que pode ser qualquer um de nós, e que deseja o amor. Uma pergunta feita em cena se repete em minha memória mesmo agora; “Com quem você pode contar?” E você, pode contar com quem? Temos alguém para segurar a mão dos dias difíceis? Alguém com quem podemos ser quem somos?

O espetáculo não é um discurso sobre o amor, mas uma discussão de muitas perspectivas, sobre a vida e pontos de vista diversos sobre a mesma história. Tantos temas rodeiam o fato de uma garota de doze anos ter se envolvido com um homem de 46, quinze anos antes e como a vida os condenou por esses instintos.
O premiado texto foi lançado em 2005 inspirado em um romance real vivido, por um ex-fuzileiro naval de trinta e um anos e uma menina quase vinte anos mais jovem. Depois de um ano conversando pela internet, o oficial licenciado se encontrou, no norte da Inglaterra, com Shevaun Pennigton que, embora dissesse ter 19 anos, tinha, na verdade, apenas 12 naquela ocasião. Com a desculpa de que sairia para compras, a garota fugiu com Studebaker para Londres e para Paris em julho de 2003. Studebaker foi encontrado em Frankfurt e sentenciado a um total de 15 anos de prisão. Tendo essa história Harrower escreveu “BlackBird”. O título veio da música “Bye, Bye Blackbird”, de Ray Henderson, que também trata dessas solidão humana.
Na peça, Viviani Rayes, interpreta Una, uma jovem de 27 anos que reencontra Ray (Yashar Zambuzzi), de 55 anos, depois de ver sua foto no jornal. Quinze anos antes, Una ainda criança conheceu o já quarentão Ray, amigo de seu pai, em um churrasco em sua casa. Os dois se evolveram e fugiram, mas a “aventura” terminou em um quarto de hotel. Daí pra frente uma sucessão de julgamentos e sentenças. Ele é preso na cela e ela no passado. E é com esse compartilhar de histórias, cobranças e instintos que nos deparamos quando eles se reencontram quinze anos. O que um terá a dizer para o outro? Só assistindo pra saber. E sobre as conclusões? Cada um que tire as suas.

P.S. Grata Viviani Rays pelo doce convite!


Ficha técnica:
Elenco: Viviani Rayes - Yashar Zambuzzi - Bella Piero
Texto: David Harrower
Tradução: Alexandre J. Negreiros
Direção: Bruce Gomlevsky
Direção de produção: Viviani Rayes
Produção executiva: Yashar Zambuzzi
Assistência de Produção: Glau Massoni
Cenário: Pati Faedo
Figurinos: Ticiana Passos
Iluminação: Elisa Tandeta
Trilha original: Marcelo Alonso Neves
Assistência de direção: Francisco Hashiguchi
Assistente de produção: Antônio Barboza

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