terça-feira, 6 de maio de 2014

Praia do Futuro, de Karin Aiinouz.

Onde nos reconstruímos, na coragem ou no medo? Essa talvez seja a pergunta que se repete insistentemente desde que deixei a sala dois (02), do Cine Leblon, onde aconteceu nesta segunda feira 05 de maio, a pré-estreia do novo longa metragem de Karin Aiinouz, Praia do Futuro. Talvez por que seja esse questionamento que norteia a vida dos três personagens, e a de todos nós.

O filme que é uma co-produção Brasil – Alemanha, traz no elenco Wagner Moura, Jesuíta Barbosa e o alemão Clemens Schick. Na fotografia o contraste entre as cores da bela Fortaleza, de mar aberto e revolto, de tantas histórias e identificações, e a fria Berlim, com suas possibilidades de liberdade.

Logo na primeira cena, do primeiro ato, o afogamento. Cheguei mesmo a sentir o salgado do mar na boca, e a angustia do salva-vidas Donato (Moura), que pela primeira vez perde uma vida para o mar, ao tentar socorrer dois turistas alemães. Konrad (Schick) sobrevive e, assim o filme se desenha, já que eles se envolvem.  Donato troca Fortaleza pela cinza Berlim, deixando para trás o mar cearense, sua família, em especial seu irmão mais novo Ayton (Barbosa), que o tinha como um super-herói.

No segundo ato, Donato precisa definir suas escolhas e opta por ficar em Berlim, para tanto esquece seu passado, a fim de viver uma vida sem a responsabilidade das expectativas dos outros. Mas, como tudo, isso também tem um preço e depois de anos Ayrton chega à Alemanha para deixar claro o peso das escolhas de Donato. Praia do Futuro de forma sensível e poética fala sobre liberdade e as mudanças sofridas para que a mesma seja minimamente alcançada.

Os personagens são essencialmente humanizados o que facilita a relação, e no caso dos cearenses, como eu, a identificação. E a divertida referência aos super-heróis ao tratar os personagens por Aquaman (Donato), Speed Racer (Ayrton) e Motoqueiro Fantasma (Konrad) ajuda no processo de entendimento da idealização que atribuímos às pessoas ao nosso redor.

Os que como eu acompanham os trabalhos de Aiinouz, percebem que alguns elementos, como a fuga, o abandono e a estrada, felizmente se repetem. Mas, Praia do Futuro é diferente, pois além da relação com água e o horizonte, que são lúdicas e repletas de significados, o filme parece mais próximo do próprio diretor, que como o protagonista deixou o Ceará e hoje mora em Berlim. Ao final outras reflexões, em especial a percepção de que nessa estrada em busca da liberdade não é preciso estar sozinho, muito pelo contrário.

Praia do Futuro estreia 15 de maio, em todo Brasil.



Grata Jesuíta Barbosa, pelo convite, talento, olhar e abraços! 

Vida longa!

P.S. Lugar artevistas bateu um papo com o ator, sobre o Praia do Futuro e outros projetos e histórias. Vale conferir esse encontro no Palácio do Catete.

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