segunda-feira, 14 de setembro de 2015

O sentido da vida...

Qual o real sentido da vida? Essa sempre foi uma pergunta latente nas minhas reflexões, até que cravou minha alma, ao tempo que eu assistia o mundo girar em slow motion. 

Era domingo e nós íamos ao Fortim, logo cedo ainda na saída da casa de Mainha pensei em desistir por duas vezes, mas achei que não seria legal da minha parte, já que nem lembro de alguma vez ter vivido um domingo de boa com meu pai e família, além da família da minha cunhada. Vou no carro ouvindo Cia do Tijolo e me convencendo que preciso viver isso, busco minha cunhada e juntas chegamos na casa de meu pai.  

Logo de cara me sinto estranha, não há sensação de pertencimento, me sinto o B-627, em contato bem próximo com um outro planeta, mas respiro e busco os pontos de similaridade, me permito viver e ser cativada por aquelas pessoas. Para o café da manhã, pizza caseira e uma chuva passageira nos leva a refletir sobre o seguir. Mas, seguimos. Precisaríamos de dois carros e eu não fazia a melhor ideia de onde eu iria, mas logo me indicaram para eu entrar em um carro grande do qual meu irmão iria dirigindo. E fomos. Posto para abastecer e comprar um chiclete e seguimos. 

Eu que estava com sono coloquei meus escuros óculos e revezava em cochilar e olhar a paisagem, entre os cochilos tive um sonho esquisito e acordei. Fiquei calada tentando identificar o som que tocava baixinho, ao tempo que prestava atenção na estrada, que se estreitava, estávamos na CE 40. Foi quando o amarelo do carro que nos cruzou, tomou a pista e seguiu, obrigando meu jovem irmão a puxar a direção, o que seria tranquilo, se não fossemos um carro grande, automático, com a direção leve, mesmo sendo pesado e carregando um jet-ski, o fato é que perdemos a estabilidade, daí pra frente foi ... o tempo não passa mais rápido quando estamos em risco. Dentro do carro eramos quatro, todos de cinto de segurança para garantia existencial de cada um. A cada giro minha cunhava gritava por Jesus, meu irmão parecia não crer no que acontecia, ao meu lado Leh que dormia quando tudo aconteceu, parecia um boneco de posto sendo jogada de um lado para o outro. E eu que olhava tudo aquilo, e o carro girando e pensava que já podia acabar aquela brincadeira sem graça. A morte em nenhum momento pareceu uma opção. Quando o carro parou de girar, nos olhamos e minha cunhada repetiu três vezes o que meu irmão acompanhou. - Vamos descer do carro! Vamos descer do carro! Vamos descer do carro! Eles saíram pela janela, nós de trás pelas portas. Havia vidro em todo lugar inclusive em nossas roupas e cabeças. 

Ao sairmos do carro desce um senhora correndo e perguntamos como estamos, e deixando claro ser médica, era a Secretária de Saúde de Fortaleza (Gratidão). Nessa hora as meninas já estavam quietas no chão, Leh era examinada, enquanto minha cunhada ligava para o SAMU, eu para que meu pai voltasse e meu irmão olhava aquilo tudo sem crer no tinha acabado de acontecer.  

E em uma rapidez assustadora apareceram pessoas de todos os lugares, carros param, pessoas traziam mantas para que colocássemos no chão e a placa onde primeiro batemos acabou servindo de sombra para os primeiros socorros. Quanto olhei, alguns juntavam os papeis e pertences que tinham caído do carro e me entregavam, um pé da minha sandália da mulher maravilha foi encontrada pelos mesmos meninos que acharam uma boa quantia de moedas, o outro foi meu irmão. Todos tentavam de alguma forma ajudar. Quem tinha visto tudo acontecer, repetia que o tinha visto. E alguns nos tocavam sem acreditar que estávamos tão bem. Também tenho dificuldades, agora que vejo as fotos. 

O carro que nos trancou voltou e logo partiu (poderia escrever um texto inteiro só sobre esse isso, mas não valeria a pena). Perderam o furo! 

Consegui falar com Arine, pedindo para que voltassem, deixando claro que estávamos bem.  
Na hora em que eu liguei minha madrasta que já pegava o celular para nos ligar, isso porque meu pai não nos via mais pelo retrovisor, já tinha um tempo. Chegam juntos, eles e o SAMU.  


Na ambulância seguimos para o hospital de Beberibe, onde pela primeira vez senti que eu também estava de alguma forma machucada, o mundo rodou e eu logo estava no soro. Vale relatar que fomos muito bem atendidos. Eu tinha a sensação de que de alguma forma todos ali pareciam saber do acidente. 

Ali naquele hospital passamos parte do nosso domingo, e quando na maca pego o celular vejo uma mensagem de minha  pedindo que tivéssemos cuidado, a hora enviada 8:55 da manhã. Pensei no trabalho e em algumas pessoas que eu não queria que soubessem de forma dramática. E simplesmente me senti bicho sobrevivente e se o objetivo do domingo era unir, o acidente talvez até tenha criado maior aliança, pelo menos entre nós quatro que estávamos naquele carro. 

De Beberibe para o São Carlos com a ajuda de um casal fofo de amigos da igreja deles, e de lá pra casa. Da hora do giro ao agora uma certa descrença de que de fato tudo tenha acontecido, se não fosse a dor no corpo e as marquinhas de guerra, e a noticias nos jornais, eu duvidaria de minha memória. 

E então, qual o sentido da vida? Minha conclusão é que o único sentido da vida é viver. 

Grata ao universo, aos deuses e deusas, grata a natureza, grata aos anjos, gnomos e fadas, grata aos humanos e ao nosso poder de dar risadas. Grata São Jorge e nossa Senhora de Fátima, grata ao amor e as missões que todos nós ainda temos de desenvolver nesta vida.

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