segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Chega a Fortaleza “Vida” - Premiado espetáculo da Companhia Brasileira de Teatro.

A Companhia Brasileira de Teatro, sediada em Curitiba está em turnê pelo Nordeste, passando por quatro capitais – João Pessoa, Campina Grande, São Luís, e chega a Fortaleza para apresentar “Vida” e “Descartes com Lentes”, nasceu do processo de trabalho da primeira.
“Vida” foi eleito como o melhor espetáculo de Teatro do Brasil em 2010 (Prêmio Bravo! Bradesco Prime de Cultura), conquistou mais cinco prêmios, no Troféu Gralha Azul (Teatro Paranaense) e tem Patrocínio Petrobras.
A Companhia que tem no elenco, Ranieri Gonzalez (Esperança, JK, Malhação), se apresentará nos dias 08 e 09 de novembro, no Teatro Boca Rica, com o espetáculo “Vida”, as 20h; e no dia 09 as 17h com “Descartes com Lentes”. Produção local Ato – Produção e Marketing Cultural.
“Vida” é o resultado de um longo e meticuloso momento de pesquisas sobre o poeta curitibano Paulo Leminski e suas obras. A peça não é a adaptação de uma obra literária, mas sim um texto original escrito a partir da experiência de leitura e de convivência criativa com os textos do autor e suas referências. Não existe no texto a citação de um único poema na íntegra, mas a essência da obra de Leminski -- viva e pulsante.
FOTO 1
Exilados numa cidade imaginária, dois homens e duas mulheres fazem parte de uma banda que ensaia para uma apresentação comemorativa do jubileu da cidade. Em uma sala vazia, convivem entre si e revelam comportamentos, relações, conflitos e histórias. Erupções de suas vidas prosaicas, repletas de humor, sensibilidade e um sentido de transformação.
A trilha composta por André Abujamra, promove o encontro de várias referências, em sintonia com o espírito de toda a obra. O jazz de Etta James encontra confluência em ritmos do leste europeu, revelando mais uma vez o universo plural de referências que se admite colher, essência leminskiana latente.
Em Descartes com Lentes, Leminski imagina uma hipotética vinda do filósofo francês René Descartes ao Brasil, a convite do conde Maurício de Nassau. Junto com sua comitiva, repleta de cientistas, naturalistas, desenhistas e pintores, Descartes tenta desvendar e descrever as excentricidades e belezas do país tropical, ou seja, procura filosofar sobre o Brasil e o modo de vida do seu povo. Escrito em meados da década de 60, o texto é considerado o embrião gerador de Catatau, a obra mítica do poeta curitibano. O exercício cênico é interpretado pela atriz Nadja Naira e com a direção de
Marcio Abreu, diretor artístico e um dos criadores da Companhia.
Serviço:
Vida
Local: Teatro Boca Rica
Hora: 20h
Valor: R$ 15,00 (inteira) R$ 7,50 (meia)
Descartes com Lente
Local: Teatro Boca Rica
Hora: 17h
Gratuito

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O Processo

Depois de me identificar e chorar, até perceber todas as diferenças em Carta ao Pai, tento por diversas vezes ler Metamorfose e preciso admitir. Não entendo muita coisa, talvez um dia eu consiga, torço por isso. Inclusive dentre os poucos livros que vieram comigo, está ele. O que não veio comigo e nem era esperado, foi O Processo caindo sobre meu colo.

Mais uma vez me deixei levar por Kafka, sua humanidade-não-humanidade, sua racionalidade, sua força e senso de observação, ou apenas sensibilidade e pesar. A questão é que me perdendo e me achando e às vezes até me enrolando, me deixei levar por Josef K. Um homem que acorda certa manhã, e, sem motivo conhecido é preso e sujeito a longo e incompreensível processo. O melhor e mais desesperador é que o crime não é revelado.

Preciso dizer aos que agora começam essa empreitada, não se enganem com a inocência, ela pode ser real mesmo quando irreal. Não posso dizer muito além, apenas que vez por outra sem crimes, bandidos, inquisidores e execuções um Processo pode até ser bem vindo.

E me deixa a dúvida: A incapacidade de confessar a culpa, a minimiza? E a escrita? E quem foi Kafka? Que mesmo hoje consegue ser ainda tão atual. Sua humana não-humanidade levanta questionamentos sobre costumes e crenças arbitrários da vida, que podem parecer, sob certo aspecto, tão bizarros quanto os acontecimentos da vida de K.

Sempre vale muito a pena encarar Franz Kafka.

 

Muito grata Denilson pelo ótima leitura! Tem ajudado nos meus!hihihihi

En Familie

Quarta feira é um dia para filmes, isso começou já à algum tempo e assim sigo assistindo um filme todas as quartas, o selecionado de hoje foi En Familie. Um dos filmes mais fortes e silenciosos que já vi. Lembrei-me de Sudoeste e mesmo, não tendo nada a ver um com o outro, a lembrança veio da percepção do corpo, da emoção que por vezes dispensa textos banais. Filmes como esses me levam a quase crer que uma imagem fala mais que mil palavras.
Em “En Familie” fui levada ao choro por diversas vezes, conduzida pela força cênica. Não são muitos atores, mas certamente muitas histórias. Claro que já assisti alguns filmes europeus, mas nenhum tão... Como definir? As pausas, os silêncios, os equívocos, a rapidez que contradiz a ponderação. O falar baixo e o sonho de ir para Nova York. Todos querem.
Decisões fortes e importantes tomadas pelo impulso do momento e a certeza de que nada volta ao ponto anterior. O feito não tem volta, é dali pra frente. “A Família” está hoje entre meus filmes preferidos, por falar e mostrar vida e as nuances que existem no viver.
Não é tarefa fácil falar sobre amor, aborto, separação, família, casamento, cura, câncer, morte, fim, sonhos, profissões, abdicações, omissões, arte, dedicação... São tantos temas, vidas, a infância e adolescência, a maturidade e a tradição. Tudo tão calmo. Quis ser mais calma e ponderada.
Ditta é uma artista que recebe uma proposta tentadora para morar em New York, ao mesmo tempo descobre-se grávida e seu querido e tradicional pai, descobre um câncer. Nesse entremeio as decisões são tomadas, sem muito controle.
Como o filme não e mega comercial, e eu, vez por outra pago de broca do cyber espaço, não encontrei informação básica como nome do atores, direção... Se alguém souber, me diz, por favor.
Filme pra ajudar a enxergar a vida por outro prisma.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Sudoeste–Obra de Arte

Cinema lotado, última sessão da noite, burburinho e bate boca. Todos tinham convite, mas nem todos tinham lugar. Um documentarista que graças a minha falta de conhecimento, não sei o nome, mas deve ser bem quisto, pois foi por conta dele que as portas se abriram e eu pude aproveitar para entrar. Cinema lotado, gente sentada em todos os lugares e eu senti uma emoção boa de compartilhar do mesmo desejo.

Alguns minutos procurando possibilidades, pois cadeiras só em sonho e dormir não estava nos planos. Uma escadinha, no segundo piso, foi assim que assisti a estréia de Eduardo Nunes no universo do longa-metragem e foi à estréia dele também, na minha vida.

Dadas as apresentações começa o filme, não sem antes viver os risos e vaias nas propagandas que antecedem ao filme, hora talvez de rodar um novo filme, ou mesmo usar isso para fazer propagandas. Eu nessa hora comia os doces dados pelo Canal Brasil e assistia gente se manifestando. Todos iguais, e uns menos iguais que outros. Até que começa o filme e o silêncio ganha os espaços.

A imagem em preto e branco, os sons são apenas sons na maioria das vezes, e a poucas falas que existem, são em absoluto cotidianas, apenas para marcar a perspectiva de tempo de cada um. Clarice nasce, cresce e morre envelhecida, tudo no mesmo dia, mas os demais vivem o cotidiano. É o corpo quem fala através da excelente atuação. O que não falta em Sudoeste, é é talento e trás no elenco: Dira Paes, Mariana Lima, Simone Spoladore, Júlio Adrião, Everaldo Pontes, dentre outros não menos importante.

"Sudoeste" era um dos filmes mais esperados na Première Brasil do Festival do Rio. A explicação é simples: recebeu elogios de crítica e público em todos os lugares onde foi exibido, em festivais nacionais e internacionais. E ao acender das luzes do cinema, os aplausos ecoavam, parecia não ter fim.

E assim o diretor Eduardo Nunes, que vive o projeto Sudoeste já há dez anos, tem todo direito de se emocionar, ao ver todo publico aplaudido ao seu filme de pé, após 2h10min, onde os diálogos representam apenas 30% da composição.

Dira Paes talvez seja quem tem o papel mais dramático e mais sensível, já que percebe o quanto a criança é diferente. Mariana Lima faz mais uma magnífica interpretação, mas devo admitir que dessa vez quem de fato me surpreendeu, foi Simone Spoladore em sua atuação, onde era ainda meio criança, ao reconhecer-se mulher. É incrível o que acontece com Clarice, nessa sutil e sensível fabula.

Ao sair do cinema a sensação de ter acabado de assistir a uma obra de arte.

As Canções–Eduardo Coutinho e Uma Visita para Elizabeth Teixeira–Susanna Lira.

Meu primeiro contato com o tapete vermelho foi muito rápido, passei quase que correndo, não havia atraso, mas... Entramos no Cine Odeon para assistir “As Canções”, novo documentário de Eduardo Coutinho, no Festival de Cinema do Rio de Janeiro. Minha primeira vez também no Cine Odeon. Eu até já havia ido ao café, mas nunca entrado na sala, e me encantei com a beleza, além de me surpreender com um delicioso, e doce brinde, do Canal Brasil.
O cinema ficava ainda mais lindo por ter muita gente, o que me levou a sentar no andar de cima, mas em posição privilegiada. Começa o espetáculo antes do filme: Boas noites e apresentações, sobe ao palco Susanna Lira, uma nova documentarista/jornalista que inspirada por Coutinho e seu documentário, “Cabra Marcado Para Morrer”, nos apresenta seu curta “Uma Visita para Elizabeth Teixeira”. Mas antes o Festival recebe a visita de Elizabeth e toda sua lucidez e vivacidade e então acontece o reencontro entre amigos.
O curta de Susanna Lira é simples e belo, talvez com vontade de ser longa. E desperta a vontade de assistir “Um Cabra Marcado para Morrer”, outra vez. O que é sensacional por vários motivos.
Sobe Coutinho e agradece sua equipe para formatação de “As Canções” e ao final diz algo, como: Não tive trabalho algum! E é exatamente essa generosidade humana que vemos no documentário, repleto de sons, canções, histórias, vida e emoção, muita emoção.

E a tela grande se acende dando vez e voz, a homens e mulheres que cantam e falam de músicas que marcaram suas vidas. Tudo começou com vários cartazes espalhados por diversos pontos da cidade do Rio de Janeiro, com os dizeres: “Alguma música já marcou sua vida? Cante e conte sua história.” Depois se intensificou esse texto pela internet e também nos jornais. Vários inscritos espontaneamente. Muitas gravações e a seleção das 18 melhores histórias. Eis, “As Canções”.
Coutinho em entrevista ao G1 diz: "Além de escolher as histórias mais fortes, fiz questão de ignorar meu gosto pessoal com relação às músicas. Não tive preconceito”.
Como é mais comum, as canções vem anexadas a episódios tristes do passado. De Roberto Carlos ao repertório composto pelos próprios entrevistados, trazem um traço em comum, segundo o cineasta. "A música te transporta para outro lugar, para outro mundo, para outro tempo. Clássica ou brega, é uma máquina do tempo. E esse tempo é sempre o passado", conclui o diretor, com base nos dois meses de pesquisa e no total de 237 depoentes.
Histórias fortes de amor, de perca, de destinos, salvação, encontros e desencontros e o passado sempre tão presente. Coutinho deixa mais uma vez claro seu interesse por gente e seus comportamentos, seu sentir. E eu, bem, eu saiu do cinema com vontade de perguntar, de fazer e ser. E repito algumas vezes que documentário emociona muito mais que ficção, é vida real, histórias possíveis. Ainda agora lembro dos rostos e das expressões de cada um dos entrevistados,mais até do que as músicas que foram cantadas.
Sai do cinema feliz e transformada!

INAPTOS? A Que Se Destinam

  ‘o que diferencia o vício da virtude é apenas a intensidade

Um convite bom me foi feito no sábado por uma amiga muito querida (Grata querida!); assistir “Inaptos?”, do Teatro de Anônimos. Convite aceito e lá fomos. Ao chegar à Fundição Progresso, jovens vestidos de preto se agrupavam logo na frente, ali também aconteceria um show de rock. Sorri após o susto inicial e entrei. No teatro possibilidades de arquibancadas, almofadas e cadeiras em mesas para assistir, tudo parecia ser cenário e papel bolha. Belo!

O espetáculo começa e vejo: palhaços, bufões e dou algumas boas risadas. Gosto das cenas silenciosas que são mais divertidas, penso que talvez o espetáculo, seja um pouco grande para propostas. Mais indiferente dos déficits, que são parte do processo das estréias, a qualidade do trabalho dos atores é inegável, João Carlos Artigos (Seu Flor), Fábinho Freitas (Prego) e Shirley Britto (Buscapé), parecem se divertir em cena. Devo admitir que em alguns momentos vi dois espetáculos distintos, mas penso que isso também se misture e encaixe no decorrer das apresentações. Já marquei em minha agenda que pretendo assisti-lo novamente, daqui um tempo.

O espetáculo inspirado no livro “Vícios não são crimes”, de Lysander Spooner, que incita a discussão a respeito das compulsões, do caos e das perversões da sociedade moderna, tem direção de Adriana Schneider. E é preciso dizer do que só me dei conta no final; são palhaços que já não precisam colocar o nariz vermelho, pois de alguma forma ele está ali.

Na história, assim como na vida real, os personagens levam às últimas consequências a busca da felicidade, sem nenhum juízo de valor. “Abordamos o tema do vício ligado ao aspecto da busca pela felicidade e à maneira como as pessoas se relacionam com isso, sob a lógica do absurdo”, explica a diretora em entrevista ao globoteatro.com.

O espetáculo tem censura e é preciso respeitá-la, sim são palhaços, mas, falando de uma forma absurda sobre problemas muito reais.

Link entrevista com a diretora Adriana Schneider

http://www.globoteatro.com.br/entrevista/index/186/0/Adriana_Schneider

 

Inaptos?

Local: Fundição Progresso

Tel.: (21) 2220-5070

Sexta, sábado e domingo, às 20h

sábado, 15 de outubro de 2011

Rânia

E chega sexta, 14 de outubro de 2011 (ontem), estréia do longa-metragem, Rânia. Filmado em Fortaleza pela cearense Roberta Marques, trás três fortes e belas mulheres, Rânia (Graziela Felix), Estela (Mariana Lima) e Zizi (Nataly Rocha). É a maturação dessas mulheres que vemos na tela grande.
Poderia de verdade continuar o texto com esse distanciamento necessário, aos ditos bons textos, no entanto, ao falar de Rânia preciso contar uma história, compartilhar o desenvolvimento. Em Fortaleza a mais ou menos dois anos atrás eu recebi uma ligação, um convite para fazer o casting para o filme. Meu primeiro casting para cinema (torço que muitos mais venham. RS!).Teste feito, primeira e segunda fase. Meu primeiro casting e eu tava indo “bem”, mas rodei. No entanto, essa também não é a questão (conto isso por acreditar que é o passado ainda que “justifica” algumas coisas do presente), a questão é que um dia sai do quarto e me deparei com minha amiga assanhada, com uma saia amarela e uma confiança que até aquele dia eu não conhecia. Ela se arrumou e saiu e conseguiu.
Como presente em resposta à dedicação, ganhou Zizi, uma personagem linda, assim como Rânia e Estela. E essas três mulheres que sem nada se parecerem, são tão semelhantes, perpassam pela vida uma da outra direta ou indiretamente e de alguma forma servem de mola de impulso para a manutenção dos sonhos e as escolhas que precisam ser feitas no decorrer do caminho.
Logo de cara vejo Fortaleza como só fortalezense ver, a lente que captura aquelas imagens estabeleceu relação com a cidade e a expos em sua mais nobre e delicada beleza; a curitibana Helô Passos (diretora de fotografia), a quem chamei de fortalezense tamanha a emoção que senti de ver minha cidade linda ali, naquela tela de cinema no MAM.
A diretora Roberta Marques, em seu primeiro longa metragem, conseguiu trazer a tona o real, já que Rânia não se enquadra no típico gênero da menina pobre que sonha além do seu alcance, pois ela é real e percebe as coisas com a naturalidade de quem nasceu assim. E sendo amiga da sofrida e sonhadora Zizi, ouve falar sobre o exterior e começa a dançar no cabaré. Danças que por sinal são belíssimas. Com Estela, o sonho de uma vida diferente. A cena em que Rânia ensina Estela novos passos e com ela também aprende é de uma beleza repleta de paz.
Além das danças, trilha sonora e fotografia, também são perolas. O filme emociona por vários fatores; a força dessas três mulheres, a liberdade de criar junto que é dada ao ator, já que em algumas cenas fica claro o improviso (o que eu particularmente gosto muito). Penso que a única grande falha tenha sido a utilização de um som direto de má qualidade que deixa o filme a beira do ininteligível, com isso alguns diálogos são perdidos, o que não chega a prejudicar a compreensão do filme.
Ao sair: o abraço, os parabéns e a alegria de mulheres cearenses tão guerreiras, ali brilhando e mostrando-se, o orgulho de também ser cearense e o desejo de ver sempre bons trabalhos assim.
Caminhando voltei-me para Grazi e Nataly, ambas cansadas da pose de princesa, loucas para colocar as rasteiras, sorriam com a alma e penso que aliviadas disseram a se. Trabalho concluído, hora de sonhar novos sonhos que também podem ser o mesmo.
Não ousei falar qualquer coisa que não tenha sido sentida.
Roberta Bonfim

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Policarpo Quaresma–Trilogia Carioca–Antunes Filho

Tem alguns artistas que são os caras, eis o caso do octogenário Antunes Filho, que chega ao Rio com sua trilogia carioca. Eu logo que sei dessa informação me encho de alegria no coração. A chance de assistir mais um dos caras. O espetáculo: Policarpo Quaresma, um dos traumas do pré- vestibular. O que teria feito Antunes, com a obra de Lima Barreto?

Logo na entrada descubro que seriam três horas, mas preciso alertar, são apenas duas maravilhosas horas de um espetáculo repleto de pesquisa e cuidado. Percebe-se desde a primeira cena algumas coisas, inclusive o fato do diretor ter vários atores baixos e várias atrizes altas, são 36 atores em cena, algo por sinal que eu nunca havia visto tão de perto.

O ator que interpreta Policarpo é algo indescritível em seu talento. O espetáculo que narra uma tragédia patriota transforma-se em uma tragicomédia sob a direção de Antunes e nos leva a risadas gostosas e reflexões profundas sobre o ser brasileiro.

Perceber a multiface de um diretor que eu pensava ser absoluta e absurdamente realista foi delicioso e estranho, já que para alguns não passava de mais um espetáculo de Antunes e para esses, muito certamente ele se repete. Eu felizmente pouco vi e tanto mais quero ver, talvez para ainda chegar o dia em que eu possa dizer que ele se repete, ou melhor, até o dia que eu perceba que a repetição faz parte da técnica e pratica e fortalece identidade.

Antunes e o CPT ficam o mês de outubro no Teatro Nelson Rodrigues, na caixa. Rio de Janeiro

Ingresso: 24 reais para clientes caixa 50% de desconto.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

É o que há…

Depois de assistir a três documentários seguidos; Di Cavalcanti de Glauber Rocha, Santiado de João Moreira Salles, Jogo de Cena de Eduardo Coutinho e ter e emocionado muito nos três, tudo que eu precisaria dizer era: A vida me emociona! Mas teimo em dizer mais, que ela inspira e entristece, mesmo quando cheia de alegria, á vida e isso, vida. E por serem várias e todas serem unas, o documentário alcança uma emoção que a ficção sozinha não consegue.

Em Jogo de Cena, Fernanda Torres diz: “É muito difícil! Que enrascada! Interpretar um personagem da ficção se chegamos ao medíocre por vezes tá bom, mas interpretar alguém real...” Deve ser algo como esta na frente do espelho, tendo a nossa frente o onde poderíamos ter chegado e não chegamos. Algo assim, que torna o trabalho de interpretar mais difícil.

Mas documentário precisa de bons personagens, não de grandes artistas. Por mais que em jogo de cena, Eduardo Coutinho tenha se usado de grandes interpretes, como; Andréia Beltrão Marília Pêra, Fernanda Torres, são as mulheres o personagem, são mulheres e suas historias, de amor, morte, abandono e volta por cima. Junto com as vozes das mulheres na sala de teatro, ouve-se Coutinho, instigando, perguntando, direcionando.

Entre planos abertos e focos, segue o Jogo, segue a cena desse cinema de vida real de entrega e desprendimento total, ao vivo, a cores, com tanta gente e tão sós. Contrariando Jogo de Cena, tem Santiago, de João Moreira Salles, sempre com cena abertas, com uma forte barreira entre entrevistado e documentarista, a barreira da distancia, da idade, da maturidade. Um era o filho do patrão, o outro o mordomo.

Admito minha dificuldade de conceber que Santiago, o homem que escreveu tantas páginas sobre a história, que praticava todos os dias exercícios nas mãos, que mais me pareceu uma dança ensaiada exaustivamente, e as castanholas... Tenha sido um mordomo e com tanta sabedoria, mantinha-se fiel e obediente ao seu patrãozinho.

O mais interessante talvez seja o fato de que o documentarista vai explicando, ou tentando justificar cenas e ações, outras ele apenas lamenta e assumi sua imaturidade no ato da filmagem. Mostrando a casa onde moraram e deixando expostas as marcas. Salles também trabalha com cinema verdade, como o bruto ficou guardado por anos, para tornar-se “Santiago”, precisou ser sonorizado, havendo quebra apenas para falas de Santiago e para os momentos em que nada precisa ser dito. Ao final o texto que o personagem quis diz e o documentarista não permitiu; talvez a melhor fala. Talvez... Pois assim como Di Cavalcanti, Santiago também não esta mais entre nós. Dois artistas e suas vidas, suas mortes.

Foi a morte de Di Cavalcante, que chamou a atenção e a lente de Glauber, no velório, em suas telas, sua família e amigos, pistas, caminhos destinos e um sorriso muito próprio de Di Cavalcante. Não é um longa, não segue muitos padrões, não é autorizado, mas emociona, chama atenção, mostra, indica e homenageia. O som parece de radio da época, as músicas falam por si, a leitura é do jornal falando sobre a filmagem e assim se fez Di Glauber.

Cheia de tantas vidas respiro e me inspiro e admito que me parece muito mais humano dar voz a quem vive, do que criar novas vozes para pessoas que criamos. Questões talvez Ra um próximo texto.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Era um dia comum, até o telefone tocar e do outro lado um amigo me oferecendo ingressos para assistir algo no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, isso é, minha primeira chance de ser espectadora do Theatro que na infância eu sonhava em dançar. Com isso o nome do espetáculo ficou para segundo plano, afinal eu estava indo ao Municipal e mesmo se fosse para ver dois macaquinhos batendo panela, eu ainda sim iria feliz. Mas para minha surpresa, o espetáculo era Botanica, do MOMIX, empresa de bailarinos-ilusionistas, sob a direção de Moses Pendleton.


E a palavra espetáculo, cabe muito bem, pois há um verdadeiro espetáculo, de luz, cores, efeitos, projeções, sombras, figurino e cenários especiais. Tudo nos levando a perceber o equilíbrio da natureza, por nós tão agredida. Com uma trilha que mistura sons tribais, mantras, clássicos, com traços de new age e até tecno musics, tudo dividido em dois atos e muitos efeitos. A vida e a luta por ela, as metamorfoses, o nascimento e a batalha diária para permanecer, são lindamente interpretadas, vistas, dançadas e sonhadas por e com MOMIX.


Eis Botanica, espetáculo que surgiu dos jardins de seu diretor, que ao observar a coreografia da natureza, não pensou duas vezes e usou-se de sua observação e sensibilidade, para criar um espetáculo belíssimo. Uma mega produção!

Na Selva das Cidades


Uma amiga liga convidando para assistir um Brecht no CCBB, eu que estava no meio de uma edição pedi que ela esperasse por minha resposta. O tempo passa rápido quando estamos sem ele. Penso que faça isso por pirraça. Peguei um taxi na Lapa e disse: - Corre pro CCBB, que eu já estou atrasada, ele bem correu e eu fiquei tensa, mas valia a pena, estava indo assistir mais um bom espetáculo (no Rio existem ótimos espetáculos, mas nem todos, meu orçamento me permite pagar). Mas lá estava eu no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) depois do taxista ter parado para comprar um churros e eu ter ficado com o coração na mão por ele ter me obedecido e ter corrido.
Encontro minha amiga, trocamos algumas palavras e entramos para assistir ao espetáculo, eu que nunca tinha entrado naquele teatro, comecei assistindo a ele, olhei suas paredes, o palco extava exposto, deixando a mostra um painel enorme colorido e muito sujo, cadeiras laterais e uma porção de objetos cênicos atrás delas. (Tal imagem me lembrou da casa de Seu Lunga).
O espetáculo começa, e nós somos transportados para Chicago (1912-1915). Tendo como ponto de partida o encontro entre Shlink (Daniel Dantas), um negociante de madeiras com seus cinquenta e poucos anos, e o jovem Garga (Marcelo Olinto), na livraria onde o segundo trabalha. Shlink oferece dinheiro a Garga para que dê sua opinião. Este se recusa, deixando claro que suas opiniões não estão à venda. Mas Shlink já sabia perfeitamente disso e usou tal estratagema apenas para dar início ao "combate" existencialista.


Daí pra frente uma avalanche de fatos se acumulam, Garga é atingido em seus sentimentos para com Jane (Fernanda Boechat), sua amante, e Marie (Maria Luiza Mendonça), sua irmã.
Com ótima direção e elenco gabaritado, “Na selva das cidades", terceira peça escrita por Bertolt Brecht (1898-1956) não deixa a desejar, principalmente em se tratando de música, pois quando o ator (e cantor) Milton Filho abre a boca, puxando para si o foco, o arrepido é inevitável.
Eu me envergonho e me orgulho no que diz respeito à Aderbal Freire-Filho cearense que a assina a direção da montagem. Envergonho-me, por saber tão pouco sobre ele e me orgulho por isso não fazer diferença alguma e ele executar um trabalho tão belo e limpo.

A feira

Ontem assisti o melhor dos espetáculos, desde que cheguei ao Rio. Os atores eram todos tão conhecidos e absolutamente estranhos, mas sorriam de uma forma que provocava em mim identificação.
Hoje assisti até mesmo o passado e suas poucas, porém marcantes festas de interior com brinquedos, bolas, algodão doce de cuspe (não encontrei melhor nome para identificá-lo). Eram tantos os artistas anônimos que tudo fazem, são: cantores, palhaços, poetas, atores dessa vida longe de casa. Nunca vi nada tão egoísta como a arte, ela te deseja inteira e com ela, o resto pode parecer um pouco distante.



Hoje assisti a mim, reconhecendo emoções, rostos e sorrisos. Reconhecendo e estranhando por identificação e ao fim entendi que com boa vontade  e observação a vida é toda um grande filme, uma enorme poesia, o maior dos espetáculos.
E escuto alguém e eu mesma a dizer: Eita povo sofrido pra viver feliz! É isso mesmo!
Todo esse espetáculo foi visto na Feira de São Cristovão, conhecida também Feira de Tradições Nordestinas ou ainda Feira dos Paraíbas. Como for, o fato é que me senti em casa! 

domingo, 2 de outubro de 2011

Arte Poesia

Começo esse texto pedindo perdão a mim, ao blog e aos poucos que o acompanham, foquei em outras palavras, mas tentarei agora voltar a essa tarefa que tão bem me faz, e volto inspirada, feliz e reflexiva, algumas boas coisas assistir nesse meio tempo, mas registrarei apenas o que mais Me chamaram atenção, farei um texto só falando sobre alguns temas e peço que entendam que depois de algum tempo,, fica difícil falar com propriedade, o tempo por vezes nos rouba os detalhes.

E seria cruel escrever um texto sobre o Smorfs já sem lembrar todas as sensações, as emoções e frustações, pois sentir tudo isso ao me deparar com o desenho animado sobre figurinhas que foram minhas companheiras na infância e vê-las assim tão diferentes e iguais. Não são as mesmas, ou apenas cresci e com isso fiquei mais chata e exigente? A questão é que o filme tá super modernizado, citando Google, mostrando a correria e caindo no clichê dos não urbanoides tendo de encarar essa loucura toda e como não podia deixar de ser, há o publicitário e a compreensiva e utópica mulher. Mas com tudo isso me tirou boas gargalhadas e cumpriu sua missão de me entreter, a questão que é eu  ainda achava que tinha que fazer a além. Não tem!
Não é preciso dá o máximo de si, em Bróder, é possível perceber que apenas o melhor que puder pro momento, já é sensacional. Mas é também tarefa difícil e delicada. O longa perpassa pela vida de Macu (Caio Blat), Jaiminho (Jonathan Haagensen) e Pibe (Silvio Guindane) três amigos de infância que nasceram e cresceram na comunidade do Capão Redondo, na periferia de São Paulo. Mas seguem caminhos diferentes, e no reencontro, ocorrem alguns desencontros. Sob a direção de Jeferson De e contando com a participação de Cassia Kiss e Ailton Graça. O filme é bom, tenso e espontâneo.

Espontaneidade que é ingrediente básico do grupo Clowns de Shakespeare, do Rio Grande do Norte. Que voltou ao Rio e subiu o Morro do Adeus, para apresentar “Ricardo III”;  espetáculo que é resultado de um feliz encontro entre o encenador mineiro Gabriel Villela e o Grupo Clowns de Shakespeare. Baseado no texto “Ricardo III”, de William Shakespeare, o espetáculo aponta a briga pelo poder entre Ricardo, Duque de Gloucester, e seu irmão, Eduardo IV.  A montagem ganhou a rua por meio de um universo lúdico do picadeiro do circo, dos palhaços mambembes, das carroças ciganas – tornando possível um diálogo entre o sertão e a Inglaterra Elisabetana que somados a musicalidade do espetáculo que vai desde as “incelenças” (gênero típico nordestino) agregadas ao clássico rock inglês – um tempero especial, com citações de bandas como Queen e Supertramp. Uma grande diversão que por si só já é uma diversão. No entanto, assisti-lo tendo como pano de fundo a cidade do Rio de Janeiro se iluminando, é uma poesia.

E fazer arte é poesia, assisti-la também e vive-la...

Corpos Velhos: Para que servem?

Por Roberta Bonfim Tudo que se vive é parte do que somos e do que temos a comunicar, nossos corpos guardam todas as memórias vividas, muit...