Onde nos reconstruímos, na
coragem ou no medo? Essa talvez seja a pergunta que se repete insistentemente
desde que deixei a sala dois (02), do Cine Leblon, onde aconteceu nesta segunda
feira 05 de maio, a pré-estreia do novo longa metragem de Karin Aiinouz, Praia
do Futuro. Talvez por que seja esse questionamento que norteia a vida dos três
personagens, e a de todos nós.
O filme que é uma co-produção
Brasil – Alemanha, traz no elenco Wagner Moura, Jesuíta Barbosa e o alemão
Clemens Schick. Na fotografia o contraste entre as cores da bela Fortaleza,
de mar aberto e revolto, de tantas histórias e identificações, e a fria Berlim,
com suas possibilidades de liberdade.
Logo na primeira cena, do
primeiro ato, o afogamento. Cheguei mesmo a sentir o salgado do mar na boca, e
a angustia do salva-vidas Donato (Moura), que pela primeira vez perde uma vida
para o mar, ao tentar socorrer dois turistas alemães. Konrad (Schick) sobrevive
e, assim o filme se desenha, já que eles se envolvem. Donato troca Fortaleza pela cinza Berlim,
deixando para trás o mar cearense, sua família, em especial seu irmão mais novo
Ayton (Barbosa), que o tinha como um super-herói.
No segundo ato, Donato precisa
definir suas escolhas e opta por ficar em Berlim, para tanto esquece seu
passado, a fim de viver uma vida sem a responsabilidade das expectativas dos
outros. Mas, como tudo, isso também tem um preço e depois de anos Ayrton chega à
Alemanha para deixar claro o peso das escolhas de Donato. Praia do Futuro de
forma sensível e poética fala sobre liberdade e as mudanças sofridas para que
a mesma seja minimamente alcançada.
Os personagens são essencialmente
humanizados o que facilita a relação, e no caso dos cearenses, como eu, a
identificação. E a divertida referência aos super-heróis ao tratar os
personagens por Aquaman (Donato), Speed Racer (Ayrton) e Motoqueiro Fantasma
(Konrad) ajuda no processo de entendimento da idealização que atribuímos às
pessoas ao nosso redor.
Os que como eu acompanham os
trabalhos de Aiinouz, percebem que alguns elementos, como a fuga, o abandono e
a estrada, felizmente se repetem. Mas, Praia do Futuro é diferente, pois além
da relação com água e o horizonte, que são lúdicas e repletas de significados,
o filme parece mais próximo do próprio diretor, que como o protagonista deixou
o Ceará e hoje mora em Berlim. Ao final outras reflexões, em especial a
percepção de que nessa estrada em busca da liberdade não é preciso estar
sozinho, muito pelo contrário.
Praia do Futuro estreia 15 de maio, em todo Brasil.
Grata Jesuíta Barbosa, pelo convite, talento, olhar e abraços!
Vida
longa!
P.S. Lugar artevistas bateu um papo com o ator, sobre o Praia do Futuro e outros projetos e histórias. Vale conferir esse encontro no Palácio do Catete.