Era
sábado e estava quente, não havia pique para balada e a pedida foi o cinema.
Qual filme? Nossa primeira indicativa já estava esgotada, assim ficamos com o
filme Boa Sorte, de Carolina Jabor,
mas conhecido como o filme da Deborah Seco, ou de Judite e João. Um filme sobre
sorte, e sobre amor. Antes um cappuccino e uma leve visita a Livraria Travessa,
para novos desejos literários.
Até que
era hora do filme. Logo de começo a identificação com o tempo do filme, depois
o estranhamento ao ver a sempre bela Debora Seco, de quem sou fã desde
Confissões de Adolescente, não bela. É apenas a sombra dessa beleza, de sua
própria personagem Judite, usuária de drogas e soro positivo com poucos dias de
vida. A medicação já não faz mais efeito, foram muitos os abusos passados. O terceiro ponto é a força de atração do olhar
do jovem João (João Pedro Zappa), um jovem viciado em psicotrópicos internado
pelos pais após esses presenciarem comportamentos que lhes pareceu estranhos,
mesmo sendo apenas a repetição de seus próprios comportamentos. Particularmente
lembrei de histórias, de amigos, e famílias... O quarto ponto é.. Fernanda
Montenegro, que em suas pequenas cenas deixa muito clara sua força cênica e o porquê
de só em aparecer faz seu público sentir no peito o coração acelerando. É que
ela transborda humanidade. Depois temos um roteiro verborrágico e poético, em
um cenário que é de uma paz medronha, tantas as energias adormecidas ali.
Pergunto-me
como depois de tanto tempo, tão pouco avançamos nos tratamentos dessa máquina?
Boa Sorte, a mim pareceu um filme de intimidades, de mistos que que deixam
clara o quão tênue é essa linha entre o real e o não real. Onde as experiências
de vida se acumulam e as ideias emergem das mazelas humanas, das adicções, dos
medos e das escolhas. E já dizia Raul Seixas, “Não pense que a cabeça aquenta
se você parar”, ou a próprio Judite ao assumir as limitações do seu corpo.