sexta-feira, 10 de novembro de 2023

"Eu de Você" com Denise Fraga



Era 09 de novembro, quinta -feira e faltavam 10 minutos para as 17 horas quando cruzei os portões da Caixa Cultural Fortaleza, a fim de assistir teatro.  Assim, ao cruzar o portão, logo senti uma liberdade de estar ali só indo ao encontro de uma fila já grande para pegar o ingresso. De chegada por conta do meu hábito de ouvir conversas alheias, descobri que os ingressos só serão distribuídos às 19 horas. Depois de uma correria para estar ali naquele momento. O espetáculo "Eu de Você", com a inspiradora Denise Fraga, que cruzou a fila e derramou sua gentileza e alegria com os que esperavam para assisti-las. Se eu que estava já cansada na fila, estava profundamente emocionada ao olhar tanta gente esperando para assistir teatro, imagino a emoção desta atriz. Por falar na fila que inicialmente não parecia agradável, acabou por virar um ponto alto deste dia. Pois ali conheci figuras ímpares e ótimas companhias para ir ao teatro, algo parecido com o reencontro que logo viveríamos também no ato do espetáculo.





As 20 horas tocou o primeiro sinal. Denise recebe seu público, conversa, abraça, combina, alerta, sorrir e rememora uma professora de geografia e o seu triz, que Clarice Lispector chamava de momento epifânico, para mim um estado de presença. E o teatro é efetivamente um estado de presença e Denise Fraga, com a direção delicada de Luiz Villaça. A direção musical de Fernanda Maia é irrepreensível e lindamente executada pela musicistas Ana Rodrigues, Clara Bastos e Priscila Brigante, que atentas somam-se a luz, que no cenário projeta sombras, camadas, memórias, imagens, outro ponto são as projeção desses perssonagem que são e somos. Sons e luzes ambientam o palco para incrível atuação de Denise que compartilha inicialmente memórias suas, para depois nos compartilhar histórias de tantes, e tal hora tá mesmo tudo misturado, costurados, inclusive as nossas vidas, em outros corpos, que podem também ser os nossos, mas ali é o seu. Nos joga na lata as rotinas desumanas, as relações atóxicas, uma carência gigante, o patriarcado e a não priorização do amor em muitas camadas.


Mas também nos ensina a andar, nos convida a refletir e a perceber que somos amor, e que é no amor a nossa base mais sólida para organização da disciplina que gera a ordem e a construção do progresso enquanto humanos. Há aqui um mergulho de 90 minutos na alma humana com guia qualificada e um ambiente preparado para este mergulhar.


Foi assim que saí do teatro, limpando o rosto lavado em lágrimas de choro e/ou risos, ou os dois, reafirmando a unidade que somos juntes, e me questionando sobre qual o meu papel nesta engrenagem. Sai também reafirmando meu amor ao teatro, como faz a atriz algumas vezes na cena, que é também mosaico de histórias humanas "demasiadas humanas". 


Gratidão Denise Fraga por junto com essa equipe potente realizar o sonho de vocês e compartilhar conosco aqui em Fortaleza. Grata Caixa Cultura por investir em arte e cultura. E grata a cada ser que estava ontem lá para assistir teatro, acompanhar a fila foi parte importante do espetáculo. 


Ao final abraços nos companheiros de teatro, a reafirmação do bem que faz abrir brecha para pegar uma fila de horas, conhecer gente nova e assistir teatro. Ainda antes de voltar para realidade passei pelo Poço da Draga, no Coletivo Fundo da Caixa para viver mais amor, cheguei em quase meia noite. Minutos antes do virar do dia. Agradeci, e desejei bater um papo com ela para esta revista. Será que ela topa?


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