Sou filha
dos anos 80, assisti Chacrinha (inclusive preciso assistir ao musical sobre
esse grande mestre) e ouvi Tim Maia, vi o gênio quando vivo e observava atenta
as discussões sobre suas ausências, ele era notícia na boca de muitos de minha
infância. Eu gostava de suas músicas e o achava um cara feio. Com o passar dos
anos fui conhecendo outras músicas e assim, ele foi se construindo como um
gênio em meu imaginário. E sua voz me acompanhou por toda vida, suas letras
simples e diversas, tão próximas e desejadas por todos nós. E ele um homem que
sentia demais.
Diante de
tudo isso, quando soube do filme sobre a vida de Tim, me vi encantada antes
mesmo de assisti-lo e lógico me apressei para vê-lo. Lugar escolhido Cine
Santa, em Santa Teresa. Logo que entramos na sala de cinema o primeiro impacto,
o cinema estava vazio, éramos no total uns doze assistindo ao filme. Uma pena,
penso eu. Em um país em que o cinema tenta se fazer mais forte e presente, a
falta de público mesmo em filme de teor biográfico me assusta.
Mas, o
filme começou e de imediato todas as questões são esquecidas e é com a tela e a
história apresentada que começa a nova relação. Eu que havia assistido ao
musical também sobre o artista me vejo encantada na descoberta de novas perspectivas
sobre o mesmo ser, Tim Maia.
Tim viveu
em um Brasil, que não era bem esse que conhecemos, a tecnologia dava ainda seus
primeiros passos e as gravadoras eram as grandes detentoras do poder. Roberto
Carlos era ainda apenas um jovem ambicioso e Tião, entregava marmitas, corria
pros Estados Unidos e como não sabia falar inglês fluentemente, as cenas em que
o personagem dialoga com os americanos inicialmente são uma forma de se
garantir boas risadas. Tim buscava a todo custo viver da sua música. Tinha
plena consciência de seu talento e de seu caos interno.
No filme o
cantor é interpretado por Robson Nunes em sua fase antes da carreira, onde a inocência
ainda pulsava nos olhos e ações, apesar do espírito destemido e aventureiro.se
mostra com uma personalidade completamente inocente, porém com um espírito
aventureiro e uma vontade enorme de se tornar o cantor que sabia que era. Mas,
é quando entra o Tim Maia interpretado por Babu Santana, que o filme começa a
adquirir um caráter mais tenso. Um dos pontos é seu relacionamento com Janaína,
interpretada lindamente por Alinne Moraes. O casal é certamente a coluna
vertebral do filme, e as atuações de ambos merecem destaque. Com direção de
Mauro Lima, também responsável pela direção de Meu Nome Não é Johnny e Reis e
Ratos entrega mais uma vez um ótimo trabalho para o cinema nacional.
Outro
ponto auto do filme é a fotografia, que retrata (dentro das possibilidades) a
atmosfera e tons de um Brasil que já não existe mais, mesmo sendo o mesmo. Uma
coisa porém me incomoda um pouco; a mediunidade no conflito entre Tim e Roberto
Carlos, interpretado por George Sauma, que aos meus olhos pareceu um pouco estereotipado
demais, sendo quase engraçado, quando o tema pedi maior sobriedade, o que acaba
por deixar as cenas rasas, se comparada a intensidade da história real.
Ao final,
inúmeras reflexões, e a percepção explicita dos nossos limites humanos, indiferente
da genialidade, dos meios, ou da fama/grana. Saímos do cinema e fomos comer uma
tapioca logo ao lado e falar sobre o amigo Tim Maia, por horas e horas e horas.
Grata
Mayra Abreu pelo grato convite.