domingo, 23 de junho de 2024

Celebrando Festivais Teatrais

Por Roberta Bonfim Querido Festival de Teatro de Fortaleza conheci tantas maravilhas ao viver-te. Lembro que foi em uma de suas edições que assisti uma dos espetáculos mais emblemáticos da minha vida, Macunaíma, interpretado por Tomaz de Aquino onde vi em cena pela primeira vez Katiana Monteiro e Lua Ramos, duas atrizes que eu admiro infinitamente, sob a direção da inspiradora Herê Aquino, no Teatro São José. Naturalmente outras maravilhas foram vividas neste festival, mas ele foi também se depurando para mim, e não cabe neste texto o questionamento, ou mesmo outras lembranças seja com o festival de teatro da cidade, ou com o lugar Teatro São José, que eu frequento desde a escola, quando a avó de uma amiga fazia dança lá e nós íamos vê-la dançar, ou nos shows de humor com Paulo Diógenes, Luana do Crato, ao acompanhar meu amado Roberto Falcão. Mas… Nostalgias à parte, quero mesmo é falar desse encontro nos últimos dias, onde aconteceu a XV edição do Festival de Teatro de Fortaleza, que nesta edição trouxe no seu corpo organizacional figuras relevantes para produção e fruição cultural do estado já a muitos anos. Falo de Sidney Malveira, do Teatro Novo, William Mendonça, da WM Cultural, Elizabeth Fernandes, da Betha Produções e a Deusa Dane de Jade, da ONG Beatos. Quem é do teatro ou simpatiza com a classe nos últimos anos, sabe da relevância desses nomes para o desenvolvimento cultural e projeção do estado por onde passam. Eu poderia escrever um livro só com as contribuições de cada um não só no campo da produção e gestão, difusão, circulação, curadoria … mas também e especialmente são artistas da cena e trabalham com essa artesania. O fato é que individual ou coletivamente são potências, nossas joias da casa. E aí você que me lê, pensa comigo; um festival gerido por eles naturalmente estava repleto de outras pessoas competentíssimas que convidaram aquilo que conhecemos como classe teatral. Tinha muita gente querida junto! Benza Deusa! Foram mais de 50 espetáculos, nos mais diversos modos e espaços de arte da cidade, além de escolas e centros culturais, em 12 dias de festival. Eu particularmente só consegui acompanhar de perto a estreia e o encerramento. Mas fiquei atenta às redes sociais do festival gerida pela minha criativa cumadi Mayane Andrade e sua linda equipe. Inclusive convido você que está lendo este texto a depois que terminar a leitura e de um copo de água ir visitar e seguir o instagram do festival. @festivalteatrofortaleza ai já aproveita e segue também a @lugarartevistas Falarei primeiro sobre a estreia, onde eu vivi só ser espectadora, cheguei já para a solenidade e o espetáculo convidado "Mãe de Santo", um solo importante encenado pela atriz Vilma Melo. E que alegria o reencontro com pessoas importantes para nossas vidas, tal hora pensei mesmo em mudar o mood e começar a gravar papos com geral, para registrar memórias, mas ando em transição de tudo e então optei por não tirar o celular da bolsa, não fiz qualquer registro digital, apenas afetivo. Ali no primeiro dia reencontrando rostos de outros festivais, celebrei e agradeci estar de novo neste lugar, onde sou atriz e pensei inclusive que na próxima edição quero ter um espetáculo dentro do festival. Nossa… cada encontro, abraço, trocas, infinitas memórias. Foi como abrir a máquina do tempo e passear por entre camadas. O teatro é mesmo um pouco isso. Mas, voltemos à abertura oficial da XV edição do festival de teatro de Fortaleza. A solenidade foi leve, mas longa, como são as solenidades. Na sequência a performance de Maken foi bonita, em algum momento lembrei até de Gal, talvez pelo vestido branço e os cabelos esvoaçantes em uma luz amarela com vozes incríveis. Na sequência iniciou o espetáculo, que é um monólogo, e não sei se pelo avançar da hora, pela minha relação espacial com o palco, a dor na lombar, pelo excesso de texto, em alguns momentos me perdi completamente e precisei de algum esforço para voltar, e fiz o esforço pelo interesse pelo tema, e demais questões ali apresentadas, mas a mim pareceram muitas informações e eu não consegui fazer as concatenações necessárias naquele momento. O assistirei de novo em havendo oportunidade. E eu simplesmente amei os turbantes no cenário e criei uma expectativa de que eles fizessem parte da cena, para além de serem o cenário do programa de auditório. Ao final algum receio na saída até o carro por falta de iluminação pública qualitativa no entorno do teatro São José e de quase todas as ruas da cidade. O festival seguiu por toda semana com uma programação bonita que só, com muitos atores e atrizes que eu quis muito assistir, mas na rotina da vida não consegui, na sexta do encerramento fui, e agora em dois papéis. É que no encerramento fui até apresentadora e tive a grata honra de apresentar "Quem Matou Zefinha" espetáculo da Trupe, que foi fundamental na minha vida. Era a primeira vez que eu ouvia falar de temas tão sérios e atemporais, como moradia, injustiça social, machismo, dentre outros de modo tão… tão… não havia encontrado antes e nem terei a pretensão desta adjetivação agora. O fato é que ali assistindo Ana Marlene tive flashes de outros momentos. O Teatro é efêmero, mas é eterno na alma de quem por ele foi atravessado. E que alegria sinto na alma ter tido a grata honra de ter assistido este espetáculo com atores e em momentos diversos e tão iguais do existir. Eu poderia aqui também escrever um livro só sobre a relevância da Trupe para o que conheço por teatro de rua aqui em Fortaleza, em atuação. São mais de 30 anos de arte na rua. E não sei se você já se expôs de algum modo na rua, além de andando pela cidade. Aqui inclusive preciso abrir um parêntese MUITO importante. (Como os equipamentos se relacionam com o ambiente em que estão? Como a cidade colabora para fruição deste? Como o poder público pensa a acessibilidade desses lugares? Pois moro perto e poderia tranquilamente ir a pé, da minha casa ao São José e seria um passeio incrível, mas as ruas logo que o sol baixa ficam muito escuras e isso gera insegurança, e nem vou entrar no mérito de ser mulher e essas coisas. Minha questão é: como falar sobre acessibilidade no amplo sentido da palavra? Se mesmo morando perto não me sinto segura para ir andando, e quem já me ler, ou me conhece sabe que se há uma coisa que amo muito é bater perna na rua, então como posso pensar que a garota de 16 vai ter permissão de seus pais de ir sozinha andando para o teatro pertinho de casa. A cidade funciona de noite e precisa ser mais bem iluminada para permitir travessias seguras.Falo do São José, mas cabe para muitos equipamentos públicos da cidade). Não vou me ater mais a esta questão. Jogar-se ao outro, na rua com arte é grandioso e talvez venha daí a minha questão sobre porque não foi em praça pública, se há ali uma com moradores de rua que têm o mesmo direito ao teatro. Sei que aqui abre para outras complexidades sobre o crack, o período, os equipamentos alugados, a falta de um carro de polícia ali parado como param em muitos lugares pela Praia e ficam por tempos. Outras questões se abrem. Voltarei para o Festival em três, dois um. Ao final da apresentação da Trupe, inicia o Baile Bufa, eu mesma convidei as pessoas para seguirem para fila, os com interesse e maiores de 18 anos, que ali foram surpreendidos pela aparição de alguns personagens. Eu vi a maravilhosa Mica Macaca pela primeira vez. Desde o curso na Varanda Criava, ou mesmo antes na Oficina do Riso, quando sua bufa foi citada que eu desejava este momento, em que ela confirma que é babado. Fiquei na fila e Ivan Lourinho lindo fez as devidas apresentações. E eu entrei para o Baile. De cara me perguntei porque ele não era a última atração do festival, já que acabar um baile deste é quase uma heresia. Desculpe a ironia. O fato é que vamos entrando e a festa já começou, nos pedem que ocupamos os espaços, depois que circulamos por ele, entre cachaça e canjica, falas nos motivam ao movimento, até o convite ao miar, latir e infantilizar, seguido pelo sentar, todos ali buscando espaço entre outros para ver um homem normal. Depois a boa de rima e de tempo para o riso, que por vezes me vez lembrar da diva querida Karla British, e então divando a Mumutante e as demais, tal hora tanto é dito, o público participa ativamente e há um diálogo livre entre todes..Precisei sair antes do fim, que se prolongou, e atrasou a programação. Também pudera - trata-se de um Baile Bufa. Ali no centro do espaço eu e Ivan falamos sobre o Festival, o teatro, a programação, honramos os que nos deixaram e saudamos aos vivos e ali presentes Ana Marlene, Silvia Moura e Ricardo Guilherme. Eu não apresentei o catálogo virtual, já havia mais de uma hora de atraso ao previsto e teria ainda mais falas dentro do teatro, então apenas convidei a todos a seguirem as redes sociais do festival onde será disponibilizado o link do catálogo virtual. Acho importante citar neste texto que me senti feliz com o encontro com a turma do Mirante ali, assistindo teatro junto. E aqui vale dizer que eu e Ivan ali juntinhos foi um modo do festival saudar aos 40 anos do Grupo MIrante de Teatro da Unifor e olhar ali a diretora Hertenha Glauce emocionada, foi pensar… Se houvesse tempo poderíamos chamar ela e os integrantes e ex integrantes ali presentes para uma foto oficial, mas o tempo estava curto não cabia tamanha quebra de protocolo. Após a apresentação fui abraçar Mica e Alisson pelo Baile, depois entrei no teatro já acontecendo o cerimonial, fomos chamados ao palco, fizemos fotos oficiais, daquelas que se guarda para sempre, tamanha a alegria e potência dos encontros. Olhando a plateia de cima me emocionei ao ver especialmente Gyl Giffony e Tomás de Aquino, porque eles são incríveis e eu os amo profundamente. Bonito e emocionante foi também estar ali naquele palco, naquele momento com tantas pessoas que fazem muita parte da minha história e que essas mesmas, e parece que de algum modo também faço eu faço parte desse todo que somos e estamos juntos em serviço da arte. E por falar em arte mais uma homenagem, agora no palco aos incríveis Ana Marlene, Silvia Moura e Ricardo Guilherme e foi linda a homenagem com Márcio e Orlângelo da Dona Zefinha, de Itapipoca, onde o pai de Gerson do Balé Baião foi o fazedor da cadeirinha de Silvia. Eu amo essas histórias todas, mas assumo que ali talvez pela fome que começava a se anunciar, ou pelo incômodo na coluna pelo tempo, ou o sono chegando, pois sou estagiária da roça, gosto mesmo é de dormir e acordar cedo, talvez porque a noite me prive da liberdade do ir e vir sem depender do carro. O fato é que ali eu naquele momento lembrei de mim na estreia, e resolvi sair do teatro, lavei o rosto, caminhei um pouco pelo teatro. Achei bonito observar que as pessoas estavam ali dedicadas, e assistiam efetivamente a solenidade de homenagens. Ali andando de novo pendeu na ordem dos fatores da hipotenusa, se o baile tivesse como última programação tava tudo certo. E me perguntei: Estou bem para entrar e assistir a estreia do Otacílio? Nossa, monólogo. Monólogos são difíceis. E me respondia: Mas o texto é o Marcos Barbosa e porra Roberta o Otacilio é uma potencia fora do palco, imagina em cima dela e depois de tantos anos. E ele disse que seria seu presente. E a quantos anos você não assiste seu amigo? Me perguntei de modo cruel. Eu achei. O fato é que entrei no teatro de olhos e orelhas atentas, viu-o afinando a luz, apertando as quentes mãos de seu parceiro de cena, indicando que as suas estavam frias. Que bonito ele ali. Começou o espetáculo e eu fui entendendo o que ele dizia e questionando um milhões de outras possibilidades da mesma história, caminhando de mãos dadas com José. E pensando: Eita como ele bom. Nossa quanto texto. Que reflexões incríveis! Em alguns momentos, no entanto, eu perdia alguma frase e isso me demandava um esforço para pegar a história. Quando eu efetivamente me perdia, punha-me a observar as vozes do ator e seu corpo, a dança com as cadeiras indicando o masculino e o feminino, a mesa que fora ressignificada. No entanto, nunca ouve uma cadeira para Emanuel. E pensava: Que corajoso é encenar este texto. Que corajoso escrever este texto. Estava tarde e as pessoas na plateia olhavam seus relógios, e alguns iam saindo, ela foi ficando fria, à medida que crescia a densidade da expectativa pela versão de José sobre a morte e desaparecimento do corpo de Emanuel e há ali em algum momento uma modernização dos meios de comunicação que me distraem do texto, uma outra camada. E aí a intenção muda e sou de novo fisgada para cena, que se estendeu também um pouco além da minha disponibilidade, então antes do fim minha mente fechou a peça por duas vezes em momentos distintos que me pareceram desfechos. Mas como tudo aqui eu poderia escrever muito mais, mas o tempo não me permite ainda tanta escrita assim, então fecho dizendo que saí do teatro contemplada, mexida, provocada, decantante e feliz pela potência dos nossos. Então, a parte que eu amo, mas que foi bem corrida, o encontro final, os abraços, risadas histórias, reencontros e suaves percepções sobre o visto. E o seguir para o resto mais perto, comer algo e sorrir abraçar gente que quero bem, assistir em deliciosa distância os movimentos do festival que não acaba quando termina. Ali abracei Alcantara Costa, Ricardo Guilherme, Fabiola Liper, Robério Diogenes, Danilo PInho, Pedro Domingues, Ronaldo e mais uma ruma de gente querida. E ainda levei a diva Marta Aurélia em casa. Por mais festivais, encontros, arte, afeto e cultura de participação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Some:

Celebrando Festivais Teatrais

Por Roberta Bonfim Querido Festival de Teatro de Fortaleza conheci tantas maravilhas ao viver-te. Lembro que foi em uma de suas edições que...