segunda-feira, 16 de junho de 2025

Lugar ArteVistas - Arte Onde Estiver: A Transformadora Maré Azul no Surf para Crianças Autistas

Sou Roberta Bonfim, atriz, jornalista, instrutora e pesquisadora sócioambiental, e junto com o editor Ceslane Brandão, alimentamos este espaço de arte, afeto e cultura participativa chamado Lugar ArteVistas. Aqui, exploramos a conexão profunda entre os lugares que habitamos e quem somos, numa jornada que entrelaça memórias, fatos e vivências. Hoje, quero compartilhar com vocês uma história inspiradora que conhecemos na Praia da Leste, um pedaço de paraíso escondido que abriga o projeto Maré Azul — uma iniciativa inovadora que usa o surf como ferramenta de inclusão para crianças e adolescentes no espectro autista. Conhecendo a Praia da Leste: Um Refúgio de Harmonia e Vida Ao chegar na Praia da Leste, também conhecida como Praia Formosa, somos imediatamente tocados pela beleza natural e pela energia acolhedora do lugar. É um espaço que nos convida a mergulhar não apenas no mar, mas também nas relações humanas que ali se formam, marcadas pela coletividade, respeito e humanidade. É nesse cenário encantador que o projeto Maré Azul floresce, transformando vidas e criando uma verdadeira rede de afeto e cuidado. Descer a ladeira íngreme que leva à praia é como acessar um segredo bem guardado pela cidade, onde o tempo parece desacelerar e a natureza nos abraça com sua força e delicadeza. Para quem, como eu, tem uma ligação afetiva com esses lugares desde antes de nascer, esse encontro tem um sabor especial — uma mistura de emoção e esperança. Maré Azul: Surf e Inclusão para Crianças Autistas O projeto Maré Azul nasceu há três anos a partir da vontade do André, tio de um menino autista, que encontrou no surf uma terapia eficaz e acessível. A partir dessa experiência pessoal, o projeto se expandiu para atender diversas crianças e adolescentes com autismo, oferecendo a elas e às suas famílias uma oportunidade de inclusão, lazer e desenvolvimento. “A terapia está aqui no mar. Quando você está triste, vem para o mar, esquece do mundo e vive o momento.” — André O que torna o Maré Azul tão especial é a forma como ele integra o contato com a natureza, a atividade física e o convívio social para promover benefícios que vão muito além do esporte. Muitas crianças que participam do projeto chegaram estressadas, usando medicamentos para dormir, e hoje, com a prática do surf, reduziram ou até eliminaram o uso desses remédios. O mar torna-se um espaço de liberdade, diversão e autoconhecimento. A Equipe e a Comunidade: Um Trabalho Coletivo e Apaixonado O projeto não seria possível sem a união de pessoas comprometidas e sensibilizadas com a causa. André, Narciso e Islaine, que já trabalhavam com crianças da comunidade local, uniram forças com Robson, professor de educação física com experiência em autismo, para criar uma rede de apoio que atende hoje cerca de sessenta crianças e adolescentes. As crianças atendidas vêm de várias comunidades da região, como Moura Brasil, Barra do Ceará e Caucaia, mostrando que o projeto tem um alcance que ultrapassa as fronteiras locais. A demanda é tão grande que há uma fila de espera com mais de duzentas crianças, evidenciando a necessidade urgente de ampliar esse tipo de iniciativa. Desafios e Expansão: O Caminho para o Futuro Atualmente, o Maré Azul conta com seis professores fixos que atendem em turmas pequenas, garantindo atenção individualizada. O desejo de expandir o projeto para oferecer aulas de terça a sexta-feira é grande, mas depende de apoio e recursos para que isso se torne realidade. Além do atendimento gratuito, o projeto oferece aulas particulares para famílias que podem pagar, permitindo uma maior frequência e continuidade no aprendizado do surf, o que tem se mostrado muito positivo para as crianças e adolescentes. O Impacto Pessoal e Social do Diagnóstico de Autismo O diagnóstico de autismo do sobrinho de André foi um divisor de águas em sua vida. Ele compartilha que, inicialmente, foi difícil para a família aceitar a condição e lidar com os desafios cotidianos, como episódios de agressividade e o isolamento social da criança. A partir do surf, no entanto, veio uma nova perspectiva de cuidado e inclusão, que transformou não só a vida dele, mas também a de muitas outras crianças e famílias. “Muitas crianças aqui já falaram ‘mamãe’ pela primeira vez durante o projeto, emocionados, porque se sentem felizes e acolhidos.” — André Essa transformação é visível também no convívio familiar, onde o projeto cria uma rede de apoio entre mães, pais e avós, fortalecendo os vínculos e oferecendo um espaço para troca de experiências e acolhimento. Quebrando Preconceitos e Fortalecendo a Inclusão O Maré Azul também atua como um agente de conscientização, mostrando que o autismo não é uma doença, mas uma condição que merece respeito, amor e inclusão. André destaca que as crianças e adolescentes do projeto têm superpoderes e podem se tornar médicos, professores e profissionais de destaque na sociedade. Um exemplo inspirador é a Vitória, psicóloga que descobriu recentemente ser autista e que agora trabalha no projeto, trazendo uma perspectiva ainda mais rica para o atendimento e compreensão das necessidades dessas crianças. A Relação com as Mães: Força, Luta e Esperança Grande parte da responsabilidade pelo cuidado de crianças autistas recai sobre as mães, muitas das quais enfrentam desafios imensos, como abandono, dificuldades financeiras e o abandono de sonhos pessoais. O projeto reconhece essa realidade e busca acolher essas mulheres, oferecendo suporte emocional e criando uma comunidade solidária. André relata momentos emocionantes em que as mães compartilham suas dores e vitórias, mostrando a importância de um espaço que valorize suas histórias e fortaleça sua luta diária. Adolescentes e Pré-Adolescentes: Um Novo Desafio Com o tempo, o Maré Azul percebeu a falta de terapias específicas para adolescentes autistas, um público que enfrenta grandes desafios em seu desenvolvimento social e emocional. O projeto passou, então, a incluir essa faixa etária, ampliando o atendimento e adaptando as atividades para dar suporte a jovens que precisam de acompanhamento contínuo. Além disso, o projeto tem promovido atividades complementares como rodas de conversa, pintura e biodança, com o objetivo de oferecer um cuidado integral às crianças e aos adolescentes, bem como às suas famílias. Parcerias e Formação: Construindo um Futuro Sustentável Para ampliar o impacto do projeto, o Maré Azul tem buscado parcerias com instituições, onde estudantes de psicologia podem realizar estágios, contribuindo com o atendimento e, ao mesmo tempo, adquirindo experiência prática no campo do autismo. Essa integração entre educação, esporte e assistência social fortalece o projeto e cria uma base para a formação de profissionais mais conscientes e preparados para atender essa população. Uma Prática de Inclusão e Empatia O Maré Azul é, antes de tudo, um espaço de escuta e empatia. Apesar das limitações e dificuldades, a equipe se dedica a acolher as histórias de vida das famílias, oferecendo suporte e buscando estratégias para melhorar a qualidade de vida das crianças e adolescentes atendidos. O projeto enfrenta desafios financeiros e estruturais, mas a força da equipe e o compromisso com a causa mantêm a esperança viva de que essa maré azul possa crescer e alcançar ainda mais pessoas. Por que o Maré Azul é uma Inspiração para Todos Nós O que mais me toca nessa iniciativa é o amor que transborda em cada gesto, em cada abraço, em cada sorriso das crianças que ganham novas possibilidades de viver e se relacionar com o mundo. É a prova de que a arte, o esporte e a solidariedade são ferramentas poderosas para transformar realidades e construir uma sociedade mais justa e inclusiva. Que o brilho nos olhos dessas crianças e a dedicação incansável dos voluntários inspirem mais pessoas a se engajarem nessa causa e a multiplicar essa maré de amor e inclusão em todas as praias, comunidades e corações. Como Você Pode Fazer Parte Dessa Transformação Voluntariado: O projeto sempre precisa de mais mãos e corações dispostos a ajudar. Apoio financeiro: Doações e patrocínios são essenciais para ampliar o atendimento. Divulgação: Compartilhe essa história para que mais pessoas conheçam e se sensibilizem. Parcerias: Instituições, escolas e empresas podem contribuir com recursos e infraestrutura. Para saber mais e entrar em contato, procure pela Escola N.S. Escola de Surf no Instagram (@ns.escola) e converse com os professores Narciso e Islaine. Venha fazer uma aula experimental e sentir a energia transformadora do oceano e do Maré Azul. Conclusão: Vida Longa à Maré Azul e à Inclusão O projeto Maré Azul nos mostra que o verdadeiro poder da inclusão está na capacidade de ouvir, acolher e transformar. É um convite para que todos nós sejamos agentes de mudança, reconhecendo a diversidade como fonte de riqueza e beleza. Que essa maré de amor e respeito continue a crescer, tocando vidas, inspirando ações e construindo um mundo onde cada pessoa, independentemente de suas diferenças, tenha o direito de ser vista, ouvida e amada. Até a próxima, para continuarmos conhecendo lugares e ArteVistas que fazem a diferença, sempre juntos, sempre em movimento, sempre ArteVistas! E temos mais convites! Dia 26 de jnunho no bruta Flor tem, lançamento do livro Era uma vez... O Oceano em Movimento com texto meu Roberta Bonfim, ilustraçÕes de Lourenço Vilar e diagração Baião Studio. As 17 horas.
E dia 05 de julho tem a Experiência Imersiva Meu Metro Quadrado no Poço da Draga com a entrega da obra feita em parceria com a Afetoi casa, voluntários e você que pode contribuir Formulário Voluntários https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSdyc20QrWW16Sg2owU0tyculGOOZuJYT3rLmLINi4yggz1Z9w/viewform Pix lugarartevistas@gmail.com Te envio também o vídeo um da campanha. https://www.instagram.com/reel/DKxmPVRxFJb/?utm_source=ig_web_copy_link&igsh=MzRlODBiNWFlZA== Chega junto e vamos cuidando dos nossos Metros Quadrados no mundo!

sábado, 17 de maio de 2025

Lugar ArteVistas - Arte Onde Estiver: Um Mergulho no Serviluz e na Força da Comunidade

Conhecer o lugar onde vivemos é mais do que entender um espaço físico; é mergulhar nas histórias, afetos e vivências que formam a identidade de uma comunidade. No ServiLuz, um bairro encantador de Fortaleza, encontra-se um verdadeiro paraíso de luz, arte e humanidade, onde o coletivo se fortalece através da cultura, do esporte e da arte. Este episódio convida você a caminhar conosco por esse território, conhecer seus ativistas culturais e sociais — os ArteVistas — e refletir sobre a importância da autogestão e da responsabilidade socioambiental em nossos territórios. Serviluz: Um Lugar para Se Sentir em Casa O Serviluz é mais do que um bairro; é um lugar vivo, pulsante, que carrega a memória e o afeto de gerações. Para quem nasceu e cresceu ali, como o Igor Cavalcante, o “Igão”, o bairro é quintal, escola e praia. Ele relembra com carinho as tardes pescando, surfando e brincando nas pedrinhas, momentos que hoje repete com seu filho. Essa conexão profunda com o lugar mostra como a infância no Serrviluz pode ser marcada por uma relação saudável e natural com o meio ambiente. Essa ligação estreita com a natureza e a comunidade é o que alimenta a qualidade de vida que o bairro oferece, um verdadeiro slogan para quem busca bem-estar e equilíbrio. É essa energia que o Instituto Serviluz, liderado pelo Igão, quer preservar e expandir, criando um espaço de acolhimento, cultura e desenvolvimento social. Instituto Serviluz: Lugar de Transformação e Arte O Instituto Serviluz é um exemplo de como a cultura e a ação comunitária podem se unir para fortalecer um território. Apesar de estar em processo de reforma e sediado em um espaço alugado, o Instituto já é um ponto de encontro, aprendizado e expressão artística. Com paredes grafitadas e ambientes que celebram a beleza local, o Serviluz é um convite para que todos que chegam sintam-se parte de algo maior. O lugar já é palco de oficinas, exposições e ações que valorizam a história e a identidade do bairro. É uma verdadeira acupuntura urbana, onde cada intervenção artística gera uma cicatrização emocional e social, promovendo afeto, autoestima e pertencimento. O Papel do Igão: ArteVista, Educador e Guardião do Lugar Igor Cavalcante, o Igão, é o coração do Instituto Serviluz. Morador do bairro Titanzinho, que faz parte do Serviuz, ele é um exemplo vivo de como o amor pelo lugar pode se transformar em ação social. Sua trajetória como surfista, educador social e produtor cultural mostra como o esporte e a cultura podem ser ferramentas poderosas de transformação. Igão conta que nunca teve uma decisão formal de ser educador social; esse papel foi se formando naturalmente a partir de sua vivência e do carinho que aprendeu com suas avós, sempre presentes e acolhedoras na comunidade. Seu pai, que foi surfista profissional, também foi uma figura paterna para muitos jovens da região, mostrando como o cuidado coletivo é parte essencial da cultura local. Surf e Cultura: Um Legado de Resistência e Potência O surf é muito mais do que um esporte no Serviluz; é uma linguagem, um modo de vida e uma forma de afirmação cultural. Raimundinho foi o primeiro morador do bairro a competir profissionalmente, abrindo caminho para uma geração de surfistas que hoje são referências nacionais e internacionais, como Lucinho Lima, Tita Tavares, Fabinho Silva e Pablo Paulino. Esse legado esportivo não apenas coloca o bairro no mapa do surf mundial, como também serve de inspiração para crianças e jovens que encontram no mar um espaço de liberdade, aprendizado e pertencimento. Além disso, o surf se entrelaça com ações sociais, como aulas para crianças e eventos que promovem a união da comunidade. Raimundinho é exemplo de como o esporte pode ser um caminho para a transformação social. Ele enfrentou desafios pessoais, como o afastamento temporário do surf devido a dificuldades, mas retornou com força total, organizando eventos e aulas para crianças. Seu trabalho no quiosque local também é uma extensão desse cuidado com a comunidade, transformando um espaço antes abandonado em um ponto de encontro alegre e acolhedor. Além disso, Raimundinho destaca a importância do grafite como expressão artística e registro histórico, uma forma de marcar o território e contar suas histórias através da arte. Ele acredita que o bairro nunca mais será o mesmo com as cores e as intervenções que surgem pelas mãos dos artistas locais, fortalecendo a identidade e o orgulho do lugar. Arte, Afeto e Transformação Social: O Coletivo ServiLost O ServiLost é uma iniciativa que une arte urbana, responsabilidade social e ambiental, e um profundo amor pela comunidade do Serviluz. Surgiu como uma brincadeira, uma provocação que se transformou em um movimento real de cuidado e transformação. O nome “ServiLost” mistura “Serviluz” e “Lost” (perdido em inglês), refletindo a geografia e os desafios do bairro, que está cercado por indústrias e o mar. O coletivo atua em ações como limpeza de praias, eventos culturais e oficinas, promovendo a participação e o engajamento dos moradores. A Força do Coletivo e a Autoresponsabilização O ServiLost é um exemplo vivo de como o coletivo pode ser a força propulsora da mudança. A união de artistas, educadores sociais, surfistas e moradores cria uma rede de apoio e ação que vai muito além do individual. Cada gesto, cada intervenção, reverbera na comunidade e no meio ambiente, mostrando que somos todos parte de um mesmo ecossistema. Ação Impacto Participação Comunitária Limpeza de praias Redução do lixo e preservação ambiental Alta - envolve jovens, adultos e artistas Oficinas de grafite e arte urbana Expressão cultural e valorização do território Média - foco em crianças e adolescentes Aulas e eventos de surf Inclusão social e desenvolvimento esportivo Alta - crianças e jovens locais Gestão do quiosque local Geração de renda e ponto de encontro comunitário Média - moradores e visitantes Essas ações mostram que a mudança começa no nosso próprio “metro quadrado”, no espaço que ocupamos e cuidamos. A autoresponsabilização socioambiental não é apenas um ideal, mas uma prática diária que fortalece o coletivo e melhora a qualidade de vida de todos. O Poder da Arte como Linguagem de Afeto e Resistência A arte no Serviluz não é apenas estética — ela é um canal de comunicação, de memória e de resistência. Como bem pontua o coletivo, “aquilo que a palavra não alcança, a arte alcança”. O grafite nas paredes, as pinturas, as intervenções urbanas são formas de contar histórias, homenagear a economia local (como os pescadores) e renovar a paisagem com cores e significados. Artistas como Dip, que participou das oficinas e hoje trabalha com audiovisual, reforçam a importância do contato direto com a comunidade e a troca de experiências. Para eles, estar no Serviluz é reviver memórias, fortalecer laços e criar novas narrativas que celebram a cultura local. Grafite e Memória: Renovando o Passado para Construir o Futuro O grafite é efêmero, mas seu impacto é duradouro. Cada pintura marca uma época, registra um momento e cria uma identidade visual que transforma o bairro em um museu a céu aberto. Essa arte urbana é uma forma de preservar a história viva, de homenagear os antepassados e de inspirar as futuras gerações. Para os artistas, pintar no bairro é se sentir seguro, em casa, e poder contribuir para um legado colorido e vibrante. Eles acreditam que mais projetos como esse devem surgir para multiplicar as cores e a arte tornando o bairro ainda mais acolhedor e cheio de vida. Convite à Autoresponsabilização e ao Cuidado Coletivo O que aprendemos com o Serviluz e seus ArteVistas é que cada um de nós tem um papel fundamental na construção de uma sociedade mais justa, afetiva e sustentável. Cuidar do nosso lugar é também cuidar de nós mesmos e das futuras gerações. Valorize seu território: Conheça a história, as pessoas e as culturas locais. Seja protagonista: Engaje-se em ações que promovam o bem-estar coletivo. Use a arte como ferramenta: Expresse, comunique e transforme seu espaço. Pratique a sustentabilidade: Cuide do meio ambiente e incentive o consumo consciente. Fortaleça o coletivo: Junte-se a grupos, movimentos e iniciativas que promovam a inclusão e o desenvolvimento social. A Lugar ArteVistas nos apresenta que a arte está onde estivermos — e que podemos ser agentes de transformação em qualquer espaço que ocupamos. O Serviluz é um exemplo inspirador dessa potência, onde o amor pelo lugar, a força do coletivo e a alegria de viver se manifestam em cada ação, em cada cor, em cada onda surfada. Ser ArteVista é Ser Cuidado, É Ser Comunidade Este mergulho no Serviluz nos mostra que a verdadeira riqueza está nas relações humanas, na cultura compartilhada e no compromisso com o território. A arte, o esporte e a ação social se entrelaçam para construir um ambiente onde todes podem florescer. Ser ArteVista é assumir a responsabilidade pelo nosso espaço, pelo nosso ambiente e por nossas comunidades. É celebrar a diversidade, o afeto e a criatividade que nos tornam únicos e fortalecidos. Que o exemplo do Instituto Serviluz, do coletivo ServiLost e de tantos ArteVistas possa inspirar você a olhar para o seu próprio lugar com outros olhos, a cuidar com carinho e a agir com coragem. Afinal, o mundo muda quando transformamos o nosso metro quadrado, onde quer que estejamos. Vamos juntos nessa caminhada de arte, afeto e responsabilidade socioambiental. Seja um ser ArteVista, onde estiver!

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Elos

Por Roberta Bonfim Começo este texto dizendo que sinto amor por este festival e o acompanho faz uns anos, por sua programação sempre muito diversa e relevante, mas também por suas ações paralelas. O festival é uma realização da Quitanda Soluções, que realiza outras ações e projetos na cidade e fora dela. Assina também a ficha técnica do festival o Instituto Br. A produção primorosa é da Peixe Mulher, que arrasa demais com uma equipe bonita e competente. O palco estava seguro com a turma experiente e divertida da Balta Sons. Bebeco orquestrando desmontagem. Fazendo as imagens aqueles que conheci como “Flo”, seres lindos e feras no que fazem. E que delícia saber que um festival nesta categoria é realizado com amigos, colegas e conhecidos meus e que está ali é também a certeza de encontrar cada um e trocar bem querer em abraços rápidos e importantes. Tendo também a certeza de que outros encontros bons acontecerão ali. Assumo que neste momento da minha vida só vou para alguns lugares porque vou ficar em um lugar que me assegura o meu espaço pessoal. Ainda não sei se me tornei uma jovem senhora fresca, ou se com o tempo alguns alguns incômodos tenham se tornado intoleráveis. Assim, nesta edição agradeço a William Mendonça pelos convites para viver estes momentos bonitos. Fui nos dois dias, mas só por momentos. E são estes recortes percebidos por mim que escrevo aqui. E para o sábado eu me preparei psicologicamente, afinal tratava-se de Alceu Valença um repentista incrível que faz parte da minha vida, pois desde que me entendo por gente o escuto, sei grande parte do seu repertório, desde sempre. E como foi lindo cantá-lo bem auto. Mas, antes dele tiveram três mulheres incríveis, livres e potentes cantando ali, duas do Rio Grande do Norte, e a terceira que penso que de Pernambuco. O fato é que elas são maravilhosas; Kristal, ganhei um CD faz tempo e achei gostosinho demais de ouvir. Isabel conheci por ser vocalista de uma das bandas que mais gosto na vida que é Pietá,e a terceira super poderosa esqueci o nome, mas lembro de sua presença de palco. E as três juntas cantaram e eu me identifiquei: ëu não posso mudar o mundo, mas eu balanço". Foi depois delas que veio Alceu "Dispor”, de longe escutamos os seus sinais e nos preparamos para o show que logo começou e já com a energia lá em cima e o terreno preparado. Estávamos ali, eu e Beto, vivendo novas fases, observando as antigas, cantando e dançando Alceu Valença e agradecendo a oportunidade de estar ali naquele momento, exatamente como foi. Com Alceu ali cantando a trilha sonora da minha vida, em um festival popular, com uma curadoria massa. E o m estre e sua banda fecharam a noite. Que eu bem devia ter acabado ai, mas segui até as tabajaras e voltamos andando depois, o que me faz sempre bem, andar pelo minha cidade qualquer hora do dia ou da noite, ver suas faces e públicos. Sempre amei isso e estava mesmo saudoso. O negócio pega quando já não somos tão jovens e eu um tanto sedentária. Amanheci toda quebrada,com criança cheia de energia e a programação familiar do domingo.. Passei o dia na dúvida entre ir ou não, mas lembrei de Will falando: “O show lotado no Brasil todo e tu vai perder a chance de assistir?” Depois de um dia de conflito interno, desci. No caminho um amigo procurando rede. Deu certo. Preciso aqui passar uma informação importante. Desci sem os óculos, assim uma experiência completamente nova, e uma pitada de receio. Me joguei. Logo na chegada fui encontrada por quem eu iria encontrar. Entramos, colocando os papos em dias, demos uma volta até o lugar que estávamos ontem, o que foi incrível, pois no mesmo lugar vivi experiências completamente diferentes e maravilhosas. Se no sabádo o mundo era Alceu e os bons encontros, no domingo, sem os óculos, encontrando só quem me encontrava, observei o meu entorno próximo, o que não aconteceu no sábado quando saímos até no vídeo do povo. Ali entre papos, músicas, encontros, cobranças de moqueca de caju eu observava a vida como filme, especialmente depois que começou o show Caju da Lineker, que é uma presença, que se soma a outras grandiosidades no palco. O som é bom, representativo e romântico, mesmo não dialogando comigo, é inquestionável sua potência, que pode levar a movimentos contraditórios e ali ao meu lado, me pedindo licença, literalmente, um garoto mergulhou na terra pulando a grade. Ele se estabacou, e rápido se levantou e foi embora. E nós que interrompemos o papo, também retornamos a ele depois de comentar meio descrente o acontecido e constatar que ali não havia nenhum segurança. Depois um ser jovem, incrivelmente bonito abre espaço na multidão, observa o entorno busca o mais próximo em quem possa confiar uma importante missão; fazer chegar a Lineker, esta cantora ousada do interior de São Paulo, aquele bela obra com tons de rosa que passou ali sob meus ombros. O rapaz solicitado foi passando a missão para frente e quero crer que chegou a ela. Depois um garoto branquinho em companhia da mesma faixa etária chorava copiosamente afirmando seu amor pela cantora e também jogando sua seca garrafa de vinho ali perto dos meus pés. Rapidamente vai lotando, os bombeiros interrompem a entrada. Ficou ali mais um tempo e assisto o amor de um casal que se liberta ao som e presença daquele ser dançante e ousado ali no palco. Declarações de amor. E uma garota me chama e pede para que eu peça que aquele mesmo rapaz já acionado, afaste um pouco pois ela em cima de um banco ainda sim não consegue ver. Penso que horas ela chegou para estar ali. O rapaz respirou fundo, mas afastou. E ela feliz cantou, e que voz linda tinha. Eu cansada fui embora um pouco antes do fim do show, no caminho bons abraços daqueles que iam chegando quando eu me ia. Parabéns Elos, não fosse o transito caótico, que dificulta a vida do morador, e o excesso de lixo jogado por uma população que parece não entender que precisamos urgentemente nos responsabilizamos pelos nossos excessos. Vai pra festa na praia deixe apenas suas pegadas.

domingo, 23 de junho de 2024

Celebrando Festivais Teatrais

Por Roberta Bonfim Querido Festival de Teatro de Fortaleza conheci tantas maravilhas ao viver-te. Lembro que foi em uma de suas edições que assisti uma dos espetáculos mais emblemáticos da minha vida, Macunaíma, interpretado por Tomaz de Aquino onde vi em cena pela primeira vez Katiana Monteiro e Lua Ramos, duas atrizes que eu admiro infinitamente, sob a direção da inspiradora Herê Aquino, no Teatro São José. Naturalmente outras maravilhas foram vividas neste festival, mas ele foi também se depurando para mim, e não cabe neste texto o questionamento, ou mesmo outras lembranças seja com o festival de teatro da cidade, ou com o lugar Teatro São José, que eu frequento desde a escola, quando a avó de uma amiga fazia dança lá e nós íamos vê-la dançar, ou nos shows de humor com Paulo Diógenes, Luana do Crato, ao acompanhar meu amado Roberto Falcão. Mas… Nostalgias à parte, quero mesmo é falar desse encontro nos últimos dias, onde aconteceu a XV edição do Festival de Teatro de Fortaleza, que nesta edição trouxe no seu corpo organizacional figuras relevantes para produção e fruição cultural do estado já a muitos anos. Falo de Sidney Malveira, do Teatro Novo, William Mendonça, da WM Cultural, Elizabeth Fernandes, da Betha Produções e a Deusa Dane de Jade, da ONG Beatos. Quem é do teatro ou simpatiza com a classe nos últimos anos, sabe da relevância desses nomes para o desenvolvimento cultural e projeção do estado por onde passam. Eu poderia escrever um livro só com as contribuições de cada um não só no campo da produção e gestão, difusão, circulação, curadoria … mas também e especialmente são artistas da cena e trabalham com essa artesania. O fato é que individual ou coletivamente são potências, nossas joias da casa. E aí você que me lê, pensa comigo; um festival gerido por eles naturalmente estava repleto de outras pessoas competentíssimas que convidaram aquilo que conhecemos como classe teatral. Tinha muita gente querida junto! Benza Deusa! Foram mais de 50 espetáculos, nos mais diversos modos e espaços de arte da cidade, além de escolas e centros culturais, em 12 dias de festival. Eu particularmente só consegui acompanhar de perto a estreia e o encerramento. Mas fiquei atenta às redes sociais do festival gerida pela minha criativa cumadi Mayane Andrade e sua linda equipe. Inclusive convido você que está lendo este texto a depois que terminar a leitura e de um copo de água ir visitar e seguir o instagram do festival. @festivalteatrofortaleza ai já aproveita e segue também a @lugarartevistas Falarei primeiro sobre a estreia, onde eu vivi só ser espectadora, cheguei já para a solenidade e o espetáculo convidado "Mãe de Santo", um solo importante encenado pela atriz Vilma Melo. E que alegria o reencontro com pessoas importantes para nossas vidas, tal hora pensei mesmo em mudar o mood e começar a gravar papos com geral, para registrar memórias, mas ando em transição de tudo e então optei por não tirar o celular da bolsa, não fiz qualquer registro digital, apenas afetivo. Ali no primeiro dia reencontrando rostos de outros festivais, celebrei e agradeci estar de novo neste lugar, onde sou atriz e pensei inclusive que na próxima edição quero ter um espetáculo dentro do festival. Nossa… cada encontro, abraço, trocas, infinitas memórias. Foi como abrir a máquina do tempo e passear por entre camadas. O teatro é mesmo um pouco isso. Mas, voltemos à abertura oficial da XV edição do festival de teatro de Fortaleza. A solenidade foi leve, mas longa, como são as solenidades. Na sequência a performance de Maken foi bonita, em algum momento lembrei até de Gal, talvez pelo vestido branço e os cabelos esvoaçantes em uma luz amarela com vozes incríveis. Na sequência iniciou o espetáculo, que é um monólogo, e não sei se pelo avançar da hora, pela minha relação espacial com o palco, a dor na lombar, pelo excesso de texto, em alguns momentos me perdi completamente e precisei de algum esforço para voltar, e fiz o esforço pelo interesse pelo tema, e demais questões ali apresentadas, mas a mim pareceram muitas informações e eu não consegui fazer as concatenações necessárias naquele momento. O assistirei de novo em havendo oportunidade. E eu simplesmente amei os turbantes no cenário e criei uma expectativa de que eles fizessem parte da cena, para além de serem o cenário do programa de auditório. Ao final algum receio na saída até o carro por falta de iluminação pública qualitativa no entorno do teatro São José e de quase todas as ruas da cidade. O festival seguiu por toda semana com uma programação bonita que só, com muitos atores e atrizes que eu quis muito assistir, mas na rotina da vida não consegui, na sexta do encerramento fui, e agora em dois papéis. É que no encerramento fui até apresentadora e tive a grata honra de apresentar "Quem Matou Zefinha" espetáculo da Trupe, que foi fundamental na minha vida. Era a primeira vez que eu ouvia falar de temas tão sérios e atemporais, como moradia, injustiça social, machismo, dentre outros de modo tão… tão… não havia encontrado antes e nem terei a pretensão desta adjetivação agora. O fato é que ali assistindo Ana Marlene tive flashes de outros momentos. O Teatro é efêmero, mas é eterno na alma de quem por ele foi atravessado. E que alegria sinto na alma ter tido a grata honra de ter assistido este espetáculo com atores e em momentos diversos e tão iguais do existir. Eu poderia aqui também escrever um livro só sobre a relevância da Trupe para o que conheço por teatro de rua aqui em Fortaleza, em atuação. São mais de 30 anos de arte na rua. E não sei se você já se expôs de algum modo na rua, além de andando pela cidade. Aqui inclusive preciso abrir um parêntese MUITO importante. (Como os equipamentos se relacionam com o ambiente em que estão? Como a cidade colabora para fruição deste? Como o poder público pensa a acessibilidade desses lugares? Pois moro perto e poderia tranquilamente ir a pé, da minha casa ao São José e seria um passeio incrível, mas as ruas logo que o sol baixa ficam muito escuras e isso gera insegurança, e nem vou entrar no mérito de ser mulher e essas coisas. Minha questão é: como falar sobre acessibilidade no amplo sentido da palavra? Se mesmo morando perto não me sinto segura para ir andando, e quem já me ler, ou me conhece sabe que se há uma coisa que amo muito é bater perna na rua, então como posso pensar que a garota de 16 vai ter permissão de seus pais de ir sozinha andando para o teatro pertinho de casa. A cidade funciona de noite e precisa ser mais bem iluminada para permitir travessias seguras.Falo do São José, mas cabe para muitos equipamentos públicos da cidade). Não vou me ater mais a esta questão. Jogar-se ao outro, na rua com arte é grandioso e talvez venha daí a minha questão sobre porque não foi em praça pública, se há ali uma com moradores de rua que têm o mesmo direito ao teatro. Sei que aqui abre para outras complexidades sobre o crack, o período, os equipamentos alugados, a falta de um carro de polícia ali parado como param em muitos lugares pela Praia e ficam por tempos. Outras questões se abrem. Voltarei para o Festival em três, dois um. Ao final da apresentação da Trupe, inicia o Baile Bufa, eu mesma convidei as pessoas para seguirem para fila, os com interesse e maiores de 18 anos, que ali foram surpreendidos pela aparição de alguns personagens. Eu vi a maravilhosa Mica Macaca pela primeira vez. Desde o curso na Varanda Criava, ou mesmo antes na Oficina do Riso, quando sua bufa foi citada que eu desejava este momento, em que ela confirma que é babado. Fiquei na fila e Ivan Lourinho lindo fez as devidas apresentações. E eu entrei para o Baile. De cara me perguntei porque ele não era a última atração do festival, já que acabar um baile deste é quase uma heresia. Desculpe a ironia. O fato é que vamos entrando e a festa já começou, nos pedem que ocupamos os espaços, depois que circulamos por ele, entre cachaça e canjica, falas nos motivam ao movimento, até o convite ao miar, latir e infantilizar, seguido pelo sentar, todos ali buscando espaço entre outros para ver um homem normal. Depois a boa de rima e de tempo para o riso, que por vezes me vez lembrar da diva querida Karla British, e então divando a Mumutante e as demais, tal hora tanto é dito, o público participa ativamente e há um diálogo livre entre todes..Precisei sair antes do fim, que se prolongou, e atrasou a programação. Também pudera - trata-se de um Baile Bufa. Ali no centro do espaço eu e Ivan falamos sobre o Festival, o teatro, a programação, honramos os que nos deixaram e saudamos aos vivos e ali presentes Ana Marlene, Silvia Moura e Ricardo Guilherme. Eu não apresentei o catálogo virtual, já havia mais de uma hora de atraso ao previsto e teria ainda mais falas dentro do teatro, então apenas convidei a todos a seguirem as redes sociais do festival onde será disponibilizado o link do catálogo virtual. Acho importante citar neste texto que me senti feliz com o encontro com a turma do Mirante ali, assistindo teatro junto. E aqui vale dizer que eu e Ivan ali juntinhos foi um modo do festival saudar aos 40 anos do Grupo MIrante de Teatro da Unifor e olhar ali a diretora Hertenha Glauce emocionada, foi pensar… Se houvesse tempo poderíamos chamar ela e os integrantes e ex integrantes ali presentes para uma foto oficial, mas o tempo estava curto não cabia tamanha quebra de protocolo. Após a apresentação fui abraçar Mica e Alisson pelo Baile, depois entrei no teatro já acontecendo o cerimonial, fomos chamados ao palco, fizemos fotos oficiais, daquelas que se guarda para sempre, tamanha a alegria e potência dos encontros. Olhando a plateia de cima me emocionei ao ver especialmente Gyl Giffony e Tomás de Aquino, porque eles são incríveis e eu os amo profundamente. Bonito e emocionante foi também estar ali naquele palco, naquele momento com tantas pessoas que fazem muita parte da minha história e que essas mesmas, e parece que de algum modo também faço eu faço parte desse todo que somos e estamos juntos em serviço da arte. E por falar em arte mais uma homenagem, agora no palco aos incríveis Ana Marlene, Silvia Moura e Ricardo Guilherme e foi linda a homenagem com Márcio e Orlângelo da Dona Zefinha, de Itapipoca, onde o pai de Gerson do Balé Baião foi o fazedor da cadeirinha de Silvia. Eu amo essas histórias todas, mas assumo que ali talvez pela fome que começava a se anunciar, ou pelo incômodo na coluna pelo tempo, ou o sono chegando, pois sou estagiária da roça, gosto mesmo é de dormir e acordar cedo, talvez porque a noite me prive da liberdade do ir e vir sem depender do carro. O fato é que ali eu naquele momento lembrei de mim na estreia, e resolvi sair do teatro, lavei o rosto, caminhei um pouco pelo teatro. Achei bonito observar que as pessoas estavam ali dedicadas, e assistiam efetivamente a solenidade de homenagens. Ali andando de novo pendeu na ordem dos fatores da hipotenusa, se o baile tivesse como última programação tava tudo certo. E me perguntei: Estou bem para entrar e assistir a estreia do Otacílio? Nossa, monólogo. Monólogos são difíceis. E me respondia: Mas o texto é o Marcos Barbosa e porra Roberta o Otacilio é uma potencia fora do palco, imagina em cima dela e depois de tantos anos. E ele disse que seria seu presente. E a quantos anos você não assiste seu amigo? Me perguntei de modo cruel. Eu achei. O fato é que entrei no teatro de olhos e orelhas atentas, viu-o afinando a luz, apertando as quentes mãos de seu parceiro de cena, indicando que as suas estavam frias. Que bonito ele ali. Começou o espetáculo e eu fui entendendo o que ele dizia e questionando um milhões de outras possibilidades da mesma história, caminhando de mãos dadas com José. E pensando: Eita como ele bom. Nossa quanto texto. Que reflexões incríveis! Em alguns momentos, no entanto, eu perdia alguma frase e isso me demandava um esforço para pegar a história. Quando eu efetivamente me perdia, punha-me a observar as vozes do ator e seu corpo, a dança com as cadeiras indicando o masculino e o feminino, a mesa que fora ressignificada. No entanto, nunca ouve uma cadeira para Emanuel. E pensava: Que corajoso é encenar este texto. Que corajoso escrever este texto. Estava tarde e as pessoas na plateia olhavam seus relógios, e alguns iam saindo, ela foi ficando fria, à medida que crescia a densidade da expectativa pela versão de José sobre a morte e desaparecimento do corpo de Emanuel e há ali em algum momento uma modernização dos meios de comunicação que me distraem do texto, uma outra camada. E aí a intenção muda e sou de novo fisgada para cena, que se estendeu também um pouco além da minha disponibilidade, então antes do fim minha mente fechou a peça por duas vezes em momentos distintos que me pareceram desfechos. Mas como tudo aqui eu poderia escrever muito mais, mas o tempo não me permite ainda tanta escrita assim, então fecho dizendo que saí do teatro contemplada, mexida, provocada, decantante e feliz pela potência dos nossos. Então, a parte que eu amo, mas que foi bem corrida, o encontro final, os abraços, risadas histórias, reencontros e suaves percepções sobre o visto. E o seguir para o resto mais perto, comer algo e sorrir abraçar gente que quero bem, assistir em deliciosa distância os movimentos do festival que não acaba quando termina. Ali abracei Alcantara Costa, Ricardo Guilherme, Fabiola Liper, Robério Diogenes, Danilo PInho, Pedro Domingues, Ronaldo e mais uma ruma de gente querida. E ainda levei a diva Marta Aurélia em casa. Por mais festivais, encontros, arte, afeto e cultura de participação.

sábado, 30 de março de 2024

Corpos Velhos: Para que servem?

Por Roberta Bonfim


Tudo que se vive é parte do que somos e do que temos a comunicar, nossos corpos guardam todas as memórias vividas, muitas das quais nossa mente já nem acessa, mas pelo corpo tudo se revive quantas vezes forem desejadas, ou necessárias. Entendi isso pelo corpo, observação sobre o espaço pessoal, mas também pelo estudo mental da memória liberada pelo movimento. E nem sempre esses movimentos são fáceis.


Eu, por exemplo, ao ser convidada a prestigiar a abertura da XIV Bienal Internacional de Dança do Ceará, hesitei, me confundi, me atrasei, cheguei mesmo a cogitar não ir. A dança ainda é um lugar conflituoso para mim. Mas, aqui caberia um texto só para isso, o que não é o caso, pois sobre os conflitos particulares escrevo no diário. hihihi… O fato é que apesar das dificuldades que eu mesma criei, fui. Cheguei no entre, mas foi bom, pois ainda na porta abracei gente querida, encontrei dois dos professores que compuseram minha banca de mestrado, a potente Rosa Primo e o elegante Clerton Martiins. Os ver ali me alegrou, quis abraçá-los apertado, mas me esforcei para parecer elegante e discreta, apesar das minhas tranças e meu vestido de cigana.


Encontrei também Silvia Moura, vi de longe outras maravilhosas inspirações na vida, como Wilemara, Andrea Bardawil, Mônica Luiza, Claudia Pires e outras maravilhas. Como disse antes cheguei atrasada e perdi o espetáculo de Paracuru que muito desejei assistir, mas estava ali, sentei-me e contemplei as pessoas, a gente da dança e suas liberdades e prisões e a força da Bienal para falar sobre etarismo e liberdade do corpo na dança que transcende, emociona e convida a subverter regras racionais.


Ali contemplando inicia, melhor reinicia as apresentações formais com o bailarino Viana Júnior e sua maravilhosa e potente companheira. Estes chamaram Davi Linhares, que realiza esta Bienal com corpo, alma e suor desde seu início e que vem a cada edição trazendo novos desdobramentos a partir dessa bienal cearense, que é também internacional. Davi vestido de Silvânia de Deus, como os apresentadores, sobe ao palco e anuncia a edição, seus objetivos e agradece aos seus patrocinadores e apoiadores. Começa ali, o que chamo de palanque, onde a secretária da cultura presta uma conta social e engrandece a Bienal, depois os representantes dos invetidores falam mais um bocado. Um tanto maçante, na minha humilde opinião.. Depois veio a bailarina linda Claudia Pires na companhia muda de Ernesto Gadelha, e homenageiam profissionais fundamentais da dança da cidade. Eu me emocionei porque, assim como a própria Claudia, outras bailarinas ali homenageadas foram e são muito relevantes para minha própria caminhada humana com a dança, que é vida.


O ponto alto no entanto estava por vim, e veio. Inicialmente como um vídeo. Cheguei a quase me frustrar, pensando. Não creio que cheguei até aqui para assistir um vídeo dança, isso eu poderia ter assistido em casa. Mas, era um vídeo dança tão forte, detalhado e bonito que tal hora eu já havia sido fisgada só por ele. Mas a tela subiu e os corpos velhos ali sob focos de luz apareceram mostrando que com absoluta maestria que servem ainda para muito. Não entendeu nada? hihihi Explico.



Ali no palco estavam os corpos de Célia Gouvêa (A bailarina, um dos grandes nomes da dança brasileira, conta sobre sua carreira no Brasil e na Europa. Fez parte do Mudra – Centro Europeu de Aperfeiçoamento e de Pesquisa dos Intérpretes do Espetáculo, dirigido por Maurice Bejárt, e do Grupo Chandra – Teatro de Pesquisa de Bruxelas), Décio Otelo (bailarino e coreógrafo brasileiro.Iniciou seus estudos de dança em 1951, em Belo Horizonte, no Ballet de Minas Gerais dirigido por Carlos Leite onde conheceu Klauss Vianna e Angel Vianna. Em 1956 entrou no Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, tornando-se solista.e percorreu o Brasil em turnê, dançando Giselle, com Margot Fonteyn e Michael Somes), Iracy Cardoso (bailarina, por tempos diretora do Balé da cidade de São Paulo), Lumena Macedo (Ingressou no Balé da Cidade de São Paulo em 1984, dançando trabalhos de coreógrafos como Germany Acogny, Luis Arrieta, Susana Yamauchi, Henrique Rodovalho e outros. Passou então para a Cia. 2 do Balé da Cidade, permanecendo até 2001, onde encerrou sua carreira como bailarina profissional.), Marika Gidali (bailarina húngara, radicada no Brasil. Fundadora, junto com Decio Otero, do Ballet Stagium. É ganhadora do Prêmio Cultural Blue Life, como uma das mulheres de destaque) , Mônica Mion (25 anos, no qual o Balé da Cidade de São Paulo recebeu numerosos prêmios pela qualidade de seu elenco e coreografias, Mônica Mion participou de praticamente todo o repertório apresentado, em obras em que atuou freqüentemente como solista, em temporadas e turnês nacionais e internacionais), Neyde Rossi (Participou do Ballet do Museu de Arte de São Paulo, Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Ballet do Teatro Cultura Artística, Ballet Amigos da Dança e Grupo Experimental de São Paulo. Há mais de 40 anos dedica-se ao ensino da arte do Ballet), Yoko Okada (Yoko Okada é bailarina, coreógrafa, professora, fundadora e diretora do Ballet Ismael Guiser, companhia dirigida por ela e Ismael Guiser, coreógrafo e professor) e Luis Arrieta (coreógrafo, bailarino, professor, pesquisador. Diretor artístico do Balé da Cidade de São Paulo por 2 vezes, com mais de 150 criações de estilo inconfundível, trabalha com as mais importantes companhias do Brasil, atuando também na América Latina, Estados Unidos e Europa), e que também assina direção do espetáculo "Corpo Velhos - Para que Servem?". 


Foto Guilherme Silva

E ali sob nossos olhos mostram que servem para comunicar, dançar, denunciar, celebrar, rebolar, emocionar, transfigurar, transmutar. Assumo aqui que me impressionou muitíssimo e que me emocionei a um ponto de chorar copiosamente, bem como ri, sonhei, me angustiei e me acalmei e por fim de pé aplaudi, com toda força que tive em minhas mãos e pelo tempo que meu corpo permitiu, tudo em mim aplaudia cada partícula de gente que ali se apresenta. Quanta lindeza, quanta coragem, determinação, disciplina, força e amor pelo dançar. 



A verdade é que desde quinta busco palavras que descrevam o que assisti, assumo que mesmo agora ainda não encontrei, então apenas agradeço aos corpos, vidas e almas de cada um que mostrou que o corpo segue servindo para muito, basta que esteja vivo e ativo. 


Foto Guilherme Silva

Acabou. Encontro o querido Guilherme Silva na saída, abraços e peço me me mande fotos, e são suas fotos que embelezam esta página neste escrito. Já do lado de fora a dificuldade de pegar uber, me fez entrar em um taxi que não trabalhava nem com pix, nem com cartão, o que me impediu de parar na Estação, de modo que segui para casa e de lá até aqui, ainda tento decantar o que vi.


sexta-feira, 29 de março de 2024

Azul da cor do Céu


No dia 23 de março 
estreamos o projeto Arte ConVida, do Grupo MIrante de Teatro Unifor, com o esquete  "Azul da Cor do Céu", texto de Erico Mayer, direção e produção de Hertenha Glauce, técnico de som Ícaro Eloi, de iluminação Geilson Pio e encenação de Duda Benicio e euzinha Roberta Bonfim, no Espaço Cultural Unifor. Que delícia que foi, com um público bonito e atento. E é sempre bom falar com quem deseja ouvir. E que lindo crianças sentadas de pernas cruzadas no chão a nossa frente para se fazer mais perto na cena, e quebrar a quarta parede, e é também bonito. Mas, o fato é que apesar do que não rolou a brincadeira foi boa e a alguns alcançou. Aplausos, abraços, respiração e gratidão. O teatro é a arte do presente, é um convite ao sentir junto os caminhos que constituem a estrada.

Por aqui, por exemplo, para que o hoje acontecesse, Erico Mayer em seu recesso de final de ano, em viagem para suas origens se inspira e escreve o texto "Azul da Cor do Céu". Em janeiro quando retomamos os trabalhos no Mirante, Hertenha escala a mim e Duda para esta encenação. Fico feliz, gosto de trabalhar com Duda, é um texto lindo, mas também com medo. Eu acabara de viver uma idosa forte com a Maria Memória, temia, e a direção também, que eu tangenciasse ao mesmo padrão. Felizmente não rolou e cada uma tem sua própria personalidade e tempo.


Eu e Duda iniciamos os processos e ensaios, junto com a dupla que estreia no dia 06 de Abril com o esquete Carcará e a Flor do Mandacaru, foram momentos importantes e fortes, para a cena, bem como para nossas relações.Nesse processo, boas notícias, encontros relevantes, pesquisa, trocas, os demais integrantes assistindo e deixando suas considerações, tudo extremamente importante e bonito. As personagens Joana e Eugenia, nascem da imaginação de Eurico, inspirado pelo nordeste que vive e sente, mas também pelo apresentado nas obras de Volpi. As personagens já existiam para nós, mas estavamos enganchando no texto e para isso tome estudo, passagem, ensaio e assim apresentamos para um público lindo e generoso o nosso Azul da Cor do Céu. E com coração aquecido e feliz celebro a potência do teatro e agradeço a todo o grupo Mirante de Teatro a oportunidade de ser arte junto com vocês. 


E para quem tá lendo este texto, deixo o convite de nos encontramos no dia 06 de abril, às 16 horas no Espaço Cultural Unifor para conhecermos o Carcará e a Flor do Mandacaru, um texto de Bruno Teixeira com encenação de Shirley e Ivan Lourinho. Tá lindo de bonito! E tem, A exposição, que tá grandiosa. 






Curiosidades aleatórias.


Quebrei os óculos, pedi o da vó emprestado, ela perdeu os óculos, fiz a cena com as ocletas de Duda Benicio.


No meio do caminho para Unifor, lembrei que estava sem sutiã e que não havia nenhum na bolsa, parei no caminho e comprei o sutiã mais caro da minha vida. 


Estávamos prontas para entrar em cena 1 hora antes de começar. hihihi


É lindo e bom quando você entra em cena com alguém que tá com a mesma vontade que você de se divertir ao cumprir seu papel. Duda é uma companheira incrível de cena, grata pela troca e até logo menos, pois em maio tem Azul da Cor do Céu.



Atenção!!! Próximas datas:


O Carcará e a Flor do Mandacaru

06/04


Trem das Cores

20/04


Por ti, Porti

04/05


Azul da Cor do Céu

18/05


domingo, 19 de novembro de 2023

Leci Brandão a potência de sua Geração

Por Roberta Bonfim


O samba, o tambor, o pandeiro mexem com meu corpo, mas a voz de Leci mexe mesmo é com minhas memórias infantis e juvenis e com o meu coração, meu imaginário sobre o carnaval, a beleza das histórias cantadas sobre nós. Assistir Leci Brandão e sua potência humana ali no palco foi das coisas mais emocionantes dos últimos tempos e hoje é o último dia deste espetáculo na cidade.

Isso mesmo, Leci Brandão está em Fortaleza, mais especificamente na Caixa Cultural Fortaleza, através do Programa de Ocupação dos Espaços da CAIXA Cultural. Desde quarta-feira, até hoje, 18 de novembro, o show “Leci Brandão - Eu Sou o Samba". Leci aos desavisados, é um dos grandes nomes da música brasileira,  é fundamental para o que hoje chamamos representatividade. Quando isso ainda não era pauta, Leci já representava Madureira, o Samba, a Mulher Negra e potente que é. Tanto que suas canções seguem atuais e junto outros clássicos da música Brasileira são cantados em coro com a plateia.  Isso porque músicas como “Só quero te namorar", “Zé do Caroço" e “As coisas que mamãe me ensinou", “Olodum força divina", “Madalena do Jucu", “Papai vadiou", “Deus do fogo e da justiça", dentre outros estão no imaginário de todes nós. 


Eu particularmente logo de chegada já senti no bater dos tambores os calores e afetos, e sem perceber eu já chorava e agradecia a oportunidade de estar ali, naquele momento vivendo aquele nosso momento e na primeira fileira do teatro. Todes sabemos que a primeira fila não é legal para a cervical e que essa proximidade às vezes quebra a magia, mas Leci e sua banda são gente do samba, gente que de cedo sacou que a magia consiste em ser de verdade, simples, profissional, familiar e sincronizado. Lindo de se viver.

Existem além do espetáculo em si, outros espetáculos à parte, como a competência dos músicos, que evidenciam a importância de cada instrumento e som, na composição do todo que é a música cantada por Leci Brandão. Que se só no palco, falando da vida já seria incrível, pois ela vai desfazer 80 anos em 2024 e canta o show inteiro sem pesca, lembra o nome e lugar de nascença de cada ser que integra a equipe do show que apresenta. E só não sambou porque não podia, mas deixou-se de corpo e alma abertos e em troca com os felizardos que estavam ali. Eu estava e vibrava de uma alegria intensa e tal hora o corpo precisou liberar e fui para lateral do teatro e sambei uma música inteira, tudo que eu precisava antes de voltar para minha cadeira, mas que eu teria extrapolado, não fosse a moça gentil da Caixa me lembrar de ficar quieta no meu lugar. Eu fique, cantando auto, até perder a voz. Cantei com Leci, a vi pequenina, em seu figurino azul com o mar, com sua voz potente que ainda esta aqui a em mim ecoar e fui lembrada mais uma vez e sempre que somos a integração de nossas competências.

Agora eu queria ter tempo de correr atrás de um Vinil de Leci para pedir que ela autografe, mas meu dia está corrido e eu já atrasada, assim fecho por aqui com o convite a quem possa hoje ou logo menos se presentear com este espetáculo de tudo que é assistir ao show “Leci Brandão - Eu Sou o Samba", onde a artista com mais de 40 anos de carreira e 25 álbuns gravados e muitos desfiles de carnaval e roda de samba. Gratidão Leci Brandão pela sua existência, presença, corpo, voz, som e poesia que nos compartilha. 

Para deixar tudo ainda mais incrível eu estava na incrível companhia da minha comadre Katiana Monteiro e ainda encontramos e trocamos outros abraços. <3




 


 


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Sou Roberta Bonfim, atriz, jornalista, instrutora e pesquisadora sócioambiental, e junto com o editor Ceslane Brandão, alimentamos este es...