Estamos? Quem tá junto? Quem se junta? Com quem se pode contar, se o bicho pegar? Essas interrogações passeiam pela cabeça de todos nós em algum momento. Aos sós, a solidão se apresenta e de tão boa se torna presença, mas e na hora que se precisa de alguém? Então dói se só? Mas doe mais ser só só, ou só acompanhado? E o medo tem deixado o homem cada vez mais egoísta? É isso? E sabemos disso e só aceitamos? E o que impulsiona a melhora humana? Perca dessa humanidade? Ou dessas pseudas verdades que temos como vida? E o que motiva?
São todas essas questões e mais tantas outras; - Como o que faz com que uns tenham tanto e outros tão pouco? E a união da peleja, existe? Quem exercita mais a humanidade, e como exercitá-la? São questões assim que surgem em silêncio do decorrer de Estamos Juntos. É essa solidão acompanhada, esse calar torturador e condicionado e esse medo calado do que já se tem.
Seria talvez um clichê, se não fosse o roteiro bem cuidado de Hilton Lacerda, a direção atenta de Toni Venturi, a atuação sensacional de Leandra Leal e grande elenco. E se não fosse a fotografia de Lula Carvalho e uma montagem excepcional que nos leva junto com a personagem a caminhar por sua alma, identificar seus medos e limitações. O que esse drama urbano faz, no entanto, é por em questão sentimentos como amor, desejo e amizade, numa trama que circula entre o real e o psicológico.
Uma rotina dura no hospital, uma relação amorosa frustrada com um homem casado e um certo vazio existencial fazem com que Carmem se volte para um relacionamento com um homem misterioso (Lee Taylor).
Carmem (Leandra Leal) é uma jovem médica que como muitas saiu de sua cidadezinha, por que a mesma já não lhe cabia e segue para São Paulo para estudar e trabalhar. Seu único amigo é o DJ Murilo (Cauã Reymond), gay assumido, que também veio do interior. O personagem a meu ver chega como um presente para o ator que seguia como o galãzinho, e mostrou que tem mais a oferecer.
Numa rara escapada para curtir a agitada noite paulistana ao lado de Murilo, Carmem conhece Juan (Nazareno Casero), músico argentino com quem inicia um intenso romance. Ao mesmo tempo, envolve-se com o movimento dos sem-teto e passa a fazer um trabalho voluntário. As vida começava a seguir um novo sentido, quando uma doença inesperada e grave tira seu equilíbrio e ela se vê forçada a reavaliar toda sua vida.
Junto ao drama psicológico de Carmem, há uma São Paulo, há pessoas e do mesmo modo, a metrópole que nunca dorme, habitada por gente do mundo todo, com diversão a qualquer hora do dia e da noite, parece não ter espaço para um grupo cada vez maior de pessoas que não veem alternativa senão invadir prédios vazios para ter um teto. Para isso, precisam se unir, se organizar, confiar uns nos outros.
É desse contraste vivido gradualmente pela personagem, que a atriz usou todo seu potencial, crescendo em atuação e força a medida que o drama adensa. A sensação que tive é a de que ela vivera toda vida em um sonho e de repente foi acordada à realidade.
Estamos Juntos é um filme delicado, onde o não dito por significar muito mais que o dito, assim como na vida.
- A produção recebeu sete prêmios no 15º Cine PE Festival do Audiovisual, incluindo melhor filme, direção, roteiro (Hilton Lacerda) e atriz (Leandra Leal, dividido com Marisol Ribeiro, de Família Vende Tudo, de Alain Fresnot).
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