sexta-feira, 26 de abril de 2013

Prazer momentos entre o aqui e o agora



Entrar na sala de teatro do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) para assistir ao espetáculo Prazer da premiada Cia Luna Lunera é se deparar com os atores já em cena, dispersos no espaço, mas absolutamente concentrados em si, escrevendo frases de impacto extraídas ou inspiradas nos textos de Clarice Lispector, como: “A vida não é de se brincar, em pleno dia se morre” e “Tudo é só por enquanto, enquanto estamos vivos”, logo ali o espetáculo parece começar antes mesmo de soar o terceiro toque.
Tendo como base referencial à obra Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres, da escritora Clarice Lispector, que conseguia falar das angustias do cotidiano, sem perder a sofisticação da escrita o espetáculo segue um rumo similar, não fosse à atuação um tanto forçada de alguns atores, especialmente no inicio, já que no decorrer do espetáculo mesmo isso parece fazer parte da dramaturgia, especialmente por que Odilon Esteves que conquista por tamanha naturalidade e intimidade com seu personagem Ozório, trás críticas ácidas ao ideal de felicidade exposto pelos demais personagens.
Para além de Lóri e Ulisses, Prazer nos apresenta quatro amigos, Camilo (Claudio Dias), que se dispõe a conhecer o mundo com uma mochila nas costas em busca de si e na tentativa de minimizar o vazio de não ter assumido seu amor a Isadora (Isabela Paes), artista que beira o egoísmo com sua certeza de que tudo que faz é pelo outro, inclusive a mudança de vida em nome de seu amor por Ozório (Odilon Esteves), um médico não muito contente que vive uma crise de humanização após ser traído pelo irmão e de perceber a proximidade da morte a partir das vivências médicas, há ainda Marcos (Guilherme Theo) um comissário de bordo que foi abandonado por sua esposa Laura e aprende a conviver com o cachorro Ulisses. É a partir da relação desses quatro amigos que conversam por e-mail apesar das proximidades geográficas que se acontecem as cenas. Com a chegada de Camilo a relação se estreita para o pessoal, convival e assim se desenvolve o espetáculo, provocando emoção em alguns momentos, e confusão mental em outros, talvez pela direção compartilhada entre tantos, os próprios atores além de artistas como; Éder Santos, Jô Bilac, Mário Nascimento, Roberta Carreri, e os participantes do Observatório de Criação. Até pela falta de tempo os personagens não atingem a complexidade existencialista. Mas e na vida, atingimos a complexidade individual?
E se na direção as muitas influências provocou peso, o cenário por sua vez estimula leveza e dinamismo, acendendo uma luz na treva de cada personagem, abrindo um leque de possibilidades cênicas e ambientação. Além de trazer linguagens outras, como: a pichação de giz que desde o primeiro instante causa curiosidade, além das projeções e do vídeo grafismo que nos apresenta o cão Ulisses, que é uma graça.
O figurino fala muito sobre esses personagens e suas mascaras sociais, mas por que um médico tão racional usaria saias, se não fosse para indicar localização geografia? A luz hora operada pelos os atores dá ênfase e foco e demonstra cumplicidade a partir da tentativa de iluminar as trevas uns dos outros. A música abre espaço para reflexão e quebra a tensão.
Prazer é como o gozo, após cenas sente-se o aqui e agora. E entre a fluida água e muitos movimentos o publico sai no mínimo reflexivo sobre as tantas possibilidades do ser, por mais feio que isso pareça.

3 comentários:

  1. Lendo sua critica fiquei com vontade de saber o que vc sentiu - de verdade? o que voce pensou? fiquei com a impressão de que em sua critica, quase-copia de uma outra, sobrou vontade de acertar mas faltou você. Uma pena - foram exatamente as linhas nas quais você ousou se mostrar que mais me interessaram.

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  2. Pena que seja anônimo, pois adoraria conversar com o autor desse comentário. Meu texto não é cópia, mas não é ousado. Se ler o outro texto sobre o mesmo espetáculo, talvez descubra mais sobre essas sensações. Esse foi para um exercício que exigia esse formato. Grata!

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  3. Não sou atriz e não pertenço a essa área. Pertenço mais a área da filosofia, sociologia, antropologia e psicologia. Sou psicóloga. Antes disso, sou um ser humano que se propôs a assistir tal peça e abrir-se para o novo.

    Minha avaliação como "ser que existe e reflete", é que sobre o espetáculo faltou e faltou e faltou algo. Faltou aprofundar nas questões angustiantes; faltou drama; faltou aprofundar sobre as tais máscaras tão faladas, faltou falar sobre o artificial/superficial; niilismo; falta de sentido na vida; a solidão; o fato de estar-se com um grupo de amigos e sentir-se sozinho; o excesso/ necessidade de barulho da juventude por tão pouco ou por nada, barulho esse que nos impede de entrar em contato coo o "ser"; os medos; fugas; ilusões; fantasias.

    A peça acabou atendendo a expectativa de um público muito, muito e muito jovem. Já para mim, que sou adulta, me identifiquei com um ou dois pequenos momentos (bem pequenos por sinal). Nem sei, se o público que diz que gostou, que é o jovem, do jovem, do jovem, conseguiu enxergar a complexidade de tal proposta. Mas como sempre, no final, todos saíram da peça e foram para festa ou barzinhos, ou beber, ou ou ou....e só.


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