Sabe quando você tem a sinopse
perfeita de um roteiro sem igual e só usa um terço do material que lhe foi
entregue? Foi com essa sensação que sai do Cine Odeon neste sábado, após
assistir ao longa-metragem de René Sampaio, Faroeste Cabloco. O fato é que
precisei ouvir a música até o fim, pois ouvi-la de repente me provoca mais que
o que foi visto.
Que fique claro; o filme [e bom,
autentico, não repete as frases conhecidas por todos que compõem a emblemática música
de Renato Russo, e nem precisaria. Tem fotografias lindas, como algumas imagens
do sertão, especialmente a do céu visto de dentro de um poço vazio, ou ainda da
capital Brasília com suas cores típicas do cerrado. Os atores são envolventes, além de todos muito bonitos, uma alegria
ver em tela tão grande artistas que respeito e admiro. Isis Valverde mais uma
vez emociona, ou pelo menos me emociona, mas começo a crer que esse é um dos
talentos dela, talvez pela naturalidade, apesar dos estereótipos do filme. O
filme, a meu ver, por vezes mergulha nos filmes de faroeste mesmo, com direito
aos passos lentos e coreografados.
Existem cenas emblemáticas, que
provocam boas lembranças, mas há também algumas que beiram o “bizarro”, como a
cena de Jeremias (Felipe Abib) ao descobrir o furto de sua droga. Existem ainda
as cenas que quase contrariam a história de João de Santo Cristo, e não haveria
nenhum problema nisso, se o filme não fosse vendido como a representação cinematográfica
da música. Mas, há uma cena em especial que é original, simples, bela e honesta
onde Maria Lúcia (Isis Valverde) ensina
João (Fabrício Bolivieira – que muito me lembra Lazaro Ramos) a dirigir. É uma
cena... leve!?! Entende?
A trilha sonora é bem anos 80 e
quem já foi a Brasília, certamente identifica algumas coisas, além das
paisagens. Uma coisa é certa, sai do cinema com vontade de Brasília, de Plano
Piloto e daquele céu, senti saudade do rock, da sinuca, da alegria. O problema, se existe um, é que ouvi e cantei Faroeste
Cabloco por anos demais, decorei cada minuto, palavrinha por palavrinha e criei
o meu João e Maria Lúcia, imaginei histórias demais, e talvez seja esse o grande
risco de trabalhar a história de algo tão simbólico. De qualquer forma
reafirmo-me feliz demais com o cinema brasileiro. Semana que vem tem mais
cinema brasileiro.
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