sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

De Onde Vem a Lua?



De Onde Vem a Lua? Eu respondo: A lua vem da Ásia. Assim disse Campos de Carvalho (1916-1998), assim assisti ontem no Parque das Ruinas, com a digníssima atuação de Chico Dias e direção de Moacir Chaves.
Seis e pouco da tarde e seguimos para o Parque das Ruínas, que se trata de um Centro Cultural, onde outrora fora à casa da grande mecenas da Belle Époque carioca, Laurinda Santos Lobo. Conhecida como a “marechala da elegância”, Laurinda reunia intelectuais e artistas em sua magnifica casa em Santa Teresa. Ao chegamos, nos deparamos com uma exposição e com uma beleza de tirar o folego. Mas nada comparado ao que estava por vir.
As exatas 19:30h entrei no teatro e sentei nas primeira fila. Entrei sozinha, esqueci do mundo, fiquei nervosa.  Sentei e vi o ator, seu vulto, uma sombra. Todos falavam. Eu também falei. E ele estava lá, aquecendo-se; corpo e voz. – Ppsssssssssssiii... E assim os ânimos da plateia acalmaram-se dando lugar a um silêncio furtivamente rompido por um off intrigante. Um personagem. Ou todos aqueles vários. Naquele momento comecei a entender minha ansiedade, era só meu espirito se preparando pro por vir. E assim ouvi palavras sobre palavras, ao tempo que via um corpo falando ainda sem palavra alguma. Por que preciso alertar: O espetáculo (não existe outra definição) A Lua Vem da Ásia é constituído de 1h:30min de um discurso pra lá de verborrágico, são noventa e cinco minutos de um monologo, que consegue estabelecer várias situações. Sem nunca perder o foco de que se trata de um personagem preso em si (Como tantos de nós).
O espetáculo se divide em dois momentos. No primeiro, o personagem, cujo último nome dado a ele por ele mesmo é Astrogildo, está num quarto onde tudo parece menor que ele. Um piano, uma cama, uma prateleira: os móveis parecem servir a um anão. Não há paredes, mas é possível perceber uma diferenciação entre o piso desse quarto e o além. A iluminação é bastante significativa. Em um determinado momento, um homem entra em cena e alcança para o Díaz um prato de sopa. O signo será repetido mais adiante e ganha força, mas não consigo palavras para falar sobre essa sensação. Impossível não  citar a divisão da peça em capítulos que surgem numa ordem sem lógica, ou numa organização paralela.
Na segunda parte do espetáculo, parece que a história já não é contada no mesmo lugar em que o fora na abertura. O espaço é outro, um não-espaço talvez.  Mas certamente o que mais me chamou atenção e sensibilizou foi à verdade com que se trata de uma história triste, linda, porém triste. Linda e forte e disposta a nos levar do riso ao pranto sem nenhum aviso prévio.




Ao final o fim. Nada além, era apenas o fim e a lua ao fundo, mas para todos parecia mais, pois houve uns três segundos de absoluta contemplação até que de fato acabasse e logo um novo. Os aplausos começaram. Ao sair, a lua sorrindo da Ásia nos sorria e dizia: Sejam-se!

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