sexta-feira, 7 de março de 2014

Rosa Morena, de Carlos Augusto de Oliveira.


Era uma noite quente no Rio de Janeiro. Para alguns, carnaval. Pra mim, apenas mais uma noite de insônia, ou dias que madrugam. O fato é que eram três da manhã e eu queria continuar deitada apesar de não sentir mais sono. Foi ai, que entre filmes encontrei “Morena Rosa” e me deixei levar por ele e no geral gosto do filme, mas ele me causa certo mal estar.

O filme se divide em duas partes, começa colocando em pauta a adoção, suas possibilidades pela ilegalidade e seu comércio para estrangeiros. Anders W. Berthelsen  interpreta Thomas, um dinamarquês que vem ao Brasil visitar velhos amigos. E logo confessa seu desejo em adotar um filho. Por ser homossexual, tem dificuldade em fazê-lo na Dinamarca. Desestimulado pelos meios legais, busca orientação de um advogado de ética duvidosa que lhe apresenta outras possibilidades. Nenhuma delas legais. Thomas recusa. E ai começa a segunda parte do filme, onde ele encontra Maria, grávida, pobre, e, faz um negócio. Ele paga trezentos mil e ela o dá a criança. Thomas acompanha a gravidez e acaba por se envolver com Maria (Bárbara Garcia), seus outros filhos e com a comunidade. Cria-se ali uma relação improvável, entre o estrangeiro bem sucedido e a jovem pobre da periferia. Mas, essa relação ganhará contornos inesperados, levando os personagens a se confrontarem.

Rosa Morena é um filme gringo rodado no Brasil e não é um filme ruim, mas causou-me certo mal estar que só identifico sua origem agora ao refletir sobre o filme. Ele vem dos estereótipos, todos os personagens. O dinamarquês bonzinho, rico e cheio dos valores familiares; a moradora de favela sem estrutura psicológica, desorientada e sem controle de sua libido; a mulher de classe média politicamente correta vivida pela atriz Viviane Pasmanter, e por ai vai. Não existe nenhum tipo de aprofundamento sobre os personagens que nos ajude a compreender suas realidades, ou nos propor que nos envolvamos com eles, nem o dinamarquês, ou Maria, ou mesmo os moradores de favela. Não existe nenhum aprofundamento sobre o lugar favela, é qualquer favela, como se todas fossem exatamente a mesma. Os personagens são rasos (os atores bons), os lugares rasos (a fotografia forte), os conflitos apesar da seriedade da temática também acontecem de forma superficial. O que me leva a pensar que talvez o filme reforce alguns preconceitos já suficientemente difundidos sobre "gringos europeus" e moradores de comunidades.

Mas, o fato é que o filme me provocou e por isso preciso dá-lhe os méritos.

Um dos grandes prazeres do filme é encontrar a talentosa atriz cearense Georgina Castro em mais um longa. A atriz interpreta a irmã de Maria. 

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