Era uma noite quente no Rio de
Janeiro. Para alguns, carnaval. Pra mim, apenas mais uma noite de insônia, ou
dias que madrugam. O fato é que eram três da manhã e eu queria continuar
deitada apesar de não sentir mais sono. Foi ai, que entre filmes encontrei “Morena
Rosa” e me deixei levar por ele e no geral gosto do filme, mas ele me causa
certo mal estar.
O filme se divide em duas partes,
começa colocando em pauta a adoção, suas possibilidades pela ilegalidade e seu
comércio para estrangeiros. Anders W. Berthelsen interpreta Thomas, um dinamarquês que vem ao
Brasil visitar velhos amigos. E logo confessa seu desejo em adotar um filho.
Por ser homossexual, tem dificuldade em fazê-lo na Dinamarca. Desestimulado
pelos meios legais, busca orientação de um advogado de ética duvidosa que lhe
apresenta outras possibilidades. Nenhuma delas legais. Thomas recusa. E ai
começa a segunda parte do filme, onde ele encontra Maria, grávida, pobre, e,
faz um negócio. Ele paga trezentos mil e ela o dá a criança. Thomas acompanha a
gravidez e acaba por se envolver com Maria (Bárbara Garcia), seus outros filhos
e com a comunidade. Cria-se ali uma relação improvável, entre o estrangeiro bem
sucedido e a jovem pobre da periferia. Mas, essa relação ganhará contornos
inesperados, levando os personagens a se confrontarem.
Rosa Morena é um filme gringo
rodado no Brasil e não é um filme ruim, mas causou-me certo mal estar que só
identifico sua origem agora ao refletir sobre o filme. Ele vem dos estereótipos,
todos os personagens. O dinamarquês bonzinho, rico e cheio dos valores
familiares; a moradora de favela sem estrutura psicológica, desorientada e sem
controle de sua libido; a mulher de classe média politicamente correta vivida
pela atriz Viviane Pasmanter, e por ai vai. Não existe nenhum tipo de
aprofundamento sobre os personagens que nos ajude a compreender suas
realidades, ou nos propor que nos envolvamos com eles, nem o dinamarquês, ou
Maria, ou mesmo os moradores de favela. Não existe nenhum aprofundamento sobre
o lugar favela, é qualquer favela, como se todas fossem exatamente a mesma. Os
personagens são rasos (os atores bons), os lugares rasos (a fotografia forte),
os conflitos apesar da seriedade da temática também acontecem de forma superficial.
O que me leva a pensar que talvez o filme reforce alguns preconceitos já
suficientemente difundidos sobre "gringos europeus" e moradores de
comunidades.
Mas, o fato é que o filme me
provocou e por isso preciso dá-lhe os méritos.
Um dos grandes prazeres do filme é
encontrar a talentosa atriz cearense Georgina Castro em mais um longa. A atriz
interpreta a irmã de Maria.
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