sábado, 21 de abril de 2012

Acariciando a alma com: Concerto de Ispinho e Fulô


Quando me vi indo para Caixa Cultural para assistir Concerto de Ispinho e Fulô, demorei a me acreditar. Eu cansada, cheia de coisas para finalizar indo ao teatro ver um espetáculo que já vi algumas vezes. Mas o fato é que ele está entre os melhores espetáculos que já assisti, muito e talvez principalmente devido à honestidade com que ele nos é apresentado.
Entrar no teatro e ouvir aquele som de rádio, com direito até mesmo ao chiado, luz sobre as pernas e começa o espetáculo, que se desenrola lindamente e se divide e são tantos e com tamanha poesia, ao falar, da pesquisa teatral, e de Patativa, e do Caldeirão, do meu Nordeste tão bom e tão duro. O coração aperta e a saudade me chega como flechada na alma e eu me entrego. Entrego-me a todos, da interpretação divina de Dinho Lima Flor, como Patativa do Assaré, ao pião que roda em qualquer lugar, para executar sua missão, as vozes, o tom, os cheiros, o som da sanfona e do pandeiro. Atores com coisas sobre a cabeça, dança ritmo e histórias que se misturam com a própria história de cada um.
Com olhares fortes, mais cumplices, ganham o publico e com um humor ímpar, quebram o clima de quase dor que se sente quando remetidos há um lugar incomum para alguns, mas bem comum a outros. O cenário é simples, porém rico e a luz, inclusive quando sob responsabilidade da plateia, é interessante e ambienta em absoluto as cenas.

Costumo dizer que a quebra da quarta parede é difícil pro ator, mas certamente é mais difícil ainda para plateia, que não foi ali para fazer parte da cena, mais apenas para assistir algo. E nesse quesito também a Cia. Do Tijolo dá um show, pois conseguem nos levar para cena, antes da quebra real, leva a plateia a de fato sentir-se parte do espetáculo.
Por questões obvias é um espetáculo que recomendo muito. E mais, penso que seja quase um direito social e um dever humano, conhecer histórias tão fortes e poemas tão ricos, ditos tantas vezes por Patativa. Patativa que nunca largou a roça, nunca quis migrar. Ali nasceu e viveu, sem a completa visão externa, mais com uma memória e vivacidade que impressionam pesquisadores mesmo hoje após sua morte. Esse homem humilde, que mesmo depois dos 90 recitava qualquer um de seus poemas a qualquer hora, pois os tinha em si e que ainda, sabia tanto de Bilac, de Camões, conhecia bem a poesia clássica, mais gostava mesmo era das rimas.
E penso também ser indispensável, a consciência do quanto nossa história tem brechas enormes, como só nos é contato o que interessa, pois quase todos (e só digo quase por que nunca fiz uma pesquisa a fundo) excluíram a história do Caldeirão e do Beato Zé Lourenço. História de força, bravura, mas de muita miséria. Passando pelo processo migratório e como a poesia fortalece a luta, inspira trabalho e faz a diferença. Em determinada parte do espetáculo você tem a chance de escrever na cena o nome do “seu” lugar e devo admitir que foi delicioso escrever Ceará. E um presente ver gente de tantos lugares atuando tão lindamente narrando fatos, pessoas e poemas tão Cearenses, tão nossos, tão meu, por fazerem parte da história de um povo.
Sempre grata aos amigos da Cia. Do Tijolo por tão maravilhosos carinhos na alma, intitulado, “Concerto de Ispinho e Fulô”. Não posso deixar de parabenizar a produção digna e carinhosa da “EmCartaz- Empreendimentos Culturais”, que é responsável pela temporada no Rio de Janeiro.
Vamos brincar de assistir coisa muito boa, pagando barato? Eu curto isso! J
SERVIÇO: CAIXA CULTURAL (CARIOCA)
HORA: 19H
DIAS: 21, 22 E DE 26 A 29 DE ABRIL
PREÇO: 10 CONTO (INTEIRA) 5 CONTO (MEIA)

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