Segunda feira,
dia de São Jorge e um amigo me chama para ver uma cena forte de um bailarino se
apresentado aos Nazistas. Pronto! Ali fomos fisgados e começamos a ver o filme,
pelo YouTube, ferramenta que felizmente vem disponibilizando filmes
interessantes, esse ainda fragmentado, assistimos parte um e dois, quando um
outro amigo chegou e disse ter em mãos o mesmo filme . Começamos tudo outra vez.
O filme ao qual me refiro chama-se, “O Porteiro da Noite” (Portiere di Notte),
titulo a meu ver nada atrativo, mas que bom que outros fatos me atraíram.
A trama se constrói
a partir de um ex-oficial nazista, Max (Dirk Bogarde) que trabalha disfarçado
como porteiro noturno de um hotel e participa de um grupo secreto que visam “arquivar”
todos aqueles que podem identifica-los, e com isso impedir que tenham uma vida “normal”,
após a derrota de Hitler. Mas é a partir do surgimento de Lucia (Charlotte
Rampling) que a trama e a vida de Max tomam outro caminho. Lúcia e Max se
reconhecem do campo de concentração, onde ela era prisioneira e ele um oficial
que fazia experimentos com imagens e se apaixonou por Lúcia. O porteiro e ela que
tinham no campo de concentração uma relação sadomasoquista, ao se reencontrarem
reacendem as chamas e dessa forma, ela não só não o denuncia como acaba
voltando para ele, que em resposta tenta protege-la e para isso passam a viver
confinados dentro de um apartamento. A relação deles é tão intensa (para não
dizer absurda) que a cada vez que piora a situação, mais excitados e
animalescos ficam, especialmente Lúcia. Lembro, estamos falando de Viena, 1957.
Não posso
deixar de falar. da inegável beleza e talento de Charlotte Rampling que nos
leva com ela a trilhar todas as sensações da personagem, com quase nenhuma fala e
absoluta força cênica. Dirk Bogarde
também dá um show de atuação. A fotografia é bonita e a direção da cineasta
Liliana Cavani, muito me agrada, por nos levar a refletir profundamente sobre as
relações entre as pessoas, por tratar da complexidade dessas relações
humanas, tendo por base a relação sadomasoquista que há entre os personagens.
Ao contrário do esperado e do
dito razoável, o filme não caminha para o drama da vitima e do tirano, ao
contrário, pois ao deixar claro o prazer na relação sadomasoquista, passa para
nós uma vítima de campo de concentração que amava
ser torturada. Ao final do filme, um dos amigos comentou sobre uma teoria que
diz algo sobre o nazismo não ter sido um caminho unilateral, dessa forma, há quem diga que além do objetivo de dominar, havia o desejo de ser dominado. E
eu de alguma forma acho que possa fazer sentido. Com isso não estou dizendo que
sou a favor, nem que é certo, nem tão pouco que todos os Judeus gostavam de ser
torturados antes de morrer, nem tão pouco busco a negativa do holocausto,
apenas não estou generalizando.
Ao final, bem... O final me deixou
a desejar, esperei mais ação e menos psicológico. Pelo desejo de mais ação, me
deixei seduzir pela ideia de assisti “Anjos e Demônios”, filme baseado no livro
de mesmo nome, de Dan Brown. E como todos bem devem saber eis um livro que
conquistou o mundo, assim como seu anterior (Código Da Vinci).
O filme é tenso e estimulante, e
me mantive acordada e atenta até o fim, apesar de mil questões e eis o veneno e
antidoto desse filme. Admito que adoro
um suspense, no entanto, eles no geral provocam uma motivação interna em mim
que as vezes me angustia, nesse caso não foi diferente, a cada elemento
marcado, um novo respirar fundo e quase torcer para que os fatos da sequencia
fossem alterados de acordo com os meus anseios. E quando um filme consegue esse
mal estar (bom), mostra-se bom para mim. No caso de “Anjos e Demônios”,
aconteceu um diferente. Gosto da sequencia, mas penso que o enredo fique atrás,
em segundo plano. E possivelmente seja isso o cinema, o roteiro atrás e
justificado pelas ações. O engraçado é que no filme anterior senti falta da
ação e agora a vejo a importância do equilíbrio da mesma.
O filme começa seu movimento, após descobrirem
que um frasco de anti-matéria foi roubado, nesse momento, somos apresentados a
Robert Langdon (Tom Hanks). O ator transmite uma serenidade e uma inteligência
que dão veracidade a seu personagem. No decorrer do filme começamos a ser apresentados
a imagens do Vaticano e de Roma, mas sem grande aprofundamento em nenhum tema.
O filme segue na superfície, com ação, motivação e conteúdo guardado em algum
lugar onde não o vemos claramente, mas identificamos que ele está ali em algum
lugar. A questão é que ao aderir ao ritmo dos filmes de ação e suspense, perdem
o tempo da reflexão, tanto dos personagens, quanto de quem assiste.
Não li o livro
“Anjos e Demônios”, dessa forma não tenho como fazer nenhuma análise
comparativa, no entanto, tenho certeza, quase absoluta que personagens como o interpretado
pelo inspirador Ewan McGregor, poderiam ser melhor aproveitados. Gosto da perspectiva
da intercessão entre igreja e ciência e o respeito de um para com a outra,
tradição e inovação.
A questão é
que em dia de São Jorge fui presenteada com dois filmes ótimos, em companhias
deliciosas.
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