terça-feira, 24 de abril de 2012

E tudo não se divide entre: anjos, demônios e porteiro da noite!?


Segunda feira, dia de São Jorge e um amigo me chama para ver uma cena forte de um bailarino se apresentado aos Nazistas. Pronto! Ali fomos fisgados e começamos a ver o filme, pelo YouTube, ferramenta que felizmente vem disponibilizando filmes interessantes, esse ainda fragmentado, assistimos parte um e dois, quando um outro amigo chegou e disse ter em mãos o mesmo filme . Começamos tudo outra vez. O filme ao qual me refiro chama-se, “O Porteiro da Noite” (Portiere di Notte), titulo a meu ver nada atrativo, mas que bom que outros fatos me atraíram.

A trama se constrói a partir de um ex-oficial nazista, Max (Dirk Bogarde) que trabalha disfarçado como porteiro noturno de um hotel e participa de um grupo secreto que visam “arquivar” todos aqueles que podem identifica-los, e com isso impedir que tenham uma vida “normal”, após a derrota de Hitler. Mas é a partir do surgimento de Lucia (Charlotte Rampling) que a trama e a vida de Max tomam outro caminho. Lúcia e Max se reconhecem do campo de concentração, onde ela era prisioneira e ele um oficial que fazia experimentos com imagens e se apaixonou por Lúcia. O porteiro e ela que tinham no campo de concentração uma relação sadomasoquista, ao se reencontrarem reacendem as chamas e dessa forma, ela não só não o denuncia como acaba voltando para ele, que em resposta tenta protege-la e para isso passam a viver confinados dentro de um apartamento. A relação deles é tão intensa (para não dizer absurda) que a cada vez que piora a situação, mais excitados e animalescos ficam, especialmente Lúcia. Lembro, estamos falando de Viena, 1957.
Não posso deixar de falar. da inegável beleza e talento de Charlotte Rampling que nos leva com ela a trilhar todas as sensações da personagem, com quase nenhuma fala e absoluta força cênica.  Dirk Bogarde também dá um show de atuação. A fotografia é bonita e a direção da cineasta Liliana Cavani, muito me agrada, por nos levar a refletir profundamente sobre as relações entre as pessoas, por tratar da complexidade dessas relações humanas, tendo por base a relação sadomasoquista que há entre os personagens.
       Ao contrário do esperado e do dito razoável, o filme não caminha para o drama da vitima e do tirano, ao contrário, pois ao deixar claro o prazer na relação sadomasoquista, passa para nós uma vítima de campo de concentração que amava ser torturada. Ao final do filme, um dos amigos comentou sobre uma teoria que diz algo sobre o nazismo não ter sido um caminho unilateral, dessa forma, há quem diga que além do objetivo de dominar, havia o desejo de ser dominado. E eu de alguma forma acho que possa fazer sentido. Com isso não estou dizendo que sou a favor, nem que é certo, nem tão pouco que todos os Judeus gostavam de ser torturados antes de morrer, nem tão pouco busco a negativa do holocausto, apenas não estou generalizando.
       Ao final, bem... O final me deixou a desejar, esperei mais ação e menos psicológico. Pelo desejo de mais ação, me deixei seduzir pela ideia de assisti “Anjos e Demônios”, filme baseado no livro de mesmo nome, de Dan Brown. E como todos bem devem saber eis um livro que conquistou o mundo, assim como seu anterior (Código Da Vinci).
        O filme é tenso e estimulante, e me mantive acordada e atenta até o fim, apesar de mil questões e eis o veneno e antidoto desse filme.  Admito que adoro um suspense, no entanto, eles no geral provocam uma motivação interna em mim que as vezes me angustia, nesse caso não foi diferente, a cada elemento marcado, um novo respirar fundo e quase torcer para que os fatos da sequencia fossem alterados de acordo com os meus anseios. E quando um filme consegue esse mal estar (bom), mostra-se bom para mim. No caso de “Anjos e Demônios”, aconteceu um diferente. Gosto da sequencia, mas penso que o enredo fique atrás, em segundo plano. E possivelmente seja isso o cinema, o roteiro atrás e justificado pelas ações. O engraçado é que no filme anterior senti falta da ação e agora a vejo a importância do equilíbrio da mesma.

 O filme começa seu movimento, após descobrirem que um frasco de anti-matéria foi roubado, nesse momento, somos apresentados a Robert Langdon (Tom Hanks). O ator transmite uma serenidade e uma inteligência que dão veracidade a seu personagem. No decorrer do filme começamos a ser apresentados a imagens do Vaticano e de Roma, mas sem grande aprofundamento em nenhum tema. O filme segue na superfície, com ação, motivação e conteúdo guardado em algum lugar onde não o vemos claramente, mas identificamos que ele está ali em algum lugar. A questão é que ao aderir ao ritmo dos filmes de ação e suspense, perdem o tempo da reflexão, tanto dos personagens, quanto de quem assiste.
Não li o livro “Anjos e Demônios”, dessa forma não tenho como fazer nenhuma análise comparativa, no entanto, tenho certeza, quase absoluta que personagens como o interpretado pelo inspirador Ewan McGregor, poderiam ser melhor aproveitados. Gosto da perspectiva da intercessão entre igreja e ciência e o respeito de um para com a outra, tradição e inovação.
A questão é que em dia de São Jorge fui presenteada com dois filmes ótimos, em companhias deliciosas.


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