quinta-feira, 8 de novembro de 2012

FLUPP


Uma quarta feira, 16 horas, nos dirigimos ao estacionamento da Fundição de onde saíram os micro ônibus para abertura da FLUPP. Primeira surpresa; ausência de alguém da produção, é o primeiro ano do Festival ele precisa ser apresentado. A segunda observação, não foi bem uma surpresa, mas causou tristeza, haviam dois micros, mais uma van e um carro e apenas um pouco mais de meia dúzia de pessoas. Estamos falando de um evento único, um marco na história da literatura, da leitura, do Brasil, mas normatizamos tudo. Sinto uma falta lascada do frisson.

O Festival que acontece no Morro dos Prazeres e também no Escondidinho, teve sua abertura realizada no GEO (Ginásio Experimental Olímpico), começa desde a subida, cruzar Santa Teresa e tantos casarões repletos de história. - Eu me perguntava na subida; quem dos muitos nomes da literatura já havia se inspirado por ali. E o homenageado desse ano (Lima Barreto) já havia posto os pés ali? Há alguma literatura que conte a história desse bairro onde podemos respirar história? Perguntava-me tudo isso, em quanto, refletia sobre nossos projetos, o passo a passo e a nossa urgência em ver tudo pronto, sem que façamos nada para que se realizem. Há! Claro, pagamos os impostos.

Na chegada ao espaço um não saber bem o que fazer e mais uma vez indagamos sobre a produção. Optamos por seguir os bons sons, eram as 1000 crianças da Orquestra de Vozes Meninos do Rio. Que maravilhosos Meninos, que deliciosas canções e que bom sentir arrepios ao ouvir sons que mais parecem anjos. Pessoalmente senti saudades de cantar. Tinha um garotinho em especial que nos puxava o foco, quis saber o nome dele, mas fiquei no querer.

Só quando a apresentação dos Meninos do Rio acabou que olhei ao redor; que espaço maravilhoso. Paisagens lindas, evento bem equipado, e... Tão pouca gente. Senti falta também do protagonista da festa, o livro, uma leitura, computador que fosse, mas que contasse histórias.


Mudamos a posição das cadeiras e começam as apresentações, Júlio Ludemir, idealizador do projeto estava tão emocionado que calou-se olhando tudo por cima da lente de seus pequenos óculos, Ecio Salles, parceiro de empreitada minimizava sua ansiedade falando e agradecendo aos muitos que colaboraram com essa realização. E nessa hora vi Maria Clara Machado de pertinho, que emoção senti e que se somou com a apresentação do Coral do PROERD, que apresentaram uma deliciosa seleção musical e encantaram ao cantarem “vida, vida, esperança e paz, sonho, sonho, esperança...” – Que lindos! Não fosse a altura absurda dos microfones, seria um espetáculo completo.


Os sotaques Nordestinos me encheram de orgulho, no melhor sentido da palavra, bom demais ver que somos todos produtores de cultura e que permanecemos em plena construção social. Essa reflexão só se desconstrói quando vejo a manutenção do elitismo, as três primeiras filas são dos convidados, dos apoiadores. E não somos todos convidados apoiadores? Em média 12 pessoas desistiram do evento por serem tiradas de onde estavam sentadas. Perderam as pessoas, perdeu o evento.


É chegada a vez do grande mestre Ariano Suassuna. Como pode ele ser tão? Entre palmas e sorrisos ele contava histórias e nós a ouvíamos com atenção hipnótica. Só os gênios conseguem isso. E entre histórias urbanas e ruralismos deixávamos guiar por Suassuna que em sorrisos diz: ”Eu sou do lado de Deus!”. Não falo mais sobre a aula espetáculo, por que só para ela escreveria 20 ou 30 textos, assim deixo claro sua genialidade, assim como meu questionamento sobre onde estariam todos os que encenam e pesquisam Suassuna, que não ali. Enfim.
Foto:Roberto Lima


A questão é que ao acabar sua explanação houve uma redução de 60 % do publico, pelo menos os daquelas primeiras filas. Era a vez de Bráulio Tavares - escritor, cronista, roteirista, poeta e compositor que há 20 anos não tocava no Rio de Janeiro. Mais um sotaque nordestino e seu som levou-me como por tele transporte a alguns festejos da infância.


Depois dele as cadeiras foram sendo tiradas, o cenário foi mudando, a noite ganhou completo espaço e as luzes dos Prazeres acenderam. Sobe ao palco MV Bill e seus parceiros. No vocal uma negra linda, de voz imponente, na picape ô cara e tinha ainda um violinista, o primeiro do gênero no Brasil. E fez-se um outro som, as luzes apagaram e os corpos dançaram embalados pelas letras politizadas do rapper, escritor e ativista social que retrata o cotidiano das favelas do Rio de Janeiro em seus textos e músicas. Mais uma vez senti falta do texto, por que não uma leitura entre as tantas músicas? Depois do Bill era a vez do rapper do Líbano MC Swat.


Quis muito uma programação, para ver o que mais eu poderia aproveitar do festival, mais fui informada pela produção que tinham sido levados poucos que só no dia seguinte. E afirmou, "tem toda ela na internet, só olhar lá" e falou mais algumas coisas que não compreendi bem, por que ela falava gritando. A questão é: Mas, e se não tenho internet? E como faço para chegar? Mais uma vez a produção deixa na mão. E não me digam que é por motivo X ou Y, qualquer equipe bem preparada desenvolve um bom trabalho, faltou capacitação. Não sei se os realizadores tem ciência disso, mais o Festival não pode se tornar produto, por que ele veste outra camisa, assim deixo o pedido por maior atenção com quem faz acontecer a ideia e por que e pra quem é feito.

No mais parabéns pela ideia, pela realização, pela prioridade. Deixo o convite a todos para que compareçam e vejam de perto já fazendo parte das transformações possíveis e necessárias para nossa sociedade, para nós. Grata aos idealizadores/realizadores  por tão belo projeto realizado. Deixo meu lamento por não poder acompanhar toda programação, mas vejamos o que nos for possível. E viva a leitura, literatura, criatividade.




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