Era uma sexta feira e caminhávamos
rumo ao monumento dos Pracinhas, local idealizado pelo exército brasileiro, destinado
a receber os restos
mortais dos soldados brasileiros mortos na
Itália (Segunda Grande Guerra). Foi ali que o Grupo Galpão apresentou em seu
tablado mágico, construído com madeira de demolição, a curta
temporada de quatro dias do espetáculo, "Os Gigantes da Montanha",
obra inacabada de Pirandello, autor italiano. Até ai mera coincidência, ou não.
:)
O fato é que
para nós que estávamos na plateia, o espetáculo começou antes mesmo dos admiráveis
e admirados atores deste grupo, que é uma referencia do teatro nacional,
entrarem em cena. Bastava olhar o palco com sua cores e atrás os prédios, e o trânsito ralentado da cidade do Rio de Janeiro.
Os gigantes já se apresentavam, faltavam os ecos, a Condessa, os sonhos, a
trupe teatral e o Mago Cotrone, na cena vivido por Eduardo Moreira, mas que de
acordo com entrevista dada pela atriz Lydia Del Picchia ao Lugar artevistas (http://lugarartevistas.wordpress.com/2013/10/10/lugar-artevistas-galpao-cine-galpao/), o Mago
Cotrone desse processo, e talvez desta parceria com Galpão, é o diretor mineiro
Gabriel Villela, com quem o Galpão já havia trabalhado vinte anos antes, na
montagem do premiado "Romeu e Julieta".
A fábula de Luigi Pirandello, narra
a chegada de uma companhia teatral decadente a uma vila mágica, povoada por
fantasmas e governada pelo Mago Cotrone. Trazendo a tona a reflexão sobre o
valor do teatro, da poesia, da arte e o potencial comunicacional, apesar desse
mundo de gigantes, onde há cada vez menos tempo à contemplação e a reflexão. E
assim somos fisgados. São as cores, os tons, sons, a técnica, a luz, plasticidade,
o cenário, figurino, interpretação e texto denso, dito de forma que, quando nos
damos conta, já nos tomou.
São
duas horas de espetáculo, em um silêncio admirável, que grita sua contradição à
cidade que se movimenta frenética, logo atrás. O local de apresentação do
Galpão, veio devido a um intenso trabalho da produção, isso por que em tempos
de manifestações, propor conglomerado na rua, não pareceu sensato aos órgãos políticos.
Mas depois de assistir ao espetáculo
ali, penso que não haveria melhor lugar, principalmente pela possibilidade de
repensar e renascer, rememorar, para que então exista. E ali, mais uma vez o
teatro se reafirmou ao apresentar-se ao grande público, ao criar novos fins, ao
inicio que já é fim. E tudo isso com música, como não poderia faltar, músicas
italianas, que somadas, os ecos, ventos, fantasmas deixam tudo ainda mais belo
e poético.
Quanto ao elenco, pouco a
dizer, além do fato de que encantam, por terem um toque muito próprio dessa
identidade formada pelo que me parece uma soma de identidades. E no fim, para
deixar claro quem são e o que fazem, os atores passam pelo público cada um com
seu chapéu, para recolher o carinho e a
cortesia financeira. :)
Por fim, aproveito o texto
para agradecer: ao Grupo Galpão, ao Mago Cotrone, ao Exército, ao Marechal João
Baptista Mascarenhas de Moraes, à Gabriel Villela, Pirandello e cada um. E que
o teatro renasça e reviva, todos os dias.
P.S. O Galpão as vezes me
remete a esse filme. http://robertabonfim.blogspot.com.br/2012/03/arte-e-uma-arma-carregada-de-futuro.html
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