“O que será o contrário do amor?”
Eram quatro da manhã quando acordei e comecei a assistir o filme “Como Esquecer”. As quatro a luz é maravilhosa para assistir filmes e o mundo ainda se mantêm em silêncio. E só assim me foi possível ouvir com a alma os textos reflexivos, sussurrados pela atriz Ana Paula Arosio, que interpreta a triste, introspectiva e confusa Júlia, escritora e professora universitária .
Para pessoas que como eu, cresceram vendo a jovem e bela Ana Paula Arosio nas capas da revista Capricho; depois sua entrada triunfal na televisão, como linda e misteriosa Hilda Furacão, vê-la assim quase feia é maravilhosamente concentrada e competente em seu papel de Júlia, causa uma alegria profunda.
Quem também chama atenção é Murilo Rosa, contrariando os papeis de garanhão, mulherengo e galã que costuma fazer, no longa ele interpreta Hugo (o amigo que eu sempre quis ter.rs), um jovem ator que se recupera da morte do ex namorado e é fundamental para “evolução” de Júlia. Quem também deixa seu recado é Natália Lage que vive a alternativa Lisa. Esses três formam o que podemos chamar de família e se ajudam e respeitam, aprendem, uns com os outros.
A ousada produção traz uma protagonista lésbica, algo raro no cinema brasileiro, mas que se justifica, não a personagem, mas a iniciativa, pois é um filme que apesar de tratar sobre sentimentos, por vezes até bem difíceis e com cenas e emoções fortes, ele se mantêm leve, poético, isso além, do argumento inteligente, algo que em parte se deve ao livro no qual é baseado, Como Esquecer: Anotações Quase Inglesas, de Myriam Campelo.
Enquanto a grande maioria dos filmes, faz questão de mostrar personagens que perdem alguém e logo se consolam nos braços de alguém, Como Esquecer opta por falar sobre esse intervalo que há entre a “tragédia” e o que acontece depois. E nesse caminho, o longa-metragem de Malu de Martino vive uma relação de tapas e beijos com a dramaturgia.
O que mais me chama atenção no longa é que além da macacão impecável e do dialogo entre narrativa e personagem, é possível sentir o tempo que nos é deixado para refletir a respeito, o que por vezes é bom, mas essa cordialidade é belamente quebrada por duas personagens, que vem de fora e abalam o trio de protagonistas: a aluna de Júlia, Carmen Lygia (Bianca Comparato) e a prima de Lisa, Helena (Arieta Correa). Quando elas entram no jogo, o filme ganha outro ritimo e há uma quebra no livro de auto-ajuda que vem se criando, isso por que sobre elas nada sabemos, são incógnitas que entram e mexem, justamente porque carregam o imprevisível em suas trajetórias. Com as duas não sabemos para onde as trajetórias vão se encaminhar: elas dão aquela saudável sensação de vida.
É um filme belo, em essência e indicado aos que amam, amaram e amarão. Mesmo por que o amor segue o tempo e se prende a ele, o amor é do momento? Esta com a gente? É de verdade? E quando acaba? Como seguir? Quem se era antes de ser alguém solteiro? O que deixa saudades é o que foi sentido, a presença, ou a pessoa? “Sabe qual a diferença entre paixão e encantamento? O encantamento, dura mais!”
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