Até onde somos quem
somos? E o que somos? Sabemos? Mais do que qualquer coisa o longa de Abdellatif
Kechiche, mostra a busca do ser por si. É essa busca por si traçada por Adèle que deixa o filme tão vivo e
em um tempo tão ímpar. E me pergunto se foi um tempo proposto pela direção, ou
se é o tempo da descoberta da jovem atriz, o fato é que o filme acontece no que
me parece o tempo exato do ato. Nada é uma plena surpresa, mas nem de longe cai
no obvio e/ou no clichê.
O filme
apresenta-nos Adèle, vivida por... Adèle Exarchopoulos, que além de linda,
estimula carinho e atenção, e assim como o filme, busca o seu tempo de
acontecer. Mas, junto mostra-nos Emma (Léa Seydoux) seus olhos e cabelos azuis,
e sua vontade de arte. E assim, entre amigos, família, trabalhos, sonhos, arte
e referências como, Sófocles, Rimbaud e Alain Bousquet, as histórias dessas
mulheres se entrelaçam e há tantos entres. E nascem tantas reflexões... Lembro-me
de amigas e amigos, lembro de que alguns perdi para intensidade da descoberta
do ser.
Enfim, o filme que
traz referências explicitas e implícitas, dialoga com movimentos sociais
parisienses, como manifestos políticos e a parada gay, mas dialoga também com o
preconceito, com os medos, trocas, verdades e mentiras, desejos, pois é no
corpo que essas duas mulheres se entendem plenamente. Mas fala ainda de classe
e gênero, fala dos subsetores e mostra em pinceladas os artistas. Junto ainda
propõem fotografias belas e bem cuidadas e uma trilha sonora gostosa. Com tudo
isso, a premiação em Cannes não me parece surpresa. Talvez especialmente por
não tratar de sexualidade, mas da busca do ser que é Adèle.
Super ótimo e sensível.
Compartilho também entrevista da jovem atriz. ( http://www.youtube.com/watch?v=GTDLBk7A4Cw)