quarta-feira, 22 de junho de 2011

Foi–Uma Peças aos Pedaços

Vi indicações de um espetáculo. O nome? “Foi – Uma peça aos pedaços”. Foi do verbo ir, ou do ser. Foi de ir-se, sem perceber a ida, nem tão pouco o caminho. Permitir-se? Talvez... A questão é que gostei do titulo e sou plena admiradora dos bons títulos. Dessa forma segui para o teatro. Não? Não. O espetáculo não acontece no teatro e sim na Torre Quixadá, para ser mais exata no antigo PLatoh.
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Chegar naquele edifício enorme e encontrar pessoas queridas, todos com o mesmo objetivo, “ir?”. Sobe-se 20 andares, a pressão incomoda os ouvidos, mas logo que a porta abre nos deparamos com toda aquela luz... Nossa! Como Fortaleza cresceu! 
É possível percorrer todo espaço antes que o espetáculo comece e nesse passeio além do encantamento natural pela “beleza” da cidade, é possível esbarrar em luzes, escadas, fios e, na cidade.
Como a história do autor e também diretor, Rafael Martins é contada aos pedaços, nos dirigimos todos ao primeiro pedaço. Cadeiras pretas, dois microfones, uma escada e mais uma vez.a cidade. Para onde quer que olhemos a vemos se movimentar.
Entra em cena uma mulher, que pode ser qualquer um (a), em qualquer grande cidade. Uma fêmea, mãe, profissional, ex-esposa, mulher. E ela segue sua rotina, um cotidiano que de tanto e tamanho, torna-se automático, repetitivo, caótico e... Vazio? Talvez...
É nos dado o alerta e então nos dirigimos ao segundo pedaço. Outra disposição de cadeiras, outras luzes, uma mangueira, que é ao mesmo tempo, microfone, oxigênio e luz que demarca, questiona, aponta e julga, por não julgar-se. Foi exatamente nesse segundo pedaço onde me senti mais envolvida, o ator Jadeilson Feitosa narra outra história e se diverte com a platéia que sem saber exatamente como se comportar, mantêm-se o máximo de tempo possível em estado de conforto, até que o personagem nos leva (pelo menos me levou) a sentir um quase abuso dele, uma vontade de mandar calar a boca. Sei lá.
Mais uma vez o alerta e chegamos ao terceiro pedaço é preciso admitir que mesmo    as imagens belas e chuvas de papel não prenderam a cena. Talvez a cidade no vigésimo andar talvez seja muito calada, e ter alguém suspenso como em um mirante, precisa de mais sons, ou não... A questão é que a solidão mais uma vez faz-se presente e muitas questões são levantadas.
Só ao me aproximar do quarto pedaço, que percebi que andávamos em circulo e estávamos quase voltando ao ponto “O”. E ao me dar conta disso, lembrei-me da primeira cena e ela estava ali mais uma vez, em todos, talvez... De imediato lembrei-me do chato do segundo pedaço. Quem sabe não seria ele o “Mauricio”? Mas quem é Mauricio? E Olga? Com quantos anos deixamos de ser crianças para pensarmos como gente grande? E que graça tem ser uma pessoa grande?
Percebo também no quarto pedaço que o piso anda lentamente, quase imperceptível, ele roda e leva quem nele está; assim como a vida. E passa... O que não passa?
Antes de sair do chão que me leva, olho mais uma vez a cidade acesa lembro-me de quando as luzes do céu brilhavam mais que a do chão. Nesse momento então dou um passo e opto pelo local de chegada. Ou seria de partida? O fato é que Foi!
O Monologo de Jadeilson Feitosa, com Texto e Direção de Rafael Martins, cenário de Raíssa Starepravo e figurino de Diogo Costa, é um espetáculo delicado que, no entanto, ainda precisa ser regado, com carinho e cuidado de mãos jardineiras.
Parabéns aos colegas por mais um risco corrido nessa loucura que chamamos de arte!
 
* Ao final ainda teve um bolo super digno feito e oferecido por Marcelo Bonavides.
* Grata Ivina, sem você essa peça aos pedaços não teria sido sentida.

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