quinta-feira, 9 de junho de 2011

Shortbus

            As vezes me pergunto que serei eu um espírito evoluído, pois como ser humano estou deixando a desejar. 
Como falar sobre "Shortbs" sem falar da primeira cena? Fazer isso seria tirar 20% do impacto inteligentemente causado no espectador, que ao se permitir entrar na história e aceitar que são possibilidades já não sente tanto o impacto das cenas.
O desconcertante nu frontal provoca e comprova a sua honestidade. É tudo tão leve e possível que apesar das cenas quentes não há excitação de fato e sim um caminhar junto com essas pessoas que ali se apresentam, nenhum ator já consagrado do cinema mundial e talvez por isso mesmo, tão a vontade nas câmeras.
Nesse sentido, "Shortbus" assume as várias dimensões das suas personagens, apresentando-os em cenas de sexo explícito, onde a ideia do pornográfico surge de imediato, mas rapidamente se dilui para um entendimento, por parte do espectador. O que se vê são momentos que cada um de nós pode viver na sua intimidade, sendo por isso natural, e onde o contraste entre as figuras tipo do filme, apesar da sua excentricidade, reproduzem anseios, dúvidas e desejos que são comuns a todo o ser humano.

O "projeto para um filme de sexo" de Mitchell começou ainda nos anos 90, quando diretores como a francesa Catherine Breillat, de "Romance", resolveram explorar o erotismo em seus filmes , deixando de lado acensura sutil do fantasma da Aids. Mas Mitchell queria não somente ousar na representação, para fazer contraponto ao sexo sem suor de Hollywood. Para ele, sobrava negatividade no sexo cinematográfico, associado à frustração ou violência, e faltava humor. E um viés político.
"O sexo aparece integrado às vidas dos personagens", disse Mitchell à Folha, durante a apresentação de seu filme no Festival de Toronto.
O filme ao mesmo tempo que trás peso psicológico e cenas fortes de  sexo, consegue também usar-se do humor, o que fica clara em cenas, como a que três rapazes entoam o hino nacional americano durante um ménage à trois.
"Shortbus" --nome daqueles ônibus escolares amarelos e também de uma festa mensal que acontece em Nova York, onde acontecem os conflitos amoroso-sexuais de sete personagens: uma terapeuta sexual que nunca teve um orgasmo (Sook-Yin Lee, apresentadora de TV canadense) e seu marido (Raphael Barker), uma dominatrix solitária (Lindsay Beamish), um voyeur (Peter Stickles), um casal gay (Dawson e PJ DeBoy, namorados na vida real) que não consegue transar, e Ceth (Jay Brannan), jovem que parece ser o vértice ideal para um eventual triângulo deste casal.
Junto com todo esse conflito existe ainda muito forte a lembrança do 11 de setembro. "Shortbus" é um filme sexual e forte, mas acima de tudo reflexivo,. É o humano em busca de sua plenitude.
Para maiores de 18 anos.

Título original: (Shortbus)
Lançamento: 2006 (EUA)
Direção: John Cameron Mitchell

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