sexta-feira, 3 de junho de 2011

Dzi Croquettes

Quem são os Dzi Croquettes? E não estou usando o tempo errado não; a pergunta é quem são mesmo. Onde os vemos? Na Claudia Raia, no Miguel Falabella, na força gay, no humor, na dança e no teatro. Quem foram? Devíamos saber, mas, somos brasileiros, e como tal, portadores de uma espécie de mal de Alzheimer social.
E não é possível culpar a geração, pois foi descuido com a história do teatro, da música e da arte política, descuido com nós mesmos e com esses homens que com graça, talento e inteligência deixaram seu recado e driblaram a ditadura. Felizmente existem pessoas que prezam por cuidar do que para muitos deve ser esquecido e foi nesse resgate histórico que Tatiana Issa e Raphael Alvarez, montaram Dzi Croquettes . Especialmente para Issa (filha de Américo Issa, que fora cenógrafo do grupo), que viveu sua infância entre os Dzi 




A prova de que as novas gerações gostam de conhecer suas histórias são os prêmios ganhos no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2001: Melhor Montagem , dado a Raphael Alvarez, e principalmente pelo - Premio de Melhor Longa Documentário. - esse segundo no voto popular. Os que tiveram a chance de assistir ao documentário, com certeza ali tiveram mais uma das boas aulas de história e conheceu mais sobre a dança, os amores, as Chacretes e sobre a Bossa Nova ao falar sobre Lennie Dale (coreografo e bailarino que nasceu nos Estados Unidos e apaixonou-se pela sonoridade brasileira).
Era 70 e o Brasil vivia ainda momentos de ditadura quando o performático grupo carioca Dzi Crocrettes desafio ao regime militar com purpurinas e irreverência. Eis os grandes ícones do movimento gay no Brasil e também na Europa, onde fizeram sucesso absoluto e influenciaram muitos artistas.
A trupe formada por Cláudio Tovar, Carlinhos Machado, Paulette, Wagner Ribeiro, Bayard Tonelli, Lennie Dale, Cláudio Gaya, Ciro Barcelos, Roberto Rodrigues, Bene, Eloy, Reginaldo e Rogerio de Poly, tem sua história contada através de mais de 40 depoimentos, imagens de arquivo e até imagens captadas por um Super-8. Com entrevistas de Pedro Cardoso, Betty Faria, Geraldo Carneiro, Nelson Motta, Marília Pêra, Jorge Fernando passando por Liza Minelli (fã incondicional do grupo) e Elke Maravilha (Personagem que sempre desperta minha curiosidade). As entrevistas são entrecortadas, dessa forma, vez ou outra, é possível sentir emoções distintas com a mesma história. Os depoimentos são ricos e informativos, o que constroem uma narrativa simples e entusiasmada, pela “verdade” com que são apresentadas. Durante o filme, aqui e ali Tatiana entra em off para organizar (situar o espectador) os depoimentos que, aliás, a levam de Paris a Nova York.
Penso que talvez seja ela, Tatiana o elo que aproxima perguntas de respostas, ela que cresceu nos bastidores dessa trupe. E penso que seja exatamente essa aproximação entre quem pergunta e quem responde que faz transbordar um sentimento em candura de interesse pelo objeto documentado. E assim a força do Dzi se revela na inocência e na leveza dos relatos, são em absoluto relatos sem culpa, eram uma família.
Cabeludos, travestidos, fortes e unidos optaram por entrar na guerra com as armas da arte e conquistaram admiradores, fãs entregues e seguidoras fervorosas, além de se tornarem referência para muitos dos ótimos artistas.
(Dzi Croquettes, Brasil, 2009)
Roteiro de Tatiana Issa
Direção de Tatiana Issa e Raphael Alvarez
Com Marília Pêra, Geraldo Carneiro, Betty Faria, Jorge Fernando, Elke Maravilha, Claudio Tovar, Bayard Tonelli, Lennie Dale, Ciro Barcelos, Liza Minelli, Pedro Cardoso, Nelson Motta, Ney Matogrosso, Miguel Falabella
http://www.youtube.com/watch?v=Otch5bIi8L8

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