quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Marketing Tropicália


                                       Por Roberta Bonfim
Eu, como uma parte da população arregalei os olhos quando vi o nome Tropicália. Evitei os exageros e passei, mais logo que chegou a mensagem de um amigo com o convite, não contei pipoca e logo estava eu na frente do Odeon em um dia quente, de vento quente. Depois de um dia de trabalho duro, lá estava eu esperando os amigos com o ingresso na mão e um chopp na outra. São em dias como esse que vos falo, que entendo por que no Rio tomam tanta cerveja. Um encontro feliz e inesperado e daí as pipocas, sorvetes, chicletes. Todos equipados. Entramos na sala. Aceitamos a boa sugestão do segundo setor e colocamos as pernas pra cima.

Começa o filme e o resgate daquela mesma cena a que o Caetano diz, “Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? Vocês têm coragem de aplaudir, este ano, uma música, um tipo de música que vocês não teriam coragem de aplaudir no ano passado! São a mesma juventude que vão sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem! Vocês não estão entendendo nada, nada, nada, absolutamente nada." E eu me pergunto, ele entendeu?
Sou absolutamente fã da música de Caetano e de Gil, sou ainda mais fã da Rita Lee, o Tom Zé me foi apresentado depois, o admiro pela excentricidade, o admiro pela permanecia, pela crença. O que me parece, vez ou outra é que para alguns o tropicalismo foi um movimento, um jogo de marketing imbatível em épocas de duras repressões. A questão é que para Tom, ao que me parece tornou-se uma filosofia utópica que de alguma forma o guia. Não sei, não apenas percepções.
A realidade é que nasci um tempo depois do processo de ditadura, ele era ainda vivo e eu até senti seus impactos de forma indireta, como todos sentimos até os dias de hoje, de uma forma ou de outra. A questão é que criou-se um  imaginário heroico encima do sofrido com a ditadura. Eu mesma sempre me encanto com o poder do unir-se em prol de algo. A modernidade nos oferece lutas muito sós. E não foi em nome do individuo toda essa luta?
Estamos falando de jovens que me remetem a outros jovens. Vejo Diego Moraes nos olhos de Gil e Caio Prado na serenidade leonina de Caetano. Por todas essas sensações, pelas músicas, possibilidades de assistir mais uma vez alguns vídeos que lembro de suas reproduções em alguns lugares e situações.
E pode até ter havido todo um discurso politico, até por ser um período politico. Mas ao meu ver o tropicalismo não passou de jovens com vontade de experimentar, de quebrar parâmetros de serem diferentes. Jovens talentosíssimos, que optaram por fazer um movimento que chamasse atenção, seguindo a ideia do; “juntos somos mais fortes”. Assim nasceu o tropicalismo, a partir de jovens com vontade de fazer diferente e assim, trocaram experiências musicais e de vida.
A questão é que em algum minuto o documentário de Machado que também assina o roteiro junto a Di Moretti, fica cansativo, fica didático demais, com informações que não se completam, talvez até complete para quem viveu o momento, mas para quem apenas o observa, fica vago. Em alguns momentos a sensação é de chover no molhado.
O mais importante pra mim, foi confirmar que a tropicália pode até ter começado com Gil e Caetano, enquanto ideia, mas enquanto movimento é de todos. Grata ao movimento musical!



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