"Eu não consegui ser inteira em nada até agora.
Eu não fui inteira em nada. Eu fui toda pela metade."
Ontem assisti a um ESPETÁCULO. E
você me pergunta: - Pra que as letras garrafais? E eu te respondo: Por que há
tempos eu não assistia algo tão forte e real no teatro brasileiro. A grande
alegria desse encontro com o espetáculo “A Mão na Face” é que além de ele
apresentar um texto forte, visceral e humano, trás a cena dois atores
surpreendentes com personagens tão repletos de vida e vivências e mais, conseguem,
apesar do intimismo da cena nos transportar para outro lugar, de repente
estamos todos no camarim de um cabaré de periferia com Mara, uma prostituta
veterana, lindamente interpretada pela forte e expressiva Marta Aurélia que abre
os shows da noite, enquanto o jovem travesti, Gina, interpretado pelo talentoso
e pulsante Démick Lopes (que dá um show de interpretação), se arruma para subir ao palco, dublando a colega.
Foto extraído do blog de Danilo Costa |
Mas, é quando estão ambos no
camarim que de fato começa o show, dividido em diálogos que oscilam entre o
patético, comovente, amoroso, agressivo, intenso e superficial, os personagens
vão revelando seus infortúnios existenciais, suas magoas e fragilidades e o
quanto tudo isso pode mexer com a psique das pessonas, ao tempo em que o
publico se envolve na história desses dois personagens maravilhosamente
sofridos e reais.
E a vida? O que é a vida pra
você? Perguntou-me Gina em um de seus momentos eufóricos, ao que eu apesar da
voz grave, respondi timidamente “Boa!” ele me pediu pra repetir, e assim o fiz,
sentindo o peso da minha palavra e naquele momento quase crendo que ao dizer
isso algo poderia ser transformado na trajetória desses personagens que admitem
amor um pelo outro, entre dores, medos e feridas abertas, assumem-se e falam
sobre dignidade, sem perder os sonhos que precisam crer, para não desistir. E sobre o amor, "a outra metade da laranja... bichada!"
O texto de Rafael Martins é
maravilhoso e é nítido o amadurecimento do dramaturgo, e do ser, que consegue
tratar de temas tão tensos com doses de leveza e humor, a direção de Yuri Yamamoto
é sólida. Outro ponto auto é o jogo de luz, operado pelos próprios atores
em cena, e espelhos que possibilitam ao publico ver os personagens por pontos
de vistas distintos e simultaneamente. Esplêndida mutabilidade do ser.
Meus parabéns repletos de
admiração e orgulho ao Grupo Bagaceira de Teatro, que sob produção de Rogério
Mesquita, tem conquistado novos públicos e apresentado o bom teatro cearense.
A temporada desse espetáculo no
Rio de Janeiro acabou ontem, nessa semana, mas hoje e amanhã o Bagaceira apresenta: “Lesados”,
as 19h, no Teatro Glauce Rocha, e eu desde já confirmo minha presença no
domingo. E na Semana que vem terão mais duas apresentações de A Mão na Face, quinta e sexta, as 19h, no Glauce Rocha.
Curiosidades: Ontem foi preciso
fazer seção extra, para satisfazer o publico.
Semana quem vem ainda teremos apresentação de A Mão na Face, na quinta e sexta às 19 hs.
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