domingo, 21 de agosto de 2011

"Viver em Tempos Mortos"


Uma fila na terça, quatro horas nela, mas que problema há nisso, quando o objetivo é assistir Fernanda Montenegro? Foi assim que comecei a viver “Viver em Tempos Mortos”, preparando meu corpo e meu espirito para ver a grande diva do teatro brasileiro, falando sobre um tão forte ícone feminino da história do mundo, Simone de Beavoir.


Chego ao teatro dez minutos antes do espetáculo, sigo para minha cadeira B7, e observo o palco e as pessoas que estão ali para assistir ao espetáculo. Em off alguém nos pede para estarmos atentos aos celulares e entra em cena uma produtora cultural para ler a carta dela e dos colegas, uma carta sensível e preocupada com a cultura do nosso país.
Toca o primeiro sinal e meu coração dispara como se fosse eu a entrar no palco, toca o segundo sinal e meus olhos enchem-se de lágrimas e tudo em mim vira um turbilhão, no terceiro sinal me aquieto e espero e ela entra lentamente, senta-se em sua cadeira e a voz forte da atriz fala a feminista, conta histórias e emociona. A luz é um foco e todas as emoções são passadas pelo rosto, fala e sentimentos ali existentes, por horas penso ver ali na minha frente Simone de Beavoir e se me fosse possível eu conversaria,  ou melhor muito perguntaria, tentaria entender as entrelinhas, mas como tal não me é permitido, limito-me grandiosamente a assistir tudo, pés, mãos e olhar. Vez ou outra parecia uma boneca ali falando, tão forte as expressões de seu rosto e força de sua voz.
Liberdade, amor, acaso, Sartre, educação, pensamento, Simone, dom, solidão, paixões intelectuais e Fernanda Montenegro. Preciso admitir que em determinada hora do espetáculo eu já não identificava o foco da emoção, apenas me emocionava e me realizava com tamanho talento.
Ao final uma certa inercia, não é possível se desplugar fácil do todo visto e sentido, imagens que se desenham em nossa imaginação, estimuladas e conduzidas com maestria e cuidado. Nem sei quanto tempo de palmas e as minhas mãos não conseguiam parar de aclamar o teatro e força que se precisa ter para ali estar. Seria hora de sair e refletir sobre essas duas incríveis mulheres, mas a atriz orgulhosa (no melhor sentido dessa palavra) agradece e narra um pouco da importância do teatro Dulcinda e da própria artista que colocou e lutou pela arte, pelo teatro brasileiro como opção de vida. Dessa forma sai do teatro cheia de tantas mulheres e repleta de tantas reflexões, e sonhos e ideias e desejos e força e fé.
Algo que minhas palavras não acompanham!

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