terça-feira, 27 de março de 2012

Um Dia bem Nosso



O diretor chama, os atores se apresentam, o palhaço anuncia: Começou a fantasia! E pode ser de qualquer tipo, pode ser até real. No teatro por vezes encenamos fantasias reais ao tempo em que vivemos realidades fantásticas. E o palhaço que é curinga e nada bobo, se diverte com tudo e todos. É tudo assim desse jeito meio teatral de entrar na arena, subir ao palco e encarar as feras. Contemplar a magia bem de pertinho e vencer os medos, sentindo todas as vibrações e ao final, aquele som... 
Aquele som de duas palmas de mão se encontrando deixando claro que o encontro ali na frente, no centro ou em qualquer lugar, se desenvolveu. O aplauso é o ibope do teatro. Pena que não nos encha de patrocinadores. Mas estamos melhorando, é preciso crer e trabalhar, todos os dias. Ir fazendo tudo que precisa para se sentir feliz e de quebra receber seus bons trocados, pois viver também nos é de direito.

A questão é que as cortinas já estão abertas e é hora de viver, às vezes valem as máscaras, outras vezes elas são nossa única defesa e existem ainda os momentos em que são nossas piores inimigas. Mas o bom mesmo é a leveza da verdade. É permitir ser-se, desaprender a interpretar, quebrar essas regras que já não nos cabe mais e respeitar nossas bagagens. É preciso que entremos em cena na vida para defender nossas verdades sem nunca deixar de respeitar a vontade dos demais, e quem sabe se nos for possível contribuir positivamente à nossa arte.
Esses dias, assisti a um espetáculo que me fez lembrar por que resolvi fazer arte, pois é isso que faço, faço arte nessa vida, escrevo histórias, leio poemas, conto vidas e enceno outras, anuncio e produzo, mando fotos, registro momentos, ensino e aprendo, caminho e penso e vivo... E de verdade: O que é a vida se não um grande espetáculo? Uma grande arte!


Feliz Dia do Teatro e Do Circo, parabéns aos artistas e a arte.
Sigamos em frente e ...
Bravo!

sexta-feira, 23 de março de 2012

Um Momento!


Hoje meus, olhos, lembranças e humores se deparam com imagens que a tempos não via, imagens de um eu, e uns deles e de todos nós. Imagens que ainda existentes, já passaram e o desejo por mais.
Queria conseguir ter olhar critico, mas como criticar um momento de dança e entrega? Como criticar a arte? Quando um dos meus eu é parte dela.
Grata João Paulo e Diego, meus amigos, meus parceiros, nessa vida e em tantas outras.

quinta-feira, 22 de março de 2012

"Dance, Dance... Se não estaremos perdidos..."


Desaprendemos o silêncio? Ela não! Assim é (era) Pina, silenciosa em palavras. Mas o que são as palavras? Quando a alma fala, nada mais precisa ser dito, verbalizado, explicado. Gostaria de conseguir ser silenciosa e mostrar com minha alma as minhas mais honestas emoções, entrar em contato com o “Eu” maior, que no geral deixamos preso naquela caixinha pequenina. Pois esse “Eu” é livre, leve e certamente dança.
Pensei em muitas formas de falar sobre esse filme, além do que é visto. Gostaria de falar sobre o sentido. Enquanto não encontro uma palavra que expresse esse silêncio que grita em mim após assistir a homenagem à coreógrafa alemã Philippine Bausch (que conduziu a  Tanztheater Wuppertal, companhia de dança, durante 35 anos); falemos dos recursos técnicos e humanos utilizados:

O longa dirigido pelo cineasta alemão Wim Wenders (de Asas do Desejo, Paris, Texas e Buena Vista Social Club), utiliza-se de um recurso muito interessante para mesclar imagens em 2D: a câmera fica atrás de um projetor de cinema, assim vemos o projecionista e as costas do público, como se estivéssemos em outro cinema, ou em um teatro-dança que precisava conquistar também o cinema. A questão é que essa imagem projetada de dentro da cabine de projeção é em 2D, o que facilita a utilização das imagens de arquivo sem causar muitos danos.
Com uma fotografia simplesmente linda e poética, com imagens de lugares tão distintos e tão iguais, assim como todos nós. As coreografias são algo arrepiante, que nos leva a sentir junto com os bailarinos, sensações outras. Por vezes senti vontade de dançar, como sinto agora ao lembrar. Mesmo quem não gosta de dança vai se surpreender com algumas coreografias. A utilização dos elementos, terra e água, além dos espaços externos, que enriquecem ainda mais as imagens dando organicidade a cena que se desenvolve. Por vezes quase quis crer que eu estava na poltrona de algum teatro assistindo a algumas daquelas maravilhas. Cena do “Café Muller” que eu já havia me maravilhado em “Hable con Ella”, de Pedro Almodóvar, nos é apresentado em sua concepção. Vale dizer que o longa que tem formato de documentário, trás depoimentos dos mais diversos bailarinos de Pina e a exposição do quão visceral era seu trabalho, o que fica claro em falas como: “Você é a pessoa mais frágil do grupo, e essa é exatamente a sua força”, ou: “Procure seu caminho”. Sendo a exposição de uma arte livre.
E preciso dizer: O Brasil é lindamente representado, com dança, alegria (elemento usado pela bailarina brasileira - perdoem-me minha desatenção ao seu nome) e em música, com "Leãozinho", de Caetano Veloso.

Com tudo, não sei se temos púbico disposto a tanto, pois como já foi dito é um filme sensível e silencioso, que para um publico acostumado com X-Mam, Harry Potter, pareça um pouco monótono depois dos primeiros 30 min.
Infelizmente não conseguirei externar além, pois sinto urgência em dançar antes que música acabe.
Pina 3D – Em cartaz em um cinema perto de você

segunda-feira, 19 de março de 2012

Encontrar...


Encontrar é um verbo de ação. Quando você encontra algo, ou alguém, você está num lugar. O objeto ou a pessoa encontrada estabelece ou mantém uma relação com você. Isso tudo acontece em um ritmo, um tempo. Encontrar não é necessariamente um ponto fixo. O encontro dura qualquer tempo, um segundo, uma hora, uma vida... E uma vida nem sempre é uma ação. Dessa forma encontrar, não é Só uma ação. Seria isso? A questão é; ontem senti o gosto do prazer no encontro. Um encontro que veio do desencontro. Confuso? Então vamos por parte.
Ontem foi domingo e domingo é sempre um bom dia para se preguiçar, mas também é bom demais ir ao teatro. Existiam duas possibilidades, topei as duas, depois descobri que a primeira era um infantil. Amo espetáculos infantis quando vou com crianças. Ok! Admito, gosto do espetáculo que a criançada faz enquanto assiste, gosto de aprender com isso, mas essa observação só é feita por mim dignamente quando conheço a criança e entendo suas reações. Enfim, por preguiça não fui e quando eu já pensava em também desistir do segundo, fui convidada para um terceiro. Me conhecendo como me conheço, topei e partir sem pensar duas vezes.
Logo que chegamos ao Teatro Dulcina, percebi que se tratava de um Festival. E eu adoro festivais! Acho um grande barato, viajar fazendo o que se ama, poder apresentar esse trabalho a outros públicos, trocar experiências, ganhar uma graninha e principalmente experimentar. O espetáculo da noite: DentroFora,  Grupo IN.CO.MO.DE.TE (RS).

Duas caixas com duas personas, cada uma em uma caixa. Um homem e uma mulher, ambos com roupas lindas, apesar das listras (preto e branco) que dava ar de prisão. Ali nas caixas, presos, cada um na sua, eles conversam sobre a vida. O texto de Paul Auster trata de temas até bem curiosos. Com uma boa iluminação. Mas... 
Falta algo! 
Senti falta de ser fisgada e o louco é que é um espetáculo bom, tecnicamente bom, com uma boa proposta e bons atores, mas não chega. Não desempenha, pelo menos não desempenhou comigo seu papel de alterar a partir dessa comunicação. O que não justifica nem de longe a falta de respeito de alguns que se retiraram no meio do espetáculo fazendo barulho, pisando forte no chão. Não entendo por que essas pessoas não sobem logo no palco, já que querem ser o espetáculo.
A questão é que ali naquele teatro lindo eu vi um bom espetáculo, mas que eu não gostaria de fazer e tentei encontrar teorias que o justificassem. O Teatro do Absurdo foi o que a meu ver melhor justificou, junto com uma linha expressionista. Sei lá. É perceptível que houve uma pesquisa corporal, mas... Desencontramos-nos.
Próxima parada: Copacabana, era a vez do outro espetáculo, “de Repente”. Não sabíamos onde ficava o espaço (Chama-se Reserva, é uma loja de surf e afins de dia e nos finais de semana a noite abraçou esse espetáculo). E me questionei sobre quanto de busca há no encontro, logo que me deparei com o lugar. (Muito poderia falar sobre o momento da espera, mas existem coisas que se bastam sendo sentidas).
Entramos, sentamos no chão e... 
Fui fisgada! 
Não por que o texto trata da nordestinidade, por mais que eu me sinta orgulha com a poesia do repente e tenha matado as saudades de um som e um ritmo. Para, além disso, fui fisgada pela simplicidade, pela coragem de encarar os que estão ali, para encarar todos nós e devagarzinho ir conquistando espaço. Entre uma música e outra que os atores, também um casal, narram a história de Antônio e Solange. E também desse grupo teatral. E de olhos marejados deixei o espaço após sinceros e calorosos aplausos. Bravo! Bravo! Eis o entro esperado!
Penso que melhor que eu eles podem falar desse espetáculo tão delicioso de ver e sentir.

Serviços:
Festival – Mostra Nacional Funarte de Dança e Teatro Mambembão. 23 a 26 de fevereiro.
DentroFora
Liane Venturella
Nelson Diniz
Texto: Paul Auster
Direção: Carlos Ramiro
Espaço Reserva (finais de semana de março as 21h)
De Repente
Carol Garcia
Frederico Demarca
Texto: Carol Garcia e Fred Sommer
Direção: João Giola

domingo, 18 de março de 2012

Dorian Cray - Um pouco todos Nós


Falemos sobre Dorian Cray, falemos sobre todos nós e nossos sempre(s). Falemos sobre o Príncipe Encantado, a Vaidade, o amor, falemos sobre morte, beleza, solidão e carência e falemos sobre arte. Mas não podemos esquecer de falar da dor, da vingança, da maldade e da bondade, não podemos esquecer das prioridades e da ingenuidade, de achar-se superior. E da liberdade, da humanidade e do sonho pela divindade. Falemos sobre o feio e sobre o sexo, falemos de prazer e de medo. Falemos sobre todos nós e essas tantas dualidades. Falemos sobre Dorian Cray.  Sobre um sábado e um espetáculo, falemos sobre o tempo e a maturidade.

Entrar no teatro Glaucio Gill e procurar a poltrona marcada (nunca gostei de lugares marcados), e a atmosfera ali dentro era outra, me senti um tanto tonta, mas não uma tontura ruim, uma tontura ótima. Nessa busca pela poltrona esbarrei em um dos atores que repetindo minha pergunta pôs-se a rir e eu automaticamente acompanhei aquela gargalhada, tentando manter-me racional, continuei caminhando e sentei-me, respirando fundo e foi quando me deparei com outra atriz falando e indagando a todos nós sobre o tempo, a beleza e expondo a nós nossas vaidades, nos oferecendo um hidratante (Nívea – me questionei se a empresa estava como apoiadora). E mais uma vez eu mergulhava em uma tontura boa que deixava as imagens um pouco turvas, como se nada fossem além de lembranças.
Só quando a história tornava-se una, substituindo as tantas energias e sensações, que consegui voltar-me ao olhar de espectadora. Naquele instante lembrei-me que se tratava da adaptação do romance “O Retrato de Dorian Gray” que causou escândalo e controvérsia na Inglaterra vitoriana. Onde Dorian é um homem rico que vende sua alma em troca da juventude eterna. O tempo não altera sua aparência, mas sim a de seu retrato mágico, que não apenas envelhece, mas, sobretudo revela sua decadência interior, do dramático irlandês, Oscar Wilde (1856-1900), um defensor da arte pela arte. Senti vontade urgente de ler o livro antes que o espetáculo se desenrolasse. O que seria impossível.
E via ali na minha frente o romance que não li se desenrolar, apesar das dificuldades de converter literatura em teatro, é inegável a aproximação séria e digna que vamos desenvolvendo no decorrer da apresentação, com o romance de Wilde. Penso que tal envolvimento seja mais facilmente provocado pela interação do elenco com a plateia, nem tanto pelos textos trocados, mas pelas expressões diretas.
Meus sinceros parabéns e agradecimentos a Renato Farias e a toda equipe que nos presenteia com tão digna obra. Mas preciso também dividir meu incomodo com o forte tabaco, não sou contra utilização do mesmo em cena, acredito inclusive que ajude na ambientação, mas penso que sua diminuição, seria interessante.
Com relação ao elenco, todos estão muito inteiros, mas as atrizes me parecem mais seguras e entregues. Outro ponto é o ator Augusto Garcia que em alguns momentos não me convence em suas intenções. Mas no geral é um grande espetáculo, onde é possível perceber a pesquisa e o cuidado com o que nos é apresentado e esse respeito é fundamental.
Vou agora ler o livro e assistir aos filmes e depois assistir ao espetáculo mais uma vez. hihihihi

Serviço: Texto de Oscar Wilde. Direção de Renato Farias. Com a Companhia de Teatro Íntimo. Teatro Glaucio Gill. Sábado, domingo e segunda às 21h.   

terça-feira, 13 de março de 2012

O Homem Que Engarrafava Nuvens


"Se Baião é bom sozinho, imagine baião de dois!"



Quem conhece meu Nordeste sabe que lá é terra de gente boa, trabalhadora e talentosa. Mas que alguns se destacam, é o caso de Humberto Teixeira, cearense retado que junto com Luiz Gonzaga conquistaram a alegria merecida, presente que só quem faz música sabe. E Lírio Ferreira que não é bobo nem nada, viu ai a chance de homenagear gente tão nobre que sempre viveu à sobra de seus interpretes, com alegria de doação. e convidou para estar com ele no longa “O Homem que Engarrafava Nuvens”, Denise Dummont, filha de Humberto que aceita a empreitada e aproveita-se dela para buscar conhecer e entender melhor o próprio pai. Parte com Lírio, em viagens nas quais entrevistou pessoas importantes, que lhe contariam histórias sobre a vida pessoal e profissional desse homem que se apresentava a ela. O compositor de mais de 400 músicas e quase permanente parceiro do inesquecível Luiz Gonzaga.
O diretor vai apresentando, na primeira parte do filme, a história da vida profissional do literato, poeta, escritor e músico, narrada por ele mesmo, através de um precioso depoimento que ele gravou em super 8. Ele estourou com marchinhas e sambas, mas seu grande nicho e sua grande obra veio do baião.
O grande mérito do documentário é que ele não se prende nem ao passado e nem ao presente. Com entrevistas com: Caetano, Gil, Gal, Lirinha (Cordel do Fogo Encantado), Elba, Fagner, Belchior, Wagner Tiso, Chico, Mutantes, Zeca, Lenine, Otto, Sivuca, Patativa do Assaré, Carmem Miranda (em Technicolor!), Dalva de Oliveira, Carmélia Alves e muitos e muitos outros.
Se o remédio para a saudade for cantar, curemo-nos da nostalgia de tempos que se foram, assistindo o filme e relembrando músicas que com certeza fizeram parte da vida de todo mundo, mas que não sabemos quem as compôs.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Minha Vida na Outra Vida

Nem sei por onde começar, não sei se falo sobre o filme, ou se sobre como ele chegou a mim em um dia sensível, se falo da música, do roteiro baseado em fatos reais, dos personagens tão lindos, ou do tom em que o filme acontece e se conta e transforma tantas vidas, a partir do sonho de uma e o amor circundante.


"Minha Vida na Outra Vida", conta a história de Jenny (Jane Seymour), uma mulher do interior dos Estados Unidos, que tem sonhos e lembranças e se permitindo aceitar o novo, para tentar desvendar o mistério em torno de si e de umas lembranças, se submete a hipnose e aceita a possibilidade de Mary, uma mulher irlandesa que faleceu na década de 1930, ter sido uma de suas encarnações. Intrigada, Jenny sai em busca de seus filhos da vida passada, afim de concluir sua missão e entender suas reações atuais. Tem início então, uma jornada emocionante de profundas reflexões dos personagens, que por vezes chegou a me perturbar.
O longa metragem que tem como tema principal a reencarnação, também trata dos conflitos familiares, da perspectiva da loucura, das consequências dos atos vividos na infância e do reencontro de almas. Difícil falar tecnicamente sobre um filme que trata de assuntos tão internos. Dessa forma limito-me a dizer que é lindo e que vale muito assistir e se deixar refletir.

Adeus Lênin!

Em tempos de tamanha “liberdade”, desprendimento e globalização, assistir “Adeus Lênin!” é no mínimo uma experiência importante, para pensarmos no como poderia ter sido. O longa de Wolfganger Becker estreou em 2003, mas nunca emplacou como Blockbuster, mas a meu ver é um filme imperdível, por ser na verdade, uma impressionante crítica ao estalinismo e à reconstrução do capitalismo na ex-Alemanha Oriental. Mas além disso, fala sobre vida, sobre os detalhes e sua importância.

A história parte de uma ideia pra lá de inusitada. No final de 1989, uma fervorosa defensora do sistema — que, ao mesmo tempo, se dedicava a escrever cartas e mais cartas tentando corrigir os muitos desvios burocráticos— sofre um enfarte e entra em coma ao ver seu filho ser brutalmente reprimido em uma manifestação contra o Muro de Berlin. Passam-se oito meses. A mulher sai do coma e o filho é orientado pelos médicos a não expô-la a qualquer emoção forte.
Contudo, há um problema: no período em que esteve em coma, Erich Honecker foi afastado, o Muro caiu, a Alemanha foi unificada e o capitalismo começava a avançar a largos passos. Enfim, uma virada de 180º havia acontecido na Alemanha. Com isso, o filho decidi omitir tudo e recriar, no apartamento, o antigo regime, como se nada houvesse acontecido. Nessa recriação do “socialismo real”, com extremo bom humor, principalmente através dos programas e noticiários que o dedicado filho cria com a ajuda do amigo cineasta.
Uma das cenas mais dramáticas é quando Alex vai trocar o dinheiro achado depois de muito esforço e o mesmo já não tem valia. Outra cena maravilhosa é o encontro de Alex com seu Pai.
Com um roteiro genial e uma direção cuidadosa, além de atores competentes e uma lente que deixa as imagens de alguma forma (envelhecidas?) diferente, Adeus Lênin! É um filme que se comunica, expondo arranhões e feridas da sociedade, quando fala sobre a universitária que se torna atendente de fast-food, o desemprego crescente, a corrupção e a não assistência social. Mas não estamos falando de um filme socialista, apenas de um empolgante ataque aquilo que a burocracia e o capitalismo têm de pior.
E mais, penso que seja um filme para assistir com a família, para saber como cada geração reage aos conteúdos dessa obra de arte.

Modéstia

Fui ao Centro Cultural dos Correios com objetivo de assistir a um espetáculo do qual um amigo tá fazendo a produção. Até esse dado momento, nem o nome do espetáculo eu sabia. Na bilheteria me deparo com  Pedro Brício, de quem venho assistindo alguns trabalhos. Ele estava preocupado com o horário, não queria que nada atrasasse para que nós, público não tivéssemos que esperar. Devo admitir que naquele momento minha relação com o espetáculo e com tudo que dizia respeito tomou outras proporções. Imediatamente recorri ao programa do espetáculo Modéstia, com texto inspirado na obra do argentino Rafael Spregelburd e direção de Pedro Brício (um cara que tem respeito com o publico). Curti.
Saindo do viés das pessoalidades e entrando no teatro, logo me deparei com a imensidão e riqueza do cenário, quis que fosse a decoração de minha casa, mas nem de longe era a que eu esperava encontrar ali, já que um dos textos fala sobre Rússia e ou outro sobre a Argentina. Mas relevei a isso, e as datas. Relevei também as emoções outras que não o riso. E foi assim relevando que encontrei um espetáculo de técnica, é inquestionável a qualidade técnica do espetáculo. Que trás atores competentes e atrizes sensacionais, uma iluminação muito boa que consegue fazer bem a transição de um história para outra. É um espetáculo que não precisa ser pleno conhecedor de teatro, para saber que foi bem ensaiado.
Penso que talvez, o equivoco do espetáculo seja o texto que narra duas histórias. A primeira em Trieste, no início do século XX. Onde um escritor tubérculo, é convencido pela esposa a trocar os direitos autorais da obra escrita por seu falecido sogro, pelo tratamento com um médico que odeia a profissão. Doente, o sofrimento do escritor aumenta por conta das crises por sua falta de talento. A segunda em Buenos Aires, em dias atuais. Fala sobre um advogado casado com uma mulher fascinada por seus vizinhos coreanos. Diga-se de passagem, é esse o personagem mais engraçado. Uma vizinha que rodeia seu marido e quer se divorciar e um jovem amigo do advogado, que não me parece fazer muito sentido lógico.
O espetáculo por vezes parece um mosaico, que precisa ser organizado, mas ao mesmo tempo parece-me uma pesquisa da técnica teatral. Ao final, nada de falto foi alterado, não houve a comunicação visceral, mas certamente sai consciente e feliz com as possibilidades técnicas.

sexta-feira, 9 de março de 2012

The Help

Se há um orgulho para quem escreve é ver a escrita dando folego a história. E é isso que acontece no longa-metragem “The Help” (Histórias Cruzadas), do diretor Tate Taylor. Que além do tema forte, uma fotografia coloridas, trás um elenco afinadíssimo e basicamente feminino.


Viola Davis dá um show de sensibilidade e emoção, contando histórias que a nós brasileiros, ao mesmo tempo que parece distante, encontra-se familiaridades tristes. The Help, não se trata de um dramalhão, ao contrário, consegue dá seu forte recado sem ser piegas. Inspirado no livro de mesmo nome, o filme acompanha a saga de uma jovem determinada (Emma Stone), que aspira ser escritora e narra os abusos raciais sofridos pelas governantas negras no Mississipi, estado sulista dos EUA. Para isso precisa colher os depoimentos dessas mulheres. A primeira a romper a lei do silêncio, opressão e violência é Aibileen (Viola).
O enredo é ambientado em Jacksontown, no início de 1960. Onde não existe meio termo e a divisão é clara: Uma elite branca, reacionária e escravocrata, representada por Hilly, e o contingente de mulheres negras cuja única alternativa é o trabalho como governanta. E é entre elas que encontramos Minny (Octavia Spencer, vencedora do Oscar e Globo de Ouro de Atriz Coadjuvante), que vivencia momentos difíceis e lindos com patroas diferentes e nos leva a sentir junto com ela as sensações.
Histórias Cruzadas é um filme sobre liberdade, sobre amor, auto estima, força, lealdade, respeito e vontade cheia de coragem de fazer diferente.
Esse foi o único do Oscar 2012 que precisei assistir duas vezes por necessidade d’alma.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Roberta Bonfim: As Invenções de Hugo Cabret - Uma Aula Sobre a Sét...

Roberta Bonfim: As Invenções de Hugo Cabret - Uma Aula Sobre a Sét...: Hoje vi uma imagem que sempre esteve no meu imaginário e nunca tivera nome, nem tão pouco sobre nome, era apenas uma imagem que eu achava in...

As Invenções de Hugo Cabret - Uma Aula Sobre a Sétima Arte

Hoje vi uma imagem que sempre esteve no meu imaginário e nunca tivera nome, nem tão pouco sobre nome, era apenas uma imagem que eu achava interessante, não chega a ser bonita, mas desperta algo. Assim mais uma vez fui lembrada que a arte é feita para ser jogada nesse mundo, sem esperar retorno, status ou nada similar. Não é preciso ser estrela, é apenas pra ser divertido, feliz.


Se um dos meus professores resolvesse ler meu blog ficaria decepcionado, com o que não aprendi. Pois falo de tudo antes de explorar o assunto, fico adiando para saborear mais do ato de deixar-se escrever. Enfim... Normalmente escrevo, ainda com todas as emoções despertadas vivas em mim e não me tiro o prazer de sentir dobrado. Já que só quando escrevo entendo. (rs)
Mas falemos sem mais delongas sobre Hugo Cabret, um menininho no mínimo persistente; e todo o desenrolar dessa grande máquina, onde ele muito novinho percebeu que, somos todos peças.
“ A Invenção de Hugo Cabret”, de Martin Scorse, recebeu 11 indicações ao Oscar e levou cinco prêmios: Melhor Edição de Som, Mixagem de Som, Direção de Arte, Cinematografia e Efeitos Especiais). Contando a história do garoto órfão (Asa Butterfield de O Garoto do Pijama Listrado), que perde o pai (Jude Law) e acaba indo morar com o tio, um bêbado que é responsável por arrumar e manter funcionando os relógios da Estação de Trem de Paris, mas logo se vê sozinho e o único modo de não acabar em um orfanato é manter o trabalho do tio e fugir dos olhos de todos. A princípio é essa a história que se desenrola em tantas e consegue ainda sim ser a mesma e ser também nossa. Pois essa aventura se estende pela procura de Hugo Cabret por um modo de consertar um autômato (uma espécie de robô mecânico) deixado por seu pai, que ele acha que lhe trará uma mensagem dele, mas, que na verdade, o levará a descobrir um dos maiores criadores dessa matéria prima do cinema e com isso aprendera um pouco mais sobre sonhos.
Logo de cara, Scorsese passeia por uma Paris iluminada, entra na estação de trem, que pode ser também considerada uma das personagens principais do filme. Logo a câmera encontra o herói Hugo Cabret, se esgueirando por trás das paredes observa esse organismo pulsante que é a estação. Tudo isso antes que apareça o titulo do filme, deixa clara a vontade de Scorsese de fazer dessa experiência inesquecível, depois de 40 anos de carreira.
O ponto mais marcante do projeto é certamente a forma doce e sincera que aborda o cinema e sua trajetória. Scorsese não hesita em inserir imagens dos primeiros filmes da história, apresentando ao público do século XXI um legado que muitas vezes é esquecido. A aparição de parte da filmografia recuperada de Méliès, além dos próprios bastidores de seus curtas, surge como um aviso da necessidade de se preservar o patrimônio de uma arte, que antigamente não se dava muita atenção, mas hoje, felizmente, é cada dia mais comum. Neste momento, quando vemos trechos de Viagem à Lua (1902) reproduzidos em três dimensões, não deixa de ser triste pensar que Méliès nunca teve oportunidade de trabalhar com o 3D. Certamente seria uma novidade apreciada por este diretor que fez tanto com tão pouco.
Pensoque o maior erro de Hugo foi ter assumido a posição de infantil, ou mesmo infanto-juvenil, pois pela própria natureza do tema, o filme tem como publico os amantes do cinema. Hugo Cabret é uma obra para cinéfilos que cheia de história e emoção, cria tantas outras emoções em quem assiste.
Algo que chamo de obra de arte!

terça-feira, 6 de março de 2012

Os Descendentes

Tenho vistos muitos filmes, muitos mesmo e assim como no teatro, novelas e esmo em livros, por vezes sinto um descuido com o texto, como se todo resto o transpusesse indiferente de sua qualidade. Mas Os Descendentes, assim como Meia Noite em Paris (post outro), estão ai para mostrar que um bom texto, faz sim, a diferença O filme de Alexander Payne, por exemplo, usa diálogos inspirados para apresentar este período onde não há muita consciência sobre a melhor forma de agir e ao mesmo tempo, aflora a verdadeira essência do atingido. Provando que é no meio da crise que pode-se conhecer melhor quem é quem..

Mas falemos sobre Os Descendentes, falemos sobre os momentos que ocorrem na vida e mudam tudo de lugar, sem nenhum aviso prévio. E é exatamente essa quebra da estabilidade que constrói as relações, pelo menos no filme, onde George Clooney, interpreta Matt King. Um advogado que leva uma vida “boa” no Havaí. Casado e pais de duas filhas, algum dinheiro no banco. Até que... Tudo muda.

Sua esposa Elizabeth sofre um grave acidente e entra em coma. Matt precisa lidar com Scottie (Amara Miller) e Alexandra (Shailene Woodley), suas filhas, com quem não tem a menor afinidade. Pior, elas não o respeitam como ele gostaria. A situação piora ainda mais quando Alexandra dá ao pai a bomba definitiva: Elizabeth tinha um amante. Sem chão, Matt busca respostas. O mundo vem abaixo, mas a vida segue em frente. Afinal de contas, Matt tem uma esposa à beira da morte, uma importante decisão econômica que promete alterar a ilha em que vive e, o mais importante, duas filhas para criar. O impressionante em Os Descendentes não é propriamente a forma como Matt vai à lona, mas como vai se recuperando aos poucos. Há uma abordagem essencialmente humana, no sentido de lidar com a dor do personagem ao invés de tentar eliminá-la usando soluções rápidas.

Outro ponto que chama a atenção é a forma que Payne apresenta o Havaí. As praias paradisíacas, imagem imediata ao se pensar no local, ficaram praticamente de fora. O Havaí retratado é urbano, com engarrafamento e pobreza, como em qualquer cidade grande.

“Os Descendentes” segue a tradição do diretor Alexander Payne, trazendo uma história humana que preza pela qualidade dos diálogos. É também um filme sobre a fragilidade humana, sob vários aspectos. Muito bom.

segunda-feira, 5 de março de 2012

“A Arte é uma Arma Carregada de Futuro” Fantoche Cine Clube – Noviembre

“Me encantaria cambiar este puto mundo!” E por que não com o teatro?

Unir-se com objetivo em comum é sempre uma delicia, ter algo em que todos acreditam e torcem pela concretização é louvável e costuma fazer bem para alma e para relações. Assim iniciamos ontem o Fantoche Cine Club, organizado por Gustavo Damasceno. O que pegou a todos de surpresa foram as coincidências encontradas nos dois filmes selecionados Noviembre, de Achero Mañas e Capitães da Areia, de Cecília Amado (post outro sobre esse filme).

Falarei aqui sobre “Noviembre” e seu contra-cinema com toques de documentário. Devo admitir que segui o longa crendo que tudo havia acontecido e me perguntando,como eu não havia tomado conhecimento de um grupo como esse de tamanho impacto social em um mundo de ciberespaços. Me parecia um documentário maravilhoso, só depois soube que era ficção em formato documental, daí nesse momento, o que era bom, a mim tornou-se fabuloso.

O longa-metragem de Manas é constituído de somas. A soma perfeita de um roteiro excepcional, a uma direção atenta, uma fotografia genial e atores espontâneos, como não poderia deixar de ser já que é Noviembre, filme que apresenta-nos cinco jovens liderados pelo artista Alfredo Baeza, que convencido de que a arte transforma o estado das coisas com um idealismo utópico, com suas tentativas de estabelecer um teatro independente e livre, dos palcos, estruturas e do dinheiro, que corrompe.

A narrativa dos personagens do grupo vai como interlúdio de cenas e som documental das apresentações de rua do grupo, localizada entre 1998 e 2001, seguido por depoimentos dos personagens de 30 anos no futuro. Todos esses elementos impregnam Noviembre de realismo, além da visão honesta da crueldade e indiferença com que esse nosso mundo globalizado esmaga as tentativas de rebelião artística. Sendo, portanto, um grande filme de belas cenas e desenrolar.

Voltando as nossas coincidências;o nome do cine club é Fantoche Cine Club e é a cena de manipulação de fantoche uma das mas belas do filme, que trata de vida e histórias, de Alfredo, o grupo Noviembre, Manas e de todos que conhecem e fazem arte.

A Dama!–A Dama de Ferro

Desde de sempre pensei na interpretação como algo que deve acontecer com harmonia, sem nenhuma grande evidencia em detrimento de outras e olho as coisas por vezes com esse olhar.Mas em se tratando de Meryl Streep fica difícil. A atriz que levou sua terceira estatueta esse ano, depois de 17 indicações ao Oscar, é (pelo menos aos meus olhos) uma sumidade, tamanho seu talento e carisma. Em “A Dama de Ferro”, no entanto, não encontro palavras para dela falar, tamanho brilhantismo.

E a exemplo do que aconteceu com Marion Coutillard quando encarnou Edith Piaf, Margareth Thatcher de Streep é indiscutivelmente a coisa que realmente se destaca no longa. Tanto a parte histórica quanto a política ficam em segundo plano na trama do filme, que prefere martelar a doença e a solidão da ex-premiê britânica, que comandou o país com "mão de ferro" por mais de uma década e está lá, ainda viva.

A famosa greve dos mineiros britânicos, um dos divisores de água do governo Thatcher, é melhor explicada em Billy Elliot do que aqui e é apresentada totalmente fora de cronologia. No filme, Thatcher primeiro é quase linchada pelas greves e seus cortes orçamentários, para então ser ovacionada pelo povo quando as tropas britânicas voltam vitoriosas da Guerra das Malvinas (que aconteceru dois anos antes) para, em seguida, aparecer ao lado de grandes líderes políticos em papel de destaque. Mesmo assim, sobram momentos para Streep brilhar. A primeira cena, com a ex-primeira ministra em uma lojinha de conveniência, é sem dúvida uma das melhores do filme justamente porque dá uma visão macro do cenário sem se preocupar em focar apenas na personagem principal. Mostrando assim, a fragilidade em que a protagonista se encontra; as mudanças de parâmetro da sociedade atual e a sua indignação de viver nestes dias.

Daí pra frente inicia-se a narrativa em flashbacks que mostra a vida pregressa da biografada, desde o tempo em que Margareth (interpretada em sua versão mais jovem por Alexandra Roach) passou de filha de um pequeno comerciante do interior a mulher mais poderosa dos anos 1980.

No geral a mim parece um filme razoável, apesar da oscilação do roteiro. O que de fato é de tirar o chapéu e aplaudir de pé é a fabulosa interpretação de Streep e a maestria da equipe de maquiagem. E quando entra em cena a irreconhecível Meryl Streep, toda envelhecida e escondida atrás da prótese dentária, Sucesso unanime!

sábado, 3 de março de 2012

Tudo Nacional!




Se há algo que me agrada, é o empenho do cinema nacional, que vem se desenvolvendo lindamente em produção e qualidade. Prova disso, são filmes como “Capitães de Areia” de Celina Amado (neta de Jorge Amado) e “Boca de Lixo”, de Flávio Frederico. Ambos falam das formas encontradas de se viver nesse mundo cão.
O primeiro, “Capitães de Areia” discorre sobre traços formadores da cultura baiana, especialmente o sincretismo entre o catolicismo e o candomblé. Mas também sobre o que é preciso fazer e com qual frieza se faz, para sobreviver sendo tão só. Pedro Bala (Jean Luis Amorim) é o líder dos Capitães de Areia, grupo de menores, que sem os pais, vivem de pequenos delitos na Salvador dos anos 30. E retrata-se assim o livro do mestre Jorge Amado.
Tanto mais poderia ser dito desse filme tão bem cuidado em cenas e contexto. Mas apego-me ao fato de tratarmos de crianças na década de 1930, tão sós como as crianças de hoje e com um agravante à atualidade, as drogas devastadoras nesse universo de tanta solidão e desejo de ser-se.
Não muito obstante temos “Boca do Lixo”, com Hiroito (Daniel Oliveira), um anti-herói retratado de forma unidimensional. Assim como “Capitães de Areia”, o filme de Flávio Frederico, também foi inspirado em um livro, a autobiografia de Hiroito de Moraes, que durante os anos 50 e 60 criou um pequeno império criminoso na região da Boca do Lixo, em São Paulo, o filme acompanha o personagem enquanto este se torna uma figura temida e também seus constantes conflitos com o rival Nelsinho, que disputava com ele o título de “Rei da Boca”.

Diferentes entre si tratam de assuntos próximos. Mas em se tratando de técnica, apesar dos desconhecidos atores mirins, superam em interpretação. O roteiro é algo que também se diferencia, já que em Boca do Lixo encontra-se várias brechas de roteiro.
No mais são bons filmes que vale muito assistir, por serem os nossos filmes.


Corpos Velhos: Para que servem?

Por Roberta Bonfim Tudo que se vive é parte do que somos e do que temos a comunicar, nossos corpos guardam todas as memórias vividas, muit...