segunda-feira, 12 de março de 2012

Adeus Lênin!

Em tempos de tamanha “liberdade”, desprendimento e globalização, assistir “Adeus Lênin!” é no mínimo uma experiência importante, para pensarmos no como poderia ter sido. O longa de Wolfganger Becker estreou em 2003, mas nunca emplacou como Blockbuster, mas a meu ver é um filme imperdível, por ser na verdade, uma impressionante crítica ao estalinismo e à reconstrução do capitalismo na ex-Alemanha Oriental. Mas além disso, fala sobre vida, sobre os detalhes e sua importância.

A história parte de uma ideia pra lá de inusitada. No final de 1989, uma fervorosa defensora do sistema — que, ao mesmo tempo, se dedicava a escrever cartas e mais cartas tentando corrigir os muitos desvios burocráticos— sofre um enfarte e entra em coma ao ver seu filho ser brutalmente reprimido em uma manifestação contra o Muro de Berlin. Passam-se oito meses. A mulher sai do coma e o filho é orientado pelos médicos a não expô-la a qualquer emoção forte.
Contudo, há um problema: no período em que esteve em coma, Erich Honecker foi afastado, o Muro caiu, a Alemanha foi unificada e o capitalismo começava a avançar a largos passos. Enfim, uma virada de 180º havia acontecido na Alemanha. Com isso, o filho decidi omitir tudo e recriar, no apartamento, o antigo regime, como se nada houvesse acontecido. Nessa recriação do “socialismo real”, com extremo bom humor, principalmente através dos programas e noticiários que o dedicado filho cria com a ajuda do amigo cineasta.
Uma das cenas mais dramáticas é quando Alex vai trocar o dinheiro achado depois de muito esforço e o mesmo já não tem valia. Outra cena maravilhosa é o encontro de Alex com seu Pai.
Com um roteiro genial e uma direção cuidadosa, além de atores competentes e uma lente que deixa as imagens de alguma forma (envelhecidas?) diferente, Adeus Lênin! É um filme que se comunica, expondo arranhões e feridas da sociedade, quando fala sobre a universitária que se torna atendente de fast-food, o desemprego crescente, a corrupção e a não assistência social. Mas não estamos falando de um filme socialista, apenas de um empolgante ataque aquilo que a burocracia e o capitalismo têm de pior.
E mais, penso que seja um filme para assistir com a família, para saber como cada geração reage aos conteúdos dessa obra de arte.

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