segunda-feira, 19 de março de 2012

Encontrar...


Encontrar é um verbo de ação. Quando você encontra algo, ou alguém, você está num lugar. O objeto ou a pessoa encontrada estabelece ou mantém uma relação com você. Isso tudo acontece em um ritmo, um tempo. Encontrar não é necessariamente um ponto fixo. O encontro dura qualquer tempo, um segundo, uma hora, uma vida... E uma vida nem sempre é uma ação. Dessa forma encontrar, não é Só uma ação. Seria isso? A questão é; ontem senti o gosto do prazer no encontro. Um encontro que veio do desencontro. Confuso? Então vamos por parte.
Ontem foi domingo e domingo é sempre um bom dia para se preguiçar, mas também é bom demais ir ao teatro. Existiam duas possibilidades, topei as duas, depois descobri que a primeira era um infantil. Amo espetáculos infantis quando vou com crianças. Ok! Admito, gosto do espetáculo que a criançada faz enquanto assiste, gosto de aprender com isso, mas essa observação só é feita por mim dignamente quando conheço a criança e entendo suas reações. Enfim, por preguiça não fui e quando eu já pensava em também desistir do segundo, fui convidada para um terceiro. Me conhecendo como me conheço, topei e partir sem pensar duas vezes.
Logo que chegamos ao Teatro Dulcina, percebi que se tratava de um Festival. E eu adoro festivais! Acho um grande barato, viajar fazendo o que se ama, poder apresentar esse trabalho a outros públicos, trocar experiências, ganhar uma graninha e principalmente experimentar. O espetáculo da noite: DentroFora,  Grupo IN.CO.MO.DE.TE (RS).

Duas caixas com duas personas, cada uma em uma caixa. Um homem e uma mulher, ambos com roupas lindas, apesar das listras (preto e branco) que dava ar de prisão. Ali nas caixas, presos, cada um na sua, eles conversam sobre a vida. O texto de Paul Auster trata de temas até bem curiosos. Com uma boa iluminação. Mas... 
Falta algo! 
Senti falta de ser fisgada e o louco é que é um espetáculo bom, tecnicamente bom, com uma boa proposta e bons atores, mas não chega. Não desempenha, pelo menos não desempenhou comigo seu papel de alterar a partir dessa comunicação. O que não justifica nem de longe a falta de respeito de alguns que se retiraram no meio do espetáculo fazendo barulho, pisando forte no chão. Não entendo por que essas pessoas não sobem logo no palco, já que querem ser o espetáculo.
A questão é que ali naquele teatro lindo eu vi um bom espetáculo, mas que eu não gostaria de fazer e tentei encontrar teorias que o justificassem. O Teatro do Absurdo foi o que a meu ver melhor justificou, junto com uma linha expressionista. Sei lá. É perceptível que houve uma pesquisa corporal, mas... Desencontramos-nos.
Próxima parada: Copacabana, era a vez do outro espetáculo, “de Repente”. Não sabíamos onde ficava o espaço (Chama-se Reserva, é uma loja de surf e afins de dia e nos finais de semana a noite abraçou esse espetáculo). E me questionei sobre quanto de busca há no encontro, logo que me deparei com o lugar. (Muito poderia falar sobre o momento da espera, mas existem coisas que se bastam sendo sentidas).
Entramos, sentamos no chão e... 
Fui fisgada! 
Não por que o texto trata da nordestinidade, por mais que eu me sinta orgulha com a poesia do repente e tenha matado as saudades de um som e um ritmo. Para, além disso, fui fisgada pela simplicidade, pela coragem de encarar os que estão ali, para encarar todos nós e devagarzinho ir conquistando espaço. Entre uma música e outra que os atores, também um casal, narram a história de Antônio e Solange. E também desse grupo teatral. E de olhos marejados deixei o espaço após sinceros e calorosos aplausos. Bravo! Bravo! Eis o entro esperado!
Penso que melhor que eu eles podem falar desse espetáculo tão delicioso de ver e sentir.

Serviços:
Festival – Mostra Nacional Funarte de Dança e Teatro Mambembão. 23 a 26 de fevereiro.
DentroFora
Liane Venturella
Nelson Diniz
Texto: Paul Auster
Direção: Carlos Ramiro
Espaço Reserva (finais de semana de março as 21h)
De Repente
Carol Garcia
Frederico Demarca
Texto: Carol Garcia e Fred Sommer
Direção: João Giola

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