Falemos sobre Dorian Cray,
falemos sobre todos nós e nossos sempre(s). Falemos sobre o Príncipe Encantado,
a Vaidade, o amor, falemos sobre morte, beleza, solidão e carência e falemos
sobre arte. Mas não podemos esquecer de falar da dor, da vingança, da maldade e
da bondade, não podemos esquecer das prioridades e da ingenuidade, de achar-se
superior. E da liberdade, da humanidade e do sonho pela divindade. Falemos
sobre o feio e sobre o sexo, falemos de prazer e de medo. Falemos sobre todos
nós e essas tantas dualidades. Falemos sobre Dorian Cray. Sobre um sábado e um espetáculo, falemos sobre
o tempo e a maturidade.
Entrar no teatro Glaucio Gill e
procurar a poltrona marcada (nunca gostei de lugares marcados), e a atmosfera
ali dentro era outra, me senti um tanto tonta, mas não uma tontura ruim, uma
tontura ótima. Nessa busca pela poltrona esbarrei em um dos atores que
repetindo minha pergunta pôs-se a rir e eu automaticamente acompanhei aquela
gargalhada, tentando manter-me racional, continuei caminhando e sentei-me,
respirando fundo e foi quando me deparei com outra atriz falando e indagando a todos
nós sobre o tempo, a beleza e expondo a nós nossas vaidades, nos oferecendo um
hidratante (Nívea – me questionei se a empresa estava como apoiadora). E mais
uma vez eu mergulhava em uma tontura boa que deixava as imagens um pouco
turvas, como se nada fossem além de lembranças.
Só quando a história tornava-se una,
substituindo as tantas energias e sensações, que consegui voltar-me ao olhar de
espectadora. Naquele instante lembrei-me que se tratava da adaptação do romance
“O Retrato de Dorian Gray” que causou escândalo e controvérsia na Inglaterra
vitoriana. Onde Dorian é um homem rico que vende sua alma em troca da juventude
eterna. O tempo não altera sua aparência, mas sim a de seu retrato mágico, que
não apenas envelhece, mas, sobretudo revela sua decadência interior, do
dramático irlandês, Oscar Wilde (1856-1900), um defensor da arte pela arte. Senti
vontade urgente de ler o livro antes que o espetáculo se desenrolasse. O que
seria impossível.
E via ali na minha frente o
romance que não li se desenrolar, apesar das dificuldades de converter
literatura em teatro, é inegável a aproximação séria e digna que vamos
desenvolvendo no decorrer da apresentação, com o romance de Wilde. Penso que
tal envolvimento seja mais facilmente provocado pela interação do elenco com a plateia,
nem tanto pelos textos trocados, mas pelas expressões diretas.
Meus sinceros parabéns e
agradecimentos a Renato Farias e a toda equipe que nos presenteia com tão digna
obra. Mas preciso também dividir meu incomodo com o forte tabaco, não sou
contra utilização do mesmo em cena, acredito inclusive que ajude na ambientação,
mas penso que sua diminuição, seria interessante.
Com relação ao elenco, todos
estão muito inteiros, mas as atrizes me parecem mais seguras e entregues. Outro
ponto é o ator Augusto Garcia que em alguns momentos não me convence em suas
intenções. Mas no geral é um grande espetáculo, onde é possível perceber a
pesquisa e o cuidado com o que nos é apresentado e esse respeito é fundamental.
Vou agora ler o livro e assistir
aos filmes e depois assistir ao espetáculo mais uma vez. hihihihi
Serviço: Texto de Oscar Wilde. Direção de Renato Farias. Com
a Companhia de Teatro Íntimo. Teatro Glaucio Gill. Sábado, domingo e segunda às
21h.
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