domingo, 18 de março de 2012

Dorian Cray - Um pouco todos Nós


Falemos sobre Dorian Cray, falemos sobre todos nós e nossos sempre(s). Falemos sobre o Príncipe Encantado, a Vaidade, o amor, falemos sobre morte, beleza, solidão e carência e falemos sobre arte. Mas não podemos esquecer de falar da dor, da vingança, da maldade e da bondade, não podemos esquecer das prioridades e da ingenuidade, de achar-se superior. E da liberdade, da humanidade e do sonho pela divindade. Falemos sobre o feio e sobre o sexo, falemos de prazer e de medo. Falemos sobre todos nós e essas tantas dualidades. Falemos sobre Dorian Cray.  Sobre um sábado e um espetáculo, falemos sobre o tempo e a maturidade.

Entrar no teatro Glaucio Gill e procurar a poltrona marcada (nunca gostei de lugares marcados), e a atmosfera ali dentro era outra, me senti um tanto tonta, mas não uma tontura ruim, uma tontura ótima. Nessa busca pela poltrona esbarrei em um dos atores que repetindo minha pergunta pôs-se a rir e eu automaticamente acompanhei aquela gargalhada, tentando manter-me racional, continuei caminhando e sentei-me, respirando fundo e foi quando me deparei com outra atriz falando e indagando a todos nós sobre o tempo, a beleza e expondo a nós nossas vaidades, nos oferecendo um hidratante (Nívea – me questionei se a empresa estava como apoiadora). E mais uma vez eu mergulhava em uma tontura boa que deixava as imagens um pouco turvas, como se nada fossem além de lembranças.
Só quando a história tornava-se una, substituindo as tantas energias e sensações, que consegui voltar-me ao olhar de espectadora. Naquele instante lembrei-me que se tratava da adaptação do romance “O Retrato de Dorian Gray” que causou escândalo e controvérsia na Inglaterra vitoriana. Onde Dorian é um homem rico que vende sua alma em troca da juventude eterna. O tempo não altera sua aparência, mas sim a de seu retrato mágico, que não apenas envelhece, mas, sobretudo revela sua decadência interior, do dramático irlandês, Oscar Wilde (1856-1900), um defensor da arte pela arte. Senti vontade urgente de ler o livro antes que o espetáculo se desenrolasse. O que seria impossível.
E via ali na minha frente o romance que não li se desenrolar, apesar das dificuldades de converter literatura em teatro, é inegável a aproximação séria e digna que vamos desenvolvendo no decorrer da apresentação, com o romance de Wilde. Penso que tal envolvimento seja mais facilmente provocado pela interação do elenco com a plateia, nem tanto pelos textos trocados, mas pelas expressões diretas.
Meus sinceros parabéns e agradecimentos a Renato Farias e a toda equipe que nos presenteia com tão digna obra. Mas preciso também dividir meu incomodo com o forte tabaco, não sou contra utilização do mesmo em cena, acredito inclusive que ajude na ambientação, mas penso que sua diminuição, seria interessante.
Com relação ao elenco, todos estão muito inteiros, mas as atrizes me parecem mais seguras e entregues. Outro ponto é o ator Augusto Garcia que em alguns momentos não me convence em suas intenções. Mas no geral é um grande espetáculo, onde é possível perceber a pesquisa e o cuidado com o que nos é apresentado e esse respeito é fundamental.
Vou agora ler o livro e assistir aos filmes e depois assistir ao espetáculo mais uma vez. hihihihi

Serviço: Texto de Oscar Wilde. Direção de Renato Farias. Com a Companhia de Teatro Íntimo. Teatro Glaucio Gill. Sábado, domingo e segunda às 21h.   

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