sexta-feira, 15 de outubro de 2010

...Inspirados pelos Bichos humanos!

Humanos? Homens? Bichos? Urubus? Números? Mais um? O que somos afinal? Quem fez essa divisão de vida esqueceu-se que existe algo em nós que doe além do corte, da bala. Somos humanos e temos uma coisa pouco valorizada e de peso incomensurável, temos sentimentos E é como eles codificam a informação que faz com que ela tenha suas mais diversas interpretações e seria, sendo assim, na possibilidade de sermos apenas cérebro.

Bichos humanos... Bichos e seus instintos, capacidade de construção, mas principalmente de destruição. Bichos humanos!

E é como bichos humanos, ou humanos bichos, que Plínio Marcos apresenta o homem em seu texto Barrela. O autor se caracteriza por seu teatro “sujo”, retratando muito bem o submundo, para qual fechamos os olhos. Eles simplesmente não existem para um grande parcela da sociedade. É o homem despido de valores, financeiros ou não, é ele desnudo.

Hoje entendo o porquê da censura por tantos anos. Vivemos em um sistema absoltamente hipócrita, onde somos permanentemente obrigados a usar filtros para dizer o que queremos e até mesmo precisamos e Plínio Marcos queria falar a verdade, sem utilização dos filtros nem de nada.

O texto Barrela que foi inspirado em uma história real, onde um jovem preso (inocente) foi estuprado por todos de sua cela e ao se ver livre, matou um por um. Eis o homem como bicho, vingativo e em busca de recuperar sua honra roubada. Eis Plínio Marcos e suas verdades tidas como sujas.

São três guardas (policiais) que nos recebem quando chegamos no Sesc Iracema e entre ordens e gritos um texto nos é oferecido. Em fila e com o documento na mão vamos entrando em uma atmosfera diferente, roupas espalhadas, cheiro de fumo “brabo”, luzes, sons e... Somos engaiolados!?! (Posso parecer louca, mas a sensação da está dentro da prisão não me foi nenhuma novidade, afinal, todos vivemos permanentemente presos).

Redes armadas, uma privada de chão, a imagem me remeteu as minhas percepções do livro Estação Carandiru (Dráuzio Varela), felizmente nunca estive em um lugar como aqueles. Minhas prisões são outras.

É quando o Portuga (Marcos Amaral) diz: - “Outro Dia!” (ou seria mais um dia?) O que interessa e que dessa frase em diante o clima de tensão toma conta de todos os espaços livres e nos coloca diante de uma realidade dolorosa. O doido (Fábio Frota) é uma tensão a parte.

O espetáculo é uma produção do Grupo Imagens de Teatro, sob a direção de Edson Cândido e conta com grande elenco. O grupo se dispôs a fazer um trabalho de pesquisa em cima das obras de Plínio Marcos, antes apresentaram “Abajú Lilás” não menos forte e reflexivo. Eu aconselho a todos esse momento de percepção e reflexão.

Vale salientar que quando acabou o espetáculo toda platéia estava tão anestesiada que ficou mais um ou dois minutos parada imóvel, olhando e sentindo tudo aquilo.

Barrela

Sesc Iracema quinta-feira dia 21 de outubro as 20h.

Valor :R$ 20,00 (inteira) R$ 10,00 (meia)

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