Cinema lotado, última sessão da noite, burburinho e bate boca. Todos tinham convite, mas nem todos tinham lugar. Um documentarista que graças a minha falta de conhecimento, não sei o nome, mas deve ser bem quisto, pois foi por conta dele que as portas se abriram e eu pude aproveitar para entrar. Cinema lotado, gente sentada em todos os lugares e eu senti uma emoção boa de compartilhar do mesmo desejo.
Alguns minutos procurando possibilidades, pois cadeiras só em sonho e dormir não estava nos planos. Uma escadinha, no segundo piso, foi assim que assisti a estréia de Eduardo Nunes no universo do longa-metragem e foi à estréia dele também, na minha vida.
Dadas as apresentações começa o filme, não sem antes viver os risos e vaias nas propagandas que antecedem ao filme, hora talvez de rodar um novo filme, ou mesmo usar isso para fazer propagandas. Eu nessa hora comia os doces dados pelo Canal Brasil e assistia gente se manifestando. Todos iguais, e uns menos iguais que outros. Até que começa o filme e o silêncio ganha os espaços.
A imagem em preto e branco, os sons são apenas sons na maioria das vezes, e a poucas falas que existem, são em absoluto cotidianas, apenas para marcar a perspectiva de tempo de cada um. Clarice nasce, cresce e morre envelhecida, tudo no mesmo dia, mas os demais vivem o cotidiano. É o corpo quem fala através da excelente atuação. O que não falta em Sudoeste, é é talento e trás no elenco: Dira Paes, Mariana Lima, Simone Spoladore, Júlio Adrião, Everaldo Pontes, dentre outros não menos importante.
"Sudoeste" era um dos filmes mais esperados na Première Brasil do Festival do Rio. A explicação é simples: recebeu elogios de crítica e público em todos os lugares onde foi exibido, em festivais nacionais e internacionais. E ao acender das luzes do cinema, os aplausos ecoavam, parecia não ter fim.
E assim o diretor Eduardo Nunes, que vive o projeto Sudoeste já há dez anos, tem todo direito de se emocionar, ao ver todo publico aplaudido ao seu filme de pé, após 2h10min, onde os diálogos representam apenas 30% da composição.
Dira Paes talvez seja quem tem o papel mais dramático e mais sensível, já que percebe o quanto a criança é diferente. Mariana Lima faz mais uma magnífica interpretação, mas devo admitir que dessa vez quem de fato me surpreendeu, foi Simone Spoladore em sua atuação, onde era ainda meio criança, ao reconhecer-se mulher. É incrível o que acontece com Clarice, nessa sutil e sensível fabula.
Ao sair do cinema a sensação de ter acabado de assistir a uma obra de arte.
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