segunda-feira, 10 de outubro de 2011

É o que há…

Depois de assistir a três documentários seguidos; Di Cavalcanti de Glauber Rocha, Santiado de João Moreira Salles, Jogo de Cena de Eduardo Coutinho e ter e emocionado muito nos três, tudo que eu precisaria dizer era: A vida me emociona! Mas teimo em dizer mais, que ela inspira e entristece, mesmo quando cheia de alegria, á vida e isso, vida. E por serem várias e todas serem unas, o documentário alcança uma emoção que a ficção sozinha não consegue.

Em Jogo de Cena, Fernanda Torres diz: “É muito difícil! Que enrascada! Interpretar um personagem da ficção se chegamos ao medíocre por vezes tá bom, mas interpretar alguém real...” Deve ser algo como esta na frente do espelho, tendo a nossa frente o onde poderíamos ter chegado e não chegamos. Algo assim, que torna o trabalho de interpretar mais difícil.

Mas documentário precisa de bons personagens, não de grandes artistas. Por mais que em jogo de cena, Eduardo Coutinho tenha se usado de grandes interpretes, como; Andréia Beltrão Marília Pêra, Fernanda Torres, são as mulheres o personagem, são mulheres e suas historias, de amor, morte, abandono e volta por cima. Junto com as vozes das mulheres na sala de teatro, ouve-se Coutinho, instigando, perguntando, direcionando.

Entre planos abertos e focos, segue o Jogo, segue a cena desse cinema de vida real de entrega e desprendimento total, ao vivo, a cores, com tanta gente e tão sós. Contrariando Jogo de Cena, tem Santiago, de João Moreira Salles, sempre com cena abertas, com uma forte barreira entre entrevistado e documentarista, a barreira da distancia, da idade, da maturidade. Um era o filho do patrão, o outro o mordomo.

Admito minha dificuldade de conceber que Santiago, o homem que escreveu tantas páginas sobre a história, que praticava todos os dias exercícios nas mãos, que mais me pareceu uma dança ensaiada exaustivamente, e as castanholas... Tenha sido um mordomo e com tanta sabedoria, mantinha-se fiel e obediente ao seu patrãozinho.

O mais interessante talvez seja o fato de que o documentarista vai explicando, ou tentando justificar cenas e ações, outras ele apenas lamenta e assumi sua imaturidade no ato da filmagem. Mostrando a casa onde moraram e deixando expostas as marcas. Salles também trabalha com cinema verdade, como o bruto ficou guardado por anos, para tornar-se “Santiago”, precisou ser sonorizado, havendo quebra apenas para falas de Santiago e para os momentos em que nada precisa ser dito. Ao final o texto que o personagem quis diz e o documentarista não permitiu; talvez a melhor fala. Talvez... Pois assim como Di Cavalcanti, Santiago também não esta mais entre nós. Dois artistas e suas vidas, suas mortes.

Foi a morte de Di Cavalcante, que chamou a atenção e a lente de Glauber, no velório, em suas telas, sua família e amigos, pistas, caminhos destinos e um sorriso muito próprio de Di Cavalcante. Não é um longa, não segue muitos padrões, não é autorizado, mas emociona, chama atenção, mostra, indica e homenageia. O som parece de radio da época, as músicas falam por si, a leitura é do jornal falando sobre a filmagem e assim se fez Di Glauber.

Cheia de tantas vidas respiro e me inspiro e admito que me parece muito mais humano dar voz a quem vive, do que criar novas vozes para pessoas que criamos. Questões talvez Ra um próximo texto.

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