quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Bacantes

“IO, Tebas!/Terreira!/Mama de Semele/Coroa a tua cabeça de hera!/Pra sangrar, pra brotar/A vinha verde/Os novos frutos./Te fantasia!/Pra dançar nas bacanais/Com ramo de pinheiro e palmares/Com pele de viadinho/Plumas e brilhos /Pega com fé/A vara libertina/Que a terra toda vai dançar!”-(Canto das Bacantes)

 

Chego ao Theatro José de Alencar as 5:40h/min e a fila para receber as pulseiras de entrada já esta feita e em desenvolvimento, alguns minutos depois recebo a minha e saiu do teatro pra comer algo evitando assim a dor no estomago de fome que senti na noite anterior. (risos) Ao voltar, portas do teatro fechadas, pessoas do lado de fora gritando, senti uma pequena angustia pela possibilidade de talvez não assistir, mas sentia também uma felicidade tremenda em ver o teatro lotado. E não tinha nenhum global ali, nenhuma celebridade vendida pela grande mídia, é o Teatro Oficina, de José Celso Martinez com o espetáculo Bacantes.

A entrada é sempre um pouco tumultuada a principio, nada demais, apenas o desejo de sentar-se em um bom local, para assistir e participar do espetáculo, mas na apresentação das Bacantes, talvez pela música e presença dos atores que nos receberam da sacada do teatro, cheios de beleza e energia a entrada foi ainda mais difícil.

Mais uma vez optamos pelo camarote, já que ao ficar muito perto corremos o risco de sermos os mais acessados da internet.(RS) E como bem diz a atriz sempre no começo do espetáculo “Aos que não quiserem liberar suas imagens, podem sair agora!” Em nenhum dos três dias ninguém saiu. Será que temos real consciência da responsabilidade que assumimos? Melhor não pensar a respeito. Nem Caetano escapou das Bacantes. (Informação adquirida ontem).

Véus separam o publico da cena, ao ritmo do samba começa o espetáculo, que assim como Cacilda também tem seis horas de duração com dois intervalos. Os atores giram em cena e com a beleza das cores, luz, som e dentro de um teatro tão belo e rico, como o Theatro José de Alencar, deixei-me capturar. Era eu assistindo a um enorme ritual grego, eu grega, aprovando em palmas e desaprovando em vaias. Todos estavam inundados dessa energia, os ânimos da platéia se alteravam, gritos de fora do teatro pediam para que abrissem as portas, rituais... A chegada de Dionysios, deus do teatro, do vinho e do carnaval, filho de Zeus e da mortal Semelle.

Primeiro intervalo e abrem as portas do teatro, a cena de todas aquelas pessoas entrando de uma vez, tão cheias de energias a principio me assusta, dando-me a sensação de que o espetáculo continuava acontecendo, de tão surreal que foi a cena.

No segundo ato os humores já estavam alterados e se não fosse a comicidade do espetáculo e a capacidade de desconstruir, que sai do drama grego e me aparece com Mamonas Assassinas, levando todos ao riso; não quero nem imaginar onde acabaríamos todos. Afinal, não serei eu a duvidar da força dos deuses. (risos) Não duvido mais é de nada, depois de ver um homem sendo puxado da platéia, com uma cabeça de boi, tendo suas roupas tiradas, corpo tocado por tantas mãos e aceitando a força do boi impressionou por sua presença cênica, deixando inclusive a dúvida se aquilo já não havia sido combinado. Ô povo descrente!

No retorno do segundo intervalo, a energia estava lá em cima, lembro de ter perguntado a um amigo: - “Sou eu que estou vendo demais, ou esta todo mundo muito agitado?”, ao que ele me respondeu com um sorriso de cumplicidade. Mas ao contrário do que se esperava a energia do espetáculo caiu e contrariando a idéia de que os cinco primeiros minutos são os mais importantes por que conquista o publico, os cinco últimos são os que voltamos pra casa refletindo.

Mais uma vez parabenizo a técnica, apesar de o som continuar dando problemas. Bom demais ver a cena limpa como mágica. (risos) E “se o amor é cego, é preciso apalpar!” Hoje é o Banquete, o último espetáculo das Dionisíacas em Fortaleza. As senhas de entrada começam a ser entregues uma hora antes. Até lá! Hoje vou ver se sento em baixo. Será?

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