segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Encantrago -Ver De Rosa Um Ser Tão

Deveria ser apenas mais um domingo, mas foi, além disso, foi um dia de sensações. Como então transcender a todas elas? Colocando outras, melhores em seu lugar. E assim entra o espetáculo Encantrago – Ver de Rosa um Ser Tão.

Logo na fila (bom demais ver fila em teatro, me emociona de verdade), os atores nos recebem, ou melhor, convidam a entrar com música, cores e dança. A entrada no teatro é escura, iluminada apenas pelas luzes das lamparinas, a ambientação é feita, cheiros, sons e em especial o silêncio.

E assim o mítico das vivências sertanejas ganha a arena do Teatro Sesc/Senac Iracema, inspirado nos contos “A Menina de Lá”, “A Hora e a Vez de Augusto Matraga” e do romance “Grandes Sertões: Veredas”, de Guimarães Rosa, sob a direção de Hêre Aquino como resultado da união de dois grupos de teatro; Expressões Humanas e Teatro Vitrine.

Impossível não se emocionar com a cultura popular evocada pelas cantigas de roda, cirandas, cocos e outras sonorizações, feitas ao vivo. É uma viagem a outro tempo e costumes. Um cenário de vida e de morte onde a Grande Mãe (Gaia, Oxum) está em seu centro, conferindo o sentido da existência humana, por isso mesmo, contraditória, o tempo todo permeada pela presença de Eres, o Deus mitológico da discórdia, do caos estabelecido pelo homem. Ambos os personagens dignamente interpretados, me fazem crer em tudo o que vejo e ouço.

Outro ponto que me chama atenção é a força masculina em um espetáculo com 9 pessoas em cena, onde apenas duas são do sexo masculino, mas como bem se sabe ator não tem sexo. E bem posso estar enganada, mas essa energia masculina passada por lindas mulheres me leva a crer ainda mais na força mítica do espetáculo.

Quer dizer, não interessa o sertão por seus estereótipos, mas por seus aspectos mais humanos, por isso mesmo, míticos. “a ritualização no teatro, o sagrado e o profano, buscando uma suspensão do tempo cronológico, desse estar presente em um local que não é somente o teatro, mas este sertão nordestino, este sertão brasileiro, este sertão humano”, diz a diretora.

Eu por minha vez só lamento, que não me tenham servido aquela cachacinha boa. Falo que é boa, pois já tomei em outro momento de Encantrago, antes mesmo de nos representarem com dignidade e profissionalismo pelo Brasil a fora, com o Palco Giratório. Desde sempre comento que não é um espetáculo que se assista apenas uma vez, pois contêm muitos elementos e um texto rico em nordestinidade e poesia. É preciso pelo menos duas, uma para que se dê o direto de admirar-se com as imagens construidas com ou sem som, outra para que ouça a poesia. O ideal é que na terceira comece por fim a fazer parte de tudo aquilo por intimidade e genealogia. Hihihihi...

Ontem encerrou a temporada e houve a saída de duas grandes atrizes do Vitrine, que partem para outros projetos. Eu apenas agradeço por tamanha beleza vista e sentida. E fico no aguardo por mais.

Estréia em março espetáculo infantil do Grupo Expressões Humanas. Saber mais: http://grupoexpressoeshumanas.blogspot.com/

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