Uma quarta feira, 16 horas, nos
dirigimos ao estacionamento da Fundição de onde saíram os micro ônibus para
abertura da FLUPP. Primeira surpresa; ausência de alguém da produção, é o
primeiro ano do Festival ele precisa ser apresentado. A segunda
observação, não foi bem uma surpresa, mas causou tristeza, haviam dois micros,
mais uma van e um carro e apenas um pouco mais de meia dúzia de pessoas.
Estamos falando de um evento único, um marco na história da literatura, da
leitura, do Brasil, mas normatizamos tudo. Sinto uma falta lascada do frisson.
O Festival que acontece no Morro
dos Prazeres e também no Escondidinho, teve sua abertura realizada no GEO (Ginásio
Experimental Olímpico), começa desde a subida, cruzar Santa Teresa e tantos
casarões repletos de história. - Eu me perguntava na subida; quem dos muitos
nomes da literatura já havia se inspirado por ali. E o homenageado desse ano (Lima Barreto) já havia posto
os pés ali? Há alguma literatura que conte a história desse bairro onde
podemos respirar história? Perguntava-me tudo isso, em quanto, refletia sobre
nossos projetos, o passo a passo e a nossa urgência em ver tudo pronto, sem que
façamos nada para que se realizem. Há! Claro, pagamos os impostos.
Na chegada ao espaço um não saber
bem o que fazer e mais uma vez indagamos sobre a produção. Optamos por seguir
os bons sons, eram as 1000 crianças da Orquestra de Vozes Meninos do Rio. Que
maravilhosos Meninos, que deliciosas canções e que bom sentir arrepios ao ouvir
sons que mais parecem anjos. Pessoalmente senti saudades de cantar. Tinha um
garotinho em especial que nos puxava o foco, quis saber o nome dele, mas fiquei
no querer.
Só quando a apresentação dos Meninos
do Rio acabou que olhei ao redor; que espaço maravilhoso. Paisagens lindas,
evento bem equipado, e... Tão pouca gente. Senti falta também do protagonista
da festa, o livro, uma leitura, computador que fosse, mas que contasse
histórias.
Mudamos a posição das cadeiras e
começam as apresentações, Júlio Ludemir, idealizador
do projeto estava tão emocionado que calou-se olhando tudo por cima da lente de
seus pequenos óculos, Ecio Salles, parceiro de empreitada minimizava sua ansiedade
falando e agradecendo aos muitos que colaboraram com essa realização. E nessa
hora vi Maria Clara Machado de pertinho, que emoção senti e que se somou com a
apresentação do Coral do PROERD, que apresentaram uma deliciosa
seleção musical e encantaram ao cantarem “vida, vida, esperança e paz, sonho,
sonho, esperança...” – Que lindos! Não fosse a altura absurda dos microfones,
seria um espetáculo completo.
Os sotaques Nordestinos me
encheram de orgulho, no melhor sentido da palavra, bom demais ver que somos
todos produtores de cultura e que permanecemos em plena construção social. Essa
reflexão só se desconstrói quando vejo a manutenção do elitismo, as três
primeiras filas são dos convidados, dos apoiadores. E não somos todos
convidados apoiadores? Em média 12 pessoas desistiram do evento por serem
tiradas de onde estavam sentadas. Perderam as pessoas, perdeu o evento.
É chegada a vez do grande mestre
Ariano Suassuna. Como pode ele ser tão? Entre palmas e sorrisos ele contava
histórias e nós a ouvíamos com atenção hipnótica. Só os gênios conseguem isso.
E entre histórias urbanas e ruralismos deixávamos guiar por Suassuna que em
sorrisos diz: ”Eu sou do lado de Deus!”. Não falo mais sobre a aula espetáculo,
por que só para ela escreveria 20 ou 30 textos, assim deixo claro sua
genialidade, assim como meu questionamento sobre onde estariam todos os que
encenam e pesquisam Suassuna, que não ali. Enfim.
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Foto:Roberto Lima |
A questão é que ao acabar sua
explanação houve uma redução de 60 % do publico, pelo menos os daquelas
primeiras filas. Era a vez de Bráulio Tavares - escritor, cronista, roteirista,
poeta e compositor que há 20 anos não tocava no Rio de Janeiro. Mais um sotaque
nordestino e seu som levou-me como por tele
transporte a alguns festejos da infância.
Depois dele as cadeiras foram
sendo tiradas, o cenário foi mudando, a noite ganhou completo espaço e as luzes
dos Prazeres acenderam. Sobe ao palco MV Bill e seus parceiros. No vocal uma
negra linda, de voz imponente, na picape ô cara e tinha ainda um violinista, o
primeiro do gênero no Brasil. E fez-se um outro som, as luzes apagaram e os
corpos dançaram embalados pelas letras politizadas do rapper, escritor e ativista social que retrata o cotidiano das favelas
do Rio de Janeiro em seus textos e músicas. Mais uma vez senti falta do
texto, por que não uma leitura entre as tantas músicas? Depois do Bill era a vez do rapper do Líbano MC Swat.
Quis muito uma programação, para ver o que mais eu poderia aproveitar do festival, mais
fui informada pela produção que tinham sido levados poucos que só no dia
seguinte. E afirmou, "tem toda ela na internet, só olhar lá" e falou mais algumas
coisas que não compreendi bem, por que ela falava gritando. A questão é: Mas, e
se não tenho internet? E como faço para chegar? Mais uma vez a produção deixa
na mão. E não me digam que é por motivo X ou Y, qualquer equipe bem preparada
desenvolve um bom trabalho, faltou capacitação. Não sei se os realizadores tem
ciência disso, mais o Festival não pode se tornar produto, por que ele veste
outra camisa, assim deixo o pedido por maior atenção com quem faz acontecer a
ideia e por que e pra quem é feito.
No
mais parabéns pela ideia, pela realização, pela prioridade. Deixo o convite a
todos para que compareçam e vejam de perto já fazendo parte das transformações
possíveis e necessárias para nossa sociedade, para nós. Grata aos idealizadores/realizadores por tão belo projeto realizado. Deixo meu lamento por não poder acompanhar
toda programação, mas vejamos o que nos for possível. E viva a leitura,
literatura, criatividade.