Percepções...
Dando satisfação: Faço este blog faz alguns anos, aqui já escrevi um pouco de tudo e apesar de ficar encabulada, vou me esforçar para sempre escrever quando penso fazê-lo. Como resumo, aqui escrevo 'percepções', nada além que o meu recorte.Tá? Pronto, satisfações dadas, chega ai e vamos trocar percepções.
Grata!
Eu uma vez eu... Todos devíamos
ser como Verônica e registrarmos nossos pesares, fazendo um diário de vida.
Mas, e lá sobra tempo, nesse mundo cão? - Pergunta você ao ler a indicativa. Se
não sobra, ponha-se pelo menos a assistir esse longa-metragem de Marcelo Gomes,
feito na medida para Hermila Guedes, e para inspirar boas reflexões e estimular
novos olhares.
Eu queria ter assistido esse
filme desde faz tempo, por está vivendo um momento de muita paixão e respeito
pelo cinema pernambucano, que atualmente se destaca como terceiro maior polo cinematográfico
do país. Sendo aclamado pela crítica especializada e pelo público em geral, as
produções do cinema de Pernambuco brilham nos festivais nacionais e
internacionais com uma representatividade tão grande que se torna impossível
falar em cinema brasileiro e não falar deste cinema. Mas também por que soube
que o querido amigo pernambucano Anthero Montenegro estava no elenco.
Assisti-lo e me encantar com a
simplicidade da personagem em ser-se e da naturalidade da atriz em sê-la. A reflexão
sobre a forma de tratar, de dialogar a critica a uma academia ultrapassada, a
relação pai e filha. Verônica com Verônica.
Verônica respeitando sua sensualidade e libido, deixando as vistas um pouco da
mulher contemporânea, que precisa cuidar da casa e do trabalho, sem se perder de
si.
A fotografia do filme mostra uma
Recife tão bela, que apesar dos meus traumas com a cidade senti vontade de
voltar por lá. E há ainda uma outra mulher que se destaca no filme, a cantora
Karina Buhr, que canta Mira o que parece se acomodar nas cenas e no todo do
filme. Grata surpresa!
Depois de muito me questionar
sobre assistir ou não o filme Serra Pelada, me rendi e assisti. E se pego as
minhas expectativas finais e faço um paralelo com o visto, então o filme é
maravilhoso. No entanto, se faço um paralelo com as minhas primeiras
expectativas então o filme deixa a desejar.
Falar sobre Serra Pelada é falar
sobre um fato importantíssimo da história do nosso país. Pois no nosso
contexto, nunca há um fato isolado. Assim, penso que com esse tema, um elenco
tão competente e grana para uma produção desse porte, então Heitor Dhalia fez pouco, aproveitou menos do que podia seu
elenco, bem como contexto. Mas ainda sim fez, concretizou, trouxe a tona uma
possibilidade de realidade, mesmo sendo ela pano de fundo outras relações e
romances, e traz na narrativa, e nas imagens elementos experimentais muito interessantes,
como no momento em que se fala sobre sensação da malária.
Algumas fotografias são chocantes
e a força de Júlio Andrade em cena, emocionam. E todo o conjunto me remete ao
Poderoso Chefão, me lembram dos velhos (ainda existentes) coronéis que matam
indiscriminadamente e do legado deixado pela necessidade capitalista, onde
dinheiro é poder, esquecendo-se que poder precisa estar aliado a
responsabilidade. Enfim, se o objetivo do filme é provocar essa reflexão, então
ele precisaria sinalizar com mais foco, pois o que parece por vezes é um
batismo à essa violência da Serra Pelada, e do cotidiano.
Ao tempo em que sinto o não
aproveitamento do todo artístico e contextual, é inegável a percepção de um
cinema tecnicamente mais preparado e bem cuidado. E como bairrista não escondo nem de longe o
orgulho de ver tantos Nordestinos, cearenses e amigos conquistando espaço no
cinema nacional. Grata satisfação ver pessoas tão talentosas e queridas em
cena. Longa vida as muitas possibilidades do cinema Brasileiro.
O palco é uma libertação ou um
transe? Uma entrega ao mundo ou uma recusa do mesmo? E a música feita com
coração, cabe em definições? Essas são algumas das muitas questões que me
surgiram depois de uma overdose de Criolo, que começou do ser, para depois
chegar na música.
Primeiro tentei mergulhar no ser que fala sem pudor das
sensações e percepções de um sistema do qual estamos todos inclusos e se inclui
e assume-se mais um, mesmo que tentando com arte fazer a diferença. Ouvi Criolo
umas três vezes falando e eu que nunca fui a um show seu, assisti a gravação do
seu DVD no Circo Voador, durante quase todo domingo e olhando-o pensei sobre o
nome; Criolo. Pensei sobre a raiz etimológica e sobre o processo criativo. E
lembrava à todo instante da outra postura do mesmo ser. Que quando sobe ao
palco transforma-se no que é, ou no que gostaria de ser? E se fosse, o que
seria? E nós, o que seriamos?
Me perguntei por diversas vezes
sobre a existência do amor, da dor e do respeito, ouvindo-o revisitei-me,
buscando visitar esses outros seres. Me perguntei sobre a pessoa, desejei um
papo inacabável, sonhei com ele no artevistas, achei que um combina com o outro
e que eu seria dispensada nesse dia, não fosse minha profunda curiosidade em
conhecer mais sobre essas percepções e sobre esse ser que de olhos fixos pouco
fala enquanto canta, por já falar demais ao cantar.
Venho pois assumir minha nova e
grata satisfação com esse ser que faz esse som. Criolo.
Grata Gyl, foi talvez o meu
melhor presente de Natal.
Os instintos, são forças que não
devem ser subestimadas.Essa sempre foi uma percepção obvia pra mim, mas ao
assistir Instinto, do diretor Jon Turteltaub, onde Anthony Hopkins interpreta Ethan Powell, um
antropólogo que é uma mistura de Diane Fossey e Hannibal Lecter. Depois de
viver mais de dois anos em meio aos gorilas, na África, foi preso por
assassinar brutalmente dois homens e deportado para os Estados Unidos a fim de
`não manchar o nome da Universidade em que lecionou.
Enviado para uma penitenciária de
segurança máxima onde os funcionários parecem caricaturas. É nesse ambiente que
o residente de psiquiatria Theo Caudell (Cuba Gooding Jr), que pretende escrever
um best-seller inspirado no caso, começa a atender o professor e a tornar-se
seu real aluno. A penitenciaria, o professor e a bela Lynn, filha do antropólogo,
mudam o olhar e as prioridades de Theo.
Instinto, além de abordar a
violência (e a super-lotação) nas prisões e o descaso para com os pacientes
psiquiátricos, ainda tenta encontrar
tempo para fazer uma apologia do amor à natureza e para analisar as relações
familiares. Não estou certa se o filme alcança o publico que a que se pretende,
mas eu fui particularmente fisgada pelos diálogos codificados e bem pensados,
além de bem executados. A cena em que terapeuta é fisgado pelo antropólogo e
que lhe pergunta o que foi perdido, é algo transformador.
Instinto é como seu nome diz, um
pouco áspero, mas chega à fundo.
Esse filme foi gravado já faz um
tempo, lembro por que participei de uma gravação rápida, a qual eu chamava mais
curta cena do cinema Brasileiro, de tão curta desapareceu, mas isso não é um
problema, nem de longe. Penso que na realidade um filme de baixo orçamento
chegar tão longe, é sinal de que acertaram na fórmula comunicacional, seja artística, pelo
marketing bem feito, por uma apropriação da cultura pelos cearenses que começam
a ver os seus se destacando fora e compram a mesma ideia. Ou mesmo pela força
do suricate seboso.
Ao meu ver é um filme de três, e
se ficasse só neles seria certamente mais belo e bem acabado. Isso por que o
berço do roteiro é bom demais e traz uma critica salutar e de forma bem
humorada. Mas quando começa a transição de uma porção de personagens
'engraçados' mas que não se justificam, o filme vai perdendo a cor. O fantástico em Cine Holliúdy é o
lúdico, a força da amizade de dois garotos que acreditavam e acreditam em
sonhos e histórias, dentro e fora de quadro. São algumas fotografias que revelam a beleza bucólica do interior do Ceará. Mas no meio do filme já estou confusa, buscando encontrar traços das minhas lembranças
de interior, e além das 'girias' nada é tão próximo.
De qualquer forma ri e me
orgulhei do cinema cearense ganhando espaço, da próxima vez, com mais experiência
e dinheiro, podemos fazer uma grande obra prima.
Se há um privilégio nesta vida é
poder ser funcional e fortalecedora do que se ama e acredita. Eu me sinto
privilegiada por somar à cultura dos meus, da minha cidade, meu estado, minha região e vez ou outra somar por todo lado. E fazendo o que amo fazer,
comunicando. E por isso, ao ser convidada a assumir a comunicação do Festival
Multicultural - Noites Brasileiras senti um calafrio bom na espinha e logicamente
topei. O piloto dessa nave eu conheço bem e sei que ele fará (fez-faz) o possível para
alcançar esse sonho que é seu, sendo nosso. O sonho de fazer das artes e das
tantas possibilidades de cultura, caminho de reflexão e apropriação do espaço
urbano com beleza e leveza, com arte e multiculturas. Assim, todos que embarcaram
nessas Noites Brasileiras, merecem os parabéns, foi apresentado um lindo
espetáculo. Com falhas, é claro, mas também e especialmente com muita vontade
de fazer mais e melhor.
Mas, quando começo a escrever
sobre o Noites Brasileiras, além de uma profunda alegria por três dias lindos; uma
alegria de alpinista que quando chega ao fim da subida esquece das tormentas do
caminho, tamanho o deslumbre com a vista. E essa vista eu tive em todos os
momentos. Isso por que depois de 15 anos subo ao palco para apresentar o
Festival. A grande segurança nesta empreitada era que tinha ao meu lado o
querido Daniel Viana e na ponta da língua o como, o que, porque, quem, onde,
como e tudo mais sobre o Festival e o melhor tinha e tenho a parceria nesse
sonho do William Mendonça - WM Cultural.
Dessa forma, foi de cima que vi o
público se aproximar aos poucos, como nós iam ganhando segurança depois de cada
apresentação. O dia do Ceará foi um dia que mexeu muito comigo, por tudo, era o
primeiro dia, o que trazia maior número de atrações e era uma quinta feira e
foi lindo, com momentos inusitados que deixaram marcas interessantes e
reflexões mais de perto ao que antes era apenas especulação.
A noite do Pará, assim como o
estado foi leve, alegre e linda. Tudo parecia se encontrar exatamente onde
deveria. Por fim chega Pernambuco e tão enraizada cultura. Foi lindo! Não
conseguiria escrever de forma mais distanciada, por fazer parte, assim
aproveito o post para agradecer toda equipe da WM Cultural (William Mendonça, Tacynha, Hertenha, Erica Sales, Nath, Marcelão, Colares, Patrícia), aos parceiros
jornalistas do Ceará, Pará e Pernambuco, é fundamental a participação de vocês
nesse fortalecimento da nossa cultura. Grata aos técnicos, fornecedores, convidados. Grata aos meus
colaboradores diretos, nossas equipe foi linda. Grata aos apoiadores e parceiros,
aos amigos, mas especialmente grata aos artistas, sem vocês não aconteceria.
Que ano que vem o Noites
Brasileiras surpreenda ainda mais e que você também embarque nessas Noites Brasileiras conosco.
Se existi algo que me faz muito feliz é a constatação do
encontro dos que quero bem e foi exatamente isso que senti ao entrar na Casa da
Esquina, casa sede dos grupos Bagaceira e Máquina. Um lugar aconchegante e
teatral, apesar do lustre interessante logo na entrada.
Chegar e encontrar amigos, reencontrar colegas e se sentir
em casa, até ai tudo lindo. O que eu não imaginava era que a pequena sala preta
poderia ganhar cores e jardins e que estaríamos todos tão próximos. Haviam me
falado dos bolos, mas esqueceram de me dizer que as personagens sentariam ao
nosso lado. Mas como não sentariam, se o
tema é o interior?
Do inicio ao fim a lembrança dos fins de tarde em
Chapadinha, Tabuleiro, Alto Alegre e tantos outros, inclusive dos meus próprios
fins de tarde, ao pensar no tempo que percebo que ele não passa, quem passamos somos nós. E talvez seja isso
que essas duas senhoras queiram dizer quando dizem e quando nos levam a dizer.
De repente estamos também na cena e cada interior se torna único por sermos
tantos unos.
Talvez...
O fato é que ao sair da sala teatro, precisei respirar fundo
e fiz uma lista de pessoas que precisam assistir, algumas já cumpriram essa
missão, outros já esperam a próxima temporada.
Quanto à mim sai tão encantada que fui conversar com as
meninas talentosíssimas que nos apresentam à esse interior. Salve! Salve! Grupo
Bagaceira de Teatro.
Eu que já ouvia Tiê desde que cheguei ao Rio, nunca tinha
parado para ouvi-la de fato, talvez por um 'preconceito' com os cult's bacaninhas
que pontuam algumas músicas como referência base da música popular brasileira.
Mas nesse caso quem perdeu foi eu, perdi tempo de música tranquila que inclusive inspira romance.
Pelo menos é isso que tem ocorrido comigo desde que me
deixei levar por um amigo querido ao show de Tiê, na Caixa Cultural, em
Fortaleza. Eu que não conhecia ainda o prédio depois da reforma, fiquei feliz
com o que vi em estrutura, mas achei vazio.
Mas vamos ao show. Antes de
assistir ao show pela primeira vez, tive a chance de conversar um pouco com a
própria, bem como ver mais de perto a 'rotina' desta banda tão bem arranjada.
E começa o espetáculo, assistimos de cima e havia um vidro
que me incomodou durante um tempo, mas depois como magia, transcendi a ele e assisti
ao show, com a atenção de quem assiste a um fado. Ouvi cada música, mesmo as já
ouvidas com a atenção de uma criança descobrindo um mistério. Eu me surpreendia
e gostava do que via e ouvia e mas ainda da
alegria leve de se fazer o que se gosta, e faz bem. O dialogo respeitoso com a
plateia, o senso de humor e a competência fazem do show uma brincadeira séria,
um local de doce reflexão e lazer.
Parêntese para Naná, seu estilo e som tão particular. E para
o permanente equilíbrio do palco. É preciso dizer que estava lindo o público participativo.
Grata William Mendonça, torço para que na próxima tenhamos
tempo para um papo artevistas.
Peço perdão aos que acompanham ao blog, mas a vida entrou em um ritmo acelerado e eu estava sem internet nas madrugadas, assim, felizmente consegui assistir algumas coisas bem boas e me surpreendido positivamente com cenários, mas escrever requer um pouco mais de tempo e atenção.
Mas agora atualizo os que mexeram com minha alma.
Chegar ao Sesc Emiliano Queiroz e
me deixar conquistar por Glaucia Nasser, foi algo que só posso chamar de
sensacional. Aquela mulher que a cada nova música crescia à olhos nus, me encantava
e levava a pensar em tantos que amariam estar ali e que se encantariam sem
nenhuma dificuldade, muito pelo contrário.
A segurança de leoa em cima do
palco entra em contradição com a doce timidez de Glaucia fora desse lugar onde
ela se encontra. E o público que apesar de pequeno parecia maior tamanha a
conexão com a Show Girl ali na frente e que sem pudor e sem receio pelo possível
erro desceu do palco e se misturou com a plateia e encarou-a.
No decorrer do show, os
privilegiados que ali se encontravam puderam desfrutar de vários shows, e quem
conhece Minas Gerais, certamente se encontrou com o estado em uma parte de
Nasser, que também mergulha na música popular nordestina com uma graça tão
nossa e ainda arrisca no pop e encanta em seu cantar. Especialmente por ter uma
segurança sutil e com poucos vícios cênicos e sem tantos medos do crivo.
Glaucia Nasser me encantou absolutamente e o público fortalezense mostra que
ainda é pouco curioso. O que é uma pena.
Salve Glaucia Nasser a música
popular brasileira e essa voz abençoada que faz bem a alma, deixando claro que
a vida não tem ensaio.
Com apoio da Coelce a Mostra Brasis em Solo abraça Maranguape
De 08 à 10 de novembro a cidade de Maranguape vai virar palco para muitos artistas, na Mostra Brasis em Solo, que conta com o apoioda Coelce - Uma EmpresaEndesaBrasil, parceria daPrefeitura Municipal de
Maranguapeatravés da FITECeGoverno do Estado do
Cearáatravés da Secretária de Cultura,contandocom apoio institucional doCentro Cultural Banco do
Nordeste, a Mostra que nesta primeira edição homenageia a Dama do Teatro Cearense,
Antonieta Noronha, reúne repertórios e linguagens diversas, em apresentações
artísticas, propondo ao público contato direto com várias pesquisas solos, no
teatro, música, dança,performance, arte de rua e circo.
A Mostra visa o diálogo entre a comunidade e universo artístico, propondo além das apresentações oficinas e debates. Com
realização do Grupo Teatro Novo, eco-produçãoda WM Cultural e Ato
Marketing Cultural, a programação conta com11apresentações,bate papos, além das performances e se propõe a criar e estimular intercâmbio entre atores, produtores, artistas visuais e a comunidade, foco maior do projeto. Visando fortalecer e inspirar o desenvolvimento do conhecimento crítico do público, e da
cidade, como referência da diversidade e do fazer artístico-cultural.
A Mostra, que acontecerá na extensão
do Corredor Cultural, conta com a presença de artistas como,MessiasHolanda”(CE), Jorge Garcia
(PE/SP), dentre outros; o Teatro da Sociedade Artística Maranguapense também servirá de palco para receber os espetáculos
teatrais, como Homem Bomba” João Artigos (RJ) e “Flor de Obsessão”,do mestre do teatro
cearense, Ricardo Guilherme;e oFITEC, sediará a exposição
"Mascaras África Brasil", do Artista PlásticoGeovaneCosta. E ainda vai rolar festa com o DJ
Guga de Castro.
Para SidneyMalveira, diretor do Grupo Teatro
Novo e idealizador do projeto "Mostrascomo a Brasis em Solo,
redimensionam as perspectivasartísticas e promovem o
intercâmbio salutar e necessário para o desenvolvimento sociocultural da região
edos artistas" e completa, "nesta
primeira edição convidamos espetáculos através uma comissão de curadoria
composta pelosgestores culturais,Dane de Jade ePauloFeitosa".
Sabendo que é fundamental a troca de conhecimento, a Mostra Brasis em solo, abraça Maranguape e aos artistas e apresentam solos tão cheios de todos nós.
Era sábado e a pedida da noite, apenas uma. Ir pra Fundição Progresso, o que graças a Julinha foi possível. Na
chegada Mombojo banda talentosa do Recife, que ao que me parece tinha mais sotaque.
Foi ao som deles que me aqueci, mas foi a partir do jogo de sombras com boa
batida e os sopros que me fazem morrer e renascer, que começou o show tão
esperado; Móveis Coloniais de Acaju .
Não sei exatamente a quanto tempo
atrás, mas há muito, ouvi essa banda pela primeira vez, no Órbita (Fortaleza). E, simplesmente me
apaixonei, coisa de amor forte, música alegre, feita por uma porção de garotos
que se divertem muito fazendo o que se propõe a fazer. Com pitadas de Los
Hermanos, um pouco de anos 80, pitadas de encenação e uma identidade muito
própria os Móveis Coloniais de Acaju, caem no gosto apesar desse nome enorme.
A banda que está na atividade desde 1998, é resultado da união de dez artistas que se encontraram em Brasília, e
ali mais perto do céu, misturam suas influências para fazer um som bom demais
de ouvir, ver , dançar, cantar, sentir. Já nem lembrava a última vez em que eu havia curtido um show que despertasse tantas emoções, que se misturaram ao teclado,
flauta, trombone, gaita, se misturam ao baixo, a guitarra, bateria e a voz e performance
ímpar de André Gonzales (que muito me lembra Tiago Gomes).
Mas talvez, o que mas me envolva,
seja o texto, o discurso, não necessariamente o dito, mas o vivido, pelo menos em palco. O pensar no
outro. A alegria. A música como doação de si, a vulnerabilidade de ficar ali, as tantas
emoções... Em meio a tudo isso vi a proximidade do microfone e pensei em subir e dizer
muitas coisas, mas me podei, calei e como que sentindo minha aflição André falou, cantou,
dançou. O que me fez dançar, cantar, refletir e tanto me divertir.
Contudo, ao que me lembro eles se divertiam mais. Também...
O Teatro Princesa Isabel é uma
caixinha de surpresas, especialmente quando a Cia Ateliê Voador, toma a cena, com
a terceira peça da Trilogia sobre o Cárcere, desta vez para falar sobre Jean
Genet. Logo na entrada encontrar o olhar risonho de Duda Woyda com sua vassoura na mão, depois buscar um bom
lugar para sentar, e pronto. Vai começar o espetáculo. Ou começou antes mesmo
de entrarmos? O prólogo leva o público a risadas gostosas, levanta a importância
do teatro Princesa Isabel na história da
cidade, e do teatro na mesma, apontando a terceira fileira, que outrora, fora
reservada para censura. Daí pra frente
um jogo de corpos e imagens, o espetáculo é plástico e absolutamente político.
Com texto e direção de Djalma
Thürler, o espetáculo demarca com absoluta expressividade corporal a história do francês Jean Genet e com isso evoca a
diversidade, a liberdade, a força, e um pouco do absurdo.
Assim, entre narrativas
processuais e interpretação primorosa o
espetáculo acontece, em meio a inúmeras folhas e repleto de uma intimidade boa
de ver e sentir. Já que o espetáculo toca fortemente no cognitivo. E cenas, como a das Criadas, mexeram
especialmente com as minhas memórias emotivas.
Em alguns momentos é preciso
respirar fundo para continuar atento ao dito, ao visto, mas talvez
principalmente ao sentido. No palco Duda Woyda e Rafael Medrado, trocam falas,
roupas, toques, emoções e personagens e tornam-se tantos e tamanhos em suas
expressões.
Eu que já havia me encantado com
o Salmo 91, apresentado pela mesma companhia, começo a identificar marcas
fortes da identidade do grupo, e gosto. Ao final, lá ficam as vassouras, as
histórias, as grades antes impostas, já não nos servem.
A companhia veio ao Rio de
Janeiro para participar do Festival de Teatro - Cidade do Rio de Janeiro que
segue até o dia 3 de novembro com as mostras especiais e segue até primeiro dezembro
com as apresentações competitivas. Vale conferir de perto.
Por fim, grata mais uma vez a Cia
Ateliê Voador, sempre bom demais assistir espetáculos que provoquem reflexões e
alterações.
Lembro que ainda na adolescência, li o livro A Ladeira da
Saudade, era momento de muitas certeza e pouca experiência e eu quis morar em
Ouro Preto, sonhei com isso durante muitos anos. No ano de 2012 graças aos
queridos César e Francisco, conheci esse lugar mágico e outros tantos. E amei,
como eu amei as paisagens, pastagens, amei o cheiro e sempre que lembro me vejo
de olhos fechados respirando fundo. Mas era apenas o principio.
Em janeiro de 2013 fiz uma assessoria que me foi riquíssima,
profissional e humanamente. Ali eu aprendia ainda mais com Romulo Avelar,
mineiro. E hoje além de um mestre uma amigo a quem quero muitíssimo bem. Ao
final dessa assessoria, um convite especial.
Mas foi no final de setembro que aportei mais uma vez nas
Minas Gerais, mas exatamente em Belo Horizonte e ali começava minha vivência
com o Grupo Galpão e seus processos. Ali profissionalmente coisas se
organizavam. E compartilhamos, trocamos, éramos nós a arte e a arte pela arte.
E como estávamos lá e podíamos apresentar Lugares ímpares e bater um papo com
artevistas sem iguais, gravamos (http://lugarartevistas.wordpress.com/2013/10/10/lugar-artevistas-galpao-cine-galpao/)
. E agora
dividimos com vocês.
Grata mais uma vez e sempre a Romulo Avelar, ao Grupo Galpão,
Galpão Cine Horto e todos os que juntos compartilharam.
Dia
chuvoso no Rio é um trânsito só, mas a noite a caminhada é sempre interessante.
E assim, caminhando, chegamos ao Solar de Botafogo, para assistir ao queridíssimo
Lucas Sancho. Entrar no Solar já é por si só uma delicia, nos levando a
perceber e crer, que faz toda a diferença viver os estágios. Depois de bons encontros
e reencontros com amigos do meu Ceará, subimos.
O
espetáculo vai começar. Mas, e onde sentar? Foi essa a minha primeira
indagação. O espaço é pequenino, as cadeiras próximas e senti um medo danado do
por vir, mas sentei e escolhi o melhor lugar. A luz geral apaga e aos poucos o
ator vai entrando e trazendo nova luz à cena.
Ali,
sobre um tapete cheio de papeis, um baú, luminárias, velas e candelabros, ele
se posiciona com sua lanterna e garrafa de vinho, baixa o chiado do rádio
antigo e assim, se ouve a chuva. Foi lindo!... Principalmente ao ouvir na contra
mão, algo parecido com;'não sou obrigado a me acostumar com o silêncio'.
Ninguém é. O silencio pode mesmo ser rasgante.
Daí
pra frente uma sucessão de reflexões, indagações, emoções. Somos apresentados a
Dudu e Henrique, este segundo compartilha conosco sua história de amor e dor,
mas também apresenta uma trilha interessante, movimentos provocativos e magnéticos,
um jogo com a luz que muito me encantou, além de se propor lindamente a dialogar com a plateia. Assim, o
espetáculo é ainda mais arriscado, pois é o ator comprovando a todo instante
que o espetáculo não é feito sozinho. Foi lindo ouvir sobre uma história de
amor de 35 anos, foi lindo ver as mais diversas expressões no ator e em todos
que o assistiam, lindo perceber as alterações do compasso respiratório. Até que
se ouve o silêncio, seguido pelas palmas emocionadas.
O
espetáculo finaliza hoje sua temporada, mas deve voltar logo em breve.
Era uma sexta feira e caminhávamos
rumo ao monumento dos Pracinhas, local idealizado pelo exército brasileiro, destinado
a receber os restos
mortais dos soldados brasileiros mortos na
Itália (Segunda Grande Guerra). Foi ali que o Grupo Galpão apresentou em seu
tablado mágico,construído com madeira de demolição, a curta
temporada de quatro dias do espetáculo, "Os Gigantes da Montanha",
obra inacabada de Pirandello, autor italiano. Até ai mera coincidência, ou não.
:)
O fato é que
para nós que estávamos na plateia, o espetáculo começou antes mesmo dos admiráveis
e admirados atores deste grupo, que é uma referencia do teatro nacional,
entrarem em cena. Bastava olhar o palco com sua cores e atrás os prédios, e o trânsito ralentado da cidade do Rio de Janeiro.
Os gigantes já se apresentavam, faltavam os ecos, a Condessa, os sonhos, a
trupe teatral e o Mago Cotrone, na cena vivido por Eduardo Moreira, mas que de
acordo com entrevista dada pela atriz Lydia Del Picchia ao Lugar artevistas (http://lugarartevistas.wordpress.com/2013/10/10/lugar-artevistas-galpao-cine-galpao/), o Mago
Cotrone desse processo, e talvez desta parceria com Galpão, é o diretor mineiro
Gabriel Villela, com quem o Galpão já havia trabalhado vinte anos antes, na
montagem do premiado "Romeu e Julieta".
A fábula de Luigi Pirandello, narra
a chegada de uma companhia teatral decadente a uma vila mágica, povoada por
fantasmas e governada pelo Mago Cotrone. Trazendo a tona a reflexão sobre o
valor do teatro, da poesia, da arte e o potencial comunicacional, apesar desse
mundo de gigantes, onde há cada vez menos tempo à contemplação e a reflexão. E
assim somos fisgados. São as cores, os tons, sons, a técnica, a luz, plasticidade,
o cenário, figurino, interpretação e texto denso, dito de forma que, quando nos
damos conta, já nos tomou.
São
duas horas de espetáculo, em um silêncio admirável, que grita sua contradição à
cidade que se movimenta frenética, logo atrás. O local de apresentação do
Galpão, veio devido a um intenso trabalho da produção, isso por que em tempos
de manifestações, propor conglomerado na rua, não pareceu sensato aos órgãos políticos.
Mas depois de assistir ao espetáculo
ali, penso que não haveria melhor lugar, principalmente pela possibilidade de
repensar e renascer, rememorar, para que então exista. E ali, mais uma vez o
teatro se reafirmou ao apresentar-se ao grande público, ao criar novos fins, ao
inicio que já é fim. E tudo isso com música, como não poderia faltar, músicas
italianas, que somadas, os ecos, ventos, fantasmas deixam tudo ainda mais belo
e poético.
Quanto ao elenco, pouco a
dizer, além do fato de que encantam, por terem um toque muito próprio dessa
identidade formada pelo que me parece uma soma de identidades. E no fim, para
deixar claro quem são e o que fazem, os atores passam pelo público cada um com
seu chapéu, para recolher o carinho e a
cortesia financeira. :)
Por fim, aproveito o texto
para agradecer: ao Grupo Galpão, ao Mago Cotrone, ao Exército, ao Marechal João
Baptista Mascarenhas de Moraes, à Gabriel Villela, Pirandello e cada um. E que
o teatro renasça e reviva, todos os dias.
Hoje fui comprar presente para crianças, e logo de cara comecei a ficar preocupada com o
tipo de brinquedo e seus preços, algo parecido com um absurdo. E enquanto eu
pensava que nem dá pra culpar os adultos desse tipo de infância por não
entenderem o lúdico leve. Quis achar uma bicicleta transada pequenina , mas só
encontrei carros, tratores, helicópteros e canhões. Procurei jogos e livros,
nada, cd's como o "Palavra Pitada" não se encontra em nenhum lugar.
Enfim. Foi quando entrei na terceira loja
que encontrei Joaquim, ele me chamou atenção desde o inicio, olhei-o e
senti. Ele também me olhou, viu meu olhar, eu bem quis voltar falar algo, mas
não o fiz.
Joaquim cruzou as gôndolas
apressadamente, levava consigo uma quentura e calor provocada pela adrenalina
que sentia, ele não concordava com o que estava fazendo,não se orgulhava de si, lembrava de seu pai e de
sua mãe, lembrou-se de toda sua vida até ali, mas precisava presentear sua
filha, hoje era seu aniversário.
Ele havia acordado as 4 da manhã,
comprado uma caixa de bala no deposito e seguiu pro trem para vender tudo no
primeiro horário e comprar um brinquedo para sua menina, ficou na porta da loja
esperando que ela abrisse as 10 horas da manhã, entrou correndo subiu as
escadas e encontrou os brinquedos, olhou todos um por um e chorou, contou pelo
menos umas dez vezes todo seu dinheiro, contou inclusive com os 3,10 da volta
pra casa, poderia ir andando e chegaria no inicio da noite, mas ainda sim, seu
dinheiro não pagava nada. Joaquim começou a andar pela loja, aumentando sua
aflição e se perguntando o que fazer. E o que Deus queria da vida dele. Por que
tamanha injustiça? Quais eram as provações? Fora despedido de seu trabalho de
pedreiro desde que levou uma queda da construção e fraturou o joelho e o
engenheiro disse que a culpa era de Joaquim que subiu sem autorização, mas
Joaquim sabia que não tinha sido bem assim. Mas, de que adiantaria dizer algo?
Foi as 14 horas que entrei na
terceira loja e o vi, ele também me viu. Eu podia ter feito algo, mas, me omiti.
Quanto a Joaquim , sentiu o pavor do disparo ao tentar cruzar a porta da rua,
devolveu o brinquedo e chorou. Pediu perdão, sorriu sem graça e partiu, eu
ainda o procurei. Mas Joaquim sumiu, não voltou pra casa, não olhou sua filha,
não a abraçou, não contou-lhe histórias, não falou sobre o amor. Joaquim só
sentia vergonha, mas não sabia pelo quê.
Roberta Bonfim
18 de setembro, Rio de Janeiro,
2013.
Quando fui comprar lembrancinhas
para Namir, Lua, Davi, Lívia e Lucas.
Passei um tempo sem aparecer e senti desejo de voltar trazendo de volta essas outras percepções, também.
- Antes de qualquer coisa,
preciso dizer que um ponto auto para eu ter assistido ao filme, foi à voz do
narrador no trailer, talvez por ter despertado meu cognitivo, não sei! –
Odeio o Dia dos Namorados, é
definitivamente um bom filme pra ir namorar, ou relaxar depois de uma semana exaustivas,
mas se você realmente não curtir o dia dos namorados, talvez não seja a melhor
pedida. Afinal, estamos falando de uma típica comédia romântica, cheia de
frases de efeito e piadas nem sempre engraçadas, mas é um filme leve. Meu avô
chamaria de filmes próprios para higiene mental, necessários vez por outra. Aos
radicais talvez um grande besteirol comercial, mas na boa, como fazer cinema
sem ser também comercial?
O fato é que o filme já começa
com declarações e renuncia, segue para outro tempo de sucesso e frieza, passa
pelo de libertação e dor, para chegar ao final de amor. O longa-metragem de
Santucci, acompanha Débora, que não perdoa ninguém e nutre traumas do passado. Para
piorar, terá de montar uma campanha publicitáriapara empresa onde trabalha Heitor (Daniel Boaventura), um ex-namorado que
foi humilhado por ela no passado. Ou seja, cheiro de desastre no ar. Mas, como
para todos há a possibilidade de redenção, especialmente quando há um fantasma
amigo por perto. Eis que surge, Gilberto (Marcelo Saback), ex-colega de
escritório que ressurge após ela sofrer um acidente. Assim, chega a hora dela
rever sua vida e compreender o que pensam dela. Nesta jornada Débora passa por
vários dias dos namorados, acompanhando o que aconteceu, acontece e acontecerá
à sua volta. É isso! O mais difícil dentro disso tudo é conseguir ver Heloísa
Périssé, que interpreta a protagonista Debora, como uma megera, apesar do
imenso talento da atriz.
Já nem consigo me lembrar da
fotografia do filme, mas lembro-me bem do contexto tão bem familiarizado, e que
certamente Freud explicaria. Por fim, é um bom filme para não quer ter muito
trabalho e combina bem com pipoca e guaraná.
“É falando que se elabora!” É
falando que se entende, talvez. E ao ser filme, se eterniza e se alcança a
grande cena, ganha a tela grande e encena, atuou em vida para ser ela
interprete de si, mesmo quando interpretada por Petra. Eis Elena, sem “H”, para
ser controverso, o documentário de Petra Costa.
Mas quem já ouviu falar sobre
Elena? Quem a conheceu? Quem a reencontrou ou a viu pela primeira vez nas
grandes telas, como eu? E quem quer conhecer Elena? Eu admito, precisarei de
mais algumas revisitadas para que eu saiba mais sobre ela(s). Minha experiência
com Elena, foi como uma força maior que me puxava ao Teatro Sergio Porto, no
Humaitá, onde o filme foi exibido ali mesmo, no palco, sob uma malha branca. Eu
que assisti ao filme do chão por vezes o imaginei no teto. Assistirei ainda
Elena no teto.
Voltando ao filme, logo a
principio vejo Petra Costa, discreta e leve agradecendo a presença de todos que
lhe surpreendeu em número, dado o fato que no mesmo dia estava acontecendo
manifestação na Av. Rio Branco. O filme começou e com ele um mergulho na história de Elena, que podia ser também a história de Petra. Isso
mesmo, estamos falando de um documentário autobiográfico, que traz consigo a dramaturgia
em primeira pessoa. É através dos olhos e Petra que somos apresentados a Elena
e a própria Petra. Além da mãe de ambas, que como as filhas sonhou ser atriz,
que como as filhas tem olhos fortes e profundos. O filme fala sobre três
mulheres, sobre uma família, sobre a não presença de um pai que estava ali,
fala sobre a vida, todos esses vazios e inércias, sobre os sonhos e as buscas,
fala sobre a morte, sobre destino e mudança de percurso. Mas, ao meu ver acima
de tudo fala sobre símbolo e superação, através dele.
Elena me emocionou profundamente,
pois além de tudo exposto e tantas reflexões, foi impossível segurar os mergulhos
na minha própria realidade, nas histórias próximas. O que fazer para mudar o
quadro? Ajustar os fatos? Uma sensação de impotência perpassa minhas veias e me
leva a chorar e tantos outros sentimentos. E a culpa? A quem culpar quando alguém
a quem amamos se desestimula? Para onde olhar? O que provoca? E como indaga
Petra no filme “Se ela me convence de que a vida não vale a pena, eu tenho que
morrer junto com ela”. E o contrário é possível? Mas como...
Talvez essa tenha sido uma reflexão
dessas três mulheres atrizes. Que sensíveis se inspiram pela vida, aceitam
desafios e abrem o livro da vida. Tudo isso somado a belas fotografias, imagens
de arquivo que provocam lembranças e resgates, uma trilha que preenche e uma
linguagem que desempenha a função de comunicar. Sai do teatro, remexida, sensível,
pulsante, não pude ficar para o debate, mas estou certa de que foi tão
enriquecedor como poderia ser.
“Quem falou que a vida é fácil?”
Quem? Eu não conheço ninguém para quem ela tenha dado trégua, mas o fato é que
junto a todos nós ‘injustiçados’, existem aqueles para quem tudo tende a ser
ainda mais difícil. Falo isso não com o objetivo de justificar, mas, apenas de
abrir a possibilidade social para o feito. E quando falo isso, ainda nem
cheguei ao filme, ainda estou na inspiração para o mesmo; o Comando Vermelho – e
a história do crime organizado - Organização Criminal.
Lembro-me de já ter ouvido e mesmo
repetido, que se fossemos disciplinados e tão bem planejados como eles, o
Brasil já teria mudado, e muito. Falo isso, pois assisti ao filme em momento de
manifestações importantes aqui no Rio e Janeiro, e em todo o país. O povo foi às
ruas levando suas muitas mensagens em meio às tantas verdades, inúmeros olhares
e tanto mais. E o filme nos apresenta aos presos do fundão. Nessa apresentação
conhecemos as diferenças entre os presos políticos e os comuns que conviveram
juntos. E como isso deve ser forte dentro de celas, com tanta miséria e
pesares, alguns pensadores e tantos sobreviventes. E por quem lutamos? Refleti
sobre o momento atual, sobre em nome de quem estamos falando, por quem
brigamos? E ao sermos presos, em quais celas ficaremos? O que nos protege é o
que condenamos? E as tantas direitas e esquerdas, constituídas pelo bicho
homem, nós. Enfim..
O fato é que o filme fala da capacidade
de organização e liderança de um homem que soube aproveitar as oportunidades e
agir com frieza e sagacidade. Mas para isso o longa dirigido por Caco Souza, faz uma confusão na mente de quem o assisti. Ou pelo menos, a mim confundiu e perturbou pela cronologia
que vai e vem dificultando o andamento do filme, talvez pela
impossibilidade de se estabelecer a mínima intimidade com os personagens, também
devido a essa confusão cronológica. Entendo que não deve ter sido fácil falar
sobre a história do Comando Vermelho em menos de duas horas e ainda juntar a
isso um romance e uma boa pitada de suspense, além de ser essencialmente uma
história policial. Assim, 400 contra 1, contrariando minhas expectativas iniciais
é um filme que provoca reflexões e inquietudes. E mostra ‘bandido’ fazendo as
vezes de Robin Hood, e sempre muito bem amparados por um planejamento estratégico
e uma dura realidade. Que volto a dizer, não justifica, mas faz refletir,
afinal muito mais nos roubam os engravatados que estão bem longe das celas.
Voltando ao filme. O elenco é muito bom,
mas é Daniel Oliveira, que vive o protagonista William da Silva quem mais
surpreende. A fotografia de Rodolfo Sánchez é sensacional e nos leva aos anos
70 com facilidade, o que ajuda absolutamente na ambientação e reconhecimento de
algum tempo. O som do longa, , também é muito maneiro e cumpre seu
papel de compor a cena. Por fim um bom filme, apesar de um tanto confuso, vale
assistir.
O vencedor do Oscar de melhor
roteiro Argo, foi um filme que criei expectativa antes de assisti-lo e talvez
muito por isso ele tenha me parecido enfadonho em alguns momentos. Na contra
mão a isso nos momentos de narrativa e de maior tensão me pareceu imbatível. Eu
que nunca houvera ouvido falar de tal fato, por puro desconhecimento da história
Norte americana, pensei muito sobre o ser imigrante e na genialidade na ação de
saída para seis imigrantes americanos que precisavam ser resgatados do Irã.
Assim, penso que o roteiro é bom, por que a história é boa.
Mas, é boa pra quem? O filme é
bom, por que tem uma história de fundo sensacional e o apoio de um país ao
outro no socorro de seres humanos americanos “comuns”. Mas, como falei
anteriormente, pensei ser um filme mais motivador, talvez.
Bem Affeck é um charme e tem
carisma, enfim, cumpre seu papel, mas não me causa nenhum grande frisson, assim como o restante do elenco, chega a cansar. E sendo assim, o roteiro se
torna mais uma vez genial, já que mantem o filme vivo e pulsante, apesar de.
A fotografia é interessante,
pois apresenta o olhar sobre o novo, pelo antigo, enfim, é o olhar de um estrangeiro sobre
terras que não conhece. Por mais que tenha pesquisado, e estou certa de que
houve pesquisa. É a história americana falando do que houvera silenciado,
afinal não poderiam perder esta estrela de conquista. E que no que diz respeito
a conflitos internacionais, esse pelo menos acabou sem mortes, traumas, guerras,
ou feridos. Mas estamos falando da inteligência dos Estados Unidos da América,
não poderia ser diferente. Poderia?
O fato é, que fora a narrativa
que me leva a entender os conflitos no filme registrado, que provocam a tomada do
consulado americano. Para além, não me diz muito sobre nada, nem sobre os países que tem
seus nomes repetidos em vários momentos. Enfim, é um bom filme, mas penso que criei expectativa demais. :/
Ir ao Teatro Dulcina, no geral é
certeza de alegria, e não foi diferente com o espetáculo, Lima Barreto, ao
terceiro dia. Logo de entrada o encanto com o cenário, que certamente não é o
mais fácil para transportar, mas enche de poesia o palco. Assim, quando o
espetáculo começa de fato, ao publico mais atento ele já havia começado antes
mesmo do terceiro sinal. E ganha a cena o som da rabeca. E daí pra frente, fica
difícil até respirar fora do tempo do espetáculo, dirigido por Luiz Antonio
Pilar, com texto de Luiz Alberto de Abreu.
Com um elenco sensível o
espetáculo acontece de forma uniforme, apesar das três possibilidades
apresentadas deste mesmo homem, Lima Barreto. O texto conta e estimula reflexão
sobre um país chamado Brasil, seu povo pátrio e sua sociedade deslumbrada com o
do outro, Paris, talvez. Assim, somos reapresentados a Lima Barreto, escritor,
negro, pobre, apreciador de uma boa cachaça, visionário como Policarpo, fiel
como Adelaide, humano como seus personagens, que o alimentam e perturbam em seus
momentos de descompasso, “coisa de
escritor”.
Eu não teria palavras para
descrever o cenário, que nos deixa de frente com um Rio de Janeiro de livros e
luz. E a iluminação de tão afinada, quase não é vista em ação. Os figurinos
ajudam na composição da cena, e os sons, ambientam com a ajuda dos tons de
sépia. Por vezes senti vontade de fotografar, mas de verdade quis muito saber
pintar.
E além disso tudo, ainda se propõe a fazer graça, e faz.
Não conseguiria falar muito mais,
pois apreciei o todo. O espetáculo fica em cartaz no Teatro Dulcina até 30 de
junho, de sexta a domingo, as 19 horas. Vale demais conferir, para sentir!
Não fiz imagens do espetáculo, nem achei vídeo. Mas na procura achei esse, Espero que curtam.
Sabe quando você tem a sinopse
perfeita de um roteiro sem igual e só usa um terço do material que lhe foi
entregue? Foi com essa sensação que sai do Cine Odeon neste sábado, após
assistir ao longa-metragem de René Sampaio, Faroeste Cabloco. O fato é que
precisei ouvir a música até o fim, pois ouvi-la de repente me provoca mais que
o que foi visto.
Que fique claro; o filme [e bom,
autentico, não repete as frases conhecidas por todos que compõem a emblemática música
de Renato Russo, e nem precisaria. Tem fotografias lindas, como algumas imagens
do sertão, especialmente a do céu visto de dentro de um poço vazio, ou ainda da
capital Brasília com suas cores típicas do cerrado. Os atores são envolventes, além de todos muito bonitos, uma alegria
ver em tela tão grande artistas que respeito e admiro. Isis Valverde mais uma
vez emociona, ou pelo menos me emociona, mas começo a crer que esse é um dos
talentos dela, talvez pela naturalidade, apesar dos estereótipos do filme. O
filme, a meu ver, por vezes mergulha nos filmes de faroeste mesmo, com direito
aos passos lentos e coreografados.
Existem cenas emblemáticas, que
provocam boas lembranças, mas há também algumas que beiram o “bizarro”, como a
cena de Jeremias (Felipe Abib) ao descobrir o furto de sua droga. Existem ainda
as cenas que quase contrariam a história de João de Santo Cristo, e não haveria
nenhum problema nisso, se o filme não fosse vendido como a representação cinematográfica
da música. Mas, há uma cena em especial que é original, simples, bela e honesta
onde Maria Lúcia (Isis Valverde) ensina
João (Fabrício Bolivieira – que muito me lembra Lazaro Ramos) a dirigir. É uma
cena... leve!?! Entende?
A trilha sonora é bem anos 80 e
quem já foi a Brasília, certamente identifica algumas coisas, além das
paisagens. Uma coisa é certa, sai do cinema com vontade de Brasília, de Plano
Piloto e daquele céu, senti saudade do rock, da sinuca, da alegria. O problema, se existe um, é que ouvi e cantei Faroeste
Cabloco por anos demais, decorei cada minuto, palavrinha por palavrinha e criei
o meu João e Maria Lúcia, imaginei histórias demais, e talvez seja esse o grande
risco de trabalhar a história de algo tão simbólico. De qualquer forma
reafirmo-me feliz demais com o cinema brasileiro. Semana que vem tem mais
cinema brasileiro.
O que é ser romântico? - Você é romântico? Eu sou. E ser brega? Quem
é? Será que ser romântico é também ser um pouco brega? Ou muito? Em tempos
modernos, em que o amor real vira acordo, contrato, relações racionais.... Mas...
E aquele tipo de amor? Que nos faz cometer loucuras, tão repletos de sonhos,
desejos e querenças. Que nos faz brigar com o mundo, e de repente, nada mais se
ver além do ser amado. E que nos leva a aceitar o que o ser amado tem para
oferecer, mesmo não sendo o suficiente. (quando é, né?) Seria esse amor brega?
- Não saberia responder.
Você tem alguma música brega em
sua vida? Eu tenho. “Feiticeira”, ouvi da minha primeira paixão, e preciso
admitir, lembro até hoje o quanto gostei de ouvir. E a sua, ou as suas? Não
lembra? Tudo bem, então assista “Vou rifar meu coração”, filme de Ana Rieper, e
assista duas vezes, uma em boa companhia, preferivelmente com alguém mais velho,
que possa de contar as histórias dos entremeios, mas a segunda vez é preciso
que seja só, para que seja possível tirar os escudos.
Registro aqui minha emoção ao
ouvir depoimentos tão genuínos, com músicas que em sua maioria me são
conhecidas, mesmo que estando guardadas na história, tenho a sensação que é
assim com todos, pelo menos com todos os nordestinos como eu, que eu algum
momento viram e sentiram tal poesia bem de perto.
Vou Rifar meu Coração, faz uma
pergunta simples e honesta: Há uma maneira chique e outra brega de amar? E de
sofrer por amor? Existem formulas, limites e som ideal? A música que aqui se
compartilha é a música sentida, representativa na vida de quem as ouve de fato
e se identifica, descreve a dor que sente, sem metáforas, ou arranjos. E não é
isso MPB (Música POPULAR Brasileira)? Mas nem essas questões alcançam a
grandiosidade do filme ao se propor a investigar as possibilidades de amor e
dor, que se expressam em músicas românticas, do Wardo, Nelson Ned (um milagre),
Agnaldo Timóteo e sua franqueza sem modéstia, tantas histórias, mas são nas
pessoas ditas anônimas e suas reações diante do amor frustrado e de como
encontraram conforto em algumas dessas músicas.
Uma das mulheres, que se diz
sofrida, poderia ser a grande estrela do humor do Brasil, tamanha espontaneidade.
Vou Rifar meu Coração, além de
trazer a tona à reflexão sobre o amor, com depoimentos emocionados e emocionantes, mostras vidas e histórias reais que se repetem e assim, esse nosso desejo humano e desenfreado
de sentir amor, sentir-se amado. - O que de fato difere esse sentir? O que faz
um sentir melhor ou pior? Sentimos, e sejamos honestos, apaixonados ficamos um tanto abobalhados.
Nossa problemática na contemporaneidade, talvez seja o fato de pouco sentirmos. E de repente
o romance vira brega, o amor utopia de maluco e esse sentir, bem, contação de
história de um país de raízes.
Sabe quando se assiste a um filme
caseiro, aquele ainda em VHS, que estava guardado na última gaveta do armário antigo?
E daí você se emociona, revive e chora por que um saudosismo te bate à porta.
Assim, me senti ao assistir “Somos Tão Jovens”, ao reencontrar Renato Russo que
viveu comigo, mesmo sem nunca ter se quer ido a um show dele (não por falta de
vontade). Renato esteve presente nos melhores momentos do difícil ato de
crescer refletindo sobre o universo ao redor, foram em suas músicas e palavras
que por vezes encontrei aquela resposta.
E você se pergunta, por que estou
compartilhando isso? Por que certamente com você não foi ou será diferente, mesmo
que tenha nascido nos anos 90 e não tenha assistido o Legião Urbana no programa
do “Chacrinha”, mesmo que não tenha visto suas fotos nos jornais, com anúncios de
shows. É que Renato dialoga com a humanidade e suas músicas são atemporais. E Thiago
Mendonça que o interpreta no longa-metragem de Antônio Carlos Fontoura, é quase
a reencarnação de Renato, tamanha as semelhanças, principalmente quando canta.
Quem também emociona é a atriz Laila Zaid que interpreta Ana a melhor amiga
desse Renato adolescente que nos é apresentado interagindo com Brasília, com a
juventude, com sua depressão, bebedeiras, amigos e integrantes das bandas
Aborto Elétrico e Legião Urbana, com sua homossexualidade, medos e conquistas.
“Somos tão Jovens” é um filme
musical, que mostra também o inicio de bandas como, Capital Inicial e Paralamas
do Sucesso e como eles puderam se ajudar em suas formações. As imagens bem parecem as da VHS e emocionam
também por isso. Não é um filme de Oscar, mas certamente é um filme para todos,
pois Renato escreveu para todos e afinal, quem poderá dizer que não existe
razão para as coisas feitas pelo coração?
Entrar na sala de teatro do
Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) para assistir ao espetáculo Prazer da premiada
Cia Luna Lunera é se deparar com os atores já em cena, dispersos no espaço, mas
absolutamente concentrados em si, escrevendo frases de impacto extraídas ou
inspiradas nos textos de Clarice Lispector, como: “A vida não é de se brincar,
em pleno dia se morre” e “Tudo é só por enquanto, enquanto estamos vivos”, logo
ali o espetáculo parece começar antes mesmo de soar o terceiro toque.
Tendo como base referencial à
obra Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres, da escritora Clarice Lispector,
que conseguia falar das angustias do cotidiano, sem perder a sofisticação da
escrita o espetáculo segue um rumo similar, não fosse à atuação um tanto
forçada de alguns atores, especialmente no inicio, já que no decorrer do
espetáculo mesmo isso parece fazer parte da dramaturgia, especialmente por que
Odilon Esteves que conquista por tamanha naturalidade e intimidade com seu
personagem Ozório, trás críticas ácidas ao ideal de felicidade exposto pelos
demais personagens.
Para além de Lóri e Ulisses,
Prazer nos apresenta quatro amigos, Camilo (Claudio Dias), que se dispõe a
conhecer o mundo com uma mochila nas costas em busca de si e na tentativa de
minimizar o vazio de não ter assumido seu amor a Isadora (Isabela Paes),
artista que beira o egoísmo com sua certeza de que tudo que faz é pelo outro,
inclusive a mudança de vida em nome de seu amor por Ozório (Odilon Esteves), um
médico não muito contente que vive uma crise de humanização após ser traído
pelo irmão e de perceber a proximidade da morte a partir das vivências médicas,
há ainda Marcos (Guilherme Theo) um comissário de bordo que foi abandonado por sua
esposa Laura e aprende a conviver com o cachorro Ulisses. É a partir da relação
desses quatro amigos que conversam por e-mail apesar das proximidades
geográficas que se acontecem as cenas. Com a chegada de Camilo a relação se
estreita para o pessoal, convival e assim se desenvolve o espetáculo, provocando
emoção em alguns momentos, e confusão mental em outros, talvez pela direção
compartilhada entre tantos, os próprios atores além de artistas como; Éder
Santos, Jô Bilac, Mário Nascimento, Roberta Carreri, e os participantes do
Observatório de Criação. Até pela falta de tempo os personagens não atingem a complexidade
existencialista. Mas e na vida, atingimos a complexidade individual?
E se na direção as muitas
influências provocou peso, o cenário por sua vez estimula leveza e dinamismo,
acendendo uma luz na treva de cada personagem, abrindo um leque de
possibilidades cênicas e ambientação. Além de trazer linguagens outras, como: a
pichação de giz que desde o primeiro instante causa curiosidade, além das
projeções e do vídeo grafismo que nos apresenta o cão Ulisses, que é uma graça.
O figurino fala muito sobre esses
personagens e suas mascaras sociais, mas por que um médico tão racional usaria
saias, se não fosse para indicar localização geografia? A luz hora operada pelos
os atores dá ênfase e foco e demonstra cumplicidade a partir da tentativa de
iluminar as trevas uns dos outros. A música abre espaço para reflexão e quebra
a tensão.
Prazer é como o gozo, após cenas
sente-se o aqui e agora. E entre a fluida água e muitos movimentos o publico
sai no mínimo reflexivo sobre as tantas possibilidades do ser, por mais feio
que isso pareça.
Um curso de crítica teatral e a partir
dele pegar a quarta feira e ir ao CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil)
assistir ao espetáculo “Prazer” do grupo mineiro Luna Lunera para escrever uma
crítica a respeito do espetáculo. Cheguei de corpo e coração abertos já que o
último espetáculo do grupo “Aqueles Dois” foi o que posso chamar de emocionante
e não digo isso só por mim, já que foi opinião unanime de todos que o
assistiram.
Ao entrar no teatro os atores já
em cena escrevem com giz na parede que completa o cenário, frases como “Basta
um copo de mar para agente navegar”, “A vida não é de brincar, em pleno dia se morre”,
“Eu queria ser eu mesmo por mais feio que isso fosse”, ou ainda “o gozo é o
domínio do aqui e agora”. Enquanto eles escreviam eu seguia seus ritmos e
transcrevia as frases que me roubavam a atenção. É que vez ou outra era tomada
pela lembrança de que teria de escrever uma crítica a respeito.
Mas é apenas após o terceiro
toque que a cena se desenha, e o espetáculo, bem... O espetáculo demorou um pouco
mais para começar pra mim, assim fiquei nessa gangorra por uns dez ou quinze
minutos, tempo que o espetáculo foi ganhando folego a medida que se desenrolava
e me fisgava. Houve um momento em que quase me deixei perder, devido a repulsa
ao sotaque e forte interpretação de dois dos atores, mas optei por experimentar
a ideia de me assumir em quem sou e aceitar o que eram, afinal não era esse o exercício
estimulado pelo espetáculo? Cada personagem com suas particularidades. O
inventário de uma vida e os tesouros que colhemos no caminho. Mas quem somos além
da mascara social?
As questões cotidianas, conversas
por e-mails, amigos que não menos perdidos do que o resto de nós tentavam
descobrir-se e ser feliz. Mas o que é a felicidade? E o que nos condiciona a
ela? Uma vida na mochila e países desnudos aos alhos de um rapaz que precisava
admitir amor, um país desiludido por um médico que se sentia menos humano, sem
perceber que se humanizava; uma jovem artista talvez um tanto egoísta desejosa
pelo amor incondicional e um comissário de bordo abandonado por Laura, sua
esposa e aprendendo a se relacionar com o cachorro ali deixado por ela.
Dentro da cozinha fazendo pão de
queijo que bem deu vontade de comer também esses amigos conversão, abrem-se na
medida do que podem, apesar de seus medos, se percebem e transformam, todos e cada um. E até as vozes que a principio me
incomodavam, parecem entrar em um tom mais harmônico. Algumas frases escritas a
giz no cenário ganham vida na encenação e emocionam, me emocionam em suas
tantas epifanias e descobertas. E questões tão cotidianas e humanas entram em
cena, reflexões ganham corporalidade e por vezes quis sentar de olhos fechados
com a cabeça pra trás e lembrar coisas lindas já vividas.
Mas talvez o mais interessante é
que além do já dito, trás também para cena um estudo corporal, a música ouvida
e cantada pelos personagens, e a tecnologia a partir das projeções, tudo absolutamente
misturado, e sem perder a naturalidade do cotidiano. O texto por vezes
engasgado também me pareceu cotidiano. Nesse espetáculo inspirado em textos de
Clarice Lispector, especialmente em Um Aprendizagem ou Livro dos Prazeres, com
direção compartilhada e colaboração da atriz Roberta Carreri, do grupo dinamarquês
Odin Teatret, o videoartista Éder Santos, o bailarinos Mário Nascimento e o
dramaturgo Jô Bilac, além dos próprios atores e do Observatório de Criação,
onde o público também adentra.
Tanto mais poderia escrever sobre
Prazer que me provocou prazer e lágrimas em suas duas horas de espetáculo, onde
Camilo, Isadora, Marcos e Ozorio vivem seus momentos externa e internamente e o
espectador é seu maior confidente.
Ao final a música volta com um
banho de mangueira, a morte de um tipo de relação para o nascimento de novas
possibilidades são brindados com canção e água e ali, personagens e atores se
libertam. Para mim Prazer poderia também chamar-se Amigos. Quanto a critica,
bem tentarei escreve-la com a dificuldade de quem sentia demais para tal
tarefa, mas tentarei acha-la em mim e logo que conseguir compartilharei aqui.